Lose To Find escrita por jaywritter


Capítulo 1
Lose To Find


Notas iniciais do capítulo

Elenco:

Katharine McPhee como Julia
Lee Joon como Chang-Sun
Yang Seung Ho como Seungho
Jung Byung Hee como G.O
Park Sang Hyun como Cheondung
Shin Se Kyung como Hae-Won



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As flores finalmente chegaram. Os lírios e copos de leite tão brancos e vivos como aquele dia ensolarado de primavera em Jeonju. Com a chegada daquelas flores tudo ficaria bem, mas a realidade bateu como um soco no estomago de Julia quando uma das empregadas da mansão onde estava foi até o entregador explicar o porquê não deveria descarregar a van. Naquele dia ensolarado Julia se casaria com Seungho. Uma história linda de amor. Os dois se conheceram na Universidade de Berkley nos Estados Unidos e, depois de seis anos juntos, finalmente diriam o sim no altar construído no jardim da mansão dos pais de Seungho e viveriam felizes para sempre. Mas não existiu o para sempre, pois naquele dia Julia não estava subindo ao altar, ela estava velando o corpo de Seungho.

Ao ver o homem falar com a empregada, a expressão de pena e surpresa fizeram com que Julia abaixasse a cabeça e explodisse em lágrimas. Ela continuava pensando na briga que tivera com Seungho antes dele viajar. Lá estava ele indo pescar com os amigos na despedida de solteiro dele e Julia gritando como uma noivazilla para que ele a ajudasse a definir o esquema de mesas. O que tinha acontecido com ela naquele dia? Ela deveria ter dito "eu amo você" ou pelo menos "divirta-se e trate bem das strippers"; mas ao invés disso as últimas palavras de Julia foram: "Escuta aqui amigo! Sem sexo até que você me ajude a definir qual vai ser a mesa das amigas fofoqueiras da sua mãe!".

A garota estava em frente a uma das portas de entrada da casa e quando olhou para o lado, viu a mãe de Seungho parada em frente à outra entrada recebendo as pessoas. "Meus pêsames" era a frase do dia, e Julia ouviu muito isso. Ela não imaginava que o noivo conhecesse tanta gente e fosse tão querido. Sogra e nora se olharam e aquele momento foi de compreensão da dor e conforto. Cada um lidava com a dor de forma diferente. Cheondung e G.O - os amigos que moravam com Seungho - bebiam e comiam como se não houvesse amanhã, já Chang-Sun - o melhor amigo que morava em Seul - achou uma distração interessante em um canto da casa com uma das garçonetes do buffet contratado para servir no funeral, mas Julia estava alheia a essas coisas. Ela só conseguia pensar em como Seungho pôde deixa-la sozinha com todas aquelas pessoas sabendo que ela odiava multidões. Ela não sabia o que fazer naquele momento, mas saberia se Seungho estivesse por perto. Julia sabia que o noivo saberia como fazer aquelas pessoas pararem de falar dele no passado, conseguiria afastar o tarado do tio Choi. Julia sentiu raiva nesse momento, como Seungho pode deixa-la sozinha com o tarado? Ela não sabia lidar com ele, na verdade ela não sabia fazer nada sem o noivo. Aquelas pessoas a abraçando, tentando dizer palavras de conforto, aquela situação toda era absurda e a cada minuto ficava pior. A garota não estava aguentando mais então, após abraçar outra tia de Seungho, sem qualquer explicação correu para o banheiro. Ela precisava ficar sozinha.

Assim que fechou a porta atrás dela Julia respirou fundo, estava ofegando não de cansaço, mas por estar sentindo que o mundo estava em suas costas. Estava se sentindo fraca e debilitada então, ao olhar em volta, achou um lugar onde ela poderia se encolher como se estivesse em um ninho: a banheira. Julia entrou fechando a cortina como se pudesse isolar o mundo lá fora e pudesse ficar ali quietinha inerte sem ter que lidar com nada, nenhuma perda. Julia se sentia invisível ali dentro da banheira, apenas desejava que aquilo tudo fosse um pesadelo e nada mais, mas seu sossego foi interrompido. A porta se abriu de repente fazendo com que a garota se assustasse, ela ouviu risadas e logo a porta fechava com o que parecia um chute. Através das cortinas Julia podia ver a sombra de um casal e isso a fez entrar em desespero. Quem em sã consciência pensaria em transar em um funeral? Não tinha como ela sair dali sem ser vista. Mais do que nunca Julia desejou ser realmente invisível. Ela se encolheu mais dentro da banheira querendo não presenciar aquilo e então ela ouviu algo pior.

"Soca tudo!"

Julia arregalou os olhos chocada com as palavras daquela mulher; e o pior de tudo era que ela repetia aquilo várias e várias vezes para o desespero de Julia ali presa dentro da banheira. A coisa toda durou uns dois minutos e meio, mas parecia mais duas horas. O casal ria e Julia desesperada para sair dali.

"Isso foi ótimo!" A mulher disse se ajeitando enquanto descia da pia. "Eu tenho que voltar ao trabalho." Ela sorriu lavando as mãos e então pegou uma caneta anotando seu telefone em um pedaço de papel higiênico. "Me liga... oppa!"

Julia não acreditava no que ouvia e só queria que aquela situação constrangedora acabasse, e assim que ela ouviu a porta se abrir e fechar novamente, se levantou abrindo a cortina dando de cara com Chang-Sun que perdeu totalmente a cor.

"Julia!?"

A garota ficou mais chocada ainda, como o melhor amigo de Seungho ao invés de estar ao lado da família podia estar de sacanagem com uma das garçonetes? Ela saiu da banheira, passou por Chang-Sun e saiu do banheiro sem olhar para trás, não queria mais fazer parte daquele constrangimento.

***

Julia passou a noite em claro se recusou a tomar os calmantes, queria sentir a perda e chorar. Ela viu o sol nascer na varanda de casa, tinha vontade de ficar ali o dia todo, mas infelizmente tinha negócios para cuidar e o primeiro era falar com a advogada de seu noivo para saber como ficaria sua situação como viúva em teoria. Julia se arrumou a passos lentos, uma tartaruga era mais rápida do que ela naquele momento, e assim que conseguiu ficar decente seguiu para seu compromisso sem grandes expectativas o que foi excelente para que a morena não enlouquecesse ainda mais. A advogada não tinha boas notícias. Como eles não eram casados, a herdeira legal era a senhora Yang, mãe de Seugho. Julia não dividia nada com o noivo, vivia de aluguel que por sinal ela não podia pagar, pois quem cuidava disso era ele. A advogada até que ficou com pena de Julia, mas a lei era essa não havia nada que ela pudesse fazer.

"Me diz, onde estão os extratos dessa conta bancária?"

A advogada perguntou de repente lhe mostrando alguns papeis pegando Julia de surpresa. "Que conta?"

"Ele declarou $48.000,00 à Receita e eu não encontrei os extratos."

Julia parou para pensar um pouco.

"Ele tinha essa quantia na poupança, certo?"

A advogada respirou fundo e então soltou a bomba.

"Não Julia, os $48.000,00 são os juros. Então para uma conta render tanto o saldo deve ser de aproximadamente um milhão."

Julia quase caiu da cadeira. Ela sabia que Seungho era rico, mas não milionário. Ela pegou a papelada que estava com a advogada e foi para a casa onde Seungho morava com os amigos, talvez eles soubessem de algo. Eles estavam fazendo o jantar, arrumando a mesa quando Julia mencionou a conta secreta. Os rostos de G.O e Cheondung ficaram com expressões de choque, e a esperança que Julia tinha de resolver aquele problema da forma mais rápida possível foi por água abaixo.

"Um milhão de dólares!?"

G.O perguntou chocado enquanto tentava entender aqueles extratos.

"É, em algum fundo de investimentos."

"Vai ver que ele herdou do pai."

"Mas não é um pouco estranho ele nunca ter contado sobre isso?"

Cheondung sempre tentava amenizar as coisas ou fingia saber mais do que todo mundo ainda mais quando se tratava de Julia. Apesar de ser sócio e amigo de Seungho, não era segredo que desde que ele conheceu a ocidental, ele parecia bem interessado esperando uma chance para que ela finalmente permitisse que ele investisse. Isso nunca aconteceria.

"Na verdade, não! Tipo, o que a gente tem a ver com isso?"

G.O apesar de parecer um maluco, era mais centrado e procurava ficar longe de qualquer conflito. Ele não queria tomar lados, e de certa forma protegia Julia que era uma completa estranha em um país mais estranho ainda cheio de pessoas hostis.

"Mas eu era sócio dele no restaurante, G.O!"

"Mas acontece, Cheondung, que o dinheiro não era parte do negócio, era dinheiro dele então..."

"Ele deveria ter pelo menos ter contado para você." Cheondung disse entregando os pratos para Julia. "Se fosse eu, e nós estivéssemos noivos e eu tivesse um milhão..."

"Hey hey hey fica quieto! Primeiro de tudo, a Julia só está sendo legal contigo porque você é meu amigo. E outra Cheondung você não tem um centavo! Eu já vi seu saldo no caixa eletrônico."

"Eu só estou dizendo..."

"E eu só estou dizendo que existem milhares de motivos pro meu amigo não contar que herdou um milhão!"

"Tipo o qual?"

Julia perguntou de repente um pouco apreensiva.

"Talvez ele tivesse medo de virar um vagabundo, parasse de trabalhar e usasse toda aquela grana. Então ele guardou tudo e ignorou."

G.O tinha uma boa explicação, era plausível.

"Mas por que ele não me contaria isso?"

"Mas é claro que ele te contaria! Ele com certeza te chocaria com uma grande surpresa porque esse era o estilo do Seungho, ele sempre tinha que impressionar! Tipo, talvez ele contasse na lua de mel, ele te abraçaria e diria: 'Jules, lembra da parte dos votos na riqueza e na pobreza? Estamos no primeiro caso!'. Ia ser desse jeito."

Esse pensamento fez com que Julia sorrisse e vendo a empolgação com que G.O falava do amigo era reconfortante. Apesar de deslocada naquele país por ser ocidental, G.O a fazia se sentir em casa.

"Ele teria adorado fazer isso."

Julia abriu um sorriso enorme enquanto G.O terminava de arrumar a mesa, e então ela percebeu que estavam falando de Seungho no passado, em possibilidades. Julia se deu conta de que eles nunca saberiam como teria sido, pois Seungho não estava ali. A dura realidade atingiu Julia em cheio novamente fazendo com que derramasse algumas lágrimas sentindo a saudade apertar o peito. Cheondung notou a tristeza de Julia e passou a mão nas costas dela querendo confortá-la.

"Perda e posse, morte e vida são uma só. Não há sombra onde o sol não brilha."

G.O disse com uma voz calma e um tanto profunda enquanto abria uma garrafa de Soju. Julia e Cheondung o olharam sem entender nada, mas a ocidental conseguiu esboçar um sorriso.

"Hilaire Belloc."

G.O continuou enquanto entregava a garrafa de Soju para Julia.

"Quem é essa pessoa?"

Cheondung perguntou já acostumado com a esquisitice do amigo.

"Sei lá, eu só li na caixa de chá e achei apropriado."

Julia riu enxugando as lágrimas e finalmente os três sentaram para jantar.

***

A noite não foi longa, mas G.O e Cheondung se viraram em mil para manter Julia bem. A certa altura por causa do cansaço e do remédio que estava sendo obrigada a tomar, Julia adormeceu profundamente no sofá. Os dois amigos estavam lavando os pratos quando G.O se deu conta de que alguns presentes de casamento tinham ido para a casa deles já que Seungho morava ali.

"Cara eu vou me casar com certeza." G.O abriu a caixa de um dos muitos liquidificadores que Julia havia recebido de presente. "Essa garota ganhou mais coisa do que em festa de 15 anos!"

"Coloca isso no lugar G.O!"

"Por que, Cheondung? Ela tipo ganho pelos menos uns seis iguais a esse."

"Isso mesmo, ela ganhou!"

Cheondung pegou a caixa e levou para junto dos outros presentes.

"Ah qual é? Eu só quero ajeitar nosso cafofo!"

"Você só está tentando ajeitar o seu estômago isso sim."

G.O se fingiu indignado e pegou um cookie em cima da bancada. Cheondung foi até a sala e viu Julia deitada no sofá e penalizado, ou tentando aproveitar a chance, resolveu leva-la para a cama.

"O que você está fazendo?"

G.O perguntou vendo Cheondung tirar a colcha de cima dela.

"Ela ficará melhor se estiver dormindo na cama."

"Você está falando sério? Tipo, o remédio já não a nocauteou?"

"Só estou dizendo que ela está toda torta aqui no sofá, ela pode acordar com torcicolo."

Cheondung passou o braço de Julia em volta de seu pescoço e com cuidado a tirou do sofá.

"Fala sério! Você virou quiropata agora?!" G.O estava indignado com a cara de pau do amigo. "Ah meu Deus você realmente está carregando ela! Isso é assustador."

"Cala a boca G.O e sai da minha frente."

"Não, solta essa mulher agora!"

"Fica quieto."

"Cara já passou pela sua cabeça que ela não queira dormir no quarto do Seungho sem ele?"

"Já passou pela sua cabeça que ela está no meu colo e está ficando pesado?"

"Sério, solta ela."

E então uma discussão começou e G.O e Cheondung começaram um cabo de guerra só que ao invés de uma corda, Julia era quem estava no meio sendo puxada. Tal coisa não acabaria bem é verdade e, como previsto, eles acabaram derrubando a garota no chão. Os amigos se olharam notando que Julia não acordou e começaram a rir.

"Cara ela está realmente nocauteada!"

G.O cobriu a boca tentando abafar o som da risada e Cheondung olhou para a garota no chão.

"Isso é culpa sua, Cheondung!" G.O disse sério.

"Claro que não! A culpa é sua!"

"Dá um jeito nisso!"

G.O passou por cima de Julia estirada no chão, pegou uma caixa de cookies e foi para o quarto deixando Cheondung com o problema. Não ia adiantar pedir ajuda, então ele resolveu seguir o conselho de G.O e colocou Julia novamente no sofá.

***

Na manhã seguinte Julia acordou com um pouco de dor no corpo e culpou o sofá por isso sem imaginar o que Cheondung e G.O fizeram com ela. Ela tinha uma manhã cheia enviando alguns cartões de agradecimento e trâmites legais porque, de certa forma, ela tinha que seguir com a vida. Como ainda estava de licença, Julia foi para o trabalho apenas pela manhã e pela tarde resolveu pegar algumas coisas no quarto de Seungho. Decidida, Julia foi até a casa do noivo. Ela sabia que não haveria ninguém, pois G.O e Cheondung estavam trabalhando. Ela pegou a chave extra no canto escondido da janela e sem demora abriu a porta. Memórias. Noite passada ela não sentiu tanto a falta de Seungho por causa do barulho dos amigos, mas agora com a casa vazia as memórias e a realidade bateram nela como um caminhão. Julia respirou fundo e parou na porta do quarto que era do noivo, pensou um pouco e finalmente abriu a porta. Talvez aquilo tenha sido uma péssima ideia, pois quando entrou no quarto Julia deu de cara com algo que não esperava. Chang-Sun estava deitado na cama de Seungho mexendo no celular.

"O que você está fazendo aqui? Esse é o quarto do Seungho, você não tem o direito!"

Julia estava furiosa e olhou para Chang-Sun que calmamente se sentava na cama.

"Eu estava dormindo. Que horas são?"

O rapaz pegou uma calça e começou a se vestir enquanto Julia revirava as gavetas do noivo procurando algo. Ela ignorou a pergunta, aliás, ela estava ignorando Chang-Sun, mas ele levantou e continuou a falar.

"Eu não quis ir pra casa logo e os caras precisavam de mim por aqui e me deixaram ficar por um tempo."

Chang-Sun se aproximou da escrivaninha onde Julia estava procurando as coisas e puxou um dos papeis.

"Não toca nisso, não toca em nada! Será que consegue fazer isso, oppa?"

Ah ela não tinha esquecido aquela cena que teve que presenciar no funeral do noivo. Já estava tudo muito difícil e Chang-Sun apenas dificultou mais profanando a memória de Seungho. Chang-Sun ficou sem graça e passou a mão pelo cabelo.

"Eu não sabia que você estava lá."

Julia apenas o olhou, pegou os papéis que procurava e foi até o outro canto do quarto onde pegou as contas que Seungho deveria pagar.

"Por que você ainda está aqui?" Julia estava um tanto inconformada. "Pensei que você deveria estar em Seul dirigindo algum filme."

"Não, aquilo não deu certo, eles só querem vender e não chegam a lugar algum com isso. Agora estou no ramo de comerciais e dramas. E o melhor é que eles pagam bem, tenho um cheque gordo todo fim do mês."

A garota bufou e se virou para Chang-Sun.

"Eu nunca entendi porque ele era seu amigo. Você nem parece sentir falta dele."

Chang-Sun engoliu seco enquanto Julia pegava as chaves. Ela queria sair dali o mais rápido possível, não queria estar perto daquele canalha!

Julia passou o dia indo atrás dos extratos da conta e o que ela encontrou era mais misterioso ainda. Por volta das 17h00 ela foi para a casa do ex-noivo falar com os amigos dele. Ela viu uma fumaça saindo da parte de trás da casa e pelo cheiro com certeza eles estavam fazendo churrasco.

"Hey Jules, chegou na hora do churrasco!"

G.O estava todo empolgado enquanto cortava mais carne para colocar na grelha.

"Vocês não vão acreditar nisso."

Rapidamente Julia sentou-se à mesa e começou a mostrar os papeis que ela havia pedido no banco sobre a conta misteriosa do noivo.

"Ele transferia $3.000 da conta todo mês?"

"Isso mesmo, Cheondung."

"Você não sabe pra quem ia?"

Agora foi a vez de G.O ficar chocado com aquela informação. $3.000 não era pouco para uma mesada. Quem recebia aquele dinheiro enquanto Julia tinha que trabalhar para ter uma vida confortável?

"Não. Vocês sabem?"

A garota suspirou tentando achar alguma resposta, mas já sabia que não teria nada concreto. Aquele mistério estava ficando pior a cada dia e Julia se dava conta de que seis anos ao lado de Seungho não queria dizer que ela o conhecia e as coisas estavam piorando. Julia não tinha dinheiro para pagar o aluguel da casa enorme que Seungho havia alugado para ela. Ela estava sendo despejada, mas G.O não a deixaria na rua. Ele a convidou para morar com ele e Cheondung e ainda emprestou o depósito que ele alugava para que ela guardasse suas coisas, o melhor de tudo é que ele não cobraria. Claro que Julia estava muito agradecida, a única parte ruim era ter que olhar para cara de Chang-Sun todos os dias até ele resolver voltar para Seul. G.O saiu ganhando com aquela situação, ele não teria um dinheiro de aluguel, mas Julia deu alguns dos presentes que ganhou de casamento. Em comemoração G.O deu uma festa de waffles e margaritas.

Julia estava desfazendo a mala e arrumando as coisas no guarda roupa que um dia pertenceu ao noivo. Era doloroso estar ali, mas ela não tinha outra escolha. A garota estava um pouco inerte em pensamentos se perguntando a que ponto ela havia chegado quando sentiu que alguém a observava. Ela levantou a cabeça seus olhos encontraram os de Chang-Sun que tinha um livro nas mãos, mas claramente não saia da mesma página. Naquele momento Julia não sabia se sentia irritada, ofendida ou intrigada. Pensou em perguntar o que ele queria, chegou a abrir a boca, mas foi interrompida por G.O.

"Está na hora do jantar!" G.O cantava e dançava segurando uma bandeja. "Jantar de waffle para Julia e nada para o Chang-Sun!"

A garota começou a rir e achou muito delicada a atitude do amigo.

"G.O não precisava fazer isso."

"Eu sei disso, mas 'é de coração para o seu coração'. Samuel Taylor Coltridge."

"Caixinha de chá?"

"Caixinha de chá."

Chang-Sun riu se acomodando na poltrona e continuou prestando atenção na conversa dos dois enquanto fingia ler o livro.

"Olha só Jules, você não vai surtar ficando aqui?"

"Por quê?"

"Porque ele... você sabe... ele não..."

G.O estava realmente preocupado com Julia. Ele não podia imaginar a dor que ela sentia, desejava poder amenizar as coisas, mas infelizmente não podia. Julia sorriu triste e respirou fundo pensativa. Ela era grata pela atenção que lhe era dada, mas ainda assim queria poder aguentar as coisas sem que pisassem em ovos o tempo todo.

"Eu sei G.O."

Notando o incômodo de Julia, G.O respirou fundo preferindo deixa-la sozinha. Ela não precisava fingir para garantir que estava bem quando visivelmente não estava.

"Coma! Bom apetite!"

"Obrigada."

Julia sorriu e sentou-se ao lado da bandeja tentando encontrar a fome que ultimamente lhe fugira. Chang-Sun olhou para G.O como se o agradecesse por ser uma boa pessoa, por ser pelo menos uma pessoa melhor que ele já que ele havia estragado um momento doloroso na vida de Julia.

***

O relógio marcava três horas da manhã quando um celular dentro do quarto de Seungho começou a tocar. Julia acordou meio perdida e se levantou procurando o aparelho. Depois de mexer nas gavetas notou o toque vindo de trás de um livro. Ela pegou o celular, mas não atendeu, assumiu que fosse de Chang-Sun já que ele havia passado a outra noite naquele quarto. Sem pensar duas vezes, Julia abriu a porta e deu de cara com o amigo do noivo deitado no sofá cama dormindo. Ela sentiu uma raiva a dominando o que a fez jogar o celular nele.

"Atende ou desliga!"

Julia se virou para voltar para o quarto, mas foi surpreendida com a resposta que recebeu assim que Chang-Sun pegou o celular.

"Não é meu."

Chang-Sun se virou para continuar dormindo então Julia parou e ficou olhando o aparelho.

"De quem é então?"

O amigo de Seungho abriu os olhos devagar se dando conta do que havia feito, então quis consertar a situação.

"Talvez seja meu, deixa eu ver."

Já era tarde para tentar qualquer coisa, pois a garota percebeu que o aparelho era de Seungho e foi mais rápida do que Chang-Sun pegando o celular. Julia olhou para a tela do aparelho e se surpreendeu.

"Dez chamadas perdidas?"

"Deixa comigo."

Chang-Sun se levantou visivelmente agitado, boa coisa não podia ser era evidente.

"Dez é muita coisa!"

"Me deixa..."

O rapaz tentou pegar o aparelho, mas Julia não permitiu se afastando. Sem demora começou a mexer nas funções do celular para ver se haviam deixado mensagens de voz... e deixaram.

"Se você não sabe de quem é então não deveria ouvir."

Chang-Sun tentou parar Julia uma última vez, mas foi em vão.

"Eu sei de quem é!"

Julia nem deu tempo para que Chang-Sun contestasse fechando a porta na cara dele. O rapaz ficou ali na porta preocupado enquanto Julia colocou o celular na cama decidindo se ouvia as mensagens ou não com medo do que poderia ouvir.

"Ok... ok... o que eu faço?"

A garota olhava para o celular e engolia seco tentando se decidir. Ela andou de um lado para o outro e então finalmente tomou coragem, pegou o celular e começou a ouvir as mensagens. Não havia sido uma boa ideia, pois o que ela ouviu não era o que ela esperava.

"Hey Seungho, sou eu! É dia quatro então o senhorio está me pressionando para pagar o aluguel. Sem querer ser trágica, mas posso me ferrar se não receber o dinheiro."

Essa foi a primeira, a que abriu um buraco no peito de Julia. Quem era aquela mulher pedindo dinheiro para Seungho? Que relacionamento eles tinham a esse ponto?

"Isso perdeu a graça, Seungho! Eu não queria sua ajuda! Você quem quis se encarregar de tudo isso!"

Julia chorava. Do que seu noivo quis se encarregar? O que ele estava fazendo sem que ela soubesse? Seis anos juntos e Julia não sabia mais quem era Seungho.

"Quer saber? Vai se 'f' amorzinho, vai se 'f'!"

Raiva e decepção acertaram Julia. Era para outra mulher que ele estava mandando dinheiro? Ele estava bancando outra vida sendo um milionário enquanto a deixava as escuras já que ela era a bobinha que saiu dos Estados Unidos para ficar com ele na Coréia do Sul? Julia bateu o celular na cama como se aquilo fosse aliviar sua raiva, mas não funcionou bem assim. Ela precisava saber quem era aquela mulher, ela precisava saber o que Seungho andava fazendo e aquilo a consumiu pelo resto da noite, nem mesmo os remédios poderiam fazer efeito com o tamanho da decepção que ela sentia e o pior que era muito tarde e ela deveria esperar amanhecer para fazer alguma coisa a respeito.

Eram apenas sete horas da manhã quando Julia saiu para o trabalho levando o maldito celular com ela. Passaram-se horas, e a garota tentava adivinhar de onde era o código de área 2 e, quando o escritório estava mais vazio por causa do horário de almoço ela resolveu ligar. O telefone chamou umas quatro vezes então uma voz sexy na secretária eletrônica atendeu.

"Você sabe o que eu preciso, então vem me dar!"

Julia ficou mais chocada ainda e desligou o telefone imediatamente. Ela sentia como se estivesse pisando em um outro mundo, ela não conhecia mais Seungho. Isso ficou em sua cabeça durante o dia todo e quanto ela finalmente saiu do trabalho decidiu que iria beber. Claro que uma mulher bonita em um bar não fica sozinha muito tempo e Julia já estava bêbada e determinada a esquecer de tudo o que estava passando. Um homem sentou ao lado dela e os dois começaram a conversar e a rir. Julia nem parecia ela mesma naquela situação, mas para sua sorte ou azar, Chang-Sun estava passando por ali e a viu no bar dando um showzinho um tanto discreto. O rapaz respirou fundo rindo da situação, mas resolveu fazer o certo e tirá-la dali. Ele entrou no bar e se aproximou de Julia e seu acompanhante, os dois riam e ele os interrompeu.

"Com licença, deixa que eu cuido disso."

"O que você está fazendo?"

Chang-Sun ajudou Julia a se levantar enquanto ela ria sem a mínima noção do que estava acontecendo.

"Estou te levando para casa!"

O rapaz pegou a bolsa e o casaco da garota enquanto a guiava até a porta.

"Não você não vai. Eu sou uma adulta! Você não precisa me dirigir como um dos seus dramas!"

Chang-Sun não deu ouvidos a ela e continuou saindo do bar enquanto Julia ria e pedia para ficar mais um pouco pois gostava da música que estava tocando. Seria uma situação engraçada se ela não odiasse Chang-Sun e não estivesse se sentindo uma idiota quase se casando com um estranho. Durante todo o caminho Julia cantou, e até fez com que Chang-Sun dançasse um pouco. Ele a estava deixando se divertir já que parecia que ela precisava extravasar, e quem os visse pensaria que eles eram um jovem casal ou melhores amigos de longa data.

G.O e Cheondung assistiam TV quando ouviram risadas vindo do lado de fora da casa, de repente ouviram uma voz de mulher cantando, a porta da sala se abriu e Julia apareceu gargalhando.

"Since since you've been gone I can breathe for the first time, I'm so movin' on, yeah yeah!"

Os dois olharam para Julia dançando em direção ao quarto de Seungho.

"Thanks to you, now I get what I want. Since you've been gone"

E assim que terminou a última frase, Julia desabou na cama e apagou. Cheondung e G.O se olharam e em seguida olharam para Chang-Sun que estava em pé na porta de entrada.

"Eu não tive nada a ver com isso, eu juro!"

***

Às oito da manhã o despertador tocou e Julia pode sentir os efeitos da ressaca. Se arrependeu de ter bebido tanto. Ela esfregou os olhos e olhou para o teto finalmente notando o quarto onde estava. As paredes estavam feias, havia infiltração e, como se aquilo fosse seu coração machucado, ela quis mudar alguma coisa. Ela devia ir trabalhar, mas não tinha cabeça então lembrou de sua licença. Depois de ligar para o escritório dizendo que não iria trabalhar, Julia levantou, tomou um banho demorado e decidiu ir até a loja de tintas com a intenção de dar cores novas ao antigo quarto de Seungho. A garota passou um bom tempo fora de casa e nesse tempo finalmente descobriu de onde era o código de área 2. Ela ficou furiosa se sentindo ainda mais enganada.

A casa estava vazia ainda quando voltou então decidiu começar a pintar, pressionava o rolo contra a parede com tanta força que parecia que ia quebra-lo. Por volta das 21h00 Chang-Sun chegou e deu de cara com G.O dormindo em sua cama, Julia ouviu a porta e saiu do quarto indo ao seu encontro e, antes mesmo que o rapaz pudesse reclamar a garota já foi esbravejando.

"Você a conhece não é mesmo? Código 2 é Seul. Você a conhece."

Chang-Sun tentou dizer algo, mas nada passava por usa cabeça.

"Há quanto tempo ela está na vida dele? Só me responde isso."

"Ela não está."

"Esquece, você é um babaca!"

Julia deu as costas indo para o quarto então Chang-Sun decidiu que estava na hora de ser honesto e firme com ela.

"Ela não está na vida dele! Ela é só... a mãe do filho dele."

O ar faltou fazendo com que Julia derrubasse o rolo de tinta no chão. Que tipo de história cruel era aquela que Chang-Sun estava contando? Ela se abaixou hiperventilando, não queria acreditar, mas devido a todos os acontecimentos recentes, todo o mistério da conta bancária levava a isso: uma vida dupla. Chang-Sun pegou o rolo do chão e o levou até a pia da cozinha, então se virou para Julia que estava parava na porta do cômodo ainda tentava se recuperar do impacto que recebera.

"Você precisa de alguma coisa?"

"O que eu preciso são mais informações sobre como meu noivo pode ter um filho sem que eu soubesse."

Julia foi direta finalmente sendo capaz de se levantar.

"Bom, foi uma aventura de uma noite. Ele estava na cidade, nós fomos a uma festa de Halloween e ele conheceu essa mulher."

A essa altura Julia já andava de um lado para outro nervosa, indignada sentindo a traição dominando cada célula de seu corpo.

"Quando? Há quanto tempo?"

Julia se aproximou de Chang-Sun, estava decidida a esclarecer toda aquela história.

"Antes de você."

"Quantos anos tem a criança?"

"Sete ou oito anos... não sei."

"É menino ou menina?"

"Menino."

"Meu Deus!"

E ela começou a hiperventilar novamente, mas dessa vez se apoiou na mesa. Chang-Sun estava visivelmente preocupado então se aproximou dela fazendo com que ela sentasse, estava com medo que ela desmaiasse.

"Como ela é?"

"Ahn... eu não sei."

"Ela é bonita?"

"Eu não sei."

"Me responde!"

Julia estava perdendo a paciência. Suas emoções oscilavam entre tristeza e decepção o que a deixava mais perdida ainda.

"Ela é atraente, meio largada e carrega na maquiagem."

O rapaz fez uma cara de desagrado como se a mulher não fosse o tipo dele. Julia se levantou novamente, estava inquieta.

"Ela não fala palavrão. Por quê? Que tipo de mulher adulta fala 'vai se 'f'!'?"

"Do tipo que é mãe."

Chang-Sun respondeu de forma triste, pois estava doendo ver Julia naquela situação. A garota fechou os olhos sentindo a realidade lhe dar um soco no estômago novamente.

"Ótimo."

Foi tudo o que Julia conseguiu dizer. Ela pegou o rolo de tinta e lentamente saiu da cozinha, iria continuar a pintar o quarto. Chang-Sun se levantou e a seguiu ainda com medo que ela desmaiasse.

"É por isso que você ainda está aqui em Jeonju, certo? Para limpar a sujeira que ele deixou."

Chang-Sun não sabia o que dizer, ele havia sido pego. Entre os três amigos que estavam naquela casa; ele era o que mais sabia sobre a vida de Seungho, o que sabia sobre a conta de um milhão, sobre o caso que ele teve e o filho que o noivo de Julia nunca mencionou. O rapaz não tinha muito a dizer, apenas mudou o rumo da conversa.

"Tem tinta azul no seu cabelo."

"Não é azul." Julia respondeu notando que estava certa em sua dedução "É 'Mistério de Marrakesh'."

Julia entrou no quarto e continuou com a pintura. Chang-Sun a observou por alguns instantes e já que ele estava limpando a sujeira queria saber mais detalhes do que Julia sabia.

"Você pode me dizer por que ela ligou?"

"Ela quer o dinheiro dela."

"Como assim?"

Chang-Sun ficou confuso, pois dessa vez ele não sabia do que Julia estava falando.

"Ele mandava dinheiro pra ela, mas parou de mandar porque morreu." Julia voltou a pressionar o rolo na parede com raiva "Ela agora está 'P' da vida!" Completou com ironia.

O rapaz pensou um pouco, dessa vez a limpeza teria que ser grande.

"Eu resolvo isso. Eu vou mandar dinheiro pra ela. Ela deve contar com isso pro aluguel."

Julia estava surpresa. sinceramente ela não esperava tamanha lealdade vindo daquele cara. Ela então passou o rolo na tinta novamente finalmente se permitindo chorar e encarou Chang-Sun.

"Eu também contava com ele pra essas coisas e olha no que deu."

O rapaz foi atingido por aquelas palavras e finalmente percebeu o que Seungho havia feito com Julia.

"A propósito, eu sinto."

Julia se virou sem entender e antes que ela pudesse perguntar Chang-Sun complementou.

"Falta dele."

O rapaz engoliu seco e a garota sentiu um aperto no peito. Ela acusava Chang-Sun de ser um canalha quando no fundo, era Seungho que mostrava isso mesmo estando no túmulo.

***

Os calmantes fizeram um bom trabalho para que Julia pudesse dormir depois daquele pesadelo. A cabeça girava com toda aquela situação. Tudo foi tão rápido, a morte, as descobertas daquele mistério que até parecia que Julia estava vivendo a vida de outra pessoa. Quando ela ouviu a voz da sogra naquela manhã foi reconfortante, precisava mesmo do carinho de mãe, pois não havia decidido ainda se continuaria vivendo na Coréia do Sul ou se voltaria para os Estados Unidos. A senhora Yang a convidou para um piquenique, elas iriam almoçar juntas e na cabeça de Julia isso seria bom.

"Olá minha querida."

A senhora Yang cumprimentou dando um forte abraço na nora. Apesar de estar sendo bem tratada pelos amigos de Seungho, era daquele abraço que Julia precisava, o abraço de mãe.

"É tão bom vê-la."

"É bom vê-la também Julia."

As duas se sentaram em um banco próximo e Julia estava se sentindo bem com a presença da sogra ali.

"Obrigada por me convidar para almoçar."

"Imagina querida. Mas antes de comermos, eu lhe trouxe um presente."

A senhora Yang tirou uma caixinha da bolsa e entregou para Julia.

"Esse anel era de minha bisavó. Ele é muito raro e eu quero que seja seu."

Julia sorriu com aquele gesto e se sentiu feliz no meio daquela turbulência toda.

"Ele é tão especial e tão lindo."

"Eu queria que tivesse algo para se lembrar de nós. E esse anel..." A senhora Yang apontou para o anel de noivado no dedo de Julia. "Bom, essa pedra está na família há seis gerações e agora, como você não estará na família... eu sei que não se sentiria bem ficando com ele."

A garota olhou para a sogra com indignação. Sua sogra não estava ali para dividir com sua dor afinal, as duas perderam a pessoa que amavam. A senhora Yang estava ali exclusivamente para chuta-la como um cão para fora de seu clã.

"A senhora está pedindo para que eu devolva meu anel de noivado?"

A senhora Yang a olhou com pesar e respirou fundo. Aquele silêncio indignou Julia ainda mais.

"Seungho me deu esse anel. Ele é o símbolo da nossa decisão de passarmos o resto de nossas vidas juntos."

"Sim, mas você não passou o resto da sua vida com ele."

Julia deu uma boa olhada na senhora Yang, parecia que a garota podia ver o que havia dentro daquela mulher que naquele momento não representava absolutamente nada para ela.

"Ele passou o resto da vida dele comigo."

A garota deixou a caixinha com o outro anel em cima do banco, pegou suas coisas e foi embora sem olhar pra trás. Ela ficou tão chateada que nem quis mais comer. Mais um golpe de realidade, ela não era querida pela família de seu noivo, eles apenas a aturavam já que ela era ocidental.

***

Julia andou pela cidade e acabou sentando em um banco perto de alguns restaurantes. O local estava bem movimentado, muitos turistas iam para Jeonju por causa da culinária. Mesmo estando no meio de toda aquela gente Julia se sentia sozinha. Por acaso do destino Chang-Sun estava por ali tirando algumas fotos para novos sets de seus dramas e viu Julia sentada com um olhar distante parecendo completamente perdida e desamparada. Ela se levantou e começou a andar em direção ao escritório onde trabalhava quando Chang-Sun a abordou.

"Qual é a dessa cidade? Todos são tão felizes o tempo todo."

"As pessoas em Seul não são felizes?"

"Não que nem aqui. Essa cidade parece a Disney da Patagônia ou algo parecido."

Isso fez com que Julia risse e então Chang-Sun parou na frente dela satisfeito por ter causado aquela reação nela.

"Parece que aqui todo mundo toma bolinhas. Já ouvi falar em cidades inteiras tomando Prozac."

"Parece ótimo! Me diz onde fica pra eu me mudar pra lá!"

"Teve um dia difícil?"

"Nada bom."

"O que houve?"

"Eu fui atacada por um tigre asiático!"

"Sério?"

Julia começou a rir e suspirou.

"Não, mas foi quase isso."

Chang-Sun podia perceber que as paredes se fechavam novamente em Julia e se perguntou quando Seungho finalmente a deixaria descansar paz porque, a essa altura, ela quem precisava disso não ele.

"Eu achei uma coisa quando arrumei o armário do Seungho e quero que fique com ela."

Julia abriu a bolsa e tirou de dentro dela uma camisa com as iniciais dos quatro amigos estampadas nas costas e o desenho de uma garra no peito.

"Se não quiser tudo bem."

"Não não, eu quero sim obrigado."

Chang-Sun pegou a camisa das mãos de Julia, pediu para a garota segurar sua máquina fotográfica e a vestiu rapidamente.

"Ficou bom."

A garota tentava engolir o choro e Chang-Sun pode notar as lágrimas enchendo seus olhos. Ele não disse nada, mas não queria que ela chorasse.

"Olha só eu preciso voltar pro trabalho."

"Tragédia pessoal, não é?"

O rapaz tinha um tom arteiro naquela pergunta o que fez Julia sorrir e se sentir normal novamente.

"Se não puder faltar no trabalho agora, quando vai poder?"

Julia acabou concordando com aquela loucura colegial e foi com Chang-Sun para o lago que era próximo dali. Enquanto ele tirava fotos de tudo, inclusive da garota, ela jogava pedras na água.

"Eu tirava fotos o tempo todo."

"E por que parou?"

"Começaram a me pagar então perdeu a graça."

Chang-Sun tirou mais uma foto dela e percebeu que aquela era a hora de acertar as contas do que houve no funeral para que ela pelo menos o odiasse menos.

"Eu te devo um pedido de desculpas."

"Só um?"

"Estou falando do funeral. Desculpa por ter estragado tudo."

"É, se não fosse por você teria sido um dia ótimo!"

A ironia foi como uma faca cortando aquela lembrança inadequada, mas ainda assim fez com que Chang-Sun risse e continuasse com suas desculpas.

"Eu só não queria estar lá. Eu queria estar em qualquer lugar menos lá."

"Tudo bem... quer dizer, se o garçom do buffet não fosse gay, talvez eu tivesse feito o mesmo com ele."

"Provavelmente não."

Julia respirou fundo, não queria mais falar daquilo. A morte de Seungho ainda doía, mas a cada dia que passava ela queria saber menos e menos sobre ele. Ela passou por Chang-Sun que a observava de um jeito agora artístico, a opinião que ele tinha sobre ela estava mudando e o sentimento de querer cuidar de Julia aumentava.

"O que vamos fazer amanhã? Trilha? Andar de bicicleta?"

"Eu não posso faltar ao trabalho dois dias seguidos."

"Claro que pode! Você pode fazer o que quiser."

"Eu não sei..."

"Eu sei, confie em mim! A vadiagem lhe cai bem."

***

Uma semana passou e Cheondung resolveu que faria um evento em homenagem a Seungho. Ele faria uma parte no restaurante com um lago de carpas e chamaria de "Cantinho da Paz". Não era uma homenagem grande, mas era significativa para quem o conheceu. Os amigos se juntaram para ajudar na construção do lago e assim que Julia chegasse do trabalho encontraria com eles no restaurante. Infelizmente G.O levou o carro dela e lhe sobrou a bicicleta de Cheondung para ir até o local. Julia estava com pressa, mas quando saiu de casa teve uma surpresa nada agradável.

"Com licença. Procuro alguém para me informar sobre Yang Seungho."

Julia olhou para a oriental à sua frente e notou o menino ao seu lado. Um menino pequeno que era a cópia de Seungho.

"Eles não estão em casa."

A voz de Julia mal saiu de tão chocada que ela estava.

"Droga! Quem é você?"

"Eu sou a... faxineira."

De maneira nenhuma Julia queria dizer que era a noiva do pai do filho daquela mulher. Não diria naquele momento, ela ainda não estava preparada para lidar com todo aquele drama.

"Ok, você pode dizer pra quem estiver encarregado das coisas de Seungho que eu preciso muito falar com ele? Vou te dar meu cartão."

A mulher começou a revirar a bolsa enquanto o menino jogava algum jogo eletrônico. Julia olhava para os dois sem imaginar como Seungho foi capaz de esconder tanta coisa.

"Aqui está." A mulher entregou o cartão para Julia. "Eu sou Hae-Won, e nós estamos no hotel Jeonju Tourist, certo? Obrigada!"

Julia assentiu com a cabeça e continuou olhando para o menino enquanto os dois se afastavam.

"Ele não tem oito anos, tem?"

Hae-Won parou segurando a mão do filho e olhou desconfiada para Julia.

"O que?"

"Seu filho. Ele não é pequeno demais para oito anos, é?"

"Não, ele vai fazer quatro anos em outubro."

Aquela informação desceu rasgando pela garganta de Julia. Ela pedalou o mais rápido possível para o restaurante onde já estavam iniciando as obras do lago de carpas. A garota largou a bicicleta no chão e foi logo até Chang-Sun que tirava fotos do local.

"Oito?"

Julia já foi disparando sem ao menos cumprimentar quem estava por ali, não queria ficar mais com aquilo entalado.

"O garoto mal largou as fraldas!"

Chang-Sun olhou em volta e notou que os dois haviam chamado atenção. Ele então puxou Julia pelo braço e a levou até o escritório de Cheondung. Ela se soltou dele, estava tão furiosa que assim que ele colocou a câmera sobre a mesa ela deu um tapa no rosto dele. Tudo bem que Chang-Sun não estava sendo a melhor pessoa do mundo escondendo coisas e transando com garçonetes no funeral do melhor amigo, mas um tapa já era demais. Julia estava realmente cega de raiva, estava sendo enganada por um morto e tendo o melhor amigo dele compactuando com aquela sujeira toda. Esse pensamento a fez tremer por dentro e então ela tentou dar outro tapa em Chang-Sun, mas dessa vez ele conseguiu impedi-la segurando seus braços. Julia queria gritar tentou se livrar de Chang-Sun, mas algo deu errado e ela acabou olhando para os lábios dele. Podia ser o trauma, ou carência ou safadeza mesmo, pois Chang-Sun começou a ofegar tentando se controlar. Ele era canalha até certo ponto, mas para a surpresa dele quem tomou a iniciativa do próximo acontecimento foi Julia. Ela simplesmente moveu o rosto para perto do dele e o beijou como se sua vida dependesse daquele beijo. Claro que isso pegou Chang-Sun de surpresa, mas ele não parou, pelo contrário! Ele gostou de estar beijando a noiva do melhor amigo. O beijo durou alguns bons minutos, mas assim que os dois perceberam o que estavam fazendo ele foi interrompido. Julia e Chang-Sun ofegavam e se olhavam incrédulos e confusos. Que diabos tinha acabado de acontecer? Julia tirou as mãos de Chang-Sun e se encolheu enquanto o rapaz se afastava devagar. Tudo estava confuso, ou melhor, mais confuso do que antes. Ele pegou a câmera e saiu do escritório deixando Julia imóvel sem saber o que a vida dela estava se tornando.

***

À noite Julia estava deitada na rede segurando o cartão de Hae-Won que dizia: 'Hae-Won Massagista'. Ela tentava imaginar o que Seungho estava pensando quando se encontraram, o que ela havia feito para que ele procurasse outra mulher e praticamente construísse uma família com ela. Era muita coisa para absorver e, sinceramente, se Julia estivesse sozinha não aguentaria um dia. Chang-Sun estava na sala mais uma vez fingindo ler um livro, mas observava a garota e os pensamentos que tinha eram diferentes. Ele pensava no beijo e no que ele representava. Ele sempre achou Julia bonita isso era verdade, sempre achou que Seungho era um maldito sortudo por ter um ocidental como ela. Chang-Sun não queria criar expectativas afinal, esse período esquisito de perda todo mundo tem e com ela não seria diferente. Ele olhou para a cozinha e viu Cheondung e G.O discutindo sobre waffles no jantar novamente e, sem chamar atenção, se levantou indo para a varanda onde Julia estava. A porta fez um barulho absurdo o que fez a garota guardar o cartão no bolso rapidamente. Ela esperava que fosse G.O ou Cheondung, mas apenas pelos passos ela soube que era Chang-Sun. Ele se aproximou da rede onde a garota estava e se sentou na mureta perto dela.

"Tá legal, não foi antes de você foi tipo, durante você."

"Mas foi só uma vez, certo?"

Chang-Sun se calou e apenas a olhou sem saber o que dizer ao certo.

"Diga sim, por favor."

"Eu até poderia... acredite, eu poderia mentir até o amanhecer, mas..."

"Quantas vezes?"

"Eu não estava contando."

"Quando começou?"

"Quando ele começou a viajar a trabalho para Seul."

"Mas ele a via toda vez que ia pra lá?"

Chang-Sun não respondeu, também nem precisava, pois do jeito que ele reagiu abaixando a cabeça deixou claro que Seungho traía Julia com frequência. A garota suspirou digerindo tudo percebendo que esses seis anos foram vividos a base de mentiras.

"Isso é muito ruim! Eles ainda estavam juntos?"

"Não. Pelo menos não que eu saiba."

O rapaz foi honesto e dessa vez Julia acreditou. Ela suspirou novamente e a imagem da oriental cheia de curvas veio em sua mente.

"Ela é muito sexy não é?"

"Não."

"Ela é sim."

"Não ela não é."

Julia sorriu em agradecimento pelo o esforço que Chang-Sun estava fazendo para conforta-la, para que ela esquecesse aquela carga negativa novamente. A que ponto ela chegou? Quando em sua vida ela imaginaria viver um emaranhado desses? Julia respirou fundo e se levantou, não queria mais conversar, apenas queria ficar sozinha para tentar encontrar um jeito de voltar a respirar. Ela foi em direção à porta e quando estava prestes a entrar na casa se lembrou que tinha um assunto inacabado com Chang-Sun.

"Sobre aquela outra coisa..."

"Está tudo bem."

Chang-Sun nem precisava dizer muito a respeito, aliás não havia o que dizer. A garota assentiu com a cabeça e finalmente entrou indo direto para seu quarto. Ela colocou o cartão e Hae-Won em cima da cômoda e olhou para uma foto de Seungho. Julia balançou a cabeça pegando uma caixinha de fósforo, tirou o anel de noivado do dedo e o jogou ali dentro. Seungho havia estragado qualquer sentimento que ainda fazia com que ela usasse aquele anel, ele não a respeitou como havia prometido.

***

Já que Hae-Won e o filho estavam na cidade, Julia decidiu contar para a sogra que Seungho tinha um filho. A senhora Yang não aceitou bem a notícia e o pior de tudo, culpou Julia por ele ter tido um caso e ainda deixou claro que o menino só herdaria alguma coisa com um teste de DNA. Isso já não era problema dela, mas ser culpada por Seungho ter pulado a cerca machucou. Já era ruim o suficiente se sentir traída e agora estava se sentindo inútil.

Foi um dia longo para Julia, tudo que ela queria era chegar em casa, tomar um banho demorado e dormir, virar a página. Mas não foi bem assim. Quando a garota abriu a porta G.O corria atrás de um menino que jogava seus CDs pelo chão. Julia parou perto da porta de entrada e pode ver Hae-Won saindo da cozinha.

"Oi." Hae-Won cumprimentou toda animada. "Você não deu meu recado pra eles."

"O que ela está fazendo aqui?"

Julia tremeu inteira sentindo uma onda de calor pelo corpo. O coração começou a acelerar e a respiração ficou descompassada. Ver Hae-Won ali feliz enquanto ela estava miserável era no mínimo uma afronta.

"Ah, oi Julia, essa é..."

"Eu sei quem ela é, G.O. Perguntei o que ela está fazendo aqui."

"Pera aí você sabe quem ela é?"

Julia não respondeu e apenas os encarou.

"O chá está pronto."

Cheondung saiu da cozinha e G.O o mandou ficar quieto. A tensão havia aumentado. Tudo que Julia queria era evitar aquele contato. Em sua mente ela xingou Seungho de várias maneiras e jurou que se ele não estivesse morto ela mesma o teria matado por fazê-la passar por aquilo.

"O que foi?" Julia estava inquieta "Estamos apenas conversando."

"O que está acontecendo?"

Hae-Won estava completamente perdida sem entender o que de fato estava acontecendo. Julia então a olhou tendo um sorriso irônico em seu rosto, e foi nesse exato momento que a ficha da massagista caiu.

"Oh.. você não é a mulher da limpeza."

G.O começou a rir e Cheondung deu um tapa na cabeça dele. Julia se aproximou de Hae-Won e cruzou os braços. Ela estava com raiva.

"O que você quer aqui?"

"Eu disse eu só queria conversar..."

"O dinheiro é do seu filho. Um testezinho de DNA e ele herda tudo."

"Do que você está falando? Que dinheiro?"

A garota respirou fundo já havia aguentado o suficiente.

"Eu vou sair e quando eu voltar é bom ela não estar aqui."

Julia saiu batendo a porta deixando todos ali num clima estranho. Hae-Won não ficou muito mais do que 10 minutos, apenas esperou Chang-Sun chegar e então chamou um táxi.

"Eu nem sabia que ele era rico. Só sei que ele queria sustentar o filho, por isso eu vim aqui. Queria ter certeza que ele ainda estava disposto a ajudar e não para fugir com toda a grana dele e nem irritar a namorada dele."

"Noiva."

Chang-Sun a corrigiu.

"Eu nem sabia dela. Eu imaginava que ele tivesse alguém, mas ele nunca me contou que estava noivo."

O táxi parou na porta e Hae-Won pegou o filho que dormia na rede, mas antes de ir para o carro ela se virou para Chang-Sun o encarando.

"Mas faz sentido, sabe? Ela ser assim."

"Assim como?"

"Tipo... perfeita. Porque quando eu me encontrava com ele, ele parecia um garoto de férias. Infantil, empolgado por não ter que se comportar."

Essas palavras terminaram de matar Julia por dentro. Ela na verdade não havia ido muito longe, apenas sentou perto de uma árvore no jardim e ouviu toda a conversa da massagista com Chang-Sun. Como Seungho pôde ser tão egoísta? Como ele pôde submetê-la a uma humilhação dessas? Ela acabou virando uma gueixa ocidental enquanto ele se divertia por aí. Ela era a perfeição que deveria estar impecável na frente da família dele enquanto em Seul ele vivia uma vida emocionante. Julia se sentiu uma idiota e pensou que com certeza aquele casamento acabaria em divórcio e, no fim das contas, ela acabaria como estava vivendo. Ela resolveria isso tudo de uma vez por todas, estava decidida. Provaria que o menino era filho de Seungho e depois da homenagem que Cheondung faria a ele, ela voltaria para os Estados Unidos. Falando no popular, a Coréia do Sul havia dado no saco de Julia.

***

Nem sempre temos paz quando queremos, os mortos mesmo nunca nos deixam, eles sempre estão em nossas lembranças. Mas com certeza os vivos incomodam mais e novamente assim que Julia pisou em casa depois de ir até a clínica onde seria feito o exame de DNA, ela deu de cara com Hae-Won cozinhando com Cheondung, G.O e Chang-Sun.

"Julia, você chegou cedo."

G.O arregalou os olhos tentando disfarçar a situação como uma criança que havia sido pega aprontando algo. Julia olhou para Chang-Sun como se quisesse uma resposta. Infelizmente dessa vez ele não era o canalha e sim G.O que ligou para Hae-Won e a convidou para o jantar.

"Eu queria pedir desculpas por ontem então eu vou fazer o jantar. Queria que você se juntasse a nós."

Hae-Won estava um pouco desconcertada, mas parecia sincera ao fazer aquele pedido. Julia olhou para a comida respirando fundo tentando encontrar alguma paz interior e acabou forçando um sorriso tímido.

"Eu não perderia por nada."

Os amigos ficaram felizes com aquela resposta e começaram a dividir as tarefas. Julia não estava imensamente feliz, mas também já não estava mais tão ofendida com a presença da massagista afinal; o que foi feito, foi feito; e Seungho não poderia mudar nada nem se estivesse vivo. Ela e Chang-Sun pegaram algumas coisas e foram arrumar a mesa nos fundos da casa onde eles costumavam fazer seus churrascos. Julia arrumava os pratos enquanto Chang-Sun acendia as velas. O rapaz a observava e notou que havia algo diferente nela. Ele não sabia o que era, mas de qualquer forma o fez sorrir. Julia sentiu que estava sendo observada e assim que levantou a cabeça encontrou com os olhos de Chang-Sun. Normalmente ela perguntaria o que ele queria, mas dessa vez a garota abriu um largo sorriso. Infelizmente aquele momento foi interrompido, pois o jantar estava pronto e a comida era trazida. Hae-Won estava encantada com a decoração que Chang-Sun e Julia fizeram e os dois se olhavam numa forma diferente como se houvesse uma certa cumplicidade. Todos se sentaram e se serviram e Julia ficou olhando para cada um deles. Os amigos de Seungho, a mulher com que ele a traiu, o filho... então imaginou o que ele diria se estivesse ali naquele momento. Sempre formal, sempre correto, sempre sem falhas. Mas ele falhou. Falhou em tantas maneiras que ela nem sabia por onde começar.

"Eu roubo livros de bibliotecas."

Julia disse de repente e todos a olharam como se ela fosse uma alienígena.

"Eu faço isso de propósito. Roubei de todas as cidades em que eu morei, é incontrolável. Seungho nunca soube disso."

Eles voltaram a comer, mas Julia ainda não estava satisfeita e voltou a falar.

"Eu consigo comer duas pizzas inteiras. É meio repugnante isso, mas eu consigo. Também nunca contei essa minha capacidade para ele em seis anos. Adoro desastres naturais, contabilizo o número de mortos e fico despontada quando o número de vitimas não é muito alto."

Todos a olhavam chocados, bom, todos menos Chang-Sun. Enquanto Julia falava ele soube que ela havia ouvido a conversa dele com Hae-Won e naquele momento ela estava assinando sua liberdade. Não era ela quem era perfeita e sim Seungho que exigia isso dela e como Julia estava apaixonada acabou se transformando em alguém que não era. Estava finalmente explicado porque a família da garota relutou tanto quando ela decidiu morar na Coréia do Sul.

"E uma última coisa que eu nunca disse para ele, eu odeio Kimchi, odeio do fundo da minha alma. Acho que legumes devem ser comidos de forma natural não em conserva! Mas o pior de tudo é que Kimchi já é ruim, mas o que ele fazia era pior!"

Os olhos rasgados se arregalaram e Chang-Sun ria baixinho amando ver a libertação de Julia. A garota comeu um pouco da comida feita por Hae-Won e sorriu.

"Isso está excelente! Eu me sinto melhor!"

"Obrigada."

Hae-Won agradeceu timidamente e Chang-Sun discretamente pegou a taça de vinho a levantando como se brindasse com Julia. A garota fez o mesmo e em seguida bebeu se sentindo um pouco mais leve. Chang-Sun estava orgulhoso e durante a noite toda não conseguia tirar os olhos de Julia e, de certa forma, ela retribuía.

***

A casa estava silenciosa, eram duas da madrugada e Julia estava com dificuldades para dormir. Ela pensou em tomar o calmante, mas não queria se 'drogar' mais, queria voltar a viver sua vida. Só que havia algo diferente acontecendo naquela noite, Julia não dormia e não conseguia parar de pensar em Chang-Sun. A garota fechou os olhos e respirou fundo tentou afastar aqueles pensamentos, mas já que havia contado o quanto não era perfeita resolveu fazer o que ela realmente faria seis anos antes de conhecer Seungho. Julia levantou com calma, abriu a porta do quarto silenciosamente e pode ver Chang-Sun dormindo no sofá cama. A passos lentos Julia se aproximou e com certeza do que estava fazendo, puxou o lençol se deitando ao lado do rapaz. Ela o observou por alguns minutos e então tocou seu rosto com as pontas dos dedos. Chang-Sun sentiu o toque suave e acordou devagar se virando para ver quem era e se surpreendeu ao ver Julia deitada ao lado dele. Eles se olharam por alguns minutos enquanto ela continuava acariciando o rosto dele com calma. Dessa vez quem tomou a iniciativa foi ele. Chang-Sun beijou Julia e ela retribuiu. Não foi um beijo como o da outra vez. Aquele beijo foi instantâneo, momentâneo, fora de esquadro. Foi um beijo para tornar uma situação embaraçosa mais embaraçosa ainda. Esse beijo tinha carinho, vontade de estar ali um com o outro e como se o beijo não bastasse um desejo surgiu. Um desejo incontrolável que levou Chang-Sun a abrir a blusa de Julia e fizesse com que a garota permitisse. Eles fizeram amor. Para Chang-Sun foi algo substancial, não uma rapidinha em um banheiro de um funeral. Para Julia foi algo diferente, primeiro porque em seis anos ela estava matando seu desejo com um homem que não era Seungho e, segundo; ela estava com alguém que ela nunca imaginaria estar. Gemidos roucos selaram o fim daquele momento e então eles se olharam. Não disseram nada, mas não conseguiam se afastar. Chang-Sun passou a mão no rosto de Julia com carinho o que a fez fechar os olhos. Ela estava gostando daquilo, do carinho de Chang-Sun, da atenção que de certa forma recebia. O rapaz respirou fundo e quando pensou em dizer algo eles ouviram um barulho. Julia se encolheu embaixo de Chang-Sun e de repente G.O apareceu. Ele passou pelos dois, mas nem percebeu que Julia estava na cama com o amigo. G.O apenas foi direto para a cozinha pegar algo para beber. Chang-Sun saiu de cima de Julia e ela rapidamente foi para o quarto fechando a porta deixando o rapaz sozinho para pensar e, dando um tempo para que ela mesma pudesse entender o que tinha acontecido.

***

No sábado Julia e os amigos de Seungho resolveram conhecer melhor o filho dele. Levaram o menino e Hae-Won para um piquenique. O mais interessante daquilo tudo era que Julia já não se importava mais com a presença da massagista e para ela o mais real era que Hae-Won tinha algo com Seungho, não ela. Eles tiveram um dia divertido e G.O a cada minuto se apegava mais ao menino, ele estava encantado e toda aquela estrutura irresponsável dava lugar a um instinto paterno que ninguém nunca soube que existia. Chang-Sun achou que o menino estava suprindo a falta que Seungho fazia para o amigo. Tudo correu perfeitamente bem e, enquanto Julia amarrava o cadarço do menino, ela decidiu que não importasse o que o exame de DNA dissesse o filho da massagista merecia uma vida digna e justa. Ela sentia como se devesse isso a ele afinal, Seungho não pediu um exame de paternidade para assumir o menino. Quanto ao que houve entre ela e Chang-Sun, os dois não comentaram, apenas seguiram vivendo como se tivesse sido algo normal e de certa forma, acabou se tornando algo normal. Durante a semana não houve uma única noite em que Julia e Chang-Sun ficassem juntos, estava virando uma rotina que era boa para os dois lados.

***

Numa daquelas noites Chang-Sun ficou no quarto de Julia, claro que eles fizeram amor, mas não falavam de sentimentos. Já era tarde da noite e Julia fez um sanduiche para os dois. Ela entrou no quarto com a bandeja, fechou a porta e se sentou na cama. Chang-Sun pegou o sanduiche dando uma mordida enorme.

"Você foi rápida."

"Essa sanduicheira que eu dei para o G.O faz misto quente e menos tempo."

"A gente ganha coisas incríveis quando casa. Por isso tanta gente sobe ao altar."

Julia mordeu o sanduiche e não pode evitar de rir daquela teoria maluca de Chang-Sun.

"Você já esteve perto?"

"De casar? Não."

"Por que não?"

"Não sei. Sempre fez mais sentido me manter longe."

Julia passou a mão no cabelo de Chang-Sun e isso o fez suspirar.

"Você não se sente solitário?"

"Nesse instante... não."

Chang-Sun olhou direto para os olhos de Julia abrindo um sorriso imenso, essa reação que ele teve a fez corar.

"Eu quero dizer em geral. Para quem você conta suas histórias?"

"Eu as guardo para mim mesmo."

"Que trágico!"

A garota sorriu e deu outra mordida em seu sanduiche enquanto Chang-Sun a observava. Estava claro que algo estava acontecendo, mas havia reservas dos dois lados. Um certo respeito pela memória de Seungho.

"Quantos anos tem sua mãe?"

"O que?"

"Eu tinha uma regra com as minhas amigas. Não dormir com nenhum cara até saber a idade da sogrona."

Julia riu cobrindo a boca o que fez Chang-Sun rir também.

"Como assim?"

"Era um jeito de ficarmos longe da cama de caras que a gente mal conhecia."

"50... minha mãe tem 50 anos. Quer saber mais alguma coisa sobre mim?"

"Qual sua cor favorita?"

"Marrom."

Chang-Sun respondeu olhando para os olhos castanhos de Julia.

"Você não é nada do que eu pensei que fosse."

"Bom... nem você."

Chang-Sun a beijou e a abraçou forte, nada poderia ser mais perfeito do que aquele momento.

***

Era domingo e G.O acordou cedo, estava decidido a ligar para Hae-Won afinal, ela havia precisado muito dele já que o filho exigia a presença do pai postiço para quase tudo. Talvez a vida dele estivesse mudando e finalmente ele estivesse crescendo. Ele estava sentado na sala com o telefone na mão decidindo ainda o rumo que tomaria com a vida dele e quando finalmente se sentiu pronto, Cheondung passou e pegou o telefone de sua mão.

"O que você está fazendo?"

"Cheondung para de palhaçada, me devolve o telefone."

"Você nem conhece essa mulher."

"E daí? Eu posso conhecer, isso não é um problema."

"Já pensou na responsabilidade que você vai ter?"

"Eu não me importo, me dá o telefone."

Cheondung deu um passo para trás e afastou o telefone de G.O.

"Eu não estou de brincadeira, me dá o telefone."

G.O alertou indo em direção ao amigo que novamente se afastou. Eles se olharam e como duas crianças começaram uma briga pelo telefone. Cheondung pulava e G.O o puxava até que os dois caíram no chão e começaram a rolar para alcançar o aparelho, eles gritavam e xingavam e a briga só parou quando a porta do quarto de Julia se abriu e eles viram Chang-Sun saindo. Os três se olharam e como se nada estivesse acontecendo, Chang-Sun passou pelos dois jogados no chão. Cheondung estava surpreso e, se aproveitando dessa distração, G.O pegou o telefone, correu pro quarto e se trancou para ligar para Hae-Won.

Julia se virou e notou a cama vazia, ela abriu os olhos devagar sentindo a claridade incomodar um pouco e então pode ver no travesseiro escrito 'café'. Ela sorriu e finalmente conseguiu se levantar da cama. Estava preguiçosa, pois o dia estava preguiçoso e tudo que ela queria era estar com Chang-Sun. A garota se vestiu e a muito custo saiu do quarto. Chang-Sun não estava, mas ela encontrou Cheondung na cozinha revirando um monte de fotos.

"Wow o que é isso tudo?"

"Quero achar uma foto para a homenagem que faremos na próxima semana, mas não encontro nenhuma que mostre bem o rosto dele."

Julia pegou as fotos e começou a ajudar Cheondung a procurar. Ele foi até a geladeira então a curiosidade gritou.

"Quer dizer que... você está apaixonada?"

A garota ficou surpresa com a pergunta e gelou por dentro.

"Eu não estou!"

"Eu o vi saindo do seu quarto hoje de manhã."

Julia não sabia o que dizer, ela foi totalmente pega de surpresa.

"Oh meu Deus, Cheondung... aquilo não foi nada... foi menos que nada."

Cheondung engoliu a explicação, mas Chang-Sun que chegava com pães de canela para Julia não engoliu nada. Na verdade, ouvir aquilo que ela disse fez com que ele se sentisse triste e decepcionado, tanto que ele permaneceu imóvel onde estava sem ser percebido.

"Eu tenho algumas fotos no deposito, eu vou encontrar uma foto pra você."

"Obrigado."

A garota se levantou e assim que Chang-Sun percebeu que Julia iria passar por onde ele estava ele simplesmente saiu e deu a volta na casa para não encontrar com ela.

Julia entrou no depósito e finalmente viu suas coisas pela primeira vez desde a morte de Seungho. Nada ali mais fazia sentido e aquele sentimento de culpa e perda já não se faziam tão presentes e tinha um motivo. Ela abriu uma caixa cheia de coisas e rapidamente encontrou o que procurava. Havia fotos de Seungho de várias maneiras, era só Cheondung escolher uma e, revisitando o passado, algo estranho aconteceu. Julia não sentia nada. Não sentia mais falta, não sentia mais dor, não sentia nem o amor que sentia antes. Claro que ela ficou um tanto chocada e então viu o vestido de noiva pendurado no canto do depósito. A garota o vestiu com a intenção de sentir algo por Seungho e novamente, nada. Ela simplesmente estava se achando linda no vestido e isso era tudo. Julia passou horas ali sentada no sofá vestida de noiva, perdida em pensamentos e quando nada mais fazia sentido ela foi interrompida por um barulho, era Chang-Sun e ele trazia uma mala.

"Vestido bonito."

"Eu nunca tive a chance de usa-lo então... é coisa de mulher."

Chang-Sun deu de ombros e sorriu fraco. Julia se sentou direito e olhou para a mala do rapaz e se assustou.

"Aonde você vai?"

"Embora! Só vim dar 'oi' e 'tchau'."

Julia ficou confusa e parou para pensar um pouco, ela não queria aceitar o que estava acontecendo.

"Você está indo embora? Por quê? O que houve?"

"Nada!" Chang-Sun suspirou e sorriu cínico "Menos que nada, certo?"

A garota sentiu uma tristeza repentina a invadir e quis sumir por ter dito aquelas palavras à Cheondung. Na verdade aquilo que estava tendo com Chang-Sun era muito... era mais do que muito.

"O problema de casas pequenas é que se pode escutar tudo. Você precisa comprar uma casa grande igual a minha em Seul. Cidade grande, muito movimento, carros. Assim não se ouve nada."

A essa altura Julia começou a hiperventilar um pouco. Ela queria se explicar pedir desculpas queria achar as palavras certas para que Chang-Sun não fosse embora.

"Eu não queria dizer aquilo."

"Tudo bem. Eu tenho mesmo que voltar para casa. Voltar para a realidade, então... até mais."

Dizer aquelas coisas não foi como Chang-Sun pensou. Ele estava com raiva, magoado e queria magoar Julia, mas quando viu que estava surtindo efeito o feitiço virou contra o feiticeiro. O coração dele apertou e ele se afastou pegando a mala indo em direção à porta.

"Chang-Sun espera. Eu só disse aquilo porque..."

"Porque ficou com vergonha? Tudo bem. A gente não tem nada a ver, eu não faço seu tipo, não é mesmo? A gente se vê."

Aquilo estava magoando Julia de tal maneira que a dor da morte de Seungho era fichinha perto da explosão de sentimentos que estava prestes a acontecer dentro dela.

"Espera!"

"Pra que? Você ainda não está pronta para tirar esse vestido de noiva, vai levar um tempo ainda."

Julia abaixou a cabeça e Chang-Sun foi embora. Ela ficou ali se sentindo patética no meio do depósito com a foto de um morto na mão vendo o outro vivo ir embora. Mais do que depressa ela tirou o vestido e finalmente voltou para casa com as fotos que ela prometeu para Chendung. G.O tentou falar com a garota, mas ela passou direto indo para o quarto e assim que fechou a porta sentiu a falta imensa que a presença de Chang-Sun fazia. A garota então se encolheu e começou a chorar.

***

Às 10h00 da manhã Julia tinha um encontro com a sogra e a advogada para pegar o resultado do DNA, não foi nenhuma surpresa quando a advogada anunciou que o teste foi positivo. Por incrível que pareça quem estava abalada era a senhora Yang.

"O que posso fazer para congelar os bens do meu filho para que essa criança fique com o mínimo?"

Julia olhou para a sogra desacreditada. Aquela mulher só podia estar de brincadeira.

"A senhora enlouqueceu? Aquele menino é filho do Seungho, ele tem direito aos bens que seu filho deixou!"

"Eu mal conheço aquela criança."

"Mas ele é seu neto! Seungho não precisava daquele dinheiro, e de qualquer maneira ele sabia que podia ajudar a melhorar a vida daquele menino mesmo não estando presente!"

"O que você está dizendo?"

"Estou dizendo que se você não der o que Seungho queria dar para o menino, eu vou dar."

A senhora Yang riu.

"Como Julia? Você não tem dinheiro!"

"É eu não tenho, mas eu tenho isso."

Julia se levantou e tirou do bolso de trás da calça jeans o anel de noivado.

"Eu não quero vendê-lo, eu preferia devolvê-lo para a senhora, mas se dificultar as coisas com a sua influência não pensarei duas vezes."

A garota pegou sua bolsa e saiu do escritório da advogada. A decisão estava nas mãos da mãe de Seungho.

"E então como foi?"

G.O perguntou ansioso assim que viu Julia saindo do prédio. Ele e Hae-Won a esperavam no estacionamento apreensivos esperando algo de concreto sobre o destino de suas vidas.

"O teste deu positivo, o menino é filho de Seungho."

Houve uma pequena comemoração.

"Mas a senhora Yang vai lutar para não dar muito."

"O que? Mas o menino tem direito!"

"Eu sei, G.O. Mas ela está com esse sentimento de perda, é compreensível. Dê a ela alguns dias. Acho que com o que eu disse a ela, ela fará o que é certo."

Hae-Won sorriu e sem a menor cerimônia abraçou Julia.

"Eu realmente sinto muito por tudo que houve. Você poderia apenas tê-lo amado e sentido a falta dele sem ter que saber a verdade."

"Sem saber quem ele realmente era."

Julia suspirou pensativa enquanto a massagista se afastava. A garota encarou Hae-Won e G.O e sorriu levemente de um jeito triste.

"Sabe, eu lembrei de uma coisa outro dia. Há um eu e Seungho passamos naquele lago que levamos você e seu filho, nós almoçamos por ali. Foi um daqueles dias perfeitos. Quando voltávamos para casa ele disse que tinha uma coisa para me contar e eu perguntei: 'Eu vou ficar mais feliz ou menos feliz?', ele respondeu: 'Menos feliz.', e eu disse: 'Então não me conte.'."

***

Na quarta-feira por volta das 17h00 as pessoas estavam reunidas no restaurante para prestar a última homenagem a Seungho. Como Julia havia previsto, a senhora Yang pensou direitinho sobre tudo e resolveu que era melhor aceitar o neto. A conta de um milhão foi toda para o menino que apenas pegaria o dinheiro quando completasse 18 anos e mensalmente ele receberia uma pensão generosa, a condição era que Hae-Won teria que se mudar para Jeonju o que não seria problema algum já que Cheondung iria se mudar e G.O, com o pretexto de não querer ficar sozinho numa casa tão grande, convidou Hae-Won e o filho para morar com ele. Julia quis devolver o anel de noivado, mas a sogra não aceitou, apenas pediu para que ela contasse para as pessoas que ela amasse como Seungho foi importante na vida dela e que mantivesse a tradição de passar aquele anel adiante. No fim das contas, aquela resistência e hostilidade eram porque a senhora Yang queria ter o filho de volta. Julia entendeu e sentiu pena dela. Naquele dia tudo estava se clareando, tudo estava sendo solucionado. Os convidados sorriam e contavam coisas sobre Seungho e quiseram que Julia desse um discurso. Ela não sabia de tudo sobre Seungho, mas ela conseguiu falar por um tempão. Julia disse o quanto ele era bom, que ele adorava café, mas não contou tudo. A garota omitiu as partes complicadas, o quanto foi importante tê-lo perdido para sempre para poder encontra-lo de verdade, e como encontrá-lo a tornou uma outra pessoa. Não foi para saber dessas coisas que aquelas pessoas foram até o restaurante aquele dia. Todos queriam ouvir como Seungho foi ótimo, mas não perfeito, que às vezes ele tinha seus dias mal-humorados também. As pessoas queriam saber o quanto Julia sentia saudade do noivo, não que enquanto ela sentia saudade dele ela havia se apaixonado por outro homem. Era estranho, pois parecia que Seungho seria o único que entenderia a situação de Julia. De certa forma fazia sentido, pois só na presença do amigo rebelde que morava em Seul é que Seungho conseguia ser autentico. Julia deixou toda essa parte pesada de fora de seu discurso e simplificou. Ela disse que amava o noivo e essa era uma verdade.

***

Dois dias se passaram e enquanto Cheondung esperava o caminhão da mudança, Hae-Won chegou com o filho. Ela estava empolgada com a nova vida e estava realmente disposta a recomeçar, a seguir uma rotina e ser uma boa mãe. O melhor de tudo é que ela teria G.O para ajuda-la. O menino entrou correndo passando por Julia e a massagista sorriu parecendo encantada. A garota teve aquele sentimento de dever cumprido, no fim das contas não foi Chang-Sun que ficou para limpar a sujeira de Seungho, foi ela mesma. Julia foi para o quarto terminar de arrumar suas coisas quando G.O entrou já gritando surpreso.

"Ah não! Você também vai se mudar?"

"Agora sua casa está muito cheia G.O, você não precisa de mim, tudo ficará bem."

Julia assegurou com o primeiro sorriso sincero depois de toda aquela confusão.

"Posso pelo menos te visitar na casa nova e talvez pintar as paredes do seu quarto numa cor azul descente que não pareça uma caixa de absorvente?"

A garota começou a rir e assentiu com a cabeça enquanto colocava seu casaco.

"Claro que pode! Eu vou só fazer uma viagem rápida e depois volto para pegar o resto das minhas coisas."

"Pra onde você está indo?"

"Seul."

G.O a olhou um pouco confuso, mas assim que que viu o sorriso alargar no rosto de Julia ele entendeu o que ela estava indo fazer em Seul.

"Espera... Não! Sua safadinha!"

Os dois riram e Julia abraçou o amigo com muita força.

"Obrigada por tudo G.O, você sempre vai ser o número um em tudo o que fizer."

O amigo sorriu ainda chocado por Julia estar indo para Seul e da forma que reagiu, deu pra notar que ele ficou tímido com o elogio. Julia passou por Cheondung do lado de fora da casa e também o abraçou se despedindo. Ela era muito grata pelos dois, afinal, em seis anos eles foram as pessoas que mais a acolheram naquele lugar estranho.

***

A viagem não foi longa, apenas 2h30 de carro. O complicado seria para ela encontrar a casa certa em Seul. Depois de algumas voltas pela cidade finalmente a garota encontrou o endereço. Realmente a casa era grande e havia uma avenida próxima, então o barulho dos carros era constante. Julia tocou a campainha e aquela apreensão toda a estava enlouquecendo junto com a chuva que começava a cair. Um minuto se passou e pareceu um ano para ela que estava molhada e com o coração na mão pronta para entrega-lo novamente. De repente a porta se abriu e lá estava Chang-Sun. Ele primeiro arregalou os olhos ao vê-la e depois abriu um sorriso enorme.

"Eu deveria ter ligado. Você deve estar ocupado ou de saída."

Julia estava nervosa e ria sem conseguir se conter enquanto Chang-Sun estava calado esperando para que ela terminasse de falar.

"Nossa você pode estar saindo com alguém agora, eu não tinha pensado nisso! Você pode estar saindo com alguém que conheceu de um jeito normal..."

E antes que Julia pudesse terminar de falar Chang-Sun a beijou. Esse era o beijo que os dois buscavam. O beijo livre de culpa, o beijo intenso e esperançoso de um recomeço para Julia e uma nova experiência para Chang-Sun que até então não havia se apaixonado de verdade. O rapaz a abraçou forte a puxando para dentro de casa para que não se molhassem mais e finalmente pode olhar nos olhos que ele tanto amava.

"Por que demorou tanto?"

"Me perdi no caminho!"

O amor as vezes é complicado, mas a verdade absoluta é que quando menos se espera ele chega, não importa quando. Nós apenas devemos deixa-lo se aproximar e essa foi a mágica de Julia. Ela conseguiu encontrar o pôr do sol naqueles dias escuros.

The End    


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