Broken escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
You don’t feel me here anymore


Notas iniciais do capítulo

Eu nunca trabalhei com o casal, e essa fanfic não é propriamente de romance, porque o casal vai ser abordado ao decorrer da fanfic esqueleto, Estigma, que Deus sabe quando eu vou postar, eu não.

Para quem quiser ouvir a música que deu origem ao título:

https://www.youtube.com/watch?v=hPC2Fp7IT7o



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The worst is over now and we can breathe again
I wanna hold you high and steal my pain away
There's so much left to learn
And no one left to fight
I wanna hold you high and steal your pain

(O pior já passou agora e podemos respirar novamente
Eu quero te abraçar forte e roubar minha dor
Ainda há muito o que aprender
E ninguém sobrou para lutar
Eu quero te abraçar forte e roubar sua dor)

Broken - Seether feat Amy Lee

X

Ino sentiu que não podia respirar.

Ao decorrer dos dias, essa sensação lhe assomava de maneira desesperadora. Às vezes, enquanto caminhava pelo hospital, confirmando que seus pacientes estavam bem, os ataques de falta de ar retornavam. E toda a sensação voltava novamente.

Primeiro, a voz do pai tocando sua mente junto da voz de Shikaku, a quem considerava como uma família. Então, o rosto dele sorrindo em sua lembrança, o pedido de desculpas que jamais a alcançou.

Amo você, meu botão de rosa. Desabroche.

A explosão. E as chamas. E a falta de ar.

Usualmente, se encolhia nos cantos, esperando que o desespero passasse. Quando se tornava intenso demais, achava que morreria com os ataques de pânico. Mas eventualmente, lembrava-se dos exercícios de respiração que havia aprendido durante sua iniciação médica e se acalmava um pouco mais.

Então, vinha o incêndio. E toda a dor e o desespero.

Ino se lembrava das chamas bem porque estava perto quando a estrutura foi atacada. E se lembrava dos gritos, e o cheiro das chamas queimando carne humana quando Sakura gritou em desespero que precisava de ajuda.

Ela olhou em sua direção, mas viu além.

Ela o viu lutando entre os escombros, tentando ajudar os mais fracos a saírem com seus desenhos enquanto se mantinha em batalha contra um dos sete espadachins da Névoa.

E viu quando a explosão o lançou para longe.

Sakura estava bem, Ino notou, e correu até onde Sai havia caído.

As chamas crepitavam, a fumaça tornava respirar uma tarefa quase impossível. Mas Ino foi até lá, não apenas porque Sai pertencia ao time de sua melhor amiga, mas porque estava se sacrificando por pessoas com quem aparentemente não se importava.

Ela se lembrava, embora fizesse tempo, do comportamento indiferente que ele tinha a respeito das pessoas. E em como parecia sozinho.

Enquanto tentava recobrar o ar, lembrou-se da expressão dele, os olhos escuros fixos naqueles a quem suas pinturas ajudavam a escapar. Ofegante, gastando chakra demais enquanto Lee cobria a retaguarda. Precisava selar os inimigos, Lee gritava. Era sua função. E no entanto, estava ali.

Ino lembrou-se tão somente de sua mente invadindo o corpo dele, usando suas habilidades para saltar para longe carregando consigo um shinobi no ombro.

E sentiu a dor. Uma dor lancinante antes que retornasse para o próprio corpo. E ainda desnorteada, ainda engolindo fumaça, correu até ele e agarrou seu corpo.

Precisamos sair daqui.

A dor que lambia suas costelas, gritante como se as arrancasse para fora. Ainda hoje, Ino olhava para o próprio corpo, procurando a queimadura que ela sabia estar presente no corpo de Sai.

X

A ala dos queimados era uma das piores do hospital. Ino costumava trazer flores para alegrar o ambiente, usando suas habilidades para montar arranjos lindos que trouxessem vida novamente para o lugar.

Constantemente, buscava ignorar os gemidos de dor que ouvia de todos os cantos. Os pedidos lamuriantes por uma dose a mais de morfina que aliviasse a dor e o sofrimento que aquelas queimaduras causavam.

Nos primeiros dias, quando poucos médicos se aventuraram por aquelas bandas, ela e Sakura colocaram as mãos na massa, debridando a pele morta e reavivando tecidos. Era difícil, e por muitas noites tivera pesadelos com rostos disformes, com pessoas que talvez não sobrevivessem aos efeitos das explosões e incêndios.

Aproximou-se do último quarto da ala, observando o quarto escuro e abriu as janelas, ouvindo um gemido de protesto.

− Precisa de luz aqui. – Ino rebateu, sem aceitar o mau humor de seu hóspede.  – Trouxe flores para alegrar a sua vista.

Dispôs os arranjos enfeitados e coloridos. Misturava flores, aromas e encantava com suas belezas.

Sai parecia imune a isso, indiferente como Shikamaru fora um dia. Ela se irritava quando o amigo dormia em meio às suas explicações sobre o ciclo das flores, mas igualmente dormia todas as vezes em que ele lhe chamava para assistir as partidas de Shogi contra Asuma ao lado de um Chouji que alternava entre cochilos e petiscos.

Asuma. Outra perda que lhe doía. E Chouji acamado. Naquela manhã, fora visitá-lo na UTI, levando suas flores favoritas, pedindo a todos os deuses que o amigo se recuperasse da perda excessiva de chakra e de peso. Nunca o vira tão magro. Nunca pensou que fosse desejar que ele fosse gordinho de novo. Justo ela, sempre implicante, brincando com o peso dele sem nunca magoá-lo de fato, pois sabia como Chouji era uma alma sensível.

Perdas, perdas inestimáveis. Não aguentava mais.

− Leve embora suas flores idiotas. – resmungou, remexendo-se um pouco inquieto. E Ino se perguntou onde estava aquele rapaz gentil que socorrera tantas pessoas. O mesmo rapaz de quem tivera vislumbres da mente. Vislumbres aterrorizantes. De sangue, assassinato, dor. Arrependimentos para uma vida inteira. E era tão jovem.

Hanakotoba no kazukazu¹.— ela respondeu, ignorando seus insultos e sorriu, enquanto ajeitava as flores.

Sai a olhou de canto, sentindo um incômodo subir pelas costelas onde a queimadura se alastrara.

− Não ouvi o que disse. – mentiu. Apenas porque soava bonito.

− As muitas palavras das flores. – Ino repetiu. – Meu pai costumava dizer que se prestarmos atenção, podemos ouvi-las falando baixinho em nossos corações.

− Isso é... – Tentou pensar em algum insulto, mas as palavras não vieram. Apenas aquela dor que lhe fez estreitar os olhos.

− Yare, yare, pode deixar os insultos para depois, Sai-san. – Sorriu, aumentando um pouco sua dose de morfina. – Hoje trocarei os seus curativos. Não se preocupe, a morfina logo fará efeito.

Ele sentia-se sonolento. Sentia o perfume de jasmin que desprendia dela. Era bom. O próprio aroma das flores parecia se impregnar em Ino, talvez por manipulá-las tanto.

− Não quero que me veja assim. – murmurou, sentindo os olhos pesarem.

− Carrancudo? Já estou acostumada. – Ela gargalhou.

− Fraco.

A resposta a pegou de surpresa. Ino apenas sorriu docemente, levando uma das mãos até a testa dele e constatando leve febre.

− Tudo bem ser fraco de vez em quando, Sai-san. – Ino afastou a franja de seu rosto. – Às vezes, também não consigo seguir em frente.

Apenas respire.— Suas palavras se apagaram junto de sua consciência. Ino permaneceu ali por um momento, apenas o encarando.

X

Apenas respire.

− Não vai comer, porquinha? – Sakura perguntou, roubando o pudim disposto diante de Ino na mesa da cafeteria e deu uma colherada generosa, grata pelo sabor doce que descia pela garganta. – Aconteceu algo?

Alheia, Ino permaneceu com o olhar perdido.

− Ino! – Sakura estalou os dedos diante de seu rosto, agora séria. – Está tudo bem? Não tem dormido direito?

− Eh? Não. – respondeu. – Quero dizer, estou bem. Tenho dormido.

Foi como se tivesse pendido entre o real e o irreal. Onde estava?

− Pesadelos outra vez?

Sakura tinha sua boa cota deles. As duas compartilharam as experiências horríveis. Ino apenas encolheu os ombros um pouco.

− Ainda ouço a voz dele na minha mente se despedindo. Dizendo que me amava. – Fechou os olhos e sentiu a mão da amiga se fechar sobre a sua quando as lágrimas rolaram por seu rosto, a garganta fechada. – Oh, Sakura, sinto tanto a falta dele!

− Eu sei.

Sakura guardou os próprios problemas em uma caixinha e a abraçou, permitindo que Ino chorasse. Durante um bom tempo permaneceram assim, até que se encararam.

− E Sasuke?

Sakura apenas encolheu os ombros, um sorriso triste nos lábios.

− Ainda desacordado.

Não sabia o motivo de não dizer à Ino que havia falado com ele naquela noite. Apenas não se sentia pronta para isso.

Ino sentiu um nó na garganta, uma pergunta suspensa no ar, mas Sakura leu nas entrelinhas.

− Estamos fazendo o possível por Chouji. A Godaime está pessoalmente cuidando do caso, Ino-chan.

Ela anuiu.

− Pedi os registros dos Akimichi para buscar uma forma de reverter o processo. – compartilhou. – Ainda estou pesquisando.

− Podemos fazer isso juntas. – Sakura ofereceu.

− Sei que está sobrecarregada com tantas cirurgias, não se preocupe.

 − Ainda sou sua melhor amiga, Ino-buta-chan. Não vai escapar de mim facilmente.

Riram, as duas, perdidas em suas próprias desgraças.

− Estive com Sai de novo hoje. Continua resmungão. – Fez um biquinho enquanto terminava a sobremesa.

− Vi o que fez por ele no campo de batalha, Ino. – Sakura disse por fim. – Poderia ter morrido, largando o próprio corpo à mercê daquela maneira.

Ela sorriu fracamente em resposta.

− Ele abandonou tudo por civis. E agora se esconde novamente naquela casca vazia e naquele sorriso falso.

− Hai, hai. Dê tempo a ele, Ino-chan. Aos poucos, vai desabrochar.

As palavras de Sakura atingiram um ponto mais profundo, mas Ino mascarou o sentimento.

Desabroche.

Ergueu-se.

− Não pretendo desistir! – Colocou as mãos na cintura, o sorriso cintilante sobre o rosto tão belo. Sakura a invejava, não apenas pela beleza, mas porque Ino reluzia.

− Sei que não. Fique bem, porquinha.

− Você também, testuda.

Tinham uma à outra, ao menos.

X

Na manhã seguinte, quando visitou Sai para trocar seus curativos, a janela estava aberta e ele sentado na cama, rabiscando alguma coisa com papel e carvão. Ino aproximou-se, curiosa.

− Mais disposto hoje?

− Vai me deixar em paz se eu estiver, cara de porca? – provocou com aquele sorrisinho falso que fazia Ino querer afundar os dentes em sua cara. Mas ao invés disso, apenas sorriu.

− Não pretendo deixá-lo em paz tão cedo, cara de peixe morto.

Sai expressou surpresa ao ouvir o xingamento da garota que sempre parecia tão gentil.

− O quê? – Encolheu os ombros em um gesto de clara indiferença. – Esse jogo é para dois.

Observou o desenho dele antes que Sai o ocultasse, virando a página. Sorriu.

− Vou buscar água para as flores. – Ergueu-se, caminhando até a porta.

− Chata. – soltou ele.

− Insuportável.

Os dois sorriram.

Sai encarou o desenho inacabado de Ino segurando uma flor. O esboço deixado para trás, entre tantos.

Era um pequeno recomeço, mas talvez pudessem se agarrar às próprias dores para seguirem em frente e remontar os estilhaços que a guerra havia deixado.  

¹ Segundo o Naruto databook, essa é a frase favorita da Ino.


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Notas finais do capítulo

Porque eu pensei: se as duas fizeram uma capa pra mim feat, nada mais justo que eu escolher uma música assim também!

Para quem não conhece ainda, o projeto Estigma é um projeto que eu criei, abraçado total e completamente por mim para explicar o pós-guerra de Naruto, onde a dor deve sim ser sentida! E aqui eu retrato um final alternativo, modificando algumas coisas, mas mantendo a essência, onde quero explicar como alguns casais inusitados terminaram juntos!

Mas o essencial aqui é demonstrar que o mundo ninja não é um mar de rosas.

Meninas, sei que a fic não é um romance e talvez nem possa ser considerada de shipp, mas ela foi feita com muito amor e carinho pensando em vocês! Tive mais contato com a Karvie, que foi um amorzinho comigo durante as duas capas que foram feitas. A primeira para Desabrochar, uma GaaIno que fiz, e essa segunda para Acasos, uma HashiMito. E, meu Deus, é um trabalho tão amorzinho! Muito obrigada mesmo por todo o carinho e dedicação! O trabalho de vocês é maravilhoso!

Enfim, está aqui mais um spinoff desse grande projeto! Espero muito que quando eu lançá-lo, vocês gostem e acompanhem, pessoal! Nos vemos no próximo passo!



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