Numb - HOLIDAY escrita por ForgetAboutYou, QG Dramione


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, coleguinhas!
Aqui estou eu trazendo uma one escrita para um desafio que rolou no Spirit, Holiday, no qual a história teria que a ver com algum feriado. Eu escolhi o Ano Novo.
Espero que curtam (;



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I've become so numb
I can't feel you there
Become so tired
So much more aware
I'm becoming this
All I want to do
Is be more like me
And be less like you

 

Eu me tornei tão indiferente

Não posso sentir você aí

Me tornei tão cansado

Muito mais consciente

Estou me tornando isto

Tudo o que eu quero fazer

É ser mais como eu

E menos como você

 

Numb – Linkin Park

 

Draco acordou naquela manhã em meio ao emaranhado de cachos da última mulher com quem cogitaria em dividir uma cama. Não que isso fosse algo novo para ele. Pelo contrário, a companhia dela havia se tornado rotina há pouco mais de um ano, quando ela o encontrou vagando pelas ruas da parte trouxa de Londres após seu julgamento no departamento de Execuções de Leis da Magia, do qual, graças ao depoimento do Potter, da pessoa em questão e de um bom advogado, o rapaz conseguiu sair absolvido.

Ainda se lembrava de como se sentiu confuso naquele dia. Estava sim feliz por não ter que passar uma temporada em Askaban, mas ao mesmo tempo, se perguntava se algo assim não seria melhor do que ter que suportar os olhares julgadores que insistiam em acompanhá-lo em cada maldito lugar por onde andava. Neste ponto da vida, Malfoy se julgava um tolo por todas as escolhas erradas e a culpa por todas as merdas que já havia feito lhe corroía a cada vez fechava os olhos. Da maneira mais dura, Draco amadureceu e entendeu que todos os ideais que foi induzido a venerar estavam completamente equivocados, e agora, estava pagando o preço por ter acreditado tão cegamente neles.

Entretanto, o mesmo não poderia ser dito em relação a seus pais. Lucius, o qual apesar de tudo conseguiu escapar da prisão com apenas algumas delações, e Narcisa, declarada inocente de todas as acusações, ainda eram cegados pelas tradições pregadas pelas famílias puro-sangue. Isto, cumulado com a insistência de seu pai para que permanecessem na Mansão Malfoy depois da Guerra contribuíam para que o loiro se reconhecesse como um estranho em meio à sua própria família, o que o levava a constantemente recorrer ao único lugar que sabia que teria paz, e não coincidentemente foi exatamente o que fez após sair do Ministério da Magia naquela fatídica data.

De fato, nunca pensou que um local como o mundo trouxa pudesse lhe agradar tanto, muito menos que este um dia, ironicamente, se tornaria seu refúgio, mas foi lá, em meio ao caos de uma tempestade londrina que esbarrou em Hermione Granger, derrubando-a no chão por conta do impacto. Ela ainda vestia o blazer e a saia de linho que Malfoy a viu usar na audiência, exceto que naquele momento, toda a vestimenta se encontrava manchada com uma bebida trouxa que o loiro recentemente havia descoberto que se chamava café.

Sem saber direito o que fazer, estendeu uma das mãos a fim de ajudá-la a se levantar, sendo, no entanto, momentaneamente ignorando, uma vez que a castanha se encontrava perdida em seus murmúrios de lamentações por conta de sua roupa. Desta forma, ele pigarreou, no intuito de chamar sua atenção. Foi então que os olhos castanhos se encontraram com os cinzas, criando uma conexão antes inexistente entre os dois e, embora Draco tivesse inúmeras vezes se sentido intimidado, fosse por seu pai, sua tia Bella, ou pelo próprio Lord das Trevas, nada poderia se comparar àquilo.

Olhando para ela daquela maneira, o sonserino conseguiu reviver todas as situações grotescas que havia criado somente com o intuito de rebaixá-la, fosse pelo sangue ou por esta ser melhor em quase tudo que ele. Porém, a pior lembrança foram os gritos dela enquanto era torturada na sala de estar de sua casa, os mesmos gritos que o atormentavam todas as noites antes de dormir e que o faziam se sentir um covarde por não ter feito o que era certo e, como se o rapaz já não estivesse mal o suficiente com todas as recordações que estava tendo, também vinha à sua mente que, apesar de tudo, ela ainda o havia ajudado. Ela, ainda que possuísse diversos motivos para querê-lo atrás das grades, testemunhara em seu favor. Foi ali que sua ficha caiu, Granger jamais fora inferior a ele. Ao contrário, ela era boa de uma maneira que ele nunca conseguiria ser.

Malfoy sabia que nada que fizesse poderia reparar todo o dano que causara. Entrentanto, sem entender como ou porque, percebeu uma enorme necessidade de demonstrar para a grifinória que agora era um ser humano diferente daquele que ela conheceu. Assim, além de ajuda-la a se levantar, ofereceu-se para pagar um café, em forma de desculpas pelo o que havia acontecido e de agradecimento pelo o que ela tinha feito por ele.

Não obstante visivelmente receosa, Hermione acabou por aceitar o convite. O rapaz estaria mentindo se dissesse que não existiu um desconforto inicial, mas aos poucos esta foi se esvaindo, tendo em vista que a moça estava curiosa de por qual razão o encontrou naquela parte da capital inglesa, o que terminou por levar o garoto ao caminho em que gostaria de chegar. O único herdeiro dos Malfoy, então, explicou como sua visão de vida havia se modificado e, por fim, pediu perdão por literalmente todas as burradas que cometeu, apressando-se em informar que a resposta não precisava ser imediata, pois queria uma chance de provar de que era diferente, queria uma oportunidade para se redimir e recomeçar com ela. A morena, por sua vez, ao o ar de prepotência e arrogância sendo deixados de lado, bem como o jeito com que o loiro se atrapalhava com as palavras enquanto prosseguia com seu monólogo, não viu pretexto para não concordar, permitindo com que o restante da tarde fosse preenchido pelos mais variados assuntos.

Draco estaria mentindo se afirmasse que insistiu para que ela ficasse com seu sobretudo apenas para que não passasse frio e as pessoas não vissem a enorme mancha de café que se formara nas roupas da mulher, afinal, estava determinado a cumprir o que havia se proposto a fazer, além de que, depois daquela tarde, Granger lhe pareceu bastante agradável, tanto que resolveu que gostaria de tê-la por perto e, para sua felicidade, ele não foi o único a pensar daquela forma.

Assim, não demorou para que os encontros casuais, movidos a desculpas, se transformassem em reuniões quase que diárias e que ambos se sentissem suficientemente confortáveis na companhia um do outro. Era nítido que o que tinham era algo diferente. Para Hermione, era um tipo de coisa que nunca teve com ninguém, já que Draco tinha um intelecto bastante aguçado, elevando o nível de qualquer discussão que revolvessem ter, por outro lado, para o rapaz, bem, por nunca ter se dado a oportunidade de realmente ter um amigo, aquela era uma experiência inovadora em todos os sentidos. Granger, além de inteligente, o fazia rir e passou a verdadeiramente demonstrar que se importava com ele.

Desta forma, não deveria ter ficado tão surpreso quando percebeu que se apaixonou rápido demais para os parâmetros normais. Lógico que ele sequer cogitava que pudesse haver reciprocidade no sentimento, uma vez que, em que pese estivessem em um novo tipo de relação, Malfoy ainda era o garoto que a perseguiu por anos, e também havia todos os rumores dela e do Weasley circulando pelo mundo bruxo, os quais o sonserino nunca tivera coragem de confirmar. Então, ele preferiu guardar suas emoções para si ao invés de simplesmente externa-las e correr o risco de arruinar o que estavam começando a construir.

Logo, ele jamais esperaria que ela o beijasse em pleno alto da London Eye alguns meses depois, em um dos inúmeros passeios que costumavam fazer pela Londres trouxa. Após o choque inicial, que fez o com que a castanha se assustasse e quase saísse correndo quando a bendita roda gigante parou, pensando que estivesse sendo rejeitada, e esclarecidas as dúvidas, sendo uma delas a de que ela o havia perdoado e que o breve relacionamento que ela teve  com Ronald estava encerrado, e decidirem que, ao menos provisoriamente, continuariam a manter o que tinham longe dos olhos e ouvidos da sociedade bruxa e de amigos e familiares.

Como para qualquer outro casal, os laços que criavam passaram a se fortalecer e a intimidade a se estreitar com o decorrer do tempo e quando foram nomeados monitores de Hogwarts, na época em que decidiram retornar para cursar seu sétimo e último ano, e Minerva os colocou para dividir um dormitório, apenas contribuiu para que os aproximassem ainda mais e ultrapassassem a última barreira que faltava naquela união.

Devido à maneira como eram tratados no colégio, com ela sendo bajulada e ele recebendo olhares tortos por onde quer que fosse, ambos decidiram manter seu relacionamento às escondidas e estavam conseguindo levar isto com certa tranquilidade, principalmente se considerassem o fato de que Potter e Weasley haviam resolvido não cursar o sétimo ano. Todavia, com a notícia que recebeu há poucos dias, Draco sabia que aquilo teria que mudar.

Eles resolveram passar as festas de fim de ano em Hogwarts, onde poderiam aproveitar as festividades juntos e com maior privacidade, considerando que a maioria dos alunos preferia passar as férias de inverno em casa, e era manhã de Natal quando ela lhe presenteou com a notícia. Sem dúvidas, a despeito de inesperada, aquela era a melhor coisa que já haviam lhe contado. Sua namorada estava grávida. Sim, Hermione Granger estava esperando um filho de Draco Malfoy.

Não obstante tivessem despendido os últimos seis dias festejando e aproveitando ao máximo o tempo que tinham juntos e estivessem felizes com a chegada da criança, mesmo que tivessem somente dezenove anos de idade, o sonserino sabia que a vinda do bebê acarretaria mudanças, afinal teriam que ser maduros e responsáveis o suficiente para poder dá-lo um futuro decente, a começar pelo loiro enfrentar seus pais e assumir sua namorada e seu filho.

E hoje, trinta e um de dezembro de mil novecentos e noventa e nove, era o dia perfeito para fazer tal coisa, pois, no fim das contas, queria começar não só o ano, mas também o milênio do jeito certo. Assim, afastou-se do corpo quente da grifinória, dando-lhe um beijo na testa e acariciando a barriga ainda lisa da morena, se arrumou do modo mais silencioso que conseguiu, não deixando o quarto antes de escrever um bilhete avisando que não estava a fim de não preocupá-la quando acordasse:

Tive que sair para resolver algumas coisas.

Não se preocupe, volto antes do final da noite.

Com amor, D.M.

 

Após alguns minutos tentando convencer a diretora do por que precisava sair da escola sem entrar em detalhes, informando apenas que passaria em seu cofre no Gringots e na casa de seus pais para tratar de um assunto urgente, e depois de, de fato, ter visitado o cofre da família e feito uma retirada generosa, buscando se prevenir para qual fosse o rumo que aquela conversa levaria, o loiro agora se encontrava em frente aos portões da luxuosa mansão pertencente aos Malfoy desde a época em que seus ancestrais migraram da França para a Inglaterra durante o reinado de Guilherme, o Conquistador.¹

Respirando fundo, ele atravessou o enorme jardim e bateu na porta de entrada, aproveitando para limpar o suor das mãos na calça de linho que usava enquanto esperava ser atendido. Surpreendentemente, foi sua mãe quem veio recebê-lo e não um dos elfos domésticos que os pais insistiam em manter sob regime de escravidão.

— Draco, querido! – disse Narcissa Malfoy abraçando o filho com o sorriso radiante – Eu estava pressentindo que você acabaria vindo para casa, por isso não deixei que ninguém viesse atender a porta. Eu queria ser a primeira a te ver caso fosse você – explicou a mulher, diante do fato do mais novo olhá-la com estranheza por ela ter se dado o trabalho de abrir a porta – Entre, meu filho, vou pedir para arrumarem seu quarto...

— Mãe, também é bom te ver, mas eu não vim passar o Ano Novo com vocês. Estou aqui porque preciso resolver uma com a senhora e meu pai e depois volto para Hogwarts – avisou-a, recebendo um olhar desconfiado da mais velha.

— Mas que tipo de assunto seria que não poderia esperar para depois das festas, meu filho?

— Vamos até meu pai e a senhora entenderá – respondeu vagamente, notando que deixara sua mãe apreensiva.

— Tudo bem – suspirou - Ele está no escritório. Vamos – falou, abrindo caminho para o rapaz ir à frente.

Não demoraram a subir a escadaria de granito e chegassem às grandes portas de madeira escura que selavam a entrada do cômodo em que Lucius Malfoy costumava permanecer na maior parte do tempo que decidia ficar em sua casa. Logo, Narcissa bateu suavemente três vezes antes que ­­o permissivo “entre” fosse ouvido e mãe e filho adentrassem o recinto.

— Algum problema, Cissa? – perguntou o homem, sem desviar os olhos dos papéis que jaziam em cima da escrivaninha.

— Nenhum, querido. Draco apenas decidiu nos fazer uma visita – respondeu, capturando a atenção de seu marido.

— Ah Draco, vejo que resolveu passar o restante das férias com a família – comentou.

— Na verdade, não, Lucius. Nosso filho veio até aqui porque tem um assunto a tratar conosco. Receio que retornará ao castelo assim que terminarmos.

— Já que será uma visita breve, espero que possa deixar isso de lado por alguns minutos, porque também tenho que conversar com você – contrapôs o patriarca, com o típico ar de imponência.

— É realmente importante...

— Seja qual for a bobagem que tenha para dizer, garanto que não é mais importante que seu casamento – e ali estava, Lucius sempre fazia aquilo. Era assim desde que Draco era pequeno, nunca demonstrava um verdadeiro interesse para o que quer que o filho fizesse.

— Meu... O quê?! – questionou, pensando não ter ouvido direito.

— Seu casamento. Já está na hora de começar a pensar nessas coisas, Draco – afirmou – Infelizmente, em razão do acontecido nos últimos três anos, não recebemos muitas propostas de famílias que gostariam de ter algum vínculo com a nossa. A escolha está limitada entre a menina Parkinson e das garotas Greengrass...

— O senhor está tentando me arranjar uma noiva sem me comunicar antes?! – perguntou, indignado.

— Eu pretendia fazer isso quando você voltasse neste inverno, mas você resolveu ficar naquele colégio – explicou, sem sequer se importar com a aparente indignação do loiro mais novo – Enfim, não creio que Astória, a mais nova das Greengrass, seria uma boa escolha, ela me parece muito frágil. Definitivamente não se encaixa no perfil para uma Malfoy. Restam Daphne e Pansy. Esta última me parece que sempre teve algo por você, filho, no entanto não é nada discreta – suspirou, soltando um sorriso debochado em seguida – Parece que a mais velha das Greengrass tirou a sorte grande... O que acha Draco? – questionou retoricamente, uma vez que claramente já havia tomado sua decisão.

— Não – disse o rapaz, simplesmente.

— Não? Tenho certeza de que Daphne Greengrass é a melhor opção para carregar o sobrenome Malfoy, garoto. Com Parkinson corremos o risco de afundar nosso nome na lama e Astória, além de ainda estar no quinto ano de Hogwarts não tem nada a acrescentar...

— Não é isso. Eu não vou me casar, pai.

— Mas é claro que vai – riu com escárnio – Nunca me questionou antes. Por que cometeria tal insolência agora?

— Eu venho questionando suas atitudes desde o meio para o final da Guerra, somente não lhe disse nada – rebateu, no mesmo tom que o pai.

— Ah, você estava? – riu, seco – Saiba que não me importo. Está decidido. Vocês se casam depois da formatura e não esqueça: quero um herdeiro em dois anos – constatou, ignorando os protestos do filho.

— É apenas com isso que sou pra você, não é? Um herdeiro. Nada mais um boneco que você pode moldar ao seu bel prazer. E sabe o pior? Eu sempre o segui. Sempre o segui, sempre o obedeci tão cegamente, porque tudo o que eu queria era um pouco de atenção e carinho. Eu só queria que você me amasse porque você era o meu pai, era o meu herói – suspirou – E eu fui até o fim para isso! Tudo o que eu fazia era pensando na sua aprovação. Merlin, eu quase arruinei minha vida por conta disso! Mas nada disso importa, não é? Nunca se importou em como eu me sentia. Nem mesmo agora, depois de toda a desgraça que foi aquela Guerra! Tudo o que importa é essa maldita linhagem de sangue que não vai levar ninguém a lugar nenhum... – desabafou, em um tom desafiadoramente baixo, o qual havia aprendido com a mesma pessoa com quem discutia naquele exato momento.

— Draco Lucius Malfoy, como ousa falar assim comigo?!

— Olhe para esta situação, por exemplo, você sequer perguntou se eu queria me casar. Apenas ordenou que eu o fizesse. Escolheu a noiva sem considerar minha opinião e me deu um prazo para ter um filho! – continuou, preferindo ignorar a interrupção de seu pai – Mas não desta vez! Eu não vou ceder à pressão! Eu cansei! – colocou para fora – Se o senhor ao menos prestasse atenção em mim, saberia que não passei a maior parte do recesso entre a Guerra e a escola fora de casa. Minhas concepções de vida mudaram, e acredite ou não, eu sou muito mais feliz agora do que era antes.

— Virou amantes de trouxas, filhinho? – a ironia nítida em sua voz – Quer ser um perdedor como os Weasley?

— Engraçado ouvir isso de um homem que comprou a própria liberdade delatando outros Comensais – riu – Mas pode-se alegar que sim, passei a maior parte do tempo na Londres trouxa e permita-me dizer que eles têm grande potencial e bastante criatividade...

— Eu não quero saber! E você também não deveria! Não foi para isso que eu te criei! – exclamou Lucius, se exaltando.

— Pois eu acho melhor você ouvir sim! Porque essa é concidentemente uma das coisas que eu vim dizer hoje.

— E quais são os demais desastres que você veio noticiar?

— Os outros “desastres” que vim anunciar, e também parte das razões pelas que eu não posso e não quero me casar é porque eu tenho uma namorada e ela está grávida.

— Oh, então além de insolente você também é irresponsável? – perguntou retoricamente – Agora, me diga, quem foi a desavisada?

— Hermione Granger – respondeu simplesmente.

— Você engravidou a amiguinha sangue-ruim do Potter?! – soltou, abismado.

— Mais respeito com a mulher que eu amo e mãe do meu filho!

— Ah, então você a ama? – riu amargamente – Ouviu isso Cissa? Seu filho ama uma sangue-ruim. Parece familiar para você?

— Não entendo o que quer dizer com isso – manifestou-se Narcissa, a qual até o presente momento preferiu ficar calada.

— Não é a sua família que possui uma fraqueza pela escória do mundo bruxo? – inquiriu, desafiando-a – Os nomes Sirius e Andrômeda te refrescam a memória? E é claro, alguém tinha que fazer as honras e continuar a tradição e sujar o nome da família. Espero que esteja satisfeita.

Percebendo as intenções do marido de culpá-la e fazê-la se sentir mal pela situação, a mulher preferiu permanecer calada, o que acabou por irritar ainda mais o homem.

— Minha mãe não tem nada a ver com minhas escolhas, pai. Quanto a Sirius e principalmente minha tia, embora tudo o que tenham passado, garanto foram mais felizes do que nós três fomos a vida inteira.

— É ótimo que se iluda assim, Draco, porque terá o mesmo destino deles no quesito relações familiares – desdenhou – Porque depois que sair daqui serão apenas você, o traidor de sangue que pôs um fim definitivo à linhagem pura dos Malfoy, aquela sangue-ruim e o mestiço imundo que os dois produziram, já que eu duvido que os amiguinhos dela irão aceitar esse romancezinho destinado ao fracasso.

— Agradeço a preocupação, mas isso não lhe diz mais respeito – provocou-o – De qualquer forma, eu garanto que serei tudo para aquela criança o que o senhor não foi para mim.

Ao terminar, o sonserino virou as costas e guiou-se em direção à saída, um pouco tonto e ainda tentando absorver o que acabara de ocorrer. Seria uma inverdade dizer que ele não se sentia aliviado de colocar para fora tudo o que sentia desde que seu mundo havia desmoronado, mas também assim o seria se afirmasse que não estava magoado, pois Lucius era seu pai e o rapaz, no fundo, tinha esperança de o mais velho ao menos tentasse entender as atitudes que estava tomando.

— Draco! Espere! – parou ao ouvir sua mãe chamá-lo quando já estava quase nos portões da mansão – Não vou dizer que aprovo o que está fazendo, mas eu o respeito e quero que seja feliz e também que fique bem – disse a Senhora Malfoy no instante em que conseguiu se aproximar – Você não vai poder retornar para cá quando finalizar o colégio. Contudo, eu sei de alguém que pode te ajudar – revelou ao lhe passar um pequeno pedaço de pergaminho com um nome e um endereço.

— Andrômeda Tonks? Sua irmã? Pensei que tivessem cortado relações – questionou, confuso.

— Nós cortamos, mas ela era, continua sendo minha irmã. Ela tentou te visitar várias vezes... Uma vez eu a vi e ela deixou o endereço na esperança de que eu fosse visitá-la. Eu cogitei em ir algumas vezes após a Segunda Guerra, entretanto, nunca tive coragem – pausou – Seu pai e Bella nunca cogitaram que eu soubesse disso. Eu nunca colocaria Andrômeda em perigo. Ela era minha melhor amiga. A morte de Edward Tonks foi uma surpresa para mim também... Enfim, ela fez a mesma escolha que você, sei que vai te entender.

Definitivamente, sua mãe era o que mais sentiria falta durante a jornada que optou por seguir. Conquanto não fosse do tipo maternal que demonstra afeto a cada oportunidade que surgisse, Narcissa demonstrava o amor que tinha pelo filho nos momentos mais preciosos e necessários, como das vezes em que colocou Snape de vigia, arriscou a vida mentindo para Voldemort ou agora, quando estava lhe auxiliando para que nem ele, sua namorada e seu filho ficassem desamparados.

— Obrigado. Eu te amo, mãe – agradeceu, abraçando-a com força.

— Eu também te amo, meu filho – respondeu, retribuindo o abraço.

— Sabe, talvez um dia você possa conhecer seu neto – divagou o menino.

— Quem sabe um dia até seu pai queira conhecê-lo – retribuiu a matriarca Malfoy.

— Contanto que não seja par machucar a criança ou a mãe dela...

— Lucius pode ter ficado daquela maneira, mas não creio que ele vá tentar lhe causar algum mal – pronunciou, ganhando um olhar descrente do filho – Conscientemente. De qualquer maneira, eu não cometeria o mesmo erro duas vezes – lamentou, suspirando – Acho melhor você ir agora.

— Adeus, mãe. Por agora.

— Adeus, Draco.

Após encostar os grandes portões de ferro atrás de si, sinalizando que havia deixado definitivamente seu antigo lar, Malfoy fechou os olhos, tentando se decidir entre voltar para os braços de Granger e visitar sua tia Andrômeda, uma vez que precisava desabafar com alguém e ter uma perspectiva de como seria sua vida dali para frente e depois de algum tempo ponderando, terminou por escolher a segunda opção, o que o levou a aparatar para o lugar mais próximo que conhecia da localidade indicada.

Quando finalmente encontrou o lugar, impressionou-se com tamanha simplicidade, não existia nada de extravagância no local, pelo contrário, a discrição do lugar chegava a ser louvável. Respirando fundo, tocou a campainha, ainda um pouco incerto do que poderia sair daquela visita.

A entrada principal não demorou a ser aberta e nenhuma das duas figuras naquele cenário pôde evitar se surpreender com quem encontraram do lado oposto. Draco pela incrível semelhança que a mulher tinha com Bellatrix, os cabelos eram igualmente cheios, o formado do rosto e do corpo o mesmo, no entanto, olhando-a mais atentamente, era perceptível que seus cabelos eram castanho-claros, e não negros como a noite como os de sua irmã e que seus olhos eram maiores e expressavam uma bondade que jamais o fariam confundi-las novamente. A surpresa de Andrômeda, por sua vez, não se deu por conta da semelhança que o menino claramente possuía com o pai, mas de encontrá-lo pela primeira vez, bem ali, em sua casa.

Meio sem jeito, o sonserino educadamente se apresentou, indagando se não estava atrapalhando e se poderia entrar, recebendo um sorriso em retorno enquanto a mulher dava espeço para que ele entrasse. Depois de um silêncio um tanto quanto constrangedor, o rapaz enfim tomou coragem para explicar o que havia acontecido. 

A mais velha ouviu tudo atentamente, identificando-se com a história do garoto, entendendo também a confusão e a incerteza pelas quais o sobrinho estava passando, ante as circunstâncias de também tê-las sentido um dia. Assim, ela o reconfortou da melhor maneira que conseguiu, sendo sincera quando afirmou que no começo não seria fácil no começo e que estaria a seu lado para apoiá-lo, pois gostaria que tivesse tido alguém quando esteve no lugar daquele, chegando até a oferecer sua casa para que tanto ele como Hermione ficassem por algum tempo, tendo em vista que sabia que ambos não teriam moradia depois que saíssem de Hogwarts e o loiro havia deixado claro as razões para que os Weasley não o aceitassem na’Toca.

Para Draco era tocante a maneira como Andrômeda se dispôs a acolhê-lo mesmo depois de sua família tê-la rejeitado tantas vezes, porém, recordou-se de que ela se via nele e do quanto significaria para ela o fato dele ter recorrido justamente a si em um momento como aquele. De tal modo, depois de muito ponderar acerca do convite que recebera, levando em conta que realmente não teria para onde ir, bem com os pontos levantados pela tia de que a mesma, ainda que cuidasse de Teddy, se sentia sozinha na residência simples, porém espaçosa e de que uma ajuda extra dentro de casa com o neto seria bem-vinda, além de ser um treino para o jovem casal, Draco agradeceu a proposta e respondeu que falaria com Hermione mais tarde.

Após de mais algumas horas de conversa e de brincadeira, já que Teddy acabou acordando durante o período que permaneceu lá e o loiro quis aproveitar a oportunidade para conhecer o primo, este se deu conta de que a noite havia caído e que deveria retornar ao colégio. Destarte, despediu-se de sua tia e aparatou para o Ministério da Magia, a fim de utilizar a mesma rede de flú que havia usado mais cedo.

Cerca de vinte minutos depois, o sonserino deu de cara com uma Hermione inquieta no salão comunal do dormitório dos monitores. Ela vestia uma roupa confortável, usava um coque frouxo e andava de um lado para o outro com um livro qualquer nas mãos.

— Graças a Merlin, você chegou! – exclamou quando o viu – Onde estava? São quase oito da noite. Pensei que tivesse acontecido alguma coisa – continuou enquanto se aproximava e o abraçava.

— Não se preocupe. Eu precisei sair para resolver algumas pendências que não podia mais adiar, mas estou bem em um geral – resumiu enquanto se sentavam no pequeno sofá que ali jazia, ainda que soubesse que mais cedo ou mais tarde contaria todo o ocorrido para ela – E você? Como passou o dia?

— Bem, contudo, ansiosa... Por favor, Draco, não vamos desviar do assunto. Sei que não me deixaria aqui sozinha por nada. O que aconteceu? – pressionou-o, sorrindo satisfeita quando notou ele tomar uma lufada de ar para começar a falar.

— Eu fui assumir vocês para os meus pais. Não podia mais protelar isso, não seria justo com nenhum de vocês – respondeu, chocando-a.

— Por que não me acordou? Não precisava ter passado por isso sozinho...

— Foi melhor te poupar. Você não pode se estressar e ainda teremos que lidar com seus amigos também.

— Obrigada – agradeceu – E como foram as coisas? Pelo seu tom, percebo que não foram fáceis.

— Nada além do esperado. Basicamente, meu pai surtou, falou sobre como desonrei e acabei com a linhagem pura que ele tanto presava – suspirou – A esta altura, ele já deve ter me queimando da árvore da família.

— Sinto muito, Draco – disse a menina, a qual já se inclinava para envolvê-lo em um abraço.

— Não sinta. Foi o certo a ser feito – proferiu, retribuindo o carinho.

— E quanto á sua mãe?

— Disse que não aprovava minha decisão, mas que a respeitava e queria que eu fosse feliz. De qualquer forma, não creio que a veremos com frequência – deu de ombros, claramente chateado, o que fez com que Granger novamente o tomasse em seus braços – No entanto, ela nos ajudou.

— Como assim? – questionou a grifinória, franzindo o cenho.

— Ela me passou o endereço de minha tia Andrômeda que conseguiu manter em segredo durante anos – devolveu – Acabei passando lá depois que saí da mansão.

— Narcissa te ama demais, Draco. Nunca te deixaria sozinho. Foi por isso que te guiou até Andrômeda – constatou Hermione, sorrindo – E como foi com sua tia?

— Foi bom ter a oportunidade de conhecê-la e de conversar com alguém que passou pelo mesmo. Ela também ficou feliz e me acolheu como um filho – relembrou, esboçando um sorriso – Oh, ela nos convidou para ficarmos com ela até nos estabilizarmos em um lugar só nosso...

— E o que você respondeu?

— Eu tentei recusar a princípio, dizendo que não queria dar trabalho, mas ela insistiu argumentando que seria bom não ficar sozinha e que seria bom ter alguém para ajudar com Teddy em casa... Eu acabei respondendo que iria conversar com você – explicou – Sinceramente, acredito que seja melhor do que ficar com os Weasley. Quer dizer, eu sei que eles não te negariam nada, mas eu dei motivos suficientes para não gostassem de mim, e eu poderia aproveitar para conhecer melhor esta parte da minha família que ficou “esquecida”...

— Você tem razão. Além do que na’Toca já tem gente demais e eu não quero ficar longe de você, sem falar que cuidar de Teddy seria uma experiência válida para nós – ponderou – Avise sua tia que aceitamos.

— Ótimo! Mandarei uma coruja amanhã de manhã, já que ela avisou que passaria a virada de ano com os Weasley.

— Sim, eles se aproximaram depois da Guerra, sem contar que Harry é padrinho do menino.

— Ah sim – suspirou – Espero que ele não se incomode que o menino cresça tendo contato comigo, uma vez que eu não pretendo me afastar – falou com certa nostalgia ao recordar da criança que acabara de conhecer.

— Gostou mesmo dele não foi? – questionou a castanha, sorrindo.

— Ele é uma criança fascinante, e pareceu gostar de mim também, o que não acontece sempre, já que as crianças do mundo mágico costumam ter medo quando me veem – lamentou com pesar - Ele até mudou a cor dos cabelos para combinar comigo quando me viu – terminou, soltando um riso triste, ao sentir uma onda insegurança e um temor que não havia lhe atingido antes ao se lembrar de que seria pai.

— O que te afligiu assim tão de repente, meu amor? – indagou a garota ao perceber que o rosto do namorado ficara um pouco sombrio – Estava tudo bem até agora...

— Apesar de eu ter dito para o meu pai que eu seria diferente, eu tenho medo – confessou, esticando uma das mãos para tocar a barriga ainda da mulher que amava - E se eu for como ele, Hermione? E se eu for um pai horrível?²

Ao compreender a questão, a moça se aproximou mais e tocou-lhe a face com as duas mãos, encarando de forma tão profunda seus olhos que Draco teve certeza de que ela poderia enxergar sua alma.

— Olhe tudo o que está fazendo, Draco. Mudou sua forma de pensar, enfrenta o preconceito por ser um ex-comensal todos os dias, foi jogado para fora de sua família por mim e pelo nosso bebê, fazendo tudo isso de cabeça erguida. Acha mesmo que será como ele? Você provou que é diferente – rebateu, convicta – Essa é a nossa batalha. Prometo que não vou te deixar se sentir sozinho nunca mais.

Ao ouvir tais palavras, o sonserino não pôde evitar colar seus corpos e capturar a boca da morena em um beijo completamente apaixonado e intenso, de modo que apenas se separaram quando a necessidade de ar se fez presente.

Eu te amo, Hermione. Obrigada por tudo – declarou, beijando-lhe a testa em um gesto carinhoso.

Eu também amo você, Draco – constatou, retribuindo o carinho com um beijo no pescoço.

O restante da noite se despendeu levemente, uma vez que ambos decidiram deixar as demais incertezas e receios de lado após o diálogo anterior, enquanto conversavam sobre qualquer assunto que surgisse, desde possíveis nomes para o filho e qual profissão pretendiam assumir depois que aquele nascesse, até sobre o final do último livro em comum que os dois leram.

Somente pararam as vinte e três e cinquenta e nove quando se colocaram em frente à janela da torre que ficavam, para observarem os fogos de artifício. Ao final da contagem regressiva, assim que os fogos começaram a surgir no céu, o rapaz rodeou a cacheada pela e beijou-a apaixonadamente de novo.

Feliz Ano Novo, morena! – felicitou, com um enorme sorriso no rosto e uma das mãos junto ao ventre da grifinória.

Feliz Ano Novo para você também, meu loiro! – exclamou, enlaçando o pescoço do rapaz ao mirar a íris cinza de maneira idêntica à que fizera mais cedo.

Então, eles selaram os lábios mais uma vez uma vez, ao mesmo tempo em que compartilhavam a alegria e a certeza de que se amavam e estariam juntos, não apenas no ano e no milênio que se iniciavam, mas também no caminho que escolheram trilhar.


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Notas finais do capítulo

¹ De acordo com o Pottermore, Armand Malfoy teria vindo para o Reino Unido justamente nesta época. Fonte: https://www.pottermore.com/features/the-malfoy-family-tree
² "E se eu for como ele, America? E se eu for um pai horrível?" - Maxon Schreave para America Schreave em Depois de A Escolha - Felizes Para Sempre, página 411.

É isso pessoal! Espero que tenham curtido ler essa one tanto quanto eu quando a escrevi, já que sempre que eu escuto Numb me vem o Draco na cabeça, o queacaba por tornar essa história especial para mim...
Segue o link da letra da música: https://www.vagalume.com.br/linkin-park/numb.html
Desculpe qualquer erro que tenha passado despercebido hahaha.
Até a próxima (;



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