A Origem escrita por Álex Henrique


Capítulo 14
Capítulo Final – Nascido para ser Rei


Notas iniciais do capítulo

O destino é algo paradoxo, inexplicável. Pode ser mudado, mas ainda assim, é imutável. A criação do universo partiu de um surgimento misterioso e adiante houveram guerras incessantes até o principal planeta tomar a frente da história. Athenas viveu e lutou, agora é chegada a hora de seu filho fazer o mesmo!



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O céu convertia-se em tom sépia como se estivesse cansado de reluzir as redondezas e a tensão do mundo pesasse sobre cada nuvem que precisava uma da outra para aguentar a carga; a representação perfeita de Atlas sobre o universo. Kêndo olhava, ainda caído no chão, aquela inundação de amargura preenchida ao alto quando de repente sentiu gotas de água caindo em seu rosto. Não conseguia acreditar que um céu como aquele pudesse produzir chuva naquele instante pois não tinha se dado conta de que estava a mais de horas inconsciente e o sol começava a se deitar.
                Enquanto aquele clima assombrava os arredores do Reino, o príncipe aos poucos recordava-se do que havia acontecido; a luta de Kindoran contra Kendoran; o golpe que seu pai lhe deu; a luta contra sua mãe. Porém percebia que este último confronto não tinha sido real, afinal não havia marcas em seu corpo, não havia dor. O tempo de ajuste de sua memória foi o necessário para que uma poça de água se formasse ao lado esquerdo de onde agora estava sentado com as pernas esticadas. Aproximou sutilmente sua face à vista da água para enxergar a si mesmo pelo reflexo e assim viu nitidamente e com toda meticulosidade seu tapa-olho. Encontrava-se com culpa, o ódio em seu peito ecoava assustando a floresta e sua mão esquerda tremia ao encostar na proteção metálica; o transtorno era perceptível pelo espanto em seu rosto com o olho arregalado, sobrancelha alta e boquiaberto. Estava irado. Ao olhar para o outro lado, deparou-se com o corpo de Kindoran de bruços esticado sobre o raso gramado, sem sinal de vida. Abeirou-se cautelosamente e girou-o de maneira a ver sua face, entretanto deu foco ao peito onde a camisa havia se rasgado agressivamente com uma cratera profunda proveniente do poder disparado por seu sobrinho mantendo-se apenas o sangue que misturava-se com os pingos da tempestade incontrolável. Sentia-se desamparado, sem escapatória da própria culpa, sua mente o torturava com tenebrosidades e castigos. Restava-lhe chorar colocando as duas mãos sobre o próprio rosto de joelhos em frente ao seu tio, arrependido. Na loucura de seus pensamentos, finalmente lembrou-se das palavras da Rainha de Todos para ele, tais palavras que marcaram seu corpo como os golpes recebidos em sua luta contra a majestosa. Vinha daquele discurso o desejo pela catarse, a ambição pela vingança e a vitória, a fúria em contraste com o controle e, principalmente, uma aura: a aura protetora que se manifestava em tons amarelo latente e dourado brilhante na atmosfera. Lentamente abaixou as mãos e ergueu a cabeça assim como seu corpo, olhando ao céu e sendo ofuscado por uma luz incomparável vinda de muito longe. Era a Estrela Maior expandida sobre a montanha da estátua de Athenas, esperando ser dominada por aquele que viria a ser o Rei de Todos. Agora Kêndo sabia para onde ir e sabia quem estaria lá. Sua mente se estabilizou, seu corpo domou-se em calmaria, estava pronto, como um verdadeiro líder. Tratou de enterrar o corpo de Kindoran ao lado da casa do próprio e verificando dentro da residência, avistou folhas rasgadas, provavelmente retiradas da Biblioteca do Universo. Compreendeu que seu pai havia tentado entrar e sem êxito total - dado que os livros lá dentro não apresentavam drástica modificação -, conseguiu apenas os papéis que continham a magia de Athenas sobre o Cetro do Reino com a Estrela Maior. Arrumou-se, dentro da casa de seu falecido tio, havia pegado uma ombreira com manto vermelho, trocou sua camisa vestindo uma agora verde, uma calça cinza no lugar da anterior e por último, um par de botas douradas completava sua vestimenta. Não restava mais nenhuma dúvida, era hora de partir, por Kindoran, pelo Reino, e acima de tudo, por sua mãe, Athenas.

                A caminhada foi longa pois o príncipe pretendia conservar todo seu poder para a batalha iminente que iria acontecer, e, chegando próximo à estátua, iluminado pelo clarão da Estrela Maior, podia enxergar nitidamente seu pai do outro lado da montanha aproximando-se calmamente com o mesmo semblante impetuoso e sádico que presenciou outrora. Os dois se olhavam fixamente como se estivessem atentos para aquele que daria a primeira investida. Kendoran não tinha mais nada a perder, no ápice de sua psicopatia, estaria disposto a matar o príncipe e se necessário fosse, destruiria aquele planeta. Seus objetivos eram unicamente conquistar o Cetro e a Estrela Maior, se declarar Rei de Todos e subjugar todo o universo para ele. Kêndo não deixaria tal desgraça acontecer. Do lado esquerdo da montanha estava então o Rei dos Heroicos, impetuoso, assassino, maníaco, que matara sua própria esposa e que agora também estaria prestes a fazer o mesmo com seu filho. À direita do cume subia o herdeiro do trono, aquele nascido para ser o Rei de Todos, filho de Athenas, que possuía um único destino e iria fazê-lo sem medir esforços. Kêndo notou que o rei não possuía espada em nenhuma das mãos. A verdade é que Kendoran nunca havia tomado de volta a espada que usou para matar a rainha, apenas aprimorou o modelo que tinha daquela lâmina e recriou-a, todavia naquele momento, não conjeturou necessidade de usá-la. No percorrer dos lentos passos que cada um dava se aproximando tanto do outro quanto do cetro, a chuva cessava mas as nuvens não se desfaziam, nem os relâmpagos diminuíam suas frequências. Era um cenário caótico, desesperador. Entretanto, pai e filho, rei e príncipe, sabiam que tal caos iria piorar em poucos minutos e isso ficou claro quando um ficou de frente para o outro. Aparentemente Kêndo havia alcançado a altura do assassino assim como seu porte físico. A não ser pela barba e brinco na orelha de Kendoran, o jovem era muito semelhante a ele. Diferente do que o garoto esperava, palavras foram pronunciadas pelo majestoso. Disse ele com um rosto incrivelmente deprimido:
                 — Estou decepcionado.
                 — Não acredite que eu vá mudar isso — replicava friamente o jovem.
                 — Poderia, se parasse com tal resistência.
                 — És um monstro com cinismo exagerado.
                A imponência do príncipe provocava a destreza do rei, já não tremia mais sua presença, não estava receoso e isso amedrontava Kendoran por dentro. Talvez por ver aquele tapa-olho no rosto de seu filho — o que lhe dava um brilho superior — ou pela própria seriedade do mesmo, o assassino evitava qualquer tipo de atrevimento.
                Um relâmpago caiu às costas do herdeiro e foi no clarão da descarga elétrica que Kêndo ocultou o efeito da aura protetora por um momento e empurrou seu pai da montanha movimentando junto a este para golpeá-lo. Kendoran revidou enquanto os dois caíam, dava-lhe chutes laterais enquanto seu filho tentava se defender movimentando os braços e cada colisão dos dois corpos destruía a montanha pela pressão expandida dos golpes. O príncipe rangia os dentes numa fúria estridente na aplicação de cada golpe deslocado em seu pai quando cada impacto começou a ser dado em diferentes distâncias como se os guerreiros teleportassem pela região. E não se limitou àquele lugar as explosões no chão e a destruição nas laterais da montanha como na estátua da rainha, os teleportes se estenderam para todo o planeta. Os dois não se importavam, se focavam na batalha, em cada disparo de energia concentrada, rajada de poder, soco, chute, joelhada, cotovelada. Kendoran mostrava-se em vantagem quando jogava o garoto de um lugar para outro numa velocidade além da luz com chutes cruciais que atravessavam a aura protetora do garoto. Definitivamente o horripilante ser estava mais poderoso. Gritava “eu não lhe criei para isso!”, “você é uma vergonha!”, “não passa de um garoto!” e o fervor de seu poder aumentava exponencialmente. No exterior do planeta, goblins e piratas espaciais, tal como monstros nobres e seres de outras esferas da LT27 podiam ver luzes aparecendo e sumindo ao redor do Reino dos Heroicos e a rainha Estela mantinha-se em prontidão na ordem que daria a seu servo, Jack Devil, de destruir o Planeta Solitário caso a situação ameaçasse a vida dos nobres. O brado de Kêndo era tempestuoso, era a primeira vez em sua vida que carregava em seu coração aquele frenesi, sua aura natural brilhava intensamente o amarelo e dourado de outrora. O próprio não notara que ao mesmo tempo que lutava, protegia a Estrela Maior expandida, as explosões afora do planeta para não causar uma extinção universal e o próprio Reino no norte e heroicos civis com seu poder, entretanto a luta desencadeou-se em um nível que chocou até mesmo a Rainha dos Nobres e fizera Jack sorrir, em contraste com o desespero que tomava conta dos heroicos que presenciavam o combate entre pai e filho. Acontecimento foi esse em que Kêndo jogou seu pai da atmosfera para baixo de encontro ao chão e no instante em que este colidiu em terra, o herdeiro com o punho direito banhado de energia e sedento pelo sangue do maníaco, desferiu um soco tão poderoso que além de fazer Kendoran expressar dor com um berro agonizante mudando seus olhos de amarelos avermelhados para totalmente brancos, fez também com que uma rachadura de destruição colossal se alongasse até o outro lado do planeta como se fosse cortado ao meio verticalmente. Em reação instantânea, o rei fez com que os dois se teletransportassem em uma extremidade horizontal do planeta e imediatamente descontou a dor fazendo surgir a nova Espada da Destruição em suas mãos e fincando-a na barriga de seu filho de tal modo que criou um segundo corte no planeta de maneira horizontal. Apenas olhos no exterior daquele lugar testemunharam o evento surpreendente em que o Planeta Solitário foi dividido em 4 partes e cada pedaço isolou-se um do outro pelo centro da LT27 sem sol e consequentemente sem órbita. Era preciso reestruturar cada um deles. Kêndo gritava intensamente com a dor incessante e seu olho fechado não podia ver os relâmpagos que caíam sobre a terra atrás de Kendoran, este que sorria ao ver a lâmina banhada com o sangue de seu filho. Era um sorriso estranho, assustador, sem escrúpulos, que apenas Jack Devil conseguiria compreender as razões que causariam uma reação como esta. O psicopata colocava as mãos na empunhadura e pressionava-a para atravessar total e profundamente no herdeiro rindo de modo desvairado. Kêndo sentiu que iria perder a consciência novamente se parasse de resistir com suas mãos trêmulas que sangravam tentando arrancar a espada de seu corpo. Seu espírito clamava por força, sua alma gritava pelo inexorável poder que o faria continuar a batalha. Então, o universo tremeu diante da milagrosa energia que expulsou Kendoran para longe caindo no chão e deu forças para o príncipe retirar a espada e jogá-la para longe de seu pai. Não há adjetivos suficientes para descrever a cena que os olhos do assassino viram de seu filho, levantando-se lentamente do chão resplandecendo sua aura em impulsos fortes que se expandiam de maneira circular, com sua mão esquerda curando o grave ferimento causado por seu pai e erguendo a cabeça de forma magistral. Foi neste momento, quando Kêndo olhou para o assassino, que o medo deste se tornou claro em seu rosto, assustado. Não tardou o triunfo, o garoto simplesmente fez a aura protetora desvanecer para poder aproximar-se com exatidão e avançou em um teleporte face a face para o louco acertando-lhe um chute que distorceu a dimensão fazendo-os teletransportar para a parte do planeta no norte de volta à montanha e lá mesmo descarregou ainda mais socos criando e quebrando no mesmo instante mundos paralelos. Seu pai não reagia, sentia medo, seu corpo implorava misericórdia, sua alma estava sendo expurgada por cada impacto; seu ombro sangrou, sua costela sangrou, suas pernas sangraram mas foi seu espírito que sentiu o maior desespero de todos como aquele que sabe a hora em que vai morrer. Cada porrada era um alívio no peito do herdeiro, sua fúria se desvanecia em cada pancada e o furor de sua alma parecia sentir que já era o suficiente. À frente do pó que se converteu a estátua de Athenas devido a batalha, estavam os dois, Kêndo, de pé com seu ar jovial, sério e impiedoso; e Kendoran, de joelhos para o príncipe, com os olhos meio abertos, desnorteado, sangrando, com medo. Havia dado o máximo de si, todavia era o jovem que possuía mais energia levando em conta que conseguiu proteger sua civilização, a Estrela Maior e o exterior da catástrofe causada pela batalha. O garoto pôde ver pela primeira vez o rosto de seu pai em lágrimas clamando perdão, desemparado em profunda covardia enquanto este viu seu filho como um honorável rei com uma expressão respeitável dentre um rosto sério de apenas um olho de um lado e o tapa-olho de Athenas do outro. Kêndo ouviu a súplica digna de pena que seu pai quase não conseguira pronunciar:
                 — Filho... eu sou seu pai...!
                O herdeiro alentou-se e sem nenhum resquício de dó, respondeu-o:
                 — Não, és aquele que matou minha mãe.
                Com seu poder telecinético erguendo a mão e fechando os dedos sobre a palma, o jovem arrancou o coração do rei de seu peito e o trouxe até sua mão.
                 — Estás condenado, à partir deste momento e por toda eternidade de sua morte a erguer-me com seus braços, como símbolo de sua derrota e meu triunfo.
                Este juramento faria com que os braços do rei se tornassem colossais e surgissem sempre que Kêndo quisesse. Feito isto, o herdeiro esmagou o coração de seu pai. Kendoran morreu.
                O corpo do rei estava estirado no chão de bruços, reluzido pela Estrela Maior à qual Kêndo se preparava para dominar pegando o Cetro do Reino que levitava sobre a montanha à espera da execução da magia. O vencedor então segurou firme o cetro à sua frente com as duas mãos e, estando diante do celeste, começou a possuí-lo reduzindo-o de volta ao seu tamanho pequeno. Kêndo se curvava para frente peremptoriamente de maneira a não deixar a estrela escapar de seu controle quando finalmente estava ela de volta ao poderoso cetro criado por Athenas. Os pedaços do planeta se estabilizaram, os heroicos aliviaram-se ao perceberem que as terras já não estavam tremendo, o garoto protegeu cada cidadão daquele lugar durante o caos, as nuvens se dissiparam tal como os relâmpagos cansaram-se da derrocada, as luzes da batalha se apagaram e os seres afora compreendiam que o combate havia chegado ao fim. Estela pressentia que o mau maior havia sido eliminado daquela área. Os cidadãos do destruído planeta precisavam saber o que havia acontecido; quem estava vivo. E foi com um toque do cetro sobre o chão que um anel de impulsão se estendeu por toda a LT27 permitindo com que todos na região pudessem ouvir a voz de Kêndo que com poucas palavras proclamou:
                 — Estou vivo. Sou eu, Kêndo, filho de Athenas, e agora, o Rei de Todos!
                Estela sorriu, Morgana não se importou, mas a festa pôde ser ouvida com mais intensidade no pedaço do Norte do Planeta Heroico com a civilização inteira comemorando a vitória do herdeiro. Ao olhar o horizonte ao norte Kêndo avistou de maneira pouco nítida um belíssimo lobo que parecia portar uma coroa dourada e brilhante em sua cabeça. Olhava fixamente para o heroico com seus olhos intensamente vermelhos quando soltou um uivo poderoso que podia ser ouvido por todo o universo e então desvaneceu em poeira que subia ao céu. Kêndo não pôde compreender, pensara confusamente enquanto descia a montanha...
                Poucos dias haviam se passado, Kêndo alinhou e arredondou os pedaços do território que se tornaram novos planetas. O extinto Planeta Solitário que era iluminado por dois sóis foi dividido em 4 planetas que orbitariam no sol puxado do norte da região central pelo jovem afastando o sol que estava ao sul. Enquanto o planeta do norte continuou a ser chamado de Planeta Heroico por conter a maior parte da civilização, os outros ainda não tinham nomes, porém o sistema solar que formaram foi proclamado pelo novo rei como a União de Kêndo. O corpo de seu pai evaporou em cinzas na grande montanha durante os dias que se passaram, Kêndo não deu a mínima importância, sua preocupação era outra. Seres selvagens de outros planetas assistiram a luta entre pai e filho e enxergaram o evento como uma oportunidade para invadir novamente aquelas terras com uma grande vantagem agora que o Reino estava dividido em 4 planetas sendo que 2 desses eram mais abandonados (onde se encontrava a região sul). Preparavam-se então para armar uma nova guerra unicamente com os heroicos. Estela percebeu isso e tratou de informar o Rei de Todos, entretanto esclareceu que não o ajudaria neste novo confronto por querer estar neutra a qualquer situação externa. Kêndo não insistiu por aliança e agradeceu as informações.
                Um ciclo tinha se fechado, duas gerações de reis dos heroicos se passaram. Estava nas mãos do novo Rei de Todos proteger seu sistema usando toda sua capacidade estratégica e convocando seus exércitos para defender cada planeta em cada região. Kêndo não obrigou ninguém a seguir suas ordens, aqueles que decidiriam lutar ao seu lado, fariam isso por vontade própria, por amor às suas terras, famílias e lares. Com pouco tempo para pensar, o rei tomaria ações em defesa de seu reino que culminariam nos grandes eventos de um período que seria conhecido no futuro como Tempos de Guerra.


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Notas finais do capítulo

Como visto, o final do capítulo anunciou um pequeno prólogo do próximo arco. Este que irá conter eventos tão importantes quanto os acontecimentos da Origem. Uma guerra longa pela União de Kêndo onde o próprio rei irá liderar na defesa de sua civilização. O arco Tempos de Guerra chegará em breve, agradeço a você que leu o início dessa fantástica história!



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