In My Dreams escrita por KSDissidia


Capítulo 1
Suave toque, reconfortante voz


Notas iniciais do capítulo

Estou no processo de migrar todas as fanfics que possuo no Spirit de volta pra minha origem nesse mundo, aqui mesmo. In My Dreams é um projeto pelo qual tenho muito carinho e espero que ele seja bem recebido ♥
Espero que vocês gostem dela tanto quanto amo escrevê-la. Por último e não menos importante: Muito obrigada Diana Noona por essa capa maravilhosa. Essa fic é dedicada à você e às nossas madrugadas de teorias e discussões ♥



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Mina mantinha os olhos fechados. Seu corpo estava recostado sobre uma árvore – uma sakura, mais precisamente. Era primavera e as flores já haviam desabrochado por completo. Algumas pétalas dançavam ao seu redor, como uma chuva suave, macia e cor de rosa. Mina fechou seu punho sobre a grama e arrancou algumas lâminas esverdeadas, ainda meio úmidas de orvalho. Trouxe junto, ao erguer a mão em direção ao rosto, uma ou duas pétalas caídas. Aspirou o aroma de terra molhada misturado ao suave e quase imperceptível perfume das flores e sentiu-se como se finalmente estivesse em casa.

Ergue-se, finalmente abrindo os olhos e soltando a grama e as pétalas em sua mão. Baixou o olhar, observando-as cair quase como se flutuassem. Andou alguns poucos passos para longe da árvore, a única presente em um grande campo de flores. Tão grande que se estendia até onde a visão podia alcançar, por todos os lados.

Mina amava aquele lugar. Era seu refúgio, o lugar onde encontrava paz e acalmava seu coração que insistia em atravessar os dias angustiado, por mais que a menina não fosse capaz de identificar o que havia de errado em sua vida. Desde sempre, tudo parecia ter estado no lugar. Mas quando esteve naquele campo pela primeira vez, a leveza que sentiu foi o suficiente para fazê-la perceber que alguma coisa estava fora do lugar.

Braços fecharam-se delicadamente ao redor de sua cintura, retirando-a de sua linha de pensamentos. O queixo apoiou-se em seu ombro e pela primeira vez naquela noite Mina sorriu. Um sorriso aberto, daquele jeito fofo e genuíno que ela só o fazia quando estava verdadeiramente feliz. Apoiou seus braços nos braços que a rodeavam e entrelaçou seus dedos com os dedos da pessoa misteriosa, inclinando a cabeça para trás e deitando-se em seu ombro. Suspirou em contentamento.

Ficaram assim por alguns instantes antes que Mina quebrasse o silêncio.

 

— Você veio tarde hoje.

— Eu sei. Me desculpe. – A voz feminina soou baixa e rouca, como em todas as poucas ocasiões em que Mina a ouvira falar. Por serem tão raras, eram todas preciosamente guardadas em sua memória. – Eu espero que tenha tido um bom dia.

— Não temos muito tempo...

 

Dessa vez não houve resposta e Mina fez menção de virar-se para encarar os conhecidos olhos felinos e castanhos. Não teve a chance, no entanto.

 

***

 

— Mina... Mina! Acorda. Nós vamos nos atrasar.

 

Mina abriu os olhos, desorientada. O cheiro de orvalho se fora, assim como o toque suave em seu corpo e a respiração calma que batia em seu pescoço. Fechou os olhos novamente e apertou-os, tentando conter a frustração.

 

— Está tudo bem? - A voz de sua colega de apartamento e melhor amiga de infância soou preocupada. - Mina?

— Eu estou bem, Sana-chan. Só não queria ter acordado agora.

 

Mina sentou-se na cama e verificou as horas no rádio-relógio da mesa de cabeceira – antiquado, sim, mas Mina sempre tivera um fraco por objetos antigos. Franziu a testa e olhou para Sana, que estava sentada ao seu lado na cama e já completamente vestida para a escola.

]

— Sana, você me acordou uma hora antes do nosso horário habitual. Confundiu as horas outra vez?

 

Sana riu.

 

— Dessa vez não. Ontem você me contou que precisaria chegar mais cedo na escola hoje por causa de uma reunião do conselho de classe. Vocês costumam se reunir no final das aulas e não antes delas, então eu estranhei um pouco. - Sana fez uma pausa, com uma expressão confusa no rosto. - Você foi dormir muito cedo ontem e eu imaginei que tinha sido por causa disso. Mas estranhei você não ter se levantado até agora, então vim te acordar.

 

Mina bateu a mão na testa. Havia se esquecido completamente disso e não ajustara o alarme ao se deitar na noite anterior.

 

— Está tudo bem mesmo? Você está pálida. - Sana franziu a testa.

— Eu só não tive uma boa noite de sono. – Fui acordada antes do tempo, acrescentou mentalmente.

— Aaah. - Sana assentiu e levantou-se. - Eu vou arrumar o café da manhã enquanto você se troca.

— HEIN? - Mina levantou-se como um raio. - Pode deixar que eu não demoro aqui e já vou lá preparar, não se preocupa.

 

A expressão de Sana tornou-se teatralmente ofendida e ela apontou um dedo acusador para Mina.

 

— Eu só vou esquentar os pratos que você deixou prontos na noite passada. Você me ofendeu profundamente agora, Miyoui.

 

Mina riu, sem graça.

 

— Desculpe, Sana-chan, mas você sabe que não pode cozinhar nem pra salvar sua própria vida. Estou prezando pela sobrevivência do nosso apartamento, se acontecer algum desastre aqui os meus pais me levam de volta pra junto deles e você sabe disso.

— Eu estou brincando, Mina. Você leva as coisas a sério demais. - Sana riu. - Não vou incendiar a casa, prometo. - E piscou para Mina antes de sair do quarto, fechando a porta atrás de si.

 

Mina e Sana se conheciam desde os seis anos de idade. Mina havia nascido no Texas, no entanto fora para o Japão ainda muito jovem e logo que se mudou conheceu a pequena e extrovertida Minatozaki Sana. Elas estudavam juntas e também moravam próximas uma da outra, não demorou até que uma amizade estranha surgisse ali. Estranha, porque Mina e Sana tinham personalidades completamente opostas, mas isso não as impediu de continuarem juntas.

Quando fizeram 16 anos, os pais de Mina se mudaram para Osaka. Mina continuou em Tóquio, porque estava prestes a concluir a escola em um dos melhores colégios do Japão e porque estava matriculada na escola de balé mais renomada da Ásia - escola essa que só possuía filiais nas capitais dos países. No entanto, seus pais só permitiram isso porque Mina e Sana foram morar juntas. Confiavam na responsabilidade de sua filha, mas morreriam de preocupação se ela fosse viver sozinha ainda tão nova. Os pais de Sana também aprovaram e as duas os visitavam frequentemente, visto que o pequeno apartamento que dividiam não era tão longe do antigo bairro onde moravam.

Mina saiu do banheiro já arrumada e encontrou Sana sentada na mesa da cozinha, esperando pacientemente por ela. Sorriu levemente e sentou-se também. Comeram em silêncio até Mina se lembrar de um detalhe importante.

 

— Sana-chan... Por que você está pronta tão cedo também? Você odeia chegar cedo na escola.

— Momo tem prática de dança mais cedo também e me ameaçou para ir fazer companhia a ela. - Sana fez careta e Mina riu.

— Ela vai se encontrar com a gente no lugar de sempre então?

— Isso mesmo.

 

Terminaram o café da manhã e Mina cuidou da louça. Em alguns instantes, estavam a caminho da estação de metrô.

 

***

 

“Mina, Dahyun virá com vocês também?”

 

A notificação do LINE interrompeu por alguns segundos a música dos fones de ouvido de Mina e ela desbloqueou o celular, um pouco aborrecida. Ao ler a mensagem, seu aborrecimento tornou-se preocupação.

 

— Sana, Dahyun sabe que estamos indo mais cedo? - Perguntou, retirando um dos fones de ouvido. Sana arregalou os olhos e Mina suspirou. - Ela vai ficar chateada.

— Momo também vai, ela queria que a Dahyun assistisse esse ensaio.

 

Mina fez careta.

 

“Sana se esqueceu de avisá-la. Eu vou mandar uma mensagem pra ela explicando a situação, se você estiver livre no nosso horário habitual pode esperá-la no portão de entrada? Ela não gosta de entrar sozinha.”

 

Clicou em enviar e sentiu sua mão sendo agarrada por uma Sana nervosa.

 

— Mina, se a Momo tentar me bater você me protege né?

— As chances de isso acontecer são mínimas, Momo não bate nem a mão em pernilongo. Ela só vai ficar chateada.

— Isso é tão ruim quanto...

 

Esperaram o metrô chegar em um silêncio quase fúnebre. Mina colocou o fone novamente enquanto fazia careta ao sentir Sana esmagar sua mão, mas não retirou.

Em poucos minutos, estavam descendo em outra estação e uma Momo séria esperava por elas nas escadas. Como sempre, seu uniforme estava uma bagunça e Mina suspirou. Teria que arrumá-lo mais uma vez antes de cruzarem os portões da escola.

 

— Bom dia, Momo. - Mina sorriu, apaziguadora.

— Bom dia, Momoring ~ - Sana fez um aegyo leve, meio escondida atrás de Mina. Momo apenas acenou com a cabeça.

— Dahyun vai ficar bem, não se preocupe. - Mina tranquilizou, finalmente recebendo um meio sorriso da loira.

 

Dahyun era coreana e estava fazendo um intercâmbio de um ano para o Japão. Estava lá há seis meses e conversava cordialmente com todos, contudo as três japonesas eram as únicas pessoas das quais havia realmente se aproximado lá. Quando resolveu tentar o intercâmbio para outro país, procurando experiências novas para sua inesgotável energia, Dahyun não sabia que seria tão difícil se adaptar a um país mais “sério” do que o seu. Claro, entre Coreia e Japão não existiam assim tantas diferenças, mas as pessoas ao redor de Dahyun em seu país de origem estavam acostumadas com seus cabelos coloridos, sua hiperatividade e seu jeito espontâneo.

No novo colégio, isso não foi tão bem aceito e resultou em Dahyun se isolando do restante das pessoas, até cruzar caminhos com Sana em seu terceiro mês no país e se integrar ao pequeno, porém especial grupo. A energia de Dahyun parecia ser contagiosa e as três sentiam-se muito bem a seu lado, principalmente Momo com sua bateria viciada. Dahyun funcionava como uma espécie de “carregador portátil” e com esse contato Momo acabou tornando-se superprotetora com a pequena coreana. Era esse o motivo do nervosismo de Sana: Momo não gostava de deixar Dahyun sozinha mais do que o necessário. Dahyun, Mina e Sana se encontravam na estação todos os dias e as três encontravam Momo já na estação no colégio.

As três japonesas estavam em um silêncio desconfortável enquanto percorriam os poucos metros até o colégio, e mais uma vez foi quebrado por Mina. Ela não estava acostumada a iniciar diálogos e não estava gostando nem um pouco daquele dia que já começara todo errado.

 

— Momo. O que você tem contra usar o uniforme corretamente?

— Ele é desconfortável e eu levo muito tempo pra dar o nó dessa gravata certo. Além disso eu tenho uma presidente do conselho pra arrumar pra mim. - Momo piscou para Mina, sorrindo, e Mina revirou os olhos.

— Se a gravata fosse o único problema seria ótimo. Você não abotoa o blazer e deixa a camisa pra fora da saia. Se mais alguém do conselho te pegar, quem vai ouvir sou eu e você sabe.

— Ninguém vai me pegar, relaxa. É só um uniforme, Mina.

 

Pararam por alguns instantes para que Mina pudesse arrumar o uniforme de Momo, sob o olhar e sorrisos – aqueles de quem tenta segurar a risada – das outras duas. Entraram no colégio vazio, ainda faltava uma hora para o início das aulas. Mina se despediu das outras duas, que iriam para o clube de dança, e se dirigiu ao conselho de classe. Apesar de seu esquecimento, ainda fora a primeira a chegar. Precisava se lembrar de agradecer a Sana depois, na verdade já deveria ter feito isso.

Terminou de arrumar os papéis que deveriam discutir sobre a mesa, deixou a pasta em cima de sua mesa e tomou seu lugar na ponta da nem tão grande mesa de reuniões. Apoiou a cabeça sobre uma das mãos e se permitiu fechar os olhos, imediatamente pensando na garota de seus sonhos. Sequer tivera a oportunidade de ver seu rosto na noite anterior e isso a frustrava. Contudo, a voz rouca ainda ressoava em seus ouvidos e podia praticamente sentir os braços firmes ao seu redor mais uma vez. Mina não sabia porque os sonhos eram tão reais, mas ela não queria que eles parassem, nunca.

 

— Essa noite... Você vai voltar, certo? – Murmurou para si mesma.

 

***


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo sai em breve, até porque ele já está escrito XD será um por dia até concluir a repostagem dos seis primeiros e então um por semana, com os novos. Teremos um total de 21 capítulos.
Espero que tenha agradado ♥



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