Utópico. escrita por DihDePaula


Capítulo 30
Capítulo 29 - Confissões




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Luna andava de um lado para o outro dentro de seu quarto. Estava nervosa com a demora dos rapazes e receosa que tudo desse errado. Ela sabia que havia se arriscado demais falando tantas coisas na frente de Sebastian, mas estava nervosa e com medo dele ir sozinho. As chances de tudo dar errado com ele estando sozinho era gigantesca e ela não permitiria que nada acontecesse com ele.

— Você vai acabar abrindo um buraco nesse chão, se acalme Luna. — Disse Luce impaciente.

— Se algo tivesse dado errado nós já saberíamos, se está tudo calmo é porque eles não foram descobertos e isso é bom. — Disse Abi em um tom calmo.

Luna sabia disso, sabia que as coisas estarem calmas era um bom sinal. Se eles tivessem sido descobertos estaria uma grande confusão na cidade, porque ela duvidava que alguém fosse se entregar para aquele crápula sem lutar. Mas ao mesmo tempo ela tinha tanto medo, afinal o melhor amigo dela e o amor da vida dela estavam lá fora correndo riscos, fazendo alguma coisa. Enquanto ela estava presa no quarto sem poder fazer nada e isso era algo que ela odiava profundamente.

— Eu deveria ter ido com eles. Não sou do tipo que fica sentada em casa esperando os homens resolverem tudo para mim. — Disse Luna irritada.

— Eu sei querida, sabemos bem como você é. Mas isso é algo que meu irmão precisa fazer e resolver. Se tivesse ido com eles seria muito arriscado. Quanto maior o grupo perambulando por aí, maior vai ser a atenção.

— Sim, não precisa se preocupar com o senhor Sebastian. Seu amigo deve cuidar dele e seu tio também. — Disse Abi.

Luna soltou um longo suspiro, caminhou até uma das poltronas estofadas que ficava dentro de seu quarto e deixou seu corpo cair pesadamente sobre a mesma. Observou o quarto em silêncio, estava perfeitamente arrumado. O fino tecido branco adornava a cama dossel e os lençóis eram de um azul suave, a seda reluzia parecendo bem convidativa.

— Eu sei, mas não estou preocupada só com o Sebastian. Pablo às vezes é um idiota, mas é meu melhor amigo e Ethan é meu tio. Se algo acontecer com ele, no mesmo instante Travis vai atrás de meus avós. E eles já sofreram tantas perdas, estão merecendo um pouco de paz.

— Temos que ter fé neles e esperar, não há muito o que fazer. — Disse Abi com um pequeno sorriso. — Eu preciso descer para resolver algumas coisas, vai querer que eu traga o seu jantar?

— Não, Abi. Obrigada, pode ir e depois se recolher. Acho melhor eu ficar um pouco sozinha agora para ver se eu me acalmo. — Disse Luna soltando um pequeno suspiro.

Abi assentiu e com um pequeno sorriso se retirou do quarto. Deixando Luna e Luce sozinhas, elas ficaram se olhando em silêncio por alguns minutos. Luna se levantou e caminhou na direção da sacada, ficou observando a cidade em silêncio. A lua já brilhava com toda sua glória no céu acompanhada das estrelas. Luce parou ao lado de Luna e encostou a cabeça no ombro da amiga.

— Eles estão bem, não se preocupe. — Disse Luce.

Luna podia perceber que sua amiga tentava se convencer. Luna sempre havia sido calmas em situações arriscadas, sempre fria e calculista para que nada saísse errado. Quem diria que depois de alguns meses naquela cidade se tornaria uma garotinha assustada com medo de perder o namorado,, ou quase namorado.

— Eles são espertos e vão ficar bem, eu que sou uma boba e fico surtando sem motivo. — Disse Luna dando uma pequena risada.

— Na verdade, você não está acostumada a ficar sem fazer nada. Você é o tipo de pessoa que é a primeira a se jogar de cabeça na briga e agora que está tendo que assistir de longe, deixando os outros resolverem por você, está surtando querendo fazer algo. — Disse Luce.

— Você daria uma ótima psicóloga, já que consegue enxergar as coisas tão facilmente. — Disse Luna rindo.

— Depois que a gente te conhece melhor, não se torna tão difícil. — Luce soltou uma risada e deu ombros.

— Acho que vou tomar um banho e deitar um pouco, já que a única coisa que posso fazer é esperar. — Disse Luna voltando para o quarto.

Luce a seguiu e assentiu diante das palavras dela. Foi até a escrivaninha que ficava no quarto e pegou seu casaco e bolsa que estavam jogados ali. Deu um pequeno sorriso para Luna e caminhou na direção da porta, mas antes de sair fitou a amiga em silêncio por alguns segundos.

— Sabe que ele vai voltar com muitas perguntas, não é? — Disse Luce um pouco apreensiva.

— Eu sei disso, mas não sei o que vou falar para ele. De qualquer forma só espero que ele não me odeie. — Com uma expressão triste Luna entrou no banheiro.

Ela escutou a porta do quarto bater e suspirou, depois de se despir entrou no chuveiro. Abriu a ducha e deixou que a água quente batesse sobre o seu corpo para acalmar o mesmo. Soltou um longo suspiro e calmamente começou a se banhar. Sem saber ao certo quanto tempo estava ali, decidiu encerrar o banho de uma vez. Colocou um roupão preto que ia até a altura de seus joelhos e com uma toalha da mesma cor ela secava os longos cabelos negros enquanto voltava para o quarto.

Quando abriu a porta aquele cheiro familiar invadiu suas narinas, levou meio segundo para achá-lo dentro do quarto, sentado em sua cama. Soltando um suspiro de alívio Luna se apressou na direção dele. Sem se importar com nada ela somente se jogou contra ele o abraçou, deixou sua cabeça escorada no ombro dele e suspirou.

Sebastian a acolheu em um abraço carinhoso, Luna podia sentir as mãos dele deslizando sobre suas costas em uma pequena carícia. Tudo o que importava era que ele estava bem, ela não sabia o que faria se algo acontecesse com ele. Afastou o rosto o suficiente somente para fita-lo e deixou que suas mãos se acomodarem no belo rosto dele, em silêncio ficaram ali por alguns minutos somente se olhando. Ele acariciando as costas dela e ela acariciando a sua face.

— Está tudo bem, eu estou aqui e estou bem. — Disse Sebastian de forma suave.

— Eu fiquei com medo de alguma coisa dar errado. — Sussurrou Luna.

Ela o abraçou novamente e soltou um suspiro de alívio. Só então foi perceber como ela realmente estava. Estava somente com o roupão, escarranchada sobre o colo de Sebastian e abraçada a ele. Lentamente ela começou a se afastar sentindo as suas bochechas ficarem vermelhas, geralmente não costumava ficar envergonhada. Afinal, todo o clã dela já havia visto ela nua por conta das transformações e lobos não tinham tanto pudor assim. Mas era bem diferente estar sentada no colo do cara que ela gostava, praticamente nua.

Ela se levantou um pouco desconcertada com a situação. Sebastian tinha um pequeno sorriso de divertimento em seus lábios e estava com a sobrancelha erguida. Mas Luna não pode deixar de reparar que disfarçadamente ele pegou uma das almofadas que estavam do lado direito e colocou a mesma sobre o colo.

— Desculpe pelo meu rompante, geralmente sou mais contida. — Disse Luna se sentando ao lado dele.

— Eu sei disso, ma Lune. Mas eu gostei de ter você em meus braços dessa forma. Pode ter outros rompantes desses sempre que quiser. — Disse Sebastian soltando uma leve risada.

Luna sentiu sua face esquentar ainda mais e desviou o olhar. Ficaram em silêncio por alguns segundos, ela esperando as perguntas que sabia que viriam e ele tentando decidir como abordar o assunto. Geralmente eles estavam sempre em sintonia, mas naquela noite as coisas pareciam um pouco fora do eixo.

— E como foi lá? — Perguntou Luna quebrando o silêncio.

— Melhor do que eu imaginava, não imagina a minha surpresa ao ver algumas pessoas que eu conheço bem apoiando a resistência. E foi um choque para todos quando eu aparecia, tinha que ver a cena. Com isso conseguimos apoio de muitas pessoas que estavam na dúvida se iam ou não se envolver na guerra. Afinal, se o próprio filho estava contra o pai. — Sebastian deixou a frase morrer e deu ombros.

— Você está fazendo aquilo que acha certo e que realmente é o certo. Porque ele é um crápula, um tirano e a cidade vai estar melhor sem ele no poder. — Disse Luna soltando um suspiro.

— Me preocupa é quem vai entrar depois, será que vai ser o Nikollay? — Perguntou Sebastian

— Acho bem difícil o povo aceitar ele, eu acho que deveriam deixar o povo escolher. — Disse Luna.

Sebastian assentiu e a fitou por alguns instantes, ela podia sentir o olhar dele sobre si. Então voltou a fitá-lo, ficaram em silêncio olhando um para o outro. Ela já não estava mais se importando se estava só de roupão na frente dele e em vez de pensar na guerra iminente, nas mentiras que um dia vão ser descobertas. Ela só conseguia pensar em como seria o toque dele sobre sua pele, o desejo estava estampado nos olhos de ambos.

Ela se aproximou dele com calma e deixou seus lábios roçarem sobre os dele. O beijo se iniciou com um roçar de lábios, mas logo em seguida se transformou em um beijo intenso. Suspirou quando sentiu os dedos dele se enrolando em seus fios negros. Os braços de Luna envolveram o pescoço de Sebastian e ela o puxou levemente para si, enquanto aumentava ainda mais a intensidade do beijo.

Naquele momento nenhum dos dois estava pensando direito, só queriam sentir um ao outro. Mas Luna sabia que não poderia passar de beijos com ele antes de contar a verdade. Talvez se eles se envolvessem ao ponto de passarem a noite juntos e ele só descobrisse a verdade depois, talvez ela nunca tivesse o perdão dele.

Com esse pensamento rondando sua mente de forma relutante Luna se afastou dele soltando um pequeno suspiro. Os lábios de ambos estavam um pouco avermelhados e levemente inchados por conta dos beijos e mordidas, um sorriso dançava nos lábios de Sebastian e para ela foi impossível não retribuir. Quando sentiu o toque dele em seu rosto iniciando uma leve carícia, Luna fechou os olhos por alguns instantes e se permitiu um momento de paz.

— Nós temos que conversar Luna. — Disse Sebastian com calma, mas utilizando um tom sério.

Ela abriu os olhos e o encarou em silêncio. Luna assentiu deixando que ele iniciasse aquela conversa, ela ainda estava na dúvida do que fazer. Se deveria mentir mais ou se contava logo a maldita da verdade, mas tinha tanto medo de quando ele soubesse de tudo, ele a odiasse.

— Sei que está me escondendo coisas, antes eu suspeitava e hoje eu tive a certeza. Porque para Pablo, Ethan e até para o Sr. Steves parecia que a sua palavra era lei, só me ajudaram por sua causa e eu preciso entender o por que? — Disse Sebastian com um tom suave, ele continuava a acariciar a face dela. — Mas para que se sinta mais a vontade de me contar o que você esconde, vou te contar algo que eu escondo. Lembra de quando eu falei que Travis não era o meu pai?

Conforme Sebastian foi falando ela podia sentir seu coração doer, sentia como se uma mão agarrasse e tentasse esmaga-lo. Tinha tanto medo do que a verdade poderia fazer com eles dois, ela nunca disse isso a ele, mas ela o amava e não queria perdê-lo. Quando ele tocou no assunto da paternidade de Travis, Luna somente assentiu em silêncio e ele continuou.

— Mesmo nos dias de hoje alguma pessoas ainda fazem casamentos arranjados por conta de poder, status e dinheiro. A família Campbell e a família Montgomery eram famílias poderosas, cada um com um tipo de negócio. Mas quando unidos poderiam triplicar os lucros de todos e diante disso as famílias decidiram fazer mais que uma sociedade empresarial. Eles decidiram casa seus filhos para selar a união das empresas. Travis e Amélia ficaram a frente dos patrimônios dos Campbell, enquanto Sara e Jhon ficaram a frente do patrimônio dos Montgomery. Os pais decidiram se aposentar e deixar que Travis e Jhon tomassem conta de tudo, Jhon e Sara estavam morando em Boston. E depois do aniversário de 6 anos do filho mais velho eles decidiram fazer uma viagem e os pais de Sara decidiram acompanha-los. O filho de seis anos do casal e a bebê de dois anos ficaram com uma prima de Jhon, seria algo que duraria somente uma semana. Já que Sara detestava ficar longe dos filhos, mas o que ninguém esperava era que um acidente tiraria a vida daquela família. Até hoje ninguém sabe direito o que aconteceu, mas a carruagem que eles estavam caiu de um desfiladeiro. Como os pais de Sara morreram no acidente e os de Jhon já haviam falecido, os únicos parentes vivos para cuidar de seus filhos eram os seus irmãos, Travis e Amélia

Luna ficou em silêncio escutando cada palavra aos poucos as peças iam se encaixando e as coisas começaram a fazer algum sentido. Agora entendia porque ele e Luce eram tão diferentes de Travis, eles não eram filhos dele e sim sobrinhos. Sebastian não desviou o olhar do dela conforme ia contando a sua história e ela podia ver a dor, a tristeza estampado nos olhos azuis que ela tanto amava.

— Então você e Luce são sobrinhos deles? — Perguntou Luna somente para confirmar se havia entendido certo.

— Sim e sabe o que é pior? — Perguntou Sebastian com certa amargura na voz. — É que a alguns anos eu descobri que a carruagem foi sabotada, tudo que era de nossos pais foi dividido entre eu e Luce no testamento. Mas de alguma forma misteriosa tudo passou para o nome de Travis e Amelia.

Aquela informação havia pegado Luna de surpresa. Ela não se questionaria se Travis seria capaz ou não de fazer tal coisa, porque ela sabia que ele era capaz disso e muito mais. E pelo que estava entendendo ele havia matado o próprio irmão para roubar tudo dos sobrinhos. As vezes ela achava que não conseguiria sentir mais ódio daquele homem e quando menos esperava a vida jogava uma bomba dessas em seu colo.

— Você acha que ele matou seus pais? — Perguntou Luna com cautela.

— Eu tenho quase certeza, só não tenho como provar. Tudo que pertencia a minha mãe foi para o nome de Amélia e o que pertencia ao meu pai para o nome dele. Eu descobri que Amélia deu uma procuração a ele, para que ele gerenciasse todo o patrimônio dela. Eles são casados em comunhão total de bens. O pior é que ela não faz ideia que dorme com o assassino de seus pai e sua irmã, quando descobri fiquei com raiva dos dois. Mas depois descobri que ela não sabe é de nada, da última vez que consegui entrar no escritório sem ninguém me ver ele estava com documentos para passar as coisas que eram dos meus pais para o nome dele. — Disse Sebastian soltando um longo suspiro.

Ele cobriu o rosto com suas mãos e fechou os olhos por alguns segundos tentando se acalmar. Luna sentiu seu peito doer por vê-lo daquela forma e ao mesmo tempo seu sangue fervia querendo sair daquele quarto e arrancar a cabeça de Travis. Pelo visto o cara gostava de matar a mãe das pessoas, mas em breve ele pagaria por todos os seus crimes e ela sabia disso. Luna se aproximou de Sebastian e o abraçou, deixou que sua cabeça deitasse no ombro dele. Com uma mão ela afagou as costas ele e com a outra acariciava o braço.

— Ainda não tive coragem de contar isso a Luce. — Sussurrou Sebastian.

— Eu não direi nada, acho que você deve contar isso a ela. Mas acho que quanto antes melhor. — Disse Luna soltando um suspiro.

Ele balançou a cabeça confirmando. Ele levantou seu rosto e a fitou deitada em seu ombro, aquela caricia parecia acalmá-lo e acalentá-lo. Sebastian a abraçou e ficaram ali em silêncio cada um perdido no meio de seus próprios pensamentos. Luna estava com sua mente fervendo, já não aguentava mais as mentiras e sabia que quanto mais demorasse pior seria, as chances de perdão diminui a cada dia que passava. Uma hora ele ia acabar descobrindo e se descobrisse por terceiros seria bem pior.

Tomando uma decisão ela se levantou e arrastou a poltrona até a frente dele. Sentou na mesma e o encarou em silêncio tomando coragem para fazer a coisa certa. Ele a olhava confuso, mas ficou em silêncio quando percebeu que ela pretendia lhe contar alguma coisa. Afinal, agora era a vez dela de se abrir.

— Antes de te contar o que quer saber eu preciso te falar uma coisa e que me prometa algo. — Disse Luna apreensiva.

— Tudo bem, pode falar e pedir. Se estiver ao meu alcance cumprir essa promessa. — Disse Sebastian.

Percebeu que ela estava apreensiva e com medo, algo dizia para ele que não gostaria muito daquela conversa. Mas ele havia pedido a verdade e teria que aprender a lidar com ela. Tentando ajuda-la a se acalmar Sebastian envolveu suas mãos com a dele e ficou acariciando em silêncio enquanto a fitava com atenção.

— Quero que me prometa que vai me escutar antes de falar algo, vai escutar tudo que eu tenho a dizer e tentar entender o motivo de tudo isso. Ok? — Perguntou Luna.

— Sim, acho que isso eu consigo fazer. Só saio daqui quando disser que terminou de falar, combinado? — Questionou Sebastian e Luna assentiu.

— Eu quero que você saiba que no começo eu realmente fiz tudo errado, mas depois que nos aproximamos eu já não conseguia mais. Você e Luce são importantes para mim, Luce eu a amo com a mesma intensidade que amo meus irmãos. E você Sebastian, você eu amo com todo o meu coração, eu realmente espero que você não me odeie e que possa me perdoar um dia. Mas nunca duvide do meu amor por você, porque isso nunca foi mentira. — Disse Luna

Conforme ela começou a falar a sua voz acabou embargando por conta da emoção, não era assim que ela planejava dizer que o amava pela primeira vez. Mas era o que ela poderia fazer naquele momento, só esperava que ele pudesse acreditar nela. Ela não tinha percebido que havia derramado algumas lágrimas até Sebastian delicadamente enxugar as mesmas. Sebastian se aproximou e envolveu o rosto de Luna com suas mãos, os polegares secavam as lágrimas ao mesmo tempo que afagavam suas bochechas. Os lábios dele tocaram os dela em um beijo delicado e suave, quando ele se afastou Luna pode ver a confusão e o receio em seus olhos.

— Eu também amo você, Luna. Acho que a amo desde o momento que te vi pela primeira vez. — Disse ele com um pequeno sorriso.

Ela levantou uma das mãos e acariciou o rosto dele, precisava fazer aquilo. Por mais que soubesse que aquilo o magoaria, por mais que soubesse que talvez ele a odiasse. Era mais fácil arrancar o band-aid de uma única vez, do que ficar puxando aos poucos. Luna se afastou um pouco e respirou fundo, quando ela conseguiu se acalmar ela segurou as mãos dele e começou.

— Eu venho mentindo para todos desde o dia que eu cheguei aqui, sempre imaginei que essa missão seria fácil. Era só entrar, fazer o que eu tinha que fazer e sair. Mas então eu conheci você, conheci a Luce e conheci a Abi, em algum momento eu percebi que a missão não ia ser nada fácil e que seria bem mais complicada do que eu esperava. Quando eu nasci meu pai estava em busca de vingança, ele só queria se vingar e pegar aquilo que lhe pertencia de volta. Então quando aquela bruxa velha veio com aquela maldita profecia de que um dos filhos dele iria derrotar seu inimigo e trazer a glória para a família., ele surtou. Fez da vida de todos os filhos um verdadeiro regime militar, porque não podíamos ser crianças normais e brincar por aí, nós tínhamos que ser guerreiros impecáveis, inteligentes, espiões e o que mais a mente dele imaginasse que seria útil. E quando descobriram que eu era a criança da profecia, a pouca liberdade que ainda me restava acabou. Eu odiava aquela vida, quem ensina uma criança de seis anos arremessar facas? Faz lutar com seus próprios irmãos? Claro que eventualmente quando crescemos iremos aprender a lutar, aquilo está no nosso sangue, o nosso povo é um povo guerreiro. Mas os pais normais começam o treinamento dos filhos aos dez anos e com armas de madeiras. — Luna respirou fundo e continuou.

— Aos seis anos eu já sabia arremessar facas, aos oito anos eu já lutava com a mesma força e disposição que alguns adolescentes, aos dez eu já dominava todas as armas que já havia tocado. E quando eu fiz meus doze anos e me transformei durante o dia, todos souberam quem eu era. Então comecei a estudar várias línguas, estratégias de batalha, espionagem e outras coisas ainda mais surreais. Eu estava pronta para fugir com dois de meus irmãos, porque eu não queria aquela vida pra mim, aquela guerra não era minha. Eu só queria ser uma adolescente normal que o pai brigava por estar dando uns amassos por aí e não por ter faltado com suas responsabilidade como a criança da profecia, eu não estava nem aí para a profecia. — Sua voz continha uma pequena raiva, estava nítido que não gostava daquilo.

— Só que faltando um mês para a data que tínhamos combinados de fugir, minha mãe foi assassinada. Ela era tão boa, gentil e doce com a gente. As coisas para mim não foram piores por causa dela e de Mark, eles estavam sempre me acobertando, estavam sempre enrolando meu pai para que eu tivesse alguns minutos de paz e pudesse agir que nem uma pessoa normal. Ela era o meu mundo sabe? — Naquele momento as lágrimas já desciam pelo rosto de Luna, ela olhava para um ponto aleatório, não tinha coragem de olhar para Sebastian, mas ainda sentia as mãos dele acariciando as suas. — Quando eu vi meu irmão mais velho chorando, destruído por ter visto a nossa mãe ser morta, o meu mundo ruiu naquele momento. Toda a tristeza virou raiva, virou ódio em poucos segundos e naquele momento eu não consegui chorar, eu só queria gritar e socar alguma coisa. Mas todos os meus irmãos estavam chorando e desnorteados.

— Eu tinha apenas 16 anos, mas tive que agir como a adulta e acalmar a todos. Quando eu vi meu pai chegando carregando o corpo dela sem vida , acho que uma parte de mim morreu naquele momento, uma parte boa. Porque tudo que eu queria era vingança, era arrancar a cabeça do maldito que a tirou de mim.E foi naquele momento aquela guerra se tornou minha. Então, eu desisti de fugir e treinei todos os dias durante anos, até que chegou o dia que a minha missão se iniciaria. — Luna fitou as próprias mãos.

Ela não sabia se Sebastian já tinha começado a entender ou não, mas ela não conseguia encará-lo naquele momento. Se ele já tinha entendido onde queria chegar ele não demonstrou, em nenhum momento ele soltou a mão dela ou parou com as carícias e isso deveria ser um bom sinal.

— Nós conseguimos colocar vários espiões na cidade e um deles nos informou que uma prima distante que ninguém sabia como se parecia iria vir a cidade. Por uma coincidência estúpida do destino tínhamos o mesmo nome e quase a mesma idade, então era o momento perfeito. Quando a carruagem dela se aproximou o suficiente a emboscaram e eu troquei de lugar com ela. — Luna ergueu seu olhar pela primeira vez desde que havia começado a falar. Ela o fitou séria por alguns instantes. — Não sou Luna D’Liancourt, filha de uma prima de Amélia que mora em Paris. Meu nome é Luna Mary Deverpolt, terceira filha de Amber e Nikollay Deverpolt, beta do clã Deverpolt e próxima Alfa do clã. Não vim aqui fugindo de um casamento arranjado, eu vim até aqui para destruir Travis e Albert. Vim até aqui para fazer com que eles pagassem por tudo que fizeram ao meu povo e principalmente por terem matado a minha mãe. Eu só não esperava me apaixonar pelo filho dele, ou melhor sobrinho.


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