Harry sabia exatamente como o amor da sua vida era: uma garota de trança bem feita para manter seus cabelos no lugar que tocava violão.

Ele imaginava e se espelhava em seus pais, tendo a certeza que eles compartilhariam bandas favoritas e esse seria o primeiro assunto que surgiria entre eles – como Tom e Summer, em 500 Days of Summer— que levaria a longas conversas noite a dentro, piadas internas e declarações toscas usando frases roubadas das músicas favoritas um do outro, cochichadas durante a volta pra casa no ônibus. Ele tinha certeza que a reconheceria na primeira vez que pousasse seus olhos nela, então talvez só estivesse procurando nas aulas e corredores errados, ela estava ali, em algum lugar.

Quando Cho Chang apareceu em sua vida, ela usava um corte de tigela, porque algum garoto tinha grudado chiclete em seus cabelos. Mas seus olhos azuis eram os mais gentis que ele havia visto e não conseguia evitar que o coração saltasse quando ela sorria para ele.

Cho destruiu toda idealização que ele havia construído em volta da garota perfeita: ela não conhecia nada sobre o rock dos anos 80, preferia longas caminhadas a ter que subir num ônibus e Potter tinha certeza que ela tinha passado a semana usando a mesma camiseta. Mesmo assim, quando eles foram tomar sorvete depois da aula, foi interessante descobrir que o sabor favorito dela era chá verde, e afinal música clássica não era assim tão terrível, especialmente quando a garota dançava tão suavemente, as notas de Bach ou Beethoven parecendo se entranhar sob a pele dela e correrem em seu sangue, animando cada um de seus ossos. Embora fosse uma péssima dançarina quando se tratava de realmente dançar, e não só mexer os quadris e andar pelo quarto aleatoriamente.

Na primeira vez que tentaram se beijar, ao invés daquela coisa mágica que ele esperava, seus dentes se bateram com tanta força que parecia que o impacto havia trincado uma linha que ia do incisivo até uma parte distante do crânio que ele nem sabia que podia doer. A chinesa se tornou o motivo dele mentir para os pais também, porque seria muito constrangedor ter que conversar com Sirius sobre a garota – mas Remus ainda estranhou como a quantidade de visitas a Ron tinha aumentado de repente. Em contrapartida, ele sabia que a morena sempre esperava perto do telefone quando ele ia ligar, porque o sr. Chang era muito rígido e provavelmente proibiria os dois de se verem se soubesse que eram mais do que amigos.

E o sentimento cresceu, até começar a mudar e... desaparecer. Aos poucos, Cho estava ocupada demais para se verem depois da aula, ou inventava desculpas sobre ajudar amigas nos finais de semana. Quando eles se viam, o celular parecia mais interessante para ela do que a presença de Harry, até as palavras “eu acho que deveríamos terminar” finalmente saíssem de seus lábios, e o rapaz sentiu como se fosse uma conclusão óbvia, do tipo que todos haviam antecipado, menos ele.

Harry nunca havia pensado exatamente no que fazer quando ela saísse de sua vida. Eles planejaram viajar, ir em museus e descobrir coisas, juntos, mas parecia que aqueles planos não importavam mais para a garota. Desde que se conheceram, ele não havia, por um momento sequer, considerado o término, porque Cho era o amor de sua vida.

Mas, para ela, o primeiro amor tinha prazo de validade*.