Ele tinha três filhos, mas o casamento havia acabado antes de Lily nascer. Decidiram morar juntos, mas Ginny se mudou para o quarto da bebê e foi complicado explicar para Albus e James que papai e mamãe ainda eram amigos e a separação afetaria apenas eles, e não o amor pelos filhos. Depois de um tempo, a ruiva voltou a morar com os pais e as crianças ficavam intercalando entre a casa dos avós e o apartamento do pai.

Haviam se passado vinte anos desde o divórcio ser oficialmente assinado. Lily estava na faculdade, olhos brilhando com os laboratórios de pesquisa e James havia casado com uma garota dinamarquesa, o casal e Teddy mantendo uma relação a três que Harry não entendia bem, mas se os filhos estavam felizes, ele também estava. Albus estava na sala, comemorando o último semestre da faculdade com um amigo, os dois já muito bêbados para ficarem de pé quando a campainha soou e ele teve que levantar e ir atender para evitar que os jovens acabassem quebrando algo se aventurando em andar por aí naquele estado.

Quando a porta se abriu, os olhos verdes de Potter encontraram orbes cinzentas como o céu londrino.

Draco estava usando um suéter cinzento por cima da camisa social azul royal e calças sociais pretas, os sapatos de couro muito bem lustrados. Parecia mais irmão mais velho, por isso Harry se assustou quando ele se apresentou como pai de Scorpius, e que havia ido até ali para leva-lo para casa. Potter o convidou para entrar, dado o estado dos filhos, e os dois acabaram conversando noite adentro, e, quando o pai foi embora, Scorpius ficou dormindo no tapete felpudo da sala com Albus sobre si, e Lily fotografando os dois.

Harry tinha quarenta e seis anos, mas havia passado a noite se sentindo mais um adolescente do que um homem feito. Desde Ginny ele estava crente de que nunca voltaria a se sentir assim por mais ninguém, mas ali estava ele, com borboletas no estômago pelo pai do melhor amigo do filho. Sentiu-se sortudo pelo hábito dos dois de beberem juntos, e começou a ir pessoalmente buscar o filho na casa do amigo ao invés de delegar a tarefa para Lílian. Descobriu que os Malfoy tinham uma empresa com sedes no mundo todo, por isso viviam viajando – Nova Iorque, Índia, Austrália, Califórnia, era só apontar no mapa, Malfoy já havia estado lá, quase sempre em outro fuso-horário.

Talvez por isso nunca tivessem se cruzado antes.

Os amores da vida de Harry Potter sempre chegaram exatamente quando deviam e iam embora exatamente quando se precisava – mesmo que ele só reconhecesse isso agora, como adulto – fosse por um curto período, como Cho Chang, ou por um tempo mais longo, como Ginevra Weasley. Ele sempre recebeu-os de braços abertos, e, quando iam embora, agradecia por terem parado com ele por um tempo.

Quando beijou Draco Malfoy pela primeira vez, os filhos deles estavam bebendo no andar de cima do duplex, e Potter não sabia exatamente o que esperar, mas com certeza não previu as mãos que subiram por seus ombros e o puxaram para perto.

Seu primeiro amor não devia ter permanecido; porque Cho foi feita para Cedric, e era apenas certo que eles terminassem juntos.

Seu segundo amor não podia; porque Ginny era livre demais para se amarrar com alguém e criar raízes, e Harry, caseiro, nunca se atreveria em se meter entre ela e a liberdade que tanto fazia os olhos castanhos brilharem.

Harry esperava, do fundo do coração, que Draco permanecesse. Porque ele havia tido a sorte de achar o amor três vezes já, não confiava que haveria uma quarta.

E ele ficou para os fogos de artifício.

Para cada aniversário.

Para cada visita no hospital.

Até o fim, mesmo sem nunca ter prometido, Draco ficou.

E Harry também.