Desalento escrita por Akemihime


Capítulo 1
Capítulo Único




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Sua mãe estava chorando. Um choro lamurioso que parecia perfurar fundo o seu coração.

Era sempre assim quando ela o olhava. Sempre resultava em lágrimas e mais lágrimas, deixando-o confuso e principalmente triste. Destruído por dentro. Sem saber o que fazer para poder ajudá-la.

“Seu lado esquerdo... é horrível, eu não aguento mais ver...”

Shouto abriu os olhos assim que sua consciência voltou, despertando de seu sono com a respiração ofegante.

Ele se sentou, tentando se recuperar do sonho que teve.

De tempos em tempos ele tinha aquele sonho. Daquela memória que insistia em atormentá-lo, nunca o deixando esquecer por completo de seu passado.

Por mais que estivesse em bons termos com sua mãe depois de conversarem, frequentemente visitando-a no hospital, aquelas memórias eram algo que parecia insistir em permanecer no fundo de sua mente, nunca o deixando superar completamente o que enfrentava com seu pai e seu lado esquerdo.

Aquela era a batalha interna de sua vida. A batalha que deveria enfrentar até crescer e conseguir provar para todos que seria uma pessoa muito melhor do que Endeavor jamais foi.

E até lá... ele teria simplesmente que ir aguentando aos poucos.

Alguns dias pareciam ser mais fáceis de lidar, outros, o passado o atormentava o suficiente para ser um dia difícil.

E naquela madrugada já estava provando a Shouto que o dia que se seguiria seria um daqueles difíceis.

Ele suspirou, agora um pouco mais calmo, mas desperto o suficiente para não querer mais ficar em sua cama.

Levantou-se e sem se dar ao trabalho de acender luz alguma, saiu de seu quarto rumo à sala de estar compartilhada do dormitório da Yuuei, andando em meio a escuridão com cuidado para não acordar os colegas de turma que dormiam profundamente.

Foi somente quando chegou à sala que parou perto do sofá. Com a luz da lua vinda pelas enormes janelas de vidro do lado de fora, o ambiente se tornava um pouco mais iluminado do que os outros cômodos do dormitório, de modo que ao chegar ali, Todoroki finalmente percebeu a presença de outra pessoa no local.

Ela estava sentada no sofá, bebendo em uma caneca e parecendo pensativa, sem tê-lo notado ali ainda.

— Yaoyorozu? — Ele chamou o nome da garota que ergueu a cabeça, parecendo um tanto surpresa por vê-lo acordado àquela hora.

Bem, ele também estava surpreso ao vê-la.

— Todoroki-san! O que está fazendo acordado?

— Te pergunto o mesmo — Disse ele, sem respondê-la, se sentando ao seu lado no sofá.

— Oh, não é nada demais, apenas fiquei sem sono e decidi levantar para fazer um chá — Ela respondeu polidamente, apontando para a caneca que segurava — Certos chás são bons para o sono, gostaria que eu preparasse algum para você também?

— Não se preocupe com isso — Foi tudo o que disse, fechando os olhos e suspirando profundamente.

As imagens de seu sonho tornavam a vir em sua cabeça, forçando-o a abrir os olhos logo depois.

Momo pareceu perceber que havia algo errado, mesmo com a falta de luz, depositando a caneca de chá na mesa de centro e se virando para o garoto com um olhar preocupado.

— Está tudo bem?

— Não é nada demais. — Ele respondeu simplesmente, sem realmente querer entrar em detalhes.

Ela pareceu desapontada com a resposta, mas não o suficiente para desistir e ir embora.

— Todoroki-san... eu... — Yaoyorozu mordeu os lábios, parecendo pensar sobre o que deveria falar, insegura. — Você pode me contar se estiver passando por alguma coisa... quer dizer... você confia em mim, certo? À-Às vezes guardar somente para você pode ser ruim...

Gaguejou um pouco, temendo que ele levasse seu pedido a mal de alguma forma.

Mas Todoroki olhou para ela, ponderando suas palavras.

Ele sempre levava Yaoyorozu a sério, mesmo que a garota custasse a acreditar nisso. De alguma forma ela sempre lhe passou uma sensação de confiança e segurança.

Talvez fosse por isso que ele não deu mais uma resposta imediata de negação a ela.

Talvez fosse por isso que ele também acabou por abrir a boca e realmente dizer o que estava acontecendo.

E então ele começou a falar.

Começou aos poucos, parecendo ainda ponderar o que deveria ou não dizer, mas conforme Yaoyorozu parecia confortá-lo com o olhar enquanto as palavras iam sendo proferidas, ele acabou por contar cada vez mais.

E assim falou tudo.

Não derramou nenhuma lágrima ou muito menos se emocionou no processo, às vezes desviando o olhar da garota, sem saber como encará-la quando dizia o que sua mãe havia feito com seu rosto, e o modo de seu pai ditar a sua vida sem se importar exatamente com ela.

Momo ouviu tudo em silêncio, não emitindo uma palavra, não querendo interrompê-lo, mas com o coração partido a cada minuto que se passava.

Em dado momento a mão dela alcançou a dele, e sem pensar muito, ela o segurou, apertando de leve em um sinal de conforto e apoio enquanto ele continuava a falar sem encará-la direito.

— Eu não deveria estar falando uma coisa dessas pra qualquer um... — Ele suspirou, falando aquilo mais para si mesmo do que para Yaoyorozu assim que terminou de contar tudo.

Não sabia o que havia lhe dado na cabeça... Talvez estivesse guardando aquilo há muito tempo, ou talvez Momo o deixava a vontade demais para tal coisa, mas mesmo assim... ele não sabia.

— Todoroki-san... — Ela o chamou, fazendo-o erguer sua cabeça do chão e finalmente fitá-la nos olhos. Yaoyorozu sorriu levemente, apertando novamente sua mão sobre a dela — Eu não sou qualquer um. Sou sua colega de classe, sua amiga... Eu confio em você, e fico grata por confiar em mim também para contar essas coisas.

Ele não soube exatamente o que dizer então, olhando para a garota que parecia genuinamente feliz por ver que Shouto havia se aberto com ela.

A verdade é que ele também se sentia um pouco melhor depois de tudo. Como se tivesse tirado um peso de suas costas, algo que havia lhe incomodado desde que acordara naquela madrugada.

Estava leve. E sabia que aquilo era graças a garota ao seu lado.

— Obrigado, Yaoyorozu.

Ela sorriu mais uma vez, agora soltando sua mão e erguendo ao rosto de Todoroki. Momo sempre foi uma pessoa tímida, especialmente em relação a ele, mas vê-lo assim daquela forma, contando sobre sua vida e a forma como se sentia desde criança com tudo o que havia acontecido com ele, fez com que ela de algum modo criasse coragem naquela madrugada para ultrapassar os limites de sua timidez e vergonha.

Queria consolá-lo mais. Queria dizer que estava sempre ali por ele. E não falaria apenas por palavras, mas por gestos também.

E com isso, Yaoyorozu tocou gentilmente o rosto de Todoroki, de forma tão leve que ele mal podia sentir no começo, mas seus olhos estavam presos aos dela, surpreso com o ato, mas incapaz de se afastar.

Ela então passou os dedos suavemente pelo lado esquerdo de seu rosto, por cima de sua cicatriz, absorvendo toda a textura de sua pele por seus dedos, caminhando com sua mão até os cabelos vermelhos de forma lenta.

Shouto quis fechar os olhos para se entregar por completo a carícia, no entanto foi incapaz disso, com seus olhos presos no da garota, surpreso demais com o brilho que estava no olhar dela que o encarava aquele tempo todo com uma ternura que o deixava simplesmente abalado.

Há muito tempo ninguém olhava para ele daquele jeito.

Ninguém olhava para o seu lado esquerdo demonstrando aqueles sentimentos que Yaoyorozu demonstrava tão fortemente.

E lá estava ela, provando que havia sim alguém que gostava dele por completo, sem se importar ou muito menos diminuí-lo mesmo depois de saber sua história, seu passado.

Ela demonstrava naquele simples ato o quanto gostava de tudo nele.

E estaria ali por ele, afinal não era uma pessoa qualquer. Era ela, Yaoyorozu.

Então, depois de um tempo aproveitando aquela sensação do toque dela, Todoroki segurou sua mão que ainda permanecia em seu rosto esquerdo, tomando-a de surpresa de leve, e embora a escuridão ajudasse a disfarçar um pouco, Yaoyorozu sabia que seu rosto estava avermelhado tal qual o cabelo do garoto, envergonhada de seu ato impensado, embora não exatamente arrependida.

E não era como se ele não estivesse levemente enrubescido também, mas Shouto queria provar mais do toque de Yaoyorozu em si, um toque que o fez tão bem e o deixou tão leve.

Talvez fosse por isso que ele fez o que fez, se aproximando cada vez mais dela, provando seus lábios lentamente, com certo receio da garota se assustar e se afastar de repente, provando como o que ele estava fazendo era de fato uma loucura.

Mas ela não se afastou.

Embora surpresa, com seu coração parecer querer saltar de seu peito, o misto de sentimentos eram tão fortes a fez ficar paralisada no lugar enquanto sentia a boca de Shouto se encostar à sua, movendo-se devagar.

Ela demorou a corresponder, como se ainda estivesse processando aos poucos o que acontecia, mas percebendo que o que sentia era mais do que prova de que queria aproveitar ao máximo aquele momento, se entregar ao beijo, novamente tomando mais uma ação sem pensar, algo que somente Todoroki tinha o poder de fazer. Tirá-la de seus próprios pensamentos, fazê-la se entregar sem se preocupar com mais nada.

E então os dois ficaram assim. Perdendo a noção do tempo e do lugar, um beijo sendo seguido de outro e mais outro... Ambos com aquele frio na barriga diante do sentimento desconhecido, mas gostando o suficiente para não quererem se separar tão cedo.

Quando finalmente decidiram se afastar, não era como se eles fossem falar exatamente sobre o que aconteceu. Envergonhados o suficiente, se limitaram a desejar uma boa noite um para o outro, sabendo que depois daquilo, certamente não conseguiriam dormir nem mais um segundo do que restava daquela madrugada.

E embora Shouto não houvesse dormido nada, dessa vez o motivo foi muito melhor do que aquele que o fez despertar momentos mais cedo.

Por aquele motivo, ele conseguiria suportar horas sem dormir, com o corpo e a mente mais leves, feliz como há muito não se sentia antes.

E a culpa era completamente dela. Aquela que era muito mais do que uma pessoa qualquer, muito mais do que apenas uma colega de classe e dormitório.

E depois daquela noite que se beijaram, embora não houvessem combinado nada com palavras, era como se um acordo silencioso fosse selado entre eles, visto que voltaram a se encontrar todas as madrugadas que se sucederam. Às vezes para simplesmente ficarem em silêncio observando a noite, às vezes conversando e desabafando sobre seus problemas, e outras vezes se rendendo aquele sentimento que ambos iam descobrindo aos poucos juntos.


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Notas finais do capítulo

Olá eu estou viciada nesse casal e vou escrever milhões de fics até a empolgação passar, bjs