Utópico. escrita por DihDePaula


Capítulo 32
Capítulo 31 - A verdade nunca é fácil.




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Luce sabia que a verdade seria difícil para Sebastian, quando tudo viesse à tona. Mas nunca imaginou vê-lo daquela forma, partia seu coração ver seu irmão mais velho chorar feito uma criança em seu colo.E naquele momento ela somente o acariciou tentando acalmá-lo, deixaria ele colocar toda sua tristeza para fora. Soltou um longo suspiro e depois de alguns minutos e disse.

— Ela te contou a verdade. — Afirmou Luce.

Sebastian ergueu a cabeça e fitou Luce confuso, ela soltou um novo suspiro e esperou ele começar a entender. Pelo visto o raciocínio estava lento devido ao excesso de informação e o sofrimento. Quando a compreensão atingiu Sebastian ele ficou de pé rapidamente e se afastou de Luce. Ela observou ele andar de um lado para o outro, esfregou as mãos de forma bruscas na face enxugando as lágrimas.

— Você sabia quem ela era! Você deveria ter me contado, Luce. Eu sou seu irmão. — Esbravejou Sebastian irritado.

Luce cruzou suas pernas e pousou as mãos sobre os joelhos, o encarou por alguns segundos com a sobrancelha erguida enquanto ouvia as palavras dele. Iria desconsiderar os gritos e grosserias por ele estar muito nervoso. Quando Luce soube de Luna de certa forma já estava preparada, afinal, ela já desconfiava. Mas Sebastian não fazia ideia e ela imaginava o quanto estava transtornado.

— Quando eu descobri a verdade eu prometi não contar a você, prometi deixar que ela mesmo fizesse isso. Ela era a pessoa que deveria te dizer a verdade, deveria saber por ela e não por outra pessoa. Se ficasse sabendo por outra pessoa, não importa quem fosse. Você nunca a perdoaria e ela mesmo te contando vocês ainda têm uma chance. — Disse Luce com calma.

Sebastian olhou para ela incrédulo, parecia não acreditar nas palavras de sua própria irmã e também parecia não entender a calma que Luce estava. Ela teve algumas semanas para digerir o assunto completamente, ele só tinha alguns minutos.

— Não sei se posso perdoá-la por isso Luce. Tudo não passou de uma grande mentira. — Disse Sebastian com uma expressão triste.

— Sebastian ela ama você. O único medo que ela tinha era que você a odiasse, sempre que conversamos sobre isso ela falava que morria de medo de você odiá-la e não querer olhar na cara dela nunca mais. Ela está disposta a encarar o próprio pai para ficar com você, já que ele não aprova nem um pouco o namoro de vocês. — Disse Luce.

— Isso não apaga as mentiras Luce e nem as coisas que ela fez por causa de uma vingança. — Sebastian esbravejo e isso fez que Luce erguesse a sobrancelha.

— Agora eu entendi sua raiva, não é pela mentira em si. E sim porque ela transou com o Bernard para conseguir informações e você está com ciúme. Porque ele transou com ela e você não? — Disse Luce com um pequeno sorriso debochado.

— Luce não resuma tudo que estou sentindo a ciúmes, é bem mais que isso! — Gritou Sebastian.

Luce ficou de pé e se aproximou de Sebastian com o nariz empinado e uma expressão séria. Luna havia errado, mas os dois se amavam demais para ficar remoendo coisas que não poderiam ser mudadas. A única coisa que eles podiam mudar era o presente e também o futuro, nada além disso.

— Sim ela mentiu sobre quem ela era para conseguir informações, transou com Bernard pelo mesmo motivo. Mas caso você não lembre Travis expulsou a família dela daqui de forma humilhante e não satisfeito continuou perseguindo eles. Inclusive ele matou a mãe dela e duas de suas tias, manteve outra tia e uma prima sobre cárcere privado e maus tratos. Pare por um instante e se coloque no lugar deles Sebastian. — Disse Luce e ele se manteve em silêncio.

— E se eu tivesse sido expulsa daqui como cão sarnento e humilhada perante toda a cidade? Ou se ele tivesse trancado eu e Amélia em uma cela durante anos, mal nos dando coisas para comer? E se ele me matasse Sebastian, o que você faria? Deixaria para lá? — Perguntou Luce,

— Não, eu ia querer justiça. Mas não faria dessa forma, é desleal e horrível. — Disse Sebastian.

— Ela nunca quis isso, ela e os irmãos iam fugir para não ter que fazer isso. Só que o Travis resolveu matar a mãe dela e depois disso ela não quis ir embora. Ela quis vingança? Sim. E daí? Eu também ia querer, você diz que não porque é bonzinho demais. Se um dia eu tiver que matar alguém, manipular alguém para proteger você ou vingar você, pode ter certeza que eu farei. — Luce falou de forma firme.

— Por que ela demorou tanto para contar a verdade? Podia ter falado antes, estamos juntos a meses Luce, meses e ela nunca disse nada. — Reclamou Sebastian.

— Claro, ela ia chegar contando quem era para os filhos de Travis. Ia contar para eles que pretendia destruir o próprio pai e leva-lo a um julgamento público que a sentença de morte já é certa. — Debochou Luce.

Sebastian ficou em silêncio por alguns instantes observando Luce e ela fez o mesmo. Cruzou os braços na frente do corpo e o encarou em silêncio, pelo visto ela precisaria ser a voz da razão na cabeça dele.

— Quando ela percebeu que éramos diferentes, que podia confiar na gente ou sei lá quando eu me propus a me aliar ao pai dela? Por que ela não disse nada? — Sebastian soltou um suspiro.

Ele sentou-se na beirada do divã que tinha no quarto e não demorou muito para ela sentar ao seu lado, com o corpo um pouco virado para o dele. Luce tomou as mãos de Sebastian entre as suas e começou a acariciar lentamente. Soltou um pequeno suspiro e começou a falar.

— Ela teve medo Sebastian, medo de perder a gente. Como ela mesmo diz, já perdeu pessoas demais e não aguentaria perder nós dois.— Luce suspirou e continuou. — Primeiro perdeu a liberdade, teve que treinar exaustivamente todos esses anos para fazer algo que ela nem queria, depois perdeu a mãe que foi assassinada por Travis e logo em seguida perdeu o pai. Ela me contou que apesar de Nikollay ser rígido com o treinamento dos filhos ele era um pai amoroso, buscava estar sempre perto deles ajudando e ensinando, durante as refeições fazia questão de ter todos a mesa sorrindo e conversando, mas depois que Amber morreu ele se isolou, se tornou um pai ausente, relapso e maníaco por controle. A única coisa que o motivava era a vingança. — Luce suspirou e continuou.

— Ela me contou que quando era adolescente não pensava no amor por não ter tempo para isso, mas achava lindo a forma que seus pais se amavam. Mas depois ela detestou o amor, porque ela viu aquele mesmo amor destruir o pai dela e ela jurou nunca amar ninguém, pois, se ela amasse a probabilidade de se tornar vulnerável era maior. Tinha medo que um dia o amor a destruísse, como destruiu o pai dela. E talvez seja isso que aconteça com ela. — Murmurou Luce no final.

Sebastian ficou em silêncio encarando o chão, parecia que mil coisas se passavam pela mente dele ao mesmo tempo. Não sabia o que fazer, uma parte estava com raiva pela mentira. Só que outra parte não queria se manter longe, a dor em seu peito era tão forte que parecia que estavam lhe esmagando o coração.

— Não deveria te contar isso, mas talvez o clã Deverpolt se divida por sua causa. — Disse Luce.

— Como assim? Por minha causa? — Sebastian questionou confuso.

— Naquele dia na margem do bosque Nikollay percebeu que ela te amava e disse que mataria você, que não aceitaria seu envolvimento com ela. Luna disse a ele que não permitiria isso e que estava disposta a desafiá-lo pelo posto de Alfa para isso. Pelo que ela me explicou só se pode ser alfa de três formas. Hereditariamente, o Alfa atual abdicar de seu posto ou uma luta e o vencedor sería o novo alfa. Mas geralmente essas lutas são até a morte, para que o outro não possa desafiar novamente. Ou ela se desligaria do clã, se ela fizer isso a maioria dos irmãos dela vai sair junto com ela, assim como alguns membros mais novos. Os mais velhos é claro que apoiarão Nikollay e sua mentalidade arcaica. Como não consegue perceber o amor dela por você Sebastian? Ela está disposta a enfrentar o próprio clã, a própria família somente por uma chance de viver ao seu lado. — Concluiu Luce.

— Será que isso tudo é verdade? Ou ela te disse só para te convencer disso tudo. — Resmungou Sebastian.

— Você é realmente um idiota! — Bradou Luce irritada. — Toda semana ela envia relatórios e recebe relatórios, os para Nikollay são sempre formais. Mas sempre vem uma carta do gêmeo dela ou do irmão mais velho no meio. Sempre leio cada carta e eu mesmo coloco no corvo para ser enviada, assim como ela sempre deixa eu ler o que escrevem para ela. — Disse Luce.

— Que corvo? — Perguntou Sebastian.

— O corvo da bruxa que vive no clã, eles amarram as mensagens na pata dele e ele traz para ela. Ela manda de volta sempre da mesma forma, é assim que eles se comunicam com ela, com o Pablo e com o Ethan. — Disse Luce dando ombros.

— Eu tinha me esquecido desses dois. Eles o tempo todo sabiam sobre isso, várias vezes me disseram que não era eles que deveriam me contar. — Disse Sebastian.

— Porque ela pediu para que deixássemos ela te contar antes da invasão, que você deveria saber sobre isso pela boca dela e não no meio da confusão. Ainda mais que provavelmente o pai dela vai colocar sua cabeça a prêmio durante a invasão. — Luce deu ombros e o encarou.

— Por que eles estão ajudando ela? — Perguntou Sebastian.

— Ethan é tio dela, ou já se esqueceu que ele é irmão de Amber? Ele quer vingar as irmãs e Pablo é tipo o guarda-costa/reforço da Luna na cidade. — Disse Luce soltando um suspiro. — Já imaginou como deve ser difícil para ela Sebastian? Viver em um lugar diferente, cercada por pessoas que você não conhece, que não pode confiar. Já que caso descubram quem você realmente é vão matar você. Ficar meses longe de sua família sendo que a vida inteira sempre os teve por perto? Já tentou se colocar no lugar dela por um segundo? Eu já e sinceramente odiei, não conseguiria fazer isso. Uma vez ela me disse que só se sente ela mesma quando está sozinha com um de nós três ou os três. Que ela não precisa fingir tanto ou ficar alerta o tempo inteiro com medo de ter a garganta cortada. Veja a situação como um todo e não somente como o namorado ciumento. — Concluiu Luce.

Luce observou Sebastian ficar em silêncio por alguns minutos, ela respeitou aquilo. Ele

Precisava pensar em tudo que Luna e Luce haviam contado, precisava colocar suas ideias no lugar e precisava olhar amplamente a situação. Luce sabia que seu irmão podia estar com raiva, mas que a perdoaria. Ela acreditava que o amor deles era mais forte do que aquilo e ela com certeza não aceitaria nada diferente deles dois juntos, felizes e lhe dando lindos sobrinhos.

— Isso não anula o fato de que ela mentiu esse tempo todo, relacionamentos não podem se basear em mentiras. — Murmurou Sebastian.

— Vai dizer que a bonita nunca mentiu? Fosse para proteger alguém ou a si mesmo. Deixa de ser hipócrita Sebastian! — A loira revirou os olhos conforme ouvia a fala de seu irmão.

— Eu não sou hipócrita, Luce! — Disse Sebastian sério.

Naquele momento Luce se enfureceu, ele já estava sem desculpas e ficava falando asneiras. Ela se colocou de pé na frente dele e cruzou os braços na frente do próprio corpo. Sua expressão era de pura raiva, que era isso que ela sentia do irmão no momento, por estar sendo não idiota.

— É sim! Mentiu para mim todos esses anos e mesmo assim quando eu soube da verdade eu te perdoei e deixei para lá, para ver até quando você ia mentir e quando ia ter a coragem de me contar, que Travis, na verdade é nosso tio! — Luce naquele momento já estava gritando e não se importava.

Sebastian a olhou espantado tanto pelos gritos, quanto pelas palavras. Ele ficou pálido por alguns instantes e parecia querer fugir dali, olhou para os lados e respirando fundo voltou a encará-la. A expressão culpada estava na face do rapaz e Luce se manteve séria.

— Co-como você descobriu? — Perguntou Sebastian.

— Uma vez você mandou eu ir pegar alguns papéis no seu quarto, acabei demorando demais para acha-los. Mas no meio de alguns papéis estavam as xerox de nossas verdadeiras certidões de nascimento e várias anotações com a sua caligrafia sobre isso. Depois de pesquisar mais afundo eu descobri que tudo aquilo era verdade, mas eu nunca contei para ninguém. Eu estava esperando o momento que você confiaria em mim e me diria a verdade, mas ele nunca chegou não é? — Disse Luce de forma sarcástica.

— Lu, eu só queria te proteger. Eu ia te contar, mas só depois que Travis fosse preso e nós recuperarmos tudo que ele roubou. Primeiro você teria que estar segura e longe dele, depois eu teria que conseguir aliados para que ele fosse julgado e pagasse por seus ... — Naquele momento a fala de Sebastian foi morrendo.

Ele ficou em silêncio encarando a irmã e ela devolveu o olhar, mas diferente de antes o olhar de Luce agora era calmo e sereno. Ela havia feito ele compreender que não era tão diferente de Luna em alguns pontos, só os métodos eram diferentes, mas o objetivo era o mesmo.

— Você só queria que ele pagasse pelos crimes que cometeu e devolvesse tudo o que pertencia a você, mas nunca conseguiria isso com o tribunal de Borthen já que ele tem todos dentro dos bolsos. Queria fazer ele pagar por todo os bens que lhe foram roubados, queria fazê-lo pagar por cada humilhação que ele te fez sofrer. Isso soa bem familiar não? — Disse Luce com um pequeno sorriso. — Sabia que Travis tomou todo o dinheiro de todos os Deverpolt? Tudo que tinha no banco foi transferido para a conta da prefeitura e depois para a dele. Sem falar da vila né? Que abrigava várias famílias e muitos não sobrevivem ao inverno na floresta, principalmente idosos e crianças. Sem falar que os Deverpolt foram humilhados sabe, uma humilhação tão grande que marcou todos eles. Pode não ter marcado a pele Sebastian, mas marcou a alma.

O silêncio novamente havia tomado conta daquele quarto. Luce continuava fitando Sebastian e ele encarava o chão como se estivesse com vergonha por ter sido descoberto. Pelo jeito ele não imaginava que Luce soubesse a verdade sobre os pais deles.

— Na verdade, eu não quero só justiça contra Travis, não mais. Acho que também quero vingança Luce e isso realmente me torna um hipócrita do caralho por ter julgado a Luna. — Sebastian finalmente ergueu o olhar e fitou sua irmã sério.

— Você também acha que foi ele que os matou, não é? — Perguntou Luce soltando um pequeno suspiro. — Quando comecei a pesquisar descobri sobre o testamento real, onde tudo pertencia a nós dois. E depois tudo passou para o nome dele e de Amelia, aos poucos as coisas foram se encaixando. Só poderiam mexer em nossa herança e passar definitivamente para eles depois que fizéssemos 21 anos de idade. E para ser definitivo os dois precisavam ter mais de 21 anos e eu ainda não tenho. — Concluiu Luce.

— Eu também penso assim e provavelmente depois que você completar 21 anos ele daria um jeito de sofrermos um acidente e morrermos para poder usufruir de tudo que é nosso. — Disse Sebastian com certa raiva.

— Ainda consegue culpá-la por querer se vingar dele Sebastian? Sendo que ele fez basicamente a mesma coisa conosco, que somos sobrinhos dele? Consegue realmente dizer que ele não merece o que os Deverpolt planejaram para ele e para Albert? — Perguntou Luce voltando a se sentar.

— Não, eu não consigo Luce. Agora depois de conversar com você com mais calma, acho que entendo bem o que a Luna fez. Ela fez o que tinha que fazer para recuperar o que era seu e para fazer ele pagar. — Murmurou Sebastian.

— E o que você vai fazer agora? — Perguntou Luce.

— Vou falar com ela, sem discussão, sem julgamentos. — Disse Sebastian dando ombros.

— Muito bem! Agora suma daqui que são 3:00 da manhã e eu quero dormir. — Resmungou Luce se colocando de pé.

Sebastian olhou espantado para o relógio que tinha ao lado da porta e conferiu que o horário estava correto. Ele estava ali a mais de 4 horas com sua irmã e nem havia percebido. Ficou de pé e caminhou até a porta em silêncio, parou antes de abrir a mesma e disse.

— Talvez seja melhor falar com ela amanhã, está tarde. — Disse ele.

— Deixe de ser idiota, ela não vai estar dormindo e quanto mais tempo você demorar para ir até lá, mas triste e agoniada ela vai ficar. Não faça isso com ela, seria maldade. Agora vá logo e boa noite! — Disse Luce já se enfiando embaixo das cobertas.

— Boa noite Lu, durma bem. — Disse Sebastian antes de sair e fechar a porta atrás de si.


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