- Eu te amo, Elena.

- Sério?

- Sério.

- Pois não parece.

Mostre-me este seu “amor”.; Ela disse pra mim, com um ar de pouco caso.

E eu mostrei. Abracei-a com todas as minhas forças, como se o tempo fosse acabar ali mesmo, como se eu nunca mais fosse vê-la novamente... Como se fôssemos aqueles casais clichês que se abraçam e fazem as mais impossíveis juras de amor. Sabe... Às vezes, eu queria ser um pouco clichê. Porque, nos clichês, os casais sempre acabavam felizes, e não faziam perguntas tão esmagadoras e explosivas tais como “Mostre-me este seu amor”.

É... Não custa nada tentar.

- Elena... – Murmurei em seu ouvido, ainda abraçando-a. Vale ressaltar que ela nem ao menos retribuiu; Era como se eu estivesse abraçando um poste.

- Hm?

- Elena... – Repeti, puxando o ar com força. – Me desculpe por isso, mas... Eu não consigo deixar de ser –

- Arrogante, orgulhosa e prepotente.

- Isso mesmo. – Minhas bochechas ferverem. – Enfim... É o meu jeito de ser. Mas, foi esse jeito de ser, foi essa Yulia que se apaixonou por você. Foi essa Yulia idiota e diferente, essa garota que não quer nada com a vida e que só nasceu para irritar as pessoas. É, esta sou eu.

E eu queria que você ficasse certa que eu não deixarei de ser assim. Mas, confesso que, lá no fundo, eu gostaria de ser um pouco clichê. Eu gostaria de dar todas as chances do mundo para que você percebesse que eu te amava – Sem precisar que eu falasse tudo isso. Eu gostaria ser uma garota idiota e apaixonada, que sente o coração derreter a cada passo seu, que escuta com atenção qualquer palavra sua e concorda com tudo, que vai sempre estar atrás de você como uma sombra, que vai te defender...

Mas eu não sou. Eu sou chata o suficiente para te irritar a cada momento, para te dizer o quanto eu te “odeio”, o quanto eu gostaria de te xingar, socar, matar, e todas aquelas coisas que eu digo para substituir um certo “Eu te amo”.

É, pois é. Te irritando, foi a maneira que eu encontrei de ficar próxima de você, de fazer que você viesse atrás de mim – Mesmo que fosse para me bater ou para tirar satisfação. Eu só queria você perto de mim, de qualquer forma ou maneira.

- É, de certa forma, isso ainda é um pouco clichê. – Ela comentou, agora, tombando a cabeça para trás, para poder fitar o céu borrifado de nuvens alaranjadas.

- E eu achei que esse clichê seria o suficiente para te fazer perceber o quanto eu te amava. – E eu não suportei mais, comprimi meus lábios numa linha reta e deixei que as lágrimas escorregassem pelos meus olhos, maçãs, pescoço, até alcançar a blusa branca dela.

- Mas você não conseguiu... Sabe porque?

- Não. – Admiti, num suspiro frustrado.

Porque você não consegue ser clichê como eu. Você não consegue se perder num mar de ilusões e numa falsa esperança de que um dia aquela garota chata e irritante vai crescer e perceber o quanto você a ama – Isso aos poucos vai te deteriorando, sua inspiração, seu desejo... Por mais que eles perdurem, a mágoa se torna ainda maior.

Porém, como toda boa garota clichê, eu agüento essa dor.

E sou masoquista o suficiente para conseguir te perdoar.

E ela se afastou de mim.

Mas não para ir embora.

Um suspiro, uma batida, um movimento.

Um beijo de perdão?

Não sei. Ela apenas me calou da forma que eu sempre desejei ser calada.

Sem foras, cortadas ou agressões...

Apenas um beijo.

Fim?