Sympathy for the Devil escrita por yumesangai


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756743/chapter/1

BEACON HILLS MEMORIAL HOSPITAL: SYMPATHY FOR THE DEVIL

Quando Peter Hale entrou pela porta de emergência, algemado, o corredor do hospital  virou uma bagunça com as pessoas se aglomerando nos corredores, enfermeiros curiosos e pior ainda, familiares começaram a gritar.

—  Assassino!

Stiles foi o primeiro a agir, ele se colocou na frente da maca que estava tendo dificuldade para passar no corredor.

—  Saiam da frente! - Lydia gritava enquanto espantava as pessoas, sacudindo um prontuário.

Algo se chocou contra a parede, vidro quebrando, mais gritos, a polícia teve que se afastar para conter algumas pessoas. Stiles olhou na direção de Peter e viu um sorriso debochado em seus lábios.

Ao menos ele teve a consciência de não abrir a boca. Pequenos milagres.

Peter Hale era tão famoso quanto o incêncio da mansão Hale, 11 pessoas morreram, o caso foi arquivado, Peter insistiu por anos que o incêndio não foi um acidente, mas nada foi comprovado.

Depois houve uma série de assassinatos, que destruiram qualquer credibilidade que ele pudesse dar ao caso. Ele matou sete pessoas, uma delas, Laura Hale, sua própria sobrinha.

Peter foi preso temporariamente pela morte de Laura, embora Stiles conhecesse o depoimento, ele estragou a cena entrando nela e deixando sua impressão digital por todas as partes.

Todos diziam que ele havia ficado louco após o incêndio, com parte de seu rosto queimado.Os curiosos que andavam pela floresta, diziam ouvi-lo gritar nos escombros da mansão. Stiles era um dos curiosos e ele nunca ouviu nada, seu pai era agora o xerife da cidade, ele se aproveitou para ter acesso a algumas informações restritas.

Além disso, após o incêncio, Peter morava numa casa fora da cidade.

Três pessoas não estavam presentes no incêncio, Laura, Cora e Derek Hale. Laura foi encontrada morta e Peter foi imediamente colocado como culpado, após uma série levantamento de provas e idas e vindas da cadeia, ele conseguiu responder em liberdade.

E então ele matou sete pessoas, e a última delas, Kate Argent, irmã de um dos cirurgiões do hospital, Chris Argent.

Peter foi preso, algemado e assistiu a toda sentença com um sorriso no rosto. Stiles ainda conseguia se lembrar de seu pai falando que algumas pessoas simplesmente afundavam tanto que não tinham mais retorno.

Mas o paciente que chegou ao hospital, Peter Hale, havia sido esfaqueado na prisão, suas roupas estavam cheias de sangue, as pessoas estavam descontroladas e Stiles sentiu algo se chocar contra seu ombro, algo dolorido que o fez tombar contra a maca.

Peter apenas ergueu a sobrancelha e por alguns instantes, Stiles jurou que o viu arregalar os olhos.

— Como é bom estar em casa. – Ele finalmente abriu a boca quando entraram num quarto.

Stiles e Lydia trocaram um olhar rápido.

— Você está sangrando. – Scott disse tocando no ombro do amigo.

— Não foi nada.

— Me deixa ver. – Lydia já estava o empurrando.

Não havia a opção de deixar o quarto agora, não enquanto a polícia não contivesse as pessoas e provavelmente conseguisse liberar parte do corredor.

— Sem querer interromper, mas eu estou morrendo aqui. – Peter resmungou, finalmente parecendo que estava sentindo os efeitos colaterais das múltiplas lesões. – Minhas pernas estão me matando. Alguém pode fazer alguma coisa?

Deucalion entrou no quarto e todos rapidamente ajeitaram a postura.

— Você pode parar de falar e nós vamos conseguir trabalhar. – O cortou com um péssimo humor que não era típico.

— Nós precisamos de mais imagens. – Stiles comentou olhando para a bagunça que era Peter.

— Não muito simpático você, huh? Eu matei alguém da sua família?

Deucalion possivelmente rosnou e colocou a máscara de oxigênio sem o menor cuidado. Stiles e Lydia trocaram um olhar silencioso.

 

[...]

 

— Tem PCM na ficha dele, o que isso significa? – Stiles perguntou enquanto mastigava o canudo.

Lydia girou os olhos, para os internos parecia um gesto arrogante e sinal de pouca paciência, mas Stiles sabia que muitas vezes ela estava apenas se concentrando, tentando pegar algo do fundo de sua memória.

— Paciente – Corredor da Morte.

Stiles engasgou com o suco de caixinha.

— Não deveriamos estar surpresos, o caso é famoso. – Scott comentou calmo como sempre, em seu colo ele equilibrava um livro.

Talvez eles estivessem muito ocupados com a própria carreira para prestarem atenção no noticiário.

Eles raramente comiam no refeitório, muitas pessoas, muita fofoca. Eles ocupavam um corredor interno de acesso restrito e ficavam nas macas que deveriam ir para o conserto, mas estavam largadas no corredor.

Lydia, Stiles, Scott e Kira eram inseparáveis, mas Kira não estava nesse caso, então provavelmetne só a encontrariam no final do turno.

— Por que Deucalion estava tão irritado? Chris deve estar furioso.

— Chris fez um juramento. – Lydia comentou.

— Sim, mas é o assassino da irmã dele. – Scott usou isso como justificativa e Stiles imediatamente se viu entrando na defensiva.

— Que possivelmente matou a família dele. – Completou e Lydia e Scott o olharam de forma julgadora. – O que? Não existem provas contra essa teoria.

— É, contra a teoria de um psicopata.

— Lyds? – Stiles tentou, mas a ruiva apena deu de ombros.

 

[...]

 

— Existe um objeto alojado na medula.

— Isso explica a dor agonizante. – Peter resmungou, com os olhos brilhando com lágrimas que ele não permitia que escorressem.

Stiles pensou que ele deveria ser uma pessoa divertida, se não fosse pela parte de ser um psicopata e tudo mais.

— Morfina? – Stiles perguntou olhando na direção de Deucalion.

— Não, ele aguenta.

Peter riu, mas logo voltou a gemer. Deucalion parecia satisfeito consigo mesmo. Stiles mordeu o lábio para não começar algo na frente do paciente.

Chris basicamente o expulsou de cárdio, quando Stiles começou a retrucar suas decisões na frete das famílias.

— Isso significa que eu vou ficar paralítico? - Peter voltou a falar, embora ocasionalmente contesse uma careta. - Isso pode mudar a minha sentença, acha que pode me fazer esse favor, doutor?

— Nunca. - E Deucalion saiu do quarto tão furioso quanto entrou.

Stiles olhou para os lados, como se estivesse prestes a fazer algo errado e aumentou a morfina. Peter suspirou aliviado, embora até esse movimento fizesse seu corpo se contrair de dor.

— Você é bom, eu gosto de você.

— Não sei se isso é um elogio. 

— Por que vem de um psicopata? Um elogio é sempre um elogio ou você pode aceitar, o que quer que te faça dormir melhor à noite.

Stiles realmente queria não gostar dele. Mas existiam tipos de pacientes, especialmente os que estavam conscientes de sua situação e com poucas chances, esses eram aquelas pessoas que Stiles nunca iria esquecer, o senso de humor, a naturalidade.

E nesses casos, havia mais do que a habilidade de médico, Stiles não era religioso, mas em alguns casos ele pedia por uma intervenção divina, qualquer coisa, qualquer um que pudesse escutá-lo.

Ele olhou para Peter pensando se ele merecia, a resposta veio tão rápida dentro de si, que ele acabou sorrindo.

 

[...]

 

— Nós já sabemos porque Deucalion está tão furioso? - Kira perguntou se juntando a Stiles e Lydia.

— Scott deve saber, já que ele é o escolhido. - Stiles disse num tom divertido. Kira o olhou com um pouco de pena. - O que? É verdade. Eu sou o cara que ele chama pras cirurgias quando está temporariamente irritado com ele.

— Os médicos daqui tem um ego horrível. - Lydia se ajeitou na cadeira para descansar por uns vinte minutos no dia.

Stiles e Kira não eram melhores amigos, ela era a namorada de Scott, embora não fosse oficial, era algo que eles não falavam sobre, de qualquer forma, ela era amiga de Lydia também.

Ele sorriu simpático e se levantou com a desculpa que precisava olhar alguns pacientes.

[...]

— O que ele fez? - Liam, um dos novos internos, perguntou depois de espiar pela janela do quarto.

Stiles estava encostado no balcão, terminando de preencher a papelada interminável.

— Não importa o que ele fez, ele está pagando por isso.

Liam não era de Beacon Hills, ele não conhecia a história do incêndio.

— Ele é um desperdício de recursos. - Theo comentou do outro lado do balcão.

Esse, Stiles detestava, ele era um desperdício de anos de estudo.

— Ele é um paciente como qualquer outro. - Stiles não se deu ao trabalho de levantar o rosto da ficha.

Liam observava sem saber se opinava ou se ia embora.

— Ele está no corredor da morte. Alguém tentou poupar o governo americano de gastar uma injeção nele, e nós estamos gastando uma sala e recursos para operá-lo, quando a sentença dele está próxima, ele é um desperdício.

Stiles ergueu o rosto apenas para ver o olhar superior de Theo o desafiando a retrucar. Da última vez que eles começaram algo, terminou com um corte no lábio e um olho inchado. Liam se inclinou na direção do médico e mudou o assunto. Stiles pegou a ficha e foi para o quarto de Peter.

A companhia do psicopata era melhor do que a do outro residente. Ele parecia estar dormindo, mas Stiles já tinha experiência em ler os pacientes. Sentou na cadeira e apoiou os pés no ferro da cama.

Olhos azuis os encararam. Um deles era mais puxado para o lado graças a queimadura numa parte do rosto.

— Ele tem razão, sabe? E você não deveria estar tão perto assim, assassino, lembra?  - Sacudiu uma mão, o barulho do metal da algema bateu contra o ferro da cama.

— O que você vai fazer? Tirar o meu sapato? – O provocou sacudindo o calçado ainda confortável onde estava.

— Talvez eu devesse, você está usando Croc.

Stiles riu e tirou os pés da grade.

— Ei, eu faço 24h de plantão, é a melhor coisa para os pés.

— Os meus ainda estão me matando.

Stiles se levantou e começou a rodar os aparelhos.

— Ainda está com dor? – Perguntou preocupado.

— Assim parece que você se importa.

— O que te fizer dormir melhor à noite.

Peter sorriu.

E talvez não tivesse nada de errado em ganhar a simpatia de um psicopata.

 

[...]

 

Stiles estava cortando caminho pelo corredor de escadas de incêndio, ele passou por Chris Argent, ele e o médico costumavam ser mais próximos.

Ele o segurou pelo braço ao invés de chamá-lo como uma pessoa normal.

Stiles fechou a cara.

— Soube que seu melhor amigo é um psicopata. – Chris comentou como se fosse um assunto normal. Como se não devesse um pedido de desculpas por agir como um Deus Superior que teve seu ego ferido.

— Scott começou a matar pessoas no jantar? – Ele se fez de surpreso.

Chris ficou com a cara fechada.

— Você sabe do que eu estou falando, cuidado com Peter Hale.

Stiles puxou o braço e o massageou.

— O cara está algemado, ok? Pelas mãos, pelos pés, está ligado a vários equipamentos, e em algum momento ele ficará inconsciente e será realizado uma cirurgia contra a sua vontade. Satisfeito com o relatório?

— Stiles...

— Ele matou a sua irmã. Eu sinto muito, mas eu estou fazendo o melhor, o meu trabalho.

— Não estou questionando o seu trabalho.

— Ok, porque todos decidiram apontar e—

— Não estou julgando, eu espero que você dê o seu melhor nesse caso. Ainda que seja um psicopata que matou sete pessoas a sangue frio.

E eles haviam dito tudo que tinham para dizer um para o outro, uma espécie de bandeira branca foi erguida entre eles. Stiles se mexeu desconfortavelmente de um lado para o outro.

— Por que Deucalion o odeia? É por sua causa?

— Deucalion o odeia pelo que ele é, um psicopata. Eu não odeio Peter Hale, não mais. Essa história rendeu por anos.

Chris deu as costas e voltou a seguir em direção ao próximo lance de escadas. Stiles parou bem no começo antes que ele pudesse sumir de seu campo de visão.

— Você acha que ele matou Laura?

— Por que você não pergunta isso a ele? Não parece que ele vai pra lugar algum.

 

[...]

 

Stiles guiava a colher com gelatina de uva e Peter comia devagar, com o braço algemado ele não conseguia estendê-lo até a boca e se inclinar era algo extremamente doloroso, mas obviamente ninguém mais se importava.

— Você pode perguntar, sabe? Eu não mordo.

— Por que você matou todas aquelas pessoas?

— Eu acordei numa segunda, entediado e matei uma pessoa, a sensação foi tão boa, que eu matei mais duas na terça. – Seus lábios se comprimiram num sorriso treinado. Stiles conseguia ver a mentira de longe.

— Isso não faz com que eu durma bem Peter, você não vai pra lugar algum, por que não me conta a verdade?

— Eu contei, por anos, e não deu em nada. Então eu cansei e matei todos os responsáveis por queimarem a minha casa e a minha família, mulheres e crianças.

Stiles estreitou os olhos, ninguém havia ligado os assassinatos com a mansão, apenas como uma pessoa desequilibrada que decidiu matar pessoas aleatórias.

— Pergunte Stiles, faça a pergunta certa.

Stiles não percebeu que estava apertando os dedos e mordendo o lábio, seu lado que sempre quis ser um investigador estava gritando. Era o caso mais famoso de Beacon Hills, um caso arquivado.

— Você só foi preso quando matou Kate Argent.

— Se serve de consolo ela merecia mais do que os outros. – Ele disse sem pesar, quase entediado, mas havia um brilho em seus olhos, uma fúria contida.  – Stiles, faça a pergunta certa. – Continuou a provocá-lo.

Um calafrio passou por todo seu corpo.

— Quem matou Laura Hale?

Os olhos azuis de Peter se arregalaram de verdade, e dessa vez não foi apenas uma impressão, Stiles o viu e ele permaneceu em choque.

— Tyler M. e Nicholas. – Ele respondeu com um suspiro, seus ombros pareciam cansados e ele olhava para Stiles com os olhos azuis brilhando, tristes. Peter Hale parecia humano pela primeira vez, indefeso e assustado. – Eles mataram minha sobrinha, a mando de Kate Argent.

— Nós podemos levar isso à polícia, meu pai é o xerife, ele pode...

— Stiles. – Peter o segurou pelo pulso. – Eu já apresentei tudo que tinha à polícia antes de decidir matar todos os envolvidos. Eu não me arrependo e agora eu vou pagar por isso.

— Não, isso não..

— É justo? Pra mim ou pras pessoas que eu matei?

Stiles não tinha uma resposta, ele apenas ficou em silêncio, Peter o soltou e virou o rosto, provavelmente daria as costas se seu corpo permitisse. Stiles não sabia se ia embora ou continuava ali.

— Você sabia que eles deixam você escolher? – Peter perguntou ainda não olhando em sua direção. - Entre enforcamento e a injeção.

— Oh... O que foi que... O que você escolheu?

— Injeção, enforcamento você demora para morrer, não? – Ele não precisava da resposta, mas...

— Bom... A injeção letal como eles chamam, é utilizado primeiro um anestésico que te coloca para dormir e em seguida um medicamento que paralisa seu diafragma e pulmões e então potássio, que...

— Paralisa seu coração. - Peter voltou a encara-lo. - Você pode se certificar que eu morra aqui?

Ele não estava assustado, mas havia certa vulnerabilidade na pergunta.

— É o meu dever salva-lo.

— Só pra morrer numa mesa dura?

Por que ninguém ensina sobre isso? Era um pedido absurdo? O sistema estava errado? Tecnicamente era um desperdício de material, mas não seria desumano não fazer nada?

— Eu consigo ver as engrenagens rodando na sua cabeça. Eu detestaria que fizesse algo que pudesse ferir seu juramento.

Outra mentira, Peter gostava de se divertir às custas dos outros. 

— E seus sobrinhos? Derek e Cora.

— O tio deles é um assassino, o que você acha? – Rebateu sem humor.

— Mas...

— É preto e branco no final, se você mata alguém, não importa a justificativa, a não ser que seja legítima defesa.

Stiles esperou, mas Peter não insistiu.

— Você matou Kate Argent em legítima defesa?

— Sim.

A pergunta que ninguém fez, porque ninguém acreditava nele, nem o sistema. Kate Argent planejou o incêndio da mansão e contou com a ajuda de várias pessoas, que ajudaram ou foram subornadas. Todas assassinadas. Peter Hale confrontou Kate Argent e em legítima defesa a matou.

Stiles não precisava de provas, o que era absurdo, mas ele sabia que era verdade, Peter não tinha remorso algum das pessoas que matou. Foi a falta de justiça por sua família que o levou a isso.

— Eu sinto muito. 

Peter riu sem vontade. Stiles estava sentindo a exaustão de estar acordado ha 22h.


— Não sinta, legítima defesa ou  não, ela iria morrer. Talvez mais dolorosamente se não fosse o caso.

— Você vai me odiar por tentar salvá-lo? Mesmo que seja para morrer na prisão.

Peter o encarou, ele abriu a boca e fechou sem dizer nada. Stiles tinha certeza que iria ouvir “O que te fizer dormir melhor à noite” no final.

— Eu o odiaria se você não fizesse o seu melhor. – Foi a resposta definitiva.

E Stiles não queria chorar, mas seus olhos estavam lacrimejando de sono, ele coçou os olhos com a manga do jaleco.

— Quantos anos de empréstimo você tem? 

— O que? - Ele com certeza não estava ouvindo direito. - Muitos.

— Você pode me emprestar seu celular? Eu quero mandar uma mensagem para Derek.

Stiles olhou para a porta, um policial ficava encostado ali, mas ele não olhava pelo vidro, porque médicos não deveriam se envolver, ninguém em sã consciência teria.

— Você pode ler se quiser, ele não vai responder ou ligar.

Ele assentiu, ainda com a sensação que estava quebrando muitas barreiras.

Peter demorou para escrever, foi um texto longo, Stiles ficou olhando ansioso para a porta, mas ninguém entrou. Por fim, ele não leu a mensagem, a deletou assim que pegou o aparelho de volta.

— Se eu morrer hoje na cirurgia, obrigado.

— Você concorda então? Não precisamos esperar que você fique inconsciente?

— Eu disse o que tinha pra dizer, a verdade. Não vai mudar em nada, mas de alguma forma, você acredita em mim. É o bastante.

Stiles saiu para chamar Deucalion e Peter fechou os olhos e fingiu dormir.

 

[...]

 

A ressonância apontou traumatismo craniano, Deucalion estava sentenciado àquele caso. Alguma espécie de castigo, por sabe-se lá qual motivo. Mas em pouco tempo de cirurgia e felizmente após a retirada do objeto na coluna, um silêncio desagradável pesou na sala de operação, depois que Scott achou que seria uma boa ideia perguntar a Deucalion seu problema com Peter Hale.

Stiles se viu segurando a mão de um Peter, inconsistente, como se isso pudesse protege-lo.

— Minha esposa foi assassinada, então me desculpe se eu sou humano.

— É, mas ele está algemado e você é o único segurando um bisturi. – Stiles não controlou a língua.

O olhar pesado de Deucalion caiu nele.

— Talvez você deva se retirar.

— O que? Por quê?

— Não posso ter pessoas comprometidas e você passou de alguns limites, Theo vai substituí-lo.

Stiles apertou a mão de Peter com mais força e saiu sem falar nada.

Theo já estava pronto para participar e bateu em seu ombro quando Stiles entrava na sala de preparo, ele sentou no chão e começou a tirar as luvas e o avental.

Mas suas mãos tremiam e ele não conseguia desfazer do nó.

Como se a situação não fosse bizarra o bastante, Chris entrou na sala, ele não falou nada, não perguntou nada, ele apenas se ajoelhou no chão para que ficassem no mesmo nível.

— O que está fazendo aqui?

— Eu vim por você.

Stiles deixou que ele o ajudasse.

— Sabe o que é pior? Eu não sei se é melhor que ele morra aqui ou depois, sozinho.

— Existe uma galeria, as pessoas podem assistir.

Stiles ergueu o rosto, em horror.

— Quem faz uma coisa dessas?

Chris não sabia como consola-lo, não porque a pessoa do outro lado era o assassino de sua irmã.

Mas simplesmente porque ele não era bom nisso. Ele aceitou a morte da irmã, assim como ele aceitou seu envolvimento no incêndio da mansão, embora nunca comprovado.

Ele não era um tolo e de alguma forma, a justiça foi feita pelas mãos de uma pessoa que ficou desequilibrada. E num radar completamente diferente estava Stiles, um investigador, alguém que sempre soube que havia algo de errado no caso enterrado da família Hale, alguém que na época era novo demais para compreender a ambição humana.

E quão longe alguém iria por vingança.

Peter Hale estava condenado ao Corredor da Morte, mas no fim ele cruzou com Stiles, alguém que acreditava nele. Talvez nem Peter acreditasse em si mesmo mais.

Chris não iria julgar, não cabia a ele ou a ninguém. Nesse caso infeliz, ele sentia que tinha uma parcela de culpa, por ter desconfiado do que Kate estivesse armando e nunca ter feito nada, e depois nada poderia ser mudado.

E não haviam provas.

— Eu estou chorando por causa de um psicopata. – Stiles estava soluçando, seu corpo tremia.

Chris ainda amava sua irmã e ela também era uma.

— Seja forte, Stiles.

Ele chorou até não ter mais lágrimas para chorar e saiu de lá com Chris, antes que a cirurgia acabasse. Sua cabeça doía e ele se jogou na primeira cama no quarto de descanso.

 

[...]

 

— Peter acordou. – A voz de Lydia o tirou da escuridão.

Ele abriu os olhos, ela o olhava ligeiramente sem paciência e visivelmente cansada.

— Quanto tempo eu dormi?

— O bastante, eu cuidei dos seus pacientes. – Ela tinha um sorriso orgulhoso. – Agora saia, eu preciso dormir.

Ele deu um beijo em seu rosto e saiu tropeçando pelo corredor. Ele recuperou a postura até chegar no quarto de Peter, sua cabeça estava enfaixada, ele abriu os olhos com dificuldade.

— Hey.

— Você cumpriu a sua promessa no final...

— Eu descobri que talvez você queira se atualizar sobre algumas coisas. – Respondeu sentando-se na cadeira. - Considerando o coma e o...

— E a série de assassinatos. – Ele completou naturalmente.

— Ou isso.

Peter sorriu.

— Deixa eu falar sobre Star Wars, em como eles estragaram a franquia. E tem o filme do Rei Arthur que ninguém deu muito crédito e a história do Drácula, por alguma razão, acho que isso te interessa também.

E Stiles falou, falou e precisou sair e voltar com água e bebidas. Peter comeu a gelatina como se fosse a melhor refeição, até que Stiles percebeu que provavelmente seria sua última.

— Que tal chocolate? Suiço? Você tem cara de quem gosta de coisas finas, reclamando do meu sapto e tudo. – Perguntou já se levantando e torcendo por um toblerone na máquina que vive engolindo dinheiro, perto da loja de presentes.

— Eu não me importo.

— Mas eu sim.

Peter sorriu, cansado, como se tudo fosse um pouco demais. Stiles saiu para pegar chocolate.

 

[...]

 

Existem coisas que nenhum livro ou curso vai te preparar, a vida te joga em alto-mar quando você não sabe nadar. Chris não estava brincando sobre a galeria, havia quatro fileiras de cadeira, Stiles sentou na última. Peter estava sendo trazido como se ele tivesse resistido. A maca era fria e havia várias amarras de contenção.

Peter pendeu a cabeça para o lado para ver as pessoas, Stiles se perguntou se era o tipo de vidro que permitia que eles enxergassem as pessoas presentes ou se só eles podiam vê-lo.

Os olhos de Peter estavam focados no de Stiles e ele acreditou que ele estava o vendo. Então ele ergueu o olhar e sorriu. Derek Hale estava encostado na parede.

Peter murmurou algo e então fechou os olhos.

Simples assim.

As pessoas começaram a se levantar, foi para isso que Peter havia pedido seu celular? Para se despedir de seu sobrinho? Não havia nenhum sinal de Cora, então Stiles desejou que apenas a presença de Derek fosse o bastante.

— Você é Stiles, não é? – Derek perguntou se aproximando, ainda de braços cruzados.

Ele assentiu.

— Eu queria saber que tipo de pessoa empresta o celular para um assassino.

— Foi por isso que você veio? – Retrucou irritado.

— Não, eu teria vindo de qualquer forma. Eu o perdoei há muito tempo.

Stiles assentiu e voltou a caminhar indo em direção ao jeep estacionado do outro lado da rua. Derek o segurou peço braço.

— Ele disse “obrigado”, e não foi pra mim, foi pra você.

Stiles girou os olhos, mas as lágrimas ainda surgiram, ele comprimiu os lábios tentando contê-las.

— A nossa família sempre teve muito dinheiro, minha mãe Talia. Nós tínhamos um cofre, mais de um cofre, com itens que valem muito dinheiro. Eu sei que o incêndio foi proposital, mas não havia provas, e as que existiam foras destruídas e outras provas foram plantadas. Eu sei disso, Peter sabe disso e as pessoas envolvidas...

— Peter matou todos os envolvidos. – Stiles conseguiu voltar a encará-lo.

— Kate Argent se aproximou de mim.

Ele arregalou os olhos, essa informação não existia em nenhum lugar.

— Eu tinha 15 anos na época, ela se aproximou e de alguma forma eu me sinto culpado por tudo que aconteceu. Peter não deixou que eu me envolvesse, Cora também não. Laura não estava na casa, ela começou a investigar, Peter estava no hospital, ele ficou em como por alguns meses, mas depois ele se recuperou rapidamente...

— Laura foi assassinada e Peter levou a culpa.

Derek apenas assentiu.

— Ter o sobrenome Hale pesa muito nessa cidade, seu tio ser um assassino também.

— Por que você não foi à polícia?

— Não é a polícia de agora. – Não é o seu pai, ele quis dizer. – Eles foram comprados. Chris sabe, em parte.

— Você conhece Chris Argent?

Derek deu de ombros, ele tirou um papel do bolso.

— A família Hale ainda tem muito dinheiro, parte dele era de Peter, ele não me pediu para vir até aqui assistir sua execução ou perdoá-lo. Como eu disse, eu já o perdoei há muito tempo, mas ele me pediu para procurar você.

— Por quê?

— Porque você acreditou nele. Ele me pediu para te entregar isso e garantir que você aceitasse.

Ele desdobrou o pedaço de papel e percebeu que era um cheque, com uma quantia tão absurda que cobria sua dívida com Dartmouth, sobrava para comprar uma casa e...

— Não, Derek, isso é absurdo.

— Stiles, faça o que você quiser com o dinheiro, se você rasgar o cheque eu vou depositá-lo na sua conta, então me faça essa gentileza.

Stiles apertou o papel em mãos e colocou no bolso do casaco. Derek sorriu satisfeito, ele foi na direção de um Camaro preto e partiu sem olhar para trás. Já Stiles entrou no Jeep e ficou parado encarando o portão do presídio.

Como médico, seu trabalho é salvar vidas. Como investigador, que ele nunca foi, mas ao mesmo tempo nunca deixou de ser, saber é melhor do que imaginar. E Peter Hale foi como uma faísca, rápida, um pouco dolorosa e muito mais do que isso.

Existem três coisas impossíveis de esconder.— Seu pai disse do outro lado da linha, ele teve que ligar para alguém para conseguir se acalmar e poder sair com o carro dali. – O sol, a lua e a verdade, faça o que você tiver que fazer.

Não era só um senso de justiça, dizer a verdade sobre o incêndio da mansão, era um pouco sombrio pensar o quanto ele se conectou com Peter e o que ele teria feito se  houvesse mais tempo.

Quando um monstro deixa de ser um monstro? Ele pensou.

Ah.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sympathy for the Devil" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.