Mina respirou fundo antes de jogar água em seu próprio rosto. Encarou seu reflexo no espelho, as gotas de água ainda escorrendo pela pele antes completamente alva, agora marcada com profundas olheiras escuras. Os olhos avermelhados entregavam o choro recente, o cabelo bagunçado entregava a exaustão – física e emocional.

Estivera praticando sem descanso pelos últimos sete dias, sentia como se estivesse andando em cacos de vidro pelo dia todo agora, seus pés e pernas estavam cobertos de pequenas manchas roxas adquiridas por excesso de esforço e algumas quedas causadas pelo cansaço extremo. Apesar disso, estava progredindo e o sabia pelo olhar de satisfação de sua professora sempre que concluía uma nova sequência.

O que estava progredindo no balé, contudo, regredia nos outros aspectos de sua vida e ela já não era mais capaz de equilibrar suas responsabilidades como antes. E além disso, havia a principal razão de suas olheiras – Mina não conseguia dormir. Quando finalmente parecia que o sono iria levá-la tranquilamente para seu campo e misteriosa menina sem nome, ela acordava repentinamente e poucos minutos após ter fechado seus olhos.

Sentia que estava enlouquecendo.

***

Sana observava com preocupação Mina apoiar a cabeça no vidro do metrô e fechar os olhos, suspirando audivelmente. A garota agora se arrependia de ter incentivado Mina a competir, era óbvio que as práticas estavam acabando com ela. Era o que parecia a todos, uma vez que Mina não havia contado a ninguém sobre seus sonhos e o que significavam para si. Olhou para Dahyun ao seu lado, com a testa igualmente franzida e mordendo o lábio inferior, um movimento que ela só fazia quando estava extremamente nervosa.

— Minari... Acorda. - Sana sussurrou perto do ouvido da menina, tocando levemente seu ombro. Mina abriu os olhos lentamente, fechou-os novamente e sacudiu a cabeça, tentando livrar-se do sono que só vinha nos momentos impróprios. - Precisamos sair, já estamos na estação.

Mina levantou-se ainda um pouco tonta e segurou a mão de Sana, buscando equilíbrio. Dahyun as esperava já na porta do vagão e deixou que saíssem primeiro, apressando um pouco os passos para que pudesse caminhar ao lado das duas amigas.

— Mina-chan... Está tudo bem? Quer dizer, você parece exausta. - Dahyun indagou em um tom de voz extremamente baixo, hesitante.

— Está sim, Dahyunnie. Eu estou cansada pela rotina e as práticas de balé, mas as coisas vão melhorar rápido. E hoje é sexta, então terei o fim de semana para descansar. - Mina forçou um sorriso. - Obrigada por se preocupar.

Sana apertou ainda mais sua mão.

Antes que chegassem à saída da estação, foram surpreendidas por uma Momo elétrica, que grudou em Dahyun e praticamente saltitava, um sorriso aberto no rosto. Dahyun controlou um suspiro. Momo claramente não sabia ler um clima.

— Vocês não estão ansiosas pelo fim de semana? Vai ser tão legal!

— Do que você está falando, Momoring? - Sana levantou a sobrancelha. O sorriso de Momo murchou.

— Vocês esqueceram?

Dahyun arregalou os olhos e Mina deu um tapa na própria testa. A apresentação de dança de Momo seria no dia seguinte.

— Claro que não, é só que... - Dahyun começou a falar, mas foi interrompida por Mina.

— Me perdoe, Momo. A culpa é minha, as meninas estiveram tão preocupadas comigo que acabei atraindo toda a atenção delas, eu realmente sinto muito. Estaremos todas torcendo por você amanhã, pode ter certeza. - O sorriso dado dessa vez foi real e respirou aliviada quando foi retribuída.

— Tudo bem, Minari. Espero mesmo ver vocês lá e você sem essas coisas pretas aí embaixo dos seus olhos.

Momo fez uma careta e arrancou risadas das meninas. Ela segurou a mão de Dahyun e apertou o ombro de Mina, sorrindo mais uma vez antes de puxar ambas pra frente, rindo quando Sana quase tropeçou por ainda estar de mãos dadas com Mina.

Se eu cair ao menos terei pessoas que vão me segurar.

***

Mina entrou na sala do conselho estudantil, franzindo a testa assim que viu o que acontecia. Momo estava sentada em uma cadeira, encolhida frente à vice-presidente, brincando com um dos botões da camisa. Entendendo a situação, Mina fez uma careta e avançou alguns passos.

— Miyoui-san. Peço desculpas pelo chamado súbito, no entanto achamos melhor chamá-la antes de encaminhar Hirai-san para a diretoria.

— O que houve?

— Ela quebrou o regulamento sobre uniformes mais uma vez... Foram todos os dias essa semana. O código da escola é suficientemente rígido quanto a isso, então eu acredito que mais uma advertência não irá funcionar. O comportamento dela também não é exatamente exemplar.

Mina levou os dois indicadores às têmporas, massageando-as. Suas noites sem dormir ameaçavam dar sinais físicos claros.

— Hirai nunca causou nenhum problema para a escola. Pode não ser uma estudante modelo, mas tampouco é uma estudante problemática. Uniforme desarrumado não é motivo para nenhum tipo de punição, ela sairá daqui com apenas um aviso e tenho certeza de que não se repetirá. Agora, se me dão licença... - Mina tocou o ombro de Momo, pedindo silenciosamente que ela se levantasse, sendo obedecida sem nenhuma hesitação. - Irei levá-la de volta à sua sala de aula.

Mina sentia os olhares queimando suas costas enquanto saía da sala, ainda com uma das mãos no ombro de Momo. Apertou os olhos.

— Minari... Me desculpe.

— Não Momoring, eu peço desculpas. Era minha tarefa ajeitar seu uniforme, estive desligada demais essa semana e acontece isso...

— Não Mina, é o MEU uniforme. Além disso, você está é ligada demais pelos últimos dias. E eu também não creio que isso seja só pelo meu uniforme. A vice-presidente... Eu não gostei do olhar dela pra você.

Mina parou e encarou Momo com uma expressão de dúvida.

— O que quer dizer?

Momo sacudiu a cabeça.

— Deixa pra lá.

Seguiu o caminho. Mina ficou parada por alguns segundos, pensativa, antes de voltar a acompanhar a menina. Desde quando Momo prestava atenção nas coisas?

***

Já de volta ao apartamento, Mina se trocava quando ouviu batidas leves na porta. Sana colocou a cabeça dentro do quarto, fazendo uma careta ao ver o tronco desnudo da amiga.

— O que é essa careta, hein? - Mina levantou a sobrancelha.

— Ver você assim é tipo ver minha mãe sem blusa. Estranho, sei lá. Mas enfim, sua professora de balé ligou.

Mina estava a meio caminho de revirar os olhos quando parou e encarou Sana, confusa.

— Como assim? Pra você? Por quê?

Sana riu.

— Claro que não foi pra mim. Você esqueceu seu celular na sala e eu atendi porque não olhei o número e achei que fosse a sua mãe. Faz tempo que não falo com ela. Mas enfim, ela avisou que você não tem prática hoje.

— Como assim? Foi ela quem me disse que não posso perder tempo.

— Mas ela é inteligente. Não vai adiantar ter uma bailarina extremamente treinada e com uma contusão por excesso de esforço.

— E isso saiu da sua cabeça?

— Lógico que não, eu nem sei o que significa “contusão”. Foi ela quem disse. Que você terá a sexta-feira de descanso nessa semana e na próxima, até que seu corpo se habitue ao novo ritmo.

Mina suspirou de alívio mais uma vez e terminou de tirar a camisa do uniforme, ganhando um grunhido de desgosto da parte de Sana. A menina deixou o celular sobre a escrivaninha da amiga e saiu, fechando novamente a porta atrás de si. Parada ao lado da cama, Mina considerou suas opções. Depois de alguns segundos, deu de ombros. Terminou de tirar o uniforme e o dobrou devidamente, tirando um pijama do armário.

***

Em outro ponto, Chaeyoung acordava aos gritos e com os cabelos encharcados de suor. Os braços de Jeongyeon se fecharam quase imediatamente ao redor da garota, silenciando seus gritos e acalmando os soluços. Acariciou seu pescoço enquanto ela ainda tremia.

— Papai...

Jeongyeon apertou o abraço.

***