Após passar um ano desde o incidente da ilha misteriosa, nos arredores de Konoha duas garotas se locomoviam em alta velocidade pulando de árvore em árvore. O sol da tarde fazia com que os cabelos loiros de uma delas brilhasse, o que poderia chamar a atenção de animais ou até mesmo de indivíduos que estivessem por perto. 

— Será que estamos chegando em Konoha? Ficar dois dias viajando não é fácil — perguntou a jovem loira, seu cabelo liso preso no lado esquerdo por uma mini lótus azul balançando nas leves brisas que ocorriam quando ela saltava de uma árvore a outra. Seus olhos azuis como o céu seguindo a outra garota em sua frente que ainda continuava a saltar entre os galhos com grande destreza. 

— Não tivemos escolha, fomos pegas de última hora para fazer alguns afazeres dos mais velhos... Como ficamos cansadas, chegar de barco até o país do fogo foi a nossa única opção. — respondeu a jovem que, diferentemente da outra, possuía um longo cabelo castanho escuro e ondulado, enquanto desviava rapidamente de um galho mais baixo que poderia pegar em sua cabeça. — A única coisa que podemos fazer agora é nos apressarmos para chegarmos o mais rápido possível... 

A loira apenas concordou de leve com a cabeça quando reparou no olhar de canto da companheira, seus olhos verdes escuros entrando em harmonia com o verde das folhas. O silêncio reinou entre as duas que apenas escutavam o som de seus movimentos sobre os galhos, os pequenos animais que cruzavam o caminho apenas fugiam assustados pelo aparecimento súbito delas, nada de anormal estava acontecendo. 

Ao longe conseguiram distinguir uma cadeia de montanhas com alguns rostos esculpidos na pedra, um sinal de que estavam cada vez mais próximas de adentrar os arredores da vila de Konoha, mais alguns metros e já chegariam ao destino.  

— Só mais um pouco... — sussurrou aliviada a jovem loira. 

No momento em que a garota em sua frente deu um salto para cair após uma cerca que envolvia a vila, uma estranha sensação lhe percorreu a espinha, um chakra estranho apareceu por um mísero segundo na qual tirou toda a sua atenção na queda. — Inimigos...? — sussurrou baixo olhando para os lados. 

— O chão...! — a outra gritou, mas antes que a morena pudesse perceber que não conseguiria parar, ela apenas fechou os olhos esperando o impacto contra o chão. Mas antes que conseguisse sentir algo duro, ouviu apenas um grito meio agudo da loira e algo macio abaixo dela, mesmo que tivesse caído em algo em vez do chão, ela se machucou um pouco por conta da batida. 

A posição em que a garota de cabelos escuros estava não era das melhores, ela estava jogada em cima de um rapaz de cabelos curtos e ruivos. Seu rosto se encontrava afundado no peito da pessoa que também estava jogada no chão por conta do impacto causado por essa desastrosa queda. 

— Vocês estão bem?! — gritou a companheira que descia com leveza da árvore, assim que seus pés tocaram o chão foi de encontro com os dois para tentar ajudá-los. 

— Eu acho que sim... Provavelmente só estou com alguns arranhões — respondeu a jovem que tentava se levantar de um modo desajeitado, colocando a mão direita no chão enquanto empurrava seu tronco para cima. Ao levantar o olhar, se depara com um par de olhos verde-água com anéis pretos em volta deles a observando.  — Guaxinim...? — ela perguntou um pouco confusa. 

Ao longe um indivíduo encapuzado se aproximou rapidamente do trio, jogando uma kunai em direção à garota que estava no chão. — Saia de perto dele! — gritou se preparando para outro ataque, mas antes que a arma pudesse atingir seu alvo, a loira bloqueou o ataque com outra kunai retirada de um pequeno bolso em sua perna direita. 

— Kankuro, pare — antes que a pessoa em questão pudesse fazer qualquer movimento, o ruivo avisou enquanto encarava os olhos verdes da jovem que ainda estava confusa com tudo o que tinha acontecido. Assim que ela percebeu que estava sobre o rapaz, suas bochechas começaram a ficar vermelhas. 

— Uwaa, me desculpe por isso...! — a garota assim que conseguiu voltar à realidade da situação tentou engatinhar para trás, o que acabou resultando em uma leve queda, batendo com suas costas no chão duro. — Ai... 

Kankuro se aproximava um pouco cauteloso e irritado por conta da presença das garotas. — Quem é você? Se aproximar mais eu irei atacar — a loira avisou, ficando em posição de ataque segurando a kunai fortemente com a mão direita, seus olhos azuis seguindo os movimentos do rapaz encapuzado. 

— Hanabi, pare e ajude aqui... Cure ele e não se preocupe com minhas feridas — a moça de cabelos escuros disse, se recuperando da queda, esfregando as costas que agora doíam. Seus olhos verdes encontrando novamente os olhos verde-água do rapaz, um leve rubor surgiu em suas bochechas ao reparar mais atentamente na pessoa em sua frente. 

A garota, cujo nome era Hanabi, deu um leve suspiro após dar uma última encarada no jovem que ela considerava suspeito por conta das vestes. Guardou de volta a kunai no bolso e levou as mãos para o peito do ruivo, fazendo com que uma leve luz esverdeada o envolvesse.  

— Um jutsu médico... Vocês são ninjas para prestarem o exame chuunin? — o jovem que estava sendo curado perguntou um pouco curioso, as duas garotas levaram um leve susto com essa pergunta inesperada. — Somos algo assim.... eu acho...? — respondeu sem jeito a garota que caiu. 

— Gaara, como elas podem ser ninjas se essa garota de cabelos escuros estava caída bem em cima de você? Um ninja não pode ser tão desastrado assim — Kankuro se intrometeu na conversa após estar mais próximo do trio. Ao escutar as últimas palavras, a moça em questão se levantou rapidamente e foi em direção ao encapuzado. 

— Eu apenas me distraí quando fui descer da árvore, cara pintada — falou emburrada, apontando um dedo no peito do jovem que se sentiu ofendido com o apelido que ela dera, começando assim uma pequena discussão cheia de insultos um ao outro.  

— Acabei aqui, se sente melhor? — perguntou a loira após retirar suas mãos do peito do rapaz que nada falou até aquele momento. Ele apenas concordou com a cabeça agradecendo silenciosamente, seus olhos se voltando para os dois que ainda se insultavam, ele percebeu que a garota era apenas um pouco mais baixa que seu irmão, além de ter um acessório de uma flor de lótus amarela no lado esquerdo da cabeça. 

Hanabi também virou seu olhar para o lado e deu um breve suspiro, apontou dois dedos da mão esquerda bem acima da cabeça da dupla e fez um movimento rápido com a mão direita, fazendo com que um pequeno fogo de artifício estourasse no local onde apontava, assustando-os. — Podemos acabar com essa discussão? Terminei meu trabalho aqui. 

— Kankuro, já chega. Eu estou bem e foi apenas um acidente — Gaara fecha seus olhos se levantando rapidamente do chão, retirando alguns pós que ficaram presos em sua roupa cor de vinho. Seus olhos se abrem rapidamente e voltam a encarar a garota de cabelos escuros. 

— Essa pirralha na verdade merecia uma lição... E nem sabemos quem ela é, e se for uma invasora para acabar com o exame chuunin? — o rapaz encapuzado indagou ainda estressado, olhando-a com um ar ameaçador. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa para a jovem em sua frente, sua companheira chamou a atenção de todos começando a falar. 

— Eu irei nos apresentar. Essa garota é a pr... — antes que a loira conseguisse continuar sua frase é interrompida pela moça que apenas levantou seu braço para que ela parasse de falar. — Hanabi, não há necessidade de você me apresentar, eu mesma direi, ok? — os olhos verdes então encontraram os azuis, uma leve conexão entre as duas garotas. 

Gaara percebeu o olhar entre as duas mas continuou quieto, algo nelas a deixava um pouco inquieto, principalmente a garota do cabelo ondulado com a lótus amarela em sua cabeça. — Nós somos habitantes da vila de Lótus, viemos para o exame chuunin que começará amanhã aqui em Konoha. Eu sou Anri e essa ao meu lado é Aoyama Hanabi. Devo me desculpar pela confusão mais cedo e obrigada por ter aliviado minha queda, senhor... — ela então virou sua cabeça em direção ao ruivo que ia começar a falar, mas foi interrompido pelo companheiro. 

— Ele é o Gaara, Kazekage do país do vento. E sou Kankuro, seu guarda-costas — Kankuro disse com orgulho a última frase, mas suas ouvintes nem prestaram atenção após ouvirem a primeira frase. Anri ignorou completamente a pessoa em sua frente e correu em direção ao ruivo, fazendo uma longa reverencia. 

— Me desculpe pelo meu comportamento de antes e pelos problemas que acabei causando com a queda, Kazekage-sama. E muito obrigada por ter me ajudado, sou muito grata por issol— falava entre várias reverencias exageradas, mostrando-se arrependida por não saber antes quem era a pessoa que a ajudara. 

— Não há necessidade de ser tão formal, foi apenas um acidente... — Gaara colocou suas mãos para frente num ato de tentar acalmar a garota, o rapaz que possuía pinturas em seu rosto se irritou por ter sido ignorado por ela, indo em sua direção com várias veias saltadas em sua testa. 

— Não me ignore, criatura! Gaara, você deveria ter pego ela com sua areia, não havia necessidade de deixar ela cair em cima de você para que não machucasse tanto! — vociferou, prestes a esganar a garota de cabelos escuros. — Ela não vale nem essa flor amarela do cabelo. 

Antes que Anri pudesse retrucar, Hanabi se pôs no meio dos dois, os tirando do campo de visão um do outro. Ela então se virou para Kankuro e deu uma leve reverencia. — Kankuro-san, nos desculpe por termos ignorado sua apresentação e espero que perdoe os atos da Anri, ela é um pouco cabeça dura... — no momento em que sua companheira ouviu a última frase, ia protestar, mas é interrompida antes. — Anri, temos coisas mais importantes a fazer, lembre-se disso — a loira se virou rapidamente para a outra.  

A moça de olhos verdes deu um leve suspiro e se virou novamente para o ruivo dando-lhe um sorriso gentil, o que deixou-o um pouco incomodado. — Muito obrigada mesmo por ter me pego no último segundo, Kazekage-sama. Espero que aceite isso como agradecimento — ela retirou um amuleto do pequeno bolso que se encontrava preso em sua perna esquerda. 

— Não precisa me dar nada em troca, só o agradecimento já está de bom tamanho. E pode me chamar de Gaara, não há necessidade de tanta formalidade — o ruivo deu um passo pra trás, sinalizando com as mãos que não precisava do presente. 

Anri apenas sorriu levemente e deu um passo em frente, pegando a mão direita do rapaz, colocando o amuleto nele. — Então aceite-o como um presente por nos conhecermos. É um amuleto de proteção, fique-o como um símbolo de amizade, ok Gaara? — ela então usou suas mãos para fazer com que ele fechasse a palma da mão. 

— Podemos ir agora, Anri? — Hanabi perguntou após conseguir acalmar Kankuro. A garota deu um último sorriso para o ruivo e concordou com a cabeça pra companheira. — Ah, pode me chamar de Anri também... — soltou a frase no ar próximo ao ouvido de Gaara quando passou por ele. 

Ao dar dois passos em frente, é parada por um braço. — Onde você vai, pirralha? — era novamente o encapuzado chamando a atenção da moça. — Iremos ver o Hokage, algum problema com isso? — respondeu, encarando o rapaz, uma faísca saindo de seus olhos em direção aos dele. 

— Vocês sabem ir até ele? — perguntou Gaara para Hanabi que ainda não acreditava que a amiga estava em pé de guerra com alguém que acabou de conhecer. Ela virou o olhar na direção do ruivo e balançou a cabeça negativamente. — Temos que ir ver o Hokage também, se quiserem ir conosco... 

— Nós aceitamos, não sabemos nada dessa vila — Hanabi então deu um leve sorriso, fazendo uma pequena reverencia com a cabeça, sua atenção voltando para a outra garota. — Hey, Anri. O Kazekage irá nos guiar até o Hokage! 

Assim que ouviu essas palavras, Anri desfez o contato visual com Kankuro e sorriu abertamente, o que deixou o encapuzado sem palavras por seu companheiro ter decidido algo sozinho. Ele apenas deu um breve suspiro cansado e virou de costas para os três, seguindo em frente. — Já que o Gaara decidiu isso, vou na frente e espero vocês lá para não ter que aguentar essa pirralha. Até — e sumiu de vista. 

— Argh. Por que essas coisas estão acontecendo comigo logo hoje? — a moça de cabelos escuros jogou essa pergunta no ar enquanto revirava os olhos. — Mas deixando isso de lado... Conto com você para nos auxiliar — olhou para o ruivo dando uma breve reverencia, em resposta ele deu um leve sorriso e começou a andar. 

Após alguns minutos em silêncio enquanto caminhavam, Hanabi cutucou de leve o braço esquerdo da companheira. — Anri, o que houve mais cedo? Não é normal você se distrair daquele jeito ao ponto de não conseguir se equilibrar na queda... — Gaara que estava apenas ouvindo, observou de canto a garota olhar para o lado meio pensativa. 

— Eu apenas ouvi um barulho estranho, foi só isso... — respondeu, tentando disfarçar a mentira, o que não passou despercebido pelo kazekage. Ele pensou se tocaria no assunto naquele momento, mas decidiu fazer isso depois por terem chegado até o edifício onde se encontrava o escritório do hokage. 

O trio adentrou o local e começaram a percorrer um longo corredor com algumas portas no caminho, no fim de uma curva, ouviram uma voz conhecida. — Vocês demoraram, a pirralha se perdeu no caminho? — provocou o encapuzado que estava encostado na parede ao lado de uma porta diferente das outras que haviam passado pelo corredor. 

— Kankuro, o Rokudaime se encontra no escritório? — Gaara perguntou, cortando o insulto antes que virasse uma discussão. — Sim, passei para informar que você estava chegando junto com... essa coisa aí — respondeu fazendo um movimento de desprezo com a mão esquerda na direção das duas garotas. 

— Entendo. Então irei entrar para dar meus cumprimentos, vocês vão também? — o ruivo direciona o olhar para a dupla. Anri olhou para Hanabi e as duas apenas trocaram olhares, desfazendo a conexão silenciosa com um um leve aceno de cabeça. 

— Eu irei, Hanabi ficará aqui para fazer companhia ao cara pintada — comentou, passando direto pelo rapaz que tentou não replicar a provocação. Assim que ficou ao lado de Gaara, os dois bateram de leve na porta em sua frente e adentraram o local no momento em que ouviram alguém os convidando a entrar. 

A porta foi então fechada ao entrarem na sala, próximo às janelas e em frente a uma mesa cheia de documentos havia um homem de cabelos prateados com a parte inferior do rosto escondido sob uma máscara. Seus olhos escuros encarando os dois à sua frente enquanto se aproximava a passos lentos. 

— Oh, faz tempo que não o vejo, Godaime. Como foi de viagem? — o homem direcionou sua pergunta ao ruivo. — Foi tranquila, não houve problemas até chegarmos aqui — respondeu sorrindo. 

— E você deve ser a nossa convidada especial... — o hokage então se virou para a garota, observando com atenção a pessoa em sua frente. Gaara ao ouvir as últimas palavras, começou a fitá-la curioso com essa designação dada por seu companheiro. 

— Sim. Vim da vila de Lótus situada bem na divisão entre o país do fogo e da água... Sou Anri, a princesa de Lótus.