Por trás daquela farsa escrita por calivillas


Capítulo 1
Por que boa sorte?




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Depois de uma longa e cansativa viagem, em uma estrada estreita e tortuosa, beirando um precipício que terminava em pedras onde as ondas do mar quebravam com violência, já no fim da tarde, a van parou diante da grande e antiga mansão revestida por pedras escuras, que em contrastava com o céu cinzento carregado de pesadas nuvens anunciando a tempestade iminente, comum naquela região nesta época do ano, o que deixava aquele cenário isolado no meio do nada mais sinistro e sombrio, parecendo ter saído direto de um filme de terror.

Os ocupantes do veículo saíram, em silêncio, um a um, enfrentando o vento frio que vinha do mar, pararam, olhando, desconfiados e ansiosos, para o a grande casa, que seria sua morada naqueles próximos dias, alguns sentiram calafrios e outros estavam estranhamente curiosos.

Seguindo as instruções explícitas, que receberam anteriormente, mal se comunicaram durante o longo tempo da viagem, nem mesmo quando pararam um restaurante da estrada, para um rápido almoço, sempre vigiados de perto pelo calado e carrancudo motorista. Pelo o que sabiam, nenhum deles nunca se viram antes de entrar naquela van, em um ponto de encontro determinado. Era um grupo heterogêneo, três homens e três mulheres bem diferentes, não pareciam ter nada em comum, a não ser aquele momento.

Sem falar nada, o motorista retirou as bagagens do carro, as depositando no chão, para cada um cuidar da sua, como foram instruídos previamente, só poderiam levar uma mala pequena, com itens essenciais.

Em silêncio, o pequeno grupo subiu lentamente os degraus, que levavam a grande e imponente porta principal, eles estavam apreensivos por aquele momento, quando saberiam sobre a razão da sua viagem até ali. Como por mágica, a porta se abriu, para eles entrarem, cuidadosos, espalhando-se pelo chão de mármore do suntuoso hall de entrada, forrado com lambris escuros de madeira nobre, aí se entreolharam, com se vissem pela primeira vez.

— Sejam bem-vindos à mansão Greystones, senhores e senhoras! – uma voz grave soou atrás deles, alguns deram um pulo, segurando a respiração, sendo pegos de surpresa, mas todos se voltaram, imediatamente, naquela direção a tempo de ver a porta se fechar bem devagar, o lugar ficou na penumbra, mas ainda puderam notar o homem de meia-idade, alto, magro, com cabelos grisalhos que surgiu, vestindo um elegante terno cinza-chumbo, com um olhar frio e confiante

— Sou o professor Victor Gardner – ele se apresentou com a voz firme — E vocês estão aqui porque foram os privilegiados escolhidos para esse estudo comportamental patrocinado pelo instituto de ciências humanas Inter Mentes. Durante toda essa semana, vocês ficarão hospedados aqui, nessa casa, isolados, sem nenhum contato com o mundo exterior, e estarão sendo observado por câmeras escondidas, que não saberão onde estão.

— Mas, esse programa já existe e se chama Big Brother – um rapaz com jeito de nerd, usando grandes óculos com aros escuros falou, em tom de brincadeira.

— Sim, mas, esse é diferente, é um estudo sério, não há prêmios ou competições, ninguém será excluído de propósito. Nós queremos observar a relação entre pessoas de diferentes etnias e níveis sociais, convivendo juntos, sem interferência do mundo externo. Além disso, terão suas necessidades básicas como alimentação e a limpeza do local atendidas por uma equipe invisível, que nunca entrará em contato com vocês. Cada um de vocês tem um número que recebeu com sua carta-convite, sobre àquela mesa há uma chave correspondente a ele, pegue a sua, vão para os seus quartos determinados, instalem-se da melhor maneira possível, lá haverá um folheto de instrução para cada um de vocês com as regras básicas do estudo, leiam e guardem. Mas, antes deixem seus celulares, tablets e computadores aqui, que ficarão aos cuidados da minha assistente, a doutora Eve Klein, os receberão de volta, assim que tudo terminar – O professor anunciou a jovem mulher, de cabelos pretos preso em um coque e óculos sem aros, muito bonita, apesar do ar austero conjunto preto que usava.

— Teremos que ficar sem nossos celulares? – a mulher jovem loura um tanto exuberante, com uma roupa apertada, falou em tom de desespero.

— A senhorita sabia as regras do jogo quando assinou um contrato, mas se quiser desistir a qualquer momento, pode ficar à vontade, mas não terão direito ao pagamento de quinze mil dólares prometido se cumprirem as determinações até o fim – doutor Gardner comunicou, com seriedade, a mulher refletiu, pois era muito dinheiro por tão pouco tempo, tirou seu celular da bolsa e entregou para a jovem doutora, em seguida, todos fizeram o mesmo.

— Agora, subam e, em uma hora, encontrem-se no salão principal, para se conhecerem melhor. Por favor, obedeçam aos horários determinados, para que a convivência seja pacífica. Até breve.

O homem e a mulher saíram por uma porta lateral. Assim, o grupo se dirigiu à mesa, onde estavam as chaves com seus respectivos chaveiros enumerados de 1 a 6, cada um pegou a sua e subiram as escadas.

— O que acha que vai acontecer? — a mulher loura perguntou a mulher negra, que subia ao seu lado.

— Não sei – ela respondeu, dando de ombros.

— Shiii! Não podemos conversar ainda – o rapaz nerd as advertiu, em voz baixa.

No longo corredor, forrado com um papel de parede clássico e meia parede de madeira nobre escura, cheios de quadros antigos, onde figuras do passado austeras e arrogantes os observavam do alto. O lugar era pouco iluminado por arandelas amareladas presas às paredes, e cada um que encontrava o seu quarto desaparecia, um tanto receoso, através da porta.

Todos os quartos tinham um estilo clássico, com móveis antigos, cortinas pesadas, sobre cada travesseiro havia um livreto com o nome do participante na capa, começava assim:

“ Este livreto é individual e único, você não deve mostrar, comentar ou ler para nenhum dos outros participantes com pena de expulsão do estudo e perda do pagamento. Leia com atenção e o consulte, em particular, em caso de dúvidas. Desejamos a você, boa sorte. ”

Daí para frente, seguia-se instruções bem determinadas, que precisavam ser seguidas à risca. Naquele momento, todos se sentaram em suas camas, concentrados, lendo com atenção, tentando decorar o que estava escrito ali.

Por que boa sorte? Alguém pensou ao ler a frase.


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