Pretty escrita por Rose White


Capítulo 3
Primeiras impressões.




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O barulho irritante do despertador me acordou ás sete da manhã, e eu não queria levantar. Não mesmo. Mas não foi por isso que eu esperei durante anos? Sim, foi exatamente por isso! Arrumei-me tranquilamente, colocando a roupa, penteei meus cabelos lisos, que agora pendiam abaixo da cintura, e peguei minha bolsa e celular, indo encontrar Victor na entrada da casa. Ele me levaria até a escola.

No caminho, pude ver um pouco da cidade, movimentada, mas bem menos que Nova York. O estacionamento da Baton High School estava cheia de alunos em polvorosos quando Victor estacionou e logo pude perceber pequenas diferenças sociais bem evidentes ali. Alguns carros, de maior valor, ficavam perto da entrada principal do prédio de fachada branca e sóbria, já outros, mais simples e que eram maioria, ocupavam o resto do espaço. Olhando o vai e vem daqueles jovens, senti falta de Lucy e imaginei o que ela faria se estivesse no meu lugar. Pensei que ela provavelmente sorriria, então sorri.

— Obrigada, Victor. – Eu disse e saí do carro.

— Ei. – Victor me chamou, antes que eu me afastasse, então virei-me de volta atenta. – Boa sorte e cuide-se. – Ele falou.

Assenti e observei-o se afastar.

Não recordava de ter tido uma convivência muito considerável com Victor, mas ele sempre fora gentil e agradável. Talvez mais atencioso comigo que meus próprios pais.

Segui para dentro da escola com passos comedidos, sem saber ao certo do que tinha medo, e, para piorar a situação, a maioria dos alunos olhava quando eu passava. Claro que eu esperava por tudo aquilo, afinal, estávamos na metade do ano letivo e eu era uma novata, que, ainda por cima, nunca pisara em um colégio público, só que nem por isso deixava de ser incômodo. Peguei meus horários e parti para a primeira aula, de literatura, onde conheci algumas pessoas, em especial uma garota, Teri Lake. Ela de pronto fora muito amistosa, simpática, e falou bastante, perguntando-me mil coisas e dizendo outras tantas sobre si mesma. Seus pais também não eram da cidade e haviam se mudado do Arizona para lá quando ela tinha dez anos, trazendo ela e seu único irmão, Adam, que também estudava ali. Ela disse que me apresentaria a ele depois, se eu prometesse ignorar suas cantadas ridículas, e usou termos como "galinha" e "sedutor barato" para descrevê-lo. Teri era verdadeiramente divertida e também bonita, tinha uma boa altura, grandes olhos azuis, cabelos castanhos e pele alva, já a fala era exasperada, mas, ao mesmo tempo, agradável. Logo percebi que nos daríamos bem.

Depois da discussão com meu pai, na noite anterior, quis dormir o máximo de tempo possível, por isso não havia tomardo café e, àquela altura, estava morrendo de fome. Teri me encontrou no fim do primeiro tempo e foi me mostrando a escola enquanto me acompanhava até ao refeitório, um espaço amplo e muito diferente do intimista e regrado do meu antigo colégio. Logo que atravessamos as duas portas de acesso à cantina, fomos interceptadas por dois rapazes, que pareciam um pouco demais com aqueles clichês de atletas colegiais de filmes para adolescentes.

— Oi, bonequinha. – Um deles, de pele morena clara e cabelos e olhos castanhos, se dirigiu a garota. Mas encarava a mim. – Quem é a nova coleguinha?

A maneira como ele pronunciou as palavras no diminutivo incomodou-me profundamente, fazendo-o parecer incrivelmente burro. Talvez colégios normais fossem mesmo cheios de clichês ambulantes.

— Oi, Dave. – Ela respondeu, sem ânimo algum. – Vamos fazer o seguinte. – Ela de repente se virou para mim, sorrindo de maneira engraçada. – Esse é o Dave, capitão do nosso time de futebol, sem-noção, sem cérebro e completamente idiota. E este é Ryan, seu irmão gêmeo siamês. – Ela disse, apontando o loiro ao lado do tal Dave. – Tenho certeza de que você não tem o nível de paciência adequado para lidar com isso, então, e agora que as apresentações foram finalmente feitas, vamos indo. Você pode voltar ao que estava fazendo, Dave. Aposto que era algo muito interessante.

Os rapazes pareceram irritados, com razão, mas não moveram um dedo sequer em resposta. Ela devia estar mesmo muito acostumada com aquilo, pois passou por eles, me arrastando pela mão, como se nada tivesse acontecido. Aquela menina era com certeza doida. Teri e eu pegamos algumas coisas para comer e fomos nos sentar, perto de duas garotas que conversavam entre si.

— Ei, meninas. Esta é a Amanda. Ela veio de Nova York! – Apresentou-me Teri. – Estas são Crystal e Joselynn. – Apontou uma menina loira de olhos verdes, e a outra ruiva de olhos castanhos.

Sorri para as meninas, que sorriram de volta e me cumprimentaram. Teri sentou-se com elas e me convidou para sentar também. Naquela cidade eram todos muito hospitaleiros.

— Ei. Como é Nova York? Faz jus à fama? – A ruiva, Joselynn, perguntou.

Pensei em dizer que não conhecia a Grande Maçã tão bem, mas fiquei com medo de cair no ridículo.

— Desesperada. – Respondi, o que todo mundo já sabia. – Mas interessante para quem gosta de barulho e de ficar acordado.

"Humpf.".

Ela sorriu. Como aquilo havia colado?

— Quero ir para lá, no fim do ano, mas tenho certeza de que meu pai não vai deixar. Ele tem medo que eu seja sequestrada e vendida para um país no oriente médio. Velho paranóico. – Ela reclamou, rolando os olhos.

— Esses são apenas estereótipos. Há violência em qualquer lugar do mundo. Mesmo aqui, certo? – Eu disse, mordendo um pedaço de maçã verde.

— Foi exatamente o que eu disse. – Ela riu. – Mas acho que ele não me deixa ir porque não conheço ninguém lá. Mesmo que eu fosse com alguém daqui, daria no mesmo. Entende?

— Não seja por isso. Pode ficar na minha casa quando eu estiver por lá. Assim seu pai poderá ficar tranquilo. – Ofereci, dando de ombros.

— Sério? Está me convidando? Você mal me conhece. – Ela ditou sorrindo, incrédula.

— Estou convidando á todas! A não ser que vocês sejam psicopatas assassinas... Vocês são? – Brinquei.

Elas se entreolharam.

— Tem idéia de que acaba de se tornar uma espécie de deusa pagã? – Teri brincou, com ar divertido.

— Tenho sim. Se quiserem beijar os meus pés ou qualquer coisa assim, não se preocupem, não vou me opor.

— Não seja ridícula. Os únicos pés que eu beijaria estão do outro lado dessa cantina. – Colocou Teri, suspirando, e voltei automaticamente meus olhos para o ponto que ela encarava.

Havia um grupo de garotos sentados, conversando e rindo. Deviam ser do tal time, já que estavam junto de Dave e Ryan e vestiam-se de forma quase idêntica. Mas o que eu sabia? O único time que tínhamos no meu antigo colégio era o de críquete e não era nada parecido com aquilo.

— Não disse que eram idiotas e retardados? – Eu perguntei, confusa.

— Sim. E, geralmente, são! Mas Kyle, aquele lindo de agasalho vermelho... – Ela apontou, com o queixo, um garoto de cabelos e olhos claros. – É uma exceção. Ele tem um cérebro e o usa. Sei disso porque fizemos um trabalho de ciências juntos no ano passado.

— E, desde então, ela baba por todos os corredores atrás dele. – A outra garota, Crystal, se pronunciou pela primeira vez. Talvez porque as outras duas tivessem falado o tempo todo.

— Tiramos dez! – Teri contou, vangloriosa.

— E qual é a sua relação com ele? Ele também gosta de você? – Perguntei, ingênua.

Joselynn e Crystal abafaram risos e olhei para Teri, que tinha o olhar cabisbaixo.

— Kyle tem namorada. – Ela revelou, pesarosa.

— Gosta de um cara que tem namorada? – Perguntei, compadecendo-me dela.

— Não escolhemos de quem gostamos. – Ela expressou chateada e fiquei com pena de sua situação.

Ficamos o intervalo todo conversando e nos conhecendo melhor. Joselyn e Crystal eram bem legais também, o bastante para eu não me arrepender de tê-las convidado para a minha casa em Nova York e pensei que seria divertido conhecer, de verdade, a cidade com elas. Quando Lucy e Teri se encontrassem de certo poderiam até trocar experiências, pois, coincidentemente, Lucy também fora apaixonada por um garoto comprometido. A diferença é que ela se declarou, ele terminou com a namorada, para ficar com ela, e foi muito bonito, bonito mesmo, até ela descobrir que, além de estar com ela, ele continuava com a ex e com outras duas namoradas. A confusão por causa disso foi tão grande que incluiu desde palavras de baixo calão até pancadaria generalizada no ginásio do colégio.

— Vamos nessa! Não quero a Sra. McAlister cuspindo na minha cara por estarmos atrasadas. Aquela louca sempre chega antes. – Teri disse, indignada, batendo levemente na mesa. – Qual é a sua próxima aula, Amanda?

— Er... Deixe-me ver. – Peguei meus horários na bolsa e procurei pela próxima aula. – É história! – Falei.

— Legal, a mesma que a minha. Sinto muito por você ter que conhecer satã em pessoa, mas ele está aqui nesta escola especialmente, na forma de bruxa velha, para nos infernizar com suas aulas chatas e intermináveis. Fazer o quê? – Ela deu de ombros.

Quando me dei conta, Teri já agarrava a minha mão e Crystal e Joselyn acenavam sem sequer estranhar. Aquilo devia mesmo ser bem normal. Ela se levantou, me puxando junto, e depois disso foi tudo rápido. Quando estávamos andando, apressadas, Teri se virou para me dizer algo, e, neste momento, um rapaz veio correndo na nossa direção. Ele ia se refrear segurando nela pelo que entendi, mas ela, por estar distraída, se assustou e acabou se movendo para o lado, me puxando e fazendo com que o garoto batesse bem de frente comigo. Senti o baque, o que fez com que minhas pernas imediatamente fraquejassem, e, como o cara era muito mais pesado do que eu, fomos parar os dois no chão, com ele em cima de mim. Meu ar se foi e o rapaz ficou apenas ali, me encarando, parecendo não perceber que seu peso levava embora todo o meu oxigênio.

— Oi. – Ele disse, de repente, fitando-me profundamente nos olhos. Com suas belas órbes de céu.


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