Aquele era um típico dia quente de verão, porém num piscar de olhos as nuvens encobriram o sol e o céu – agora – acinzentado mostrava suas primeiras lágrimas. Uraraka Ochako soltou um suspiro ao observar as cores daquele dia brilhante ser lavada pela chuva inesperada, pois aparentemente, a moça do tempo havia se enganado ao afirmar chances nulas de um tempo ruim. Todos de sua turma pareciam incomodados pelos seus próprios planos após as aulas terem que ser adiadas, enquanto ela tediosamente batucava os dedos contra sua mesa e revezava seu olhar entre seus colegas de classe.

Ela observou Kirishima conversar com Kaminari e Sero, ao mesmo tempo em que Todoroki e Momo discutiam sobre alguma coisa da matéria que fora passada naquele dia; Izuku passava a mão na nuca e Iida dizia algo relevante ao demonstrar sua preocupação com o amigo ao lado de Tsuyu, que ria da reação exagerada do representante de turma. Ninguém ali parecia mais ter pressa para ir embora, mantendo uma conversa tranquila ainda na sala de aula graças aquela tempestade. Porém, apesar de ninguém está fazendo algo significativo, Uraraka se sentia curiosa sobre Katsuki Bakugou que apenas olhava para um ponto qualquer com a mesma expressão carrancuda na qual já havia se acostumado.

— Isso é tão chato. — Mina resmungou, sentando-se sobre a mesa de Ochako e a tirando de seus devaneios, fazendo com que ela voltasse sua atenção para a amiga. — Simplesmente estragou todos os planos para o Karaokê de hoje.

— Bem, entendo que é frustrante. — Uraraka riu sem jeito, passando a mão na nuca com um sorriso amarelo para Mina que bufou irritada enquanto Jirou rolou os olhos ao se aproximar das duas.

— Sério que você não tinha desistindo dessa ideia? — Perguntou, cruzando os braços ao lado de Uraraka.

— Claro que não. — Mina abriu um sorriso sarcástico, fazendo com que Uraraka desse um baixo risinho ao ver Jirou revirar os olhos novamente. — Eu estava louca para ver vocês soltando a voz na frente dos namoradinhos...

— Namorado? — Ela arqueou as sobrancelhas. — Não, obrigada.

— Acho que você não é uma pessoa que gosta de saber de relacionamentos, Jirou… — Disse Uraraka, abrindo um pequeno sorriso fechado enquanto se encostava à cadeira. — Estou começando a me preocupar…

— Mas, não se preocupe, não é de relacionamentos que eu não gosto. — Jirou riu baixo, dando de ombros ao mesmo tempo em que a abraçava com um beicinho.

— Então, espero que você encontre uma namorada antes que eu comece a namorar. — Mina deu de ombros, vendo ambas a olharem surpresa.

— E isso é possível, querida?

— Com o Kirishima é provável.

— Minha mão na cara de vocês duas também já é previsível. — Bufou, inflando as bochechas, fingindo que ia bater ao ouvir em seguida os risos de Uraraka e Jirou.

O tempo passou em altas gargalhadas e conversas paralelas, mas não demorou muito para que todos se dispersassem da sala e procurassem em suas mochilas algum guarda-chuva. Uraraka ficou surpresa em saber que muitos haviam trago, enquanto que outros não se deram mais um peso na bolsa pelo dia que tinha começado com um céu azulado e sem qualquer sinal de nuvens. No entanto, alguns tiveram sorte da compaixão de outros que dividiam proteção, ao mesmo tempo em que outros se arriscaram correr de volta para o dormitório.

Toda aquela precaução poderia parecer exagerado, mas a maioria não queria se molhar e ainda correr o risco de molhar seu próprio quarto. E Uraraka foi uma dos precavidos ao levar seu guarda-chuva para à aula.

“O amor pode vir a qualquer pessoa, em um momento repentino

Se igualando a uma chuva de verão

A chuva fazia tanto barulho, que não conseguia dormir.

Você é igual a chuva para mim”

"Já não está mais tão grossa", pensou ao observar a tempestade diminuta à sua frente, abrindo sua proteção da chuva antes de notar a presença de alguém que se pôs do seu lado; Katsuki Bakugou encarava igualmente a chuva enquanto resmungava algum palavrão. Uraraka o olhou de sobressaio, apesar de não se incomodar mais com sua boca suja, se sentia apreensiva em ir embora e deixá-lo ali à espera vontade dos céus em cessar seu choro. Ela mordeu o lábio inferior, antes de respirar profundamente e perguntar:

— Esqueceu seu guarda-chuva?

— Sim. — Ele respondeu, dando de ombros e bufando de irritação antes de se aproximar da parede e encostar-se.

— E você vai ficar? — Ela franziu o cenho ao segui-lo com o olhar.

— Não quero me molhar, então vou esperar passar. — Bakugou deu de ombros, cruzando os braços e fechando os olhos.

Uraraka suspirou, rodando seu guarda-chuva e fazendo com que algumas gotas voassem para longe. Ela estava nervosa e sabia disso pelo seu coração estar descompassado por estarem sozinhos ali, apenas com o barulho relaxante da chuva como fundo. E mesmo que já pudesse ir embora dizendo um breve “até amanhã”, ela respirou fundo novamente.

— Quer vir comigo? — Perguntou, quebrando o silêncio enquanto encarava Katsuki que havia acabado de abrir os olhos e arqueava as sobrancelhas de surpresa. Ele havia se distraído em devaneios por alguns segundos, portanto não estava prestando atenção e nem pareceu ouvir direito sua pergunta. Então, franziu o cenho.

— O que disse?

— Perguntei se quer vir comigo. — Ela murmurou, desviando o olhar para o caminho a fim de não querer encará-lo. — Aparentemente, a chuva vai demorar a passar e também nossos dormitórios não são longe um do outro.

— Se isso não te for um problema. — Ele deu de ombros, se desencostando da parede e se aproximando dela.

— Se estou oferecendo, então não é um problema. — Ela bufou, rolando os olhos enquanto abria o guarda-chuva e ele ficava do seu lado.

“Meus sentimentos como a terra

Estão tremendo enquanto derramam

Talvez você esteja se aproximando

Para dividirmos um guarda-chuva (meu coração bate)

É um milagre de dia de verão?”

Uraraka andava tranquilamente ao lado de Bakugou que segurava o guarda-chuva por ser mais alto. Ela não conseguia conter baixos risinhos ao ter vencido a pequena discussão que tiveram para saber que iria levar, mesmo que isso tenha apenas servido de gatilho para ele comentar como era baixinha com seus 1,56 de altura. Mas ela procurou não se incomodar tanto com o sorriso maldoso e o tom sarcástico de sua voz por já possuir algo para se preocupar.

Seu coração com as batidas fortes contra o peito e as malditas borboletas em seu estômago. Uraraka queria ser capaz de acalmar seus batimentos e vomitar todas aquelas bruxas inconvenientes naquele momento para tentar manter seus pés no chão, já que – aparentemente – sua individualidade não estava sendo a única coisa capaz de fazê-la flutuar. Ela sentia sua cabeça confusa e sem que se desse conta de que havia parado repentinamente.

— Você está bem? — O tom de voz preocupado de Bakugou fez com que fosse pega desprevenida, além de que mexesse novamente com ela e fizesse seu coração vacilar ainda mais. Porém, reuniu todas as suas forças para conseguir respondê-lo olhando em seus olhos.

— Eu estou bem, acho que estava pensando em coisas demais e nem percebi que paramos. — Mentiu, abrindo um sorriso envergonhado enquanto gesticulava de forma exagerada. — Melhor continuarmos...

Katsuki rolou levemente os olhos, visivelmente mais aliviado, enquanto voltava a caminhar ao lado de Uraraka até os dormitórios. No entanto, ela ainda estava pensando em todos aqueles fortes sintomas durante o caminho, chegando à solitária conclusão de que por enquanto todos aqueles sentimentos que foram regados e brotaram com a chuva repentina de verão seria o segredo de uma única pessoa. Apesar de que não demoraria muito tempo para que florescesse e ela fosse capaz de entregar com encanto sua juventude ao rapaz explosivo.

“Foi um momento brilhante

Obrigada por ser como uma clara chuva de verão

Era tão bonito como uma corrente de chuva

Nossa história é cristalina”.