Chopin escrita por Mordantata
Aquele condomínio fora agraciado com um inquilino de ótimo gosto musical e habilidades em tocar piano, já que em todo final de tarde aos sábados aquele apartamento ressoava uma sonoridade agradável e tranquila, na qual agradava os ouvidos dos outros condôminos que eram vizinhos e moravam no mesmo prédio. Crianças ficavam quietas e bebês paravam de chorar; adultos esqueciam dos problemas e cachorros paravam de latir...
Realmente era uma melodia que trazia paz a qualquer psicológico inquieto.
— Chopin... – Obito dissera completamente perdido do seu real dever na qual estava efetuando.
Não era um grande fã de música clássica ou sequer considerava-se erudito suficiente para ser um grande conhecedor do estilo musical, porém pelo menos sabia que aqueles conjuntos de notas eram de Frédéric Chopin.
Deixou-se largar a caneta em cima da papelada das atividades escolares na qual se empenhava em corrigir para prestar atentamente a atenção à melodia do piano que tomava notas mais altas, ganhando o silêncio do condomínio como admiração.
Obito queria muito saber quem diabos era o ser que havia mudado à poucas semanas para aquele prédio e tomado a liberdade de transformar os sábados mais tranquilos e prazerosos. Graças à isso, sexta feira deixou de ser o melhor dia para Obito; e sim os sábados... Os finais de tarde, mais especificamente.
Quando a música acabou, a vida real parecia ter lhe dado um tapa na cara de boas vindas e trouxera-o a realidade. Respirou fundo, voltando os olhos para a papelada que ainda estava a sua frente, necessitando da correção de caneta vermelha.
Tudo aquilo parecia tão cansativo que se vira obrigado a continuar seu trabalho, querendo ou não. Quando pegou a próxima folha de atividades e viu todos aqueles erros grotescos tanto na escrita quanto nas respostas, Obito revirou os olhos e estalou a língua. Seu aluno loiro de olhos azuis e riscos nas bochechas era um ótimo garoto, mas às vezes não tinha como defendê-lo.
Depois de mais alguns minutos corrigindo as lições, Obito estava necessitado em escutar mais das músicas clássicas que tocavam naquele apartamento. Sentia vontade de se levantar e ir até lá bater na porta do morador e dizer: “Ei, sou um dependente químico dessas músicas, então, por questões médicas, trate de fazer seu trabalho e garanta minha saúde!”
Era exagero, óbvio; não era dependente químico, mas tinha uns parafusos soltos; que de certa forma, aquela música o deixava numa paz de espírito indescritível. É como diziam; professores de literatura geralmente são dramáticos.
Chopin – One-shot
No decorrer da semana, Obito passava os dias ansiando a chegada de sábado. Lógico que não ficava perdido em devaneios quando estava lecionando na escola, afinal, era um professor muito competente, mas ainda assim, quando chegava em casa, a ansiedade o assombrava, perguntando-se quantos dias faltava para sábado.
Assim que a semana terminava e o final de semana dava inicio, como uma recompensa pela semana cansativa de trabalho duro, as músicas clássicas lhe agraciavam com a sonoridade suave e encantadora que ressonavam do apartamento visinho.
— Hm... Pachelbel –Cruzou os braços assim que começara a prestar atenção na melodia –Canon In D? –Tombou a cabeça pro lado, arqueando uma de suas sobrancelhas –Essa daí é melhor no violino...
Contestou, logo dando de ombros e deixando-se escutar com calma a música relaxante que despertava sentimentos amorosos que até então para si eram desnecessários.
— Ela toca tão bem... –Houvera um dia que se deu a liberdade de decidir qual sexo pertencia o músico que tocava as notas maravilhosas no piano. Com um gosto musical tão bom e requintado, só podia ser mulher. Estava convicto que a mulher era bonita e bastante culta, que falava com palavras difíceis, conjugando verbos como ninguém.
Se além do ótimo repertório musical que a moça tinha; atendesse todas as suas expectativas imaginativas de aparência e personalidade, Obito inclusive já cogitara casamento.
Talvez fosse complicado entender, mas graças a todos aqueles sábados escutando todas aquelas musicas tão lindas, Obito no fundo sentia que estava se apaixonando por alguém que nunca tinha visto.
E isso era tão perigoso; pensava...
xXx
Lógico que em sua mente já passara a possibilidade de algum dia, num final de tarde ao sábado, as belas melodias suaves não viessem dar o ar da graça. E como se fosse um pesadelo que na qual não quisesse passar, aquilo realmente aconteceu.
Concluiu que estava mal acostumado quando se deu por falta da música naquela tarde e sentiu-se péssimo. Culparia a pessoa por torná-lo em alguém mimado por músicas clássicas. Havia se transformado num erudito amargurado na qual nunca havia se denominado antes!
O condomínio estava um caos; crianças gritando enquanto corriam e brincavam; bebês chorando e cachorros latindo. A falta da música dera liberdade àqueles que se calavam quando as notas suaves faziam presença e acalmavam a todos.
Sem elas, tudo voltava ao normal como sempre fora.
Uma merda.
Obito respirou fundo e afundou o corpo no sofá, fechando os olhos e se concentrando em tirar um cochilo.
—Só está atrasada... Só isso. –Dissera a si mesmo para tentar se conformar; um pensamento positivo na qual não fazia muito de seu feitio uma vez que virara adulto.
E mesmo que no final das contas acabara dormindo, naquele final de semana, não se escutara nenhuma nota de piano... Obito se perguntava o que havia acontecido para a mulher não ter tocado piano, afinal, fazia parte de sua rotina; era de praxe!
A segunda feira começou péssima, onde acordara com o pé esquerdo e passara o resto da semana de mal humor.
Quando chegara sábado, o dia passou-se lento e arrastado, e assim que o final da tarde chegou, Obito mais uma vez contemplou o desespero de não escutar nenhuma nota a mais.
— Ok, isso não pode continuar...
Cansado de ficar escutando aquela desordem do condomínio contemplando o livre arbítrio sonoro, Obito se levantou do sofá e saiu do próprio apartamento, tomando coragem de ir uma vez por todas para o apartamento visinho na qual a mulher talentosa –Dona de seus pensamentos –Morava.
Confessava que lamentava o fato de estar indo visitá-la pela primeira vez para fazer uma queixa e não para convidá-la pra um encontro. Torcia veemente para que a mesma não achasse tudo isso estranho e que encarasse tudo numa boa.
Quando tocou a campainha, escutou uma movimentação vindo de dentro do apartamento e logo viu a porta ser aberta por um completo estranho na qual nunca pudera imaginar morar naquele apartamento. De cabelos arrepiados brancos, postura preguiçosa e olhos tediosos com pouca emoção, Obito contemplou aquilo que quebrara com todas as suas expectativas que um dia já criara.
— Pois não? –Perguntou o albino, arqueando uma de suas sobrancelhas.
Obito estava em choque, permanecendo por mais alguns segundos parado com os olhos arregalados.
“Quem tocava todas aquelas músicas maravilhosas era esse marmanjo largado?”
Engoliu a seco, logo coçando a garganta para enfim pensar no que dizer.
“Pelo menos a pintinha no canto da boca é sexy... Melhor do que nada”
— Err... Posso estar sendo inconveniente, mas queria dizer que todas aquelas músicas que você tocava no piano acabou me viciando...
O homem de cabelos branco tombou a cabeça pro lado, fazendo crescer um grande ponto de interrogação acima da testa.
— O que quer dizer?
— Quero dizer que gostaria que tocasse mais vezes.
Fora direto, sem delongas. Era assim que os adultos resolviam seus problemas, não é?
— Está falando sério?
— Bem, sim... – Deu de ombros.
O albino coçou a nuca, parecendo um pouco desconcertado com aquela situação inusitada.
— Err, qual o seu nome?
—Obito Uchiha. E o sei?
— Kakashi Hatake... Então, Obito, é um seguinte –Disse –Eu meio que vendi o piano.
— ... É o que? –Estreitou os olhos, confuso.
— É aquela coisa, né? Moro sozinho, logo me sinto solitário, e aí o que eu fiz?
— O que você fez?
— Comprei um cachorro.
E um pequeno Pug aparece a pequenos passos com o traseiro rebolando graças à gordura acumulada. Obito pela primeira vez sentiu uma frustração tão grande que tinha vontade de espancar o causador de tudo aquilo.
O cachorro era bonitinho, mas isso não justificava o preço de sua felicidade.
— É sério?
Kakashi não respondeu nada, mas ficara o encarando com um pequeno sorrisinho gentil na qual esperava qualquer outra reação de outrem.
— Devolva.
— O que?
— Devolva este cão.
— Hã!?
— Eu sou um dependente químico dessas músicas, então, por questões médicas, trate de fazer seu trabalho e garanta minha saúde!
Usufruiu das habilidades dramáticas que a literatura lhe proporcionava e disse tudo de uma vez.
Nunca pensara que uma conversa tão despretenciosa pudesse dar frutos, pois surpreendentemente, no próximo final de semana que chegou, o condomínio fora agraciado novamente pelas músicas clássicas de Chopin e companhia.
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