Shadowhunters: Cidade das sombras escrita por Vickysmeow


Capítulo 15
Capítulo 13: Não há luz no fim do túnel




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Jordan não fazia ideia do quanto já havia andado. Corredores infinitos com tochas acesas e com paredes úmidas. Por mais umidade que aquele ambiente tivesse, o calor fazia o suor escorrer pelas têmporas do rapaz.
Lilith caminhava suavemente como um gato, um silêncio insuportável atormentava Jordan. Se não falava, ele pensava; e odiava criar teorias sobre o que o aguardava num futuro próximo ou onde estariam seus amigos caçadores de sombras agora. Será que viriam atras dele? Bem, ele tinha certeza que todos viriam por causa de James e não dele.
— Perdido em pensamentos, Jordan?
Lilith sussurrou em sua mente. A voz aveludada e sedutora fez o garoto se contorcer por dentro. Por mais que tentasse erguer uma barreira contra ela, nunca conseguia. Lilith era mais forte.
— Por que não fala com a boca ao invés de usar a mente? - Quis saber ele enquanto começavam a subir uma escadaria de pedras em espiral que levava até o infinito e para cima.
— As paredes têm ouvidos aqui querido. Seja no inferno ou no seu mundo. - Lilith parou depois de subirem uns dez degraus para cima. Puxou uma tocha para frente e a parede de pedra se moveu para a lateral. Uma sala redonda e grande se revelou. Iluminada pela luz enfeitiçada dos caçadores de sombras (Jordan 
notou) - Acredite Jordan - Ela deu espaço para que o garoto passasse - Elas são fofoqueiras.
O barulho da rocha se movendo e se fechando, trancando ambos naquela sala redonda e abafada fez Jordan pensar se não era claustrofóbico. O ar estava pesado e cheirando a perfume com madeira queimada.
Lilith e seu andar sensual passaram pelo garoto e a mulher se sentou em uma mesa retangular no canto esquerdo da sala. Jordan se lembrou da única vez que foi para a sala do diretor no colégio, por ter protegido Julieta de umas garotas idiotas e metidas. Lilith agora, parecia um diretora. Só que ela era rainha daquilo tudo.
Rainha? Mas... Lilith não é a toda poderosa dos demônios. O garoto pensou em Lúcifer e todas as histórias e estórias que já tinha ouvido na vida, desde a infância até agora.
— Sente-se querido! - Ela apontou para uma das cadeiras à frente de sua mesa de madeira esculpida.
Enquanto se aproximava, Jordan notou que o móvel ficava dentro de um pentagrama com símbolos estranhos, demoníacos. Os símbolos dos caçadores de sombras eram incomuns, mas passavam segurança, esses, passavam medo e agonia.
Jordan sentou-se hesitante e como a sua curiosidade era maior que seu senso comum, ficou brincando com uma caneta de pena em cima da mesa.
— Lilith? - Ele chamou observando cada detalhe da pena aveludada e macia em sua mão. A mesma, fez cócegas sobre a pele clara e quente. - Onde está Lúcifer? Quer dizer... não é dona disso tudo aqui. O rei do inferno...
— O rei do inferno... - Lilith fez uma pausa, certificando-se que o garoto estivesse olhando fundo em seus olhos, onde ela, podia ver sua alma tremendo de medo e expirando ansiedade e curiosidade. - Está morto.
Jordan abriu a boca para perguntar, porém se calou, assim que duas xícaras de chás apareceram entre ambos, apoiadas na superfície dura da madeira. Ambas, acompanhadas de uns biscoitinhos redondos que deram água na boca do garoto. Ele não sabia a quanto tempo não comia e nem bebia nada.
— Admiro a sua coragem, Jordan. - O mundano a olhou, imaginando se deveria aceitar a refeição ou se deveria resistir aos cheirosos biscoitos de baunilha com gotas de chocolate - Pode comer.
Um demônio lhe oferecendo comida... quem diria? Jordan sabia que nunca aceitaria e muito menos acreditaria se alguém lhe dissesse que um dia estaria conversando com Lilith e tomando chá. Com medo, mas morrendo de fome, o garoto esticou os dedos nervosos e pegou um dos doces. Mordeu um pedacinho e esperou o chocolate derreter em sua boca, suave e doce. Maravilhoso e tentador. Lilith o encarava, satisfeita e curiosa a respeito do garoto.
— Minha coragem? Por que? Eu não sou corajoso. Na verdade, estou morrendo de medo agora, porque você é a manda chuva agora e... - Jordan percebeu que falava demais e estava tagarelando após o olhar no rosto da mulher mudar - E eu não deveria dizer que eu estou com medo para quem eu estou com medo...
— Jordan. Querido. - A mão de Lilith foi parar na dele, fazendo-o se calar de vez. Por mais estranho que parecesse, Jordan se sentiu calmo e seguro. - Poucos me chamam pelo meu nome.  E admitir estar com medo só demonstra ainda mais que sua força de combatê-lo.
— Como assim?
Lilith suspirou e sorriu, repuxando os lábios escarlate em uma sorriso meigo que por mais Jordan soubesse que era falso, estava quase se convencendo de que coisas boas podiam vir dela. Só que também sabia que não podia confiar. Ela é um demônio. Caçadores de sombras matam os demônios. Seus amigos nasceram para isso. Exceto Julieta. Julieta?
O gosto doce dos biscoitos o lembrou do que sua mãe dizia todas as vezes que saia de casa, por mais que não fosse necessário: Nunca aceite nada de estranho. Nunca fale com estranhos.
Mas... Lilith era uma estranha? Tecnicamente não. Literalmente sim.
O garoto tentou pensar. Se lembrar de coisas que um dia o fizeram felizes. Lembranças de Julie nos piqueniques que faziam todos os fins de semana, lembranças da escola e... qual era a próxima mesmo?
Por que era tão insuportável tentar lembrar de algo e não conseguir? Por que seu cérebro se recusava a deixar que ele veja suas próprias memórias boas?
O gosto amargo veio em seguida. Subindo pela ganharia e lhe atingindo a língua. A boca amarrou e o estômago embrulhou. Um labirinto se formando em sua própria mente, trancando as portas abertas, das quais, ele não tinha a chave.
— Vadia!
Jordan caiu da cadeira direto para o chão duro. A pedra abaixo dele arranhou sua bochecha e o arder do machucado deu a certeza de que havia sangue em algum lugar de seu rosto e também no solo sob ele.
Os estalos dos saltos de Lilith contornando a mesa lhe lançou arrepios pelo próprio corpo. Enquanto se levantava com uma força que não era a sua, podia sentir os olhos dela, o poder fluindo pelo ar por partículas invisíveis indo em direção a seu corpo.
Jordan ficou em pé, congelado. Nenhum de seus membros obedecia as ordens dadas pelo cérebro. O próprio não estava obedecendo mais.
Lilith sorriu.
— Agora você é meu, querido.

****

Julieta rolou colina abaixo batendo contra uma pedra grande e pontiaguda. A grama seca abaixo de si não aliviou nada a queda. O cheiro de queimado invadindo o nariz e secando sua garganta, fazendo-a tossir enquanto unia as forças para se levantar.
Os joelhos chegaram a estralar e a lateral do corpo doía. A essa altura - imaginou ela - deveria ter umas duas costelas trincadas. Mas não ligava.
O suor escorrendo pela têmpora, molhando seus cabelos. As roupas grudadas no corpo ensopada de sangue de demônio, verde, gosmento e acido. Se não trocasse logo, o mesmo queimaria o tecido e alcançaria sua pele.
Gritos de luta e de dor chegavam aos ouvidos da garota. Avistou Charlotte no alto da colina decepando dois demônios voadores de uma só vez colocando um contra o outro, e os estrangulando com os próprios rabos peludos e cheios de verrugas nojentas.
Ao leste, na entrada da floresta por onde tentavam atravessar, Gabriel defendia Melissa de três monstros rastejantes rodeados de dentes afiados pelo corpo cilíndrico. Aquilo - pensou Julie - era uma minhoca gigante com dentes mortíferos. Um demônio.
Os olhos percorreram a grama queimada a procura da lâmina Serafim que estava em suas mãos há pouco tempo. Sangue verde e preto espalhado pelo solo, contaminando, queimando e matando plantas e animais pequenos inocentes.
O brilho do Adamas chamou a atenção da garota há alguns metros dela; onde - infelizmente - um demônio de vários tentáculos com ventosas venenosas se aproximava.
Julieta correu mesmo com as pernas querendo derruba-la a cada metro que percorria. As dores latejando em cada centímetro pelo corpo e as costelas machucadas dificultando a respiração. Assim que aquilo terminasse e se ainda estivesse viva - faria um Iratze.
Com um movimento rápido, a caçadora de sombras arremessou o chicote de cobra enrolado em seu pulso até a espada e a puxou para si novamente. O demônio rugiu irritado e avançou. Julie se preparou para saltar e ignorou a dor assim que o fez. Enquanto caia, deixou que a lâmina atravessasse o corpo do monstro e o dividisse em dois, fazendo-o evaporar em fumaça preta. Mais sangue. Mais cheiro de enxofre e queimado.
Havia acabado. O silêncio pairou na colina.
Gabriel encarou Julieta por alguns segundos e concluiu que estava bem assim que obteve contato com os olhos da garota. Lotte se aproximava tirando a jaqueta e a jogando em algum lugar por lá. Não havia ferimento algum. Vampiros não se machucam.
— Gabe...
Melissa murmurou ajoelhada no chão. O irmão a olhou e tentou ao máximo controlar a expressão de dor e sofrimento. A aparência de Mel já foi melhor. Antes, não haviam bolsas roxas sob os olhos por insônia; não haviam hematomas pelo corpo; antes, não havia magia em seu organismo.
— Estão todos bem? - Perguntou a vampira, ajudando Melissa a se levantar.
— Defina bem? - Disse Gabriel enquanto limpava as adagas e lâminas nas mangas do casaco e as guardava nas costas e pernas.
— Vivos. - Lotte retrucou olhando para Julie enquanto a garota tentava caminhar sem arfar de dor.
— Vivos? Sim. - Disse ela ao chegar bem perto deles. - Inteiros? Não. Acho que quebrei alguma coisa!
— Deixe eu ver.
Gabriel se aproximou dela já esticando as mãos na direção do diafragma de Julieta. Ela recuou por instinto e ele a encarou confuso e de certa forma, irritado.
Julie suspirou tirando a jaqueta com dificuldade. Notou que a regata fina que usava por baixo estava rasgada e deixou a mostra o ferimento ensanguentado ao lado do corpo. Um círculo vermelho e roxo, dolorido.
Melissa observava a cena: o irmão desenhando com um cuidado que ele nunca teve com ela, um Iratze em Julieta. Charlotte estava gelada e ela agradeceu por isso. Deveria estar com febre.
— Aí!
— Desculpe. - Gabriel respondeu num sussurro. O hálito quente contra as bochechas de Julie
Seus olhos encontraram os dele por um momento e ela agradeceu.
— Devemos ir. Duvido que o ataque tenha acabado. - Charlotte comentou colocando Mel em suas costas, as pernas da garota presas em seu quadril e os braços segurando os ombros da vampira. - Sua irmã não vai aguentar tanto tempo. Temos que achar um feiticeiro ou alguém que saiba curar magia.
Julieta sentiu o coração parar no estômago. As batidas altas em seus ouvidos e o sangue acelerado em suas veias. Aquilo tudo era culpa dela. Melissa morrendo aos poucos, James e Jordan presos no inferno... tudo por causa dela.
Não hesitou em pegar a mãos de Gabriel. Os dedos ásperos por conta dos anos de treinamento. Imediatamente o garoto a olhou.
— Eu sinto muito. Vou concertar isso. Eu prometo. Mesmo que eu tenha que morrer, vou salvar sua irmã.
— Não vai morrer.
— Desculpe gente mas... está escurecendo e temos que atravessar uma floresta ainda.
Sem mais nenhuma palavra, os quatro seguiram pelas árvores. Cada vez mais fundo, quente e úmido. O caminha se estreitando a cada passo.
E a luz no fim do túnel - Julie pensou - não era nenhuma luz afinal. Era apenas um poço sem fundo e escuro. Muito escuro. De cima, ouvia-se o barulho da água e de algo mais. Não era a água que eles temiam e sim esse algo mais.


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