Promise escrita por Tia Lina


Capítulo 1
Eu quase matei você


Notas iniciais do capítulo

Oláááááá, enfermeira ^^ Tudo bem com vocês?

Eu disse que tinha surpresa, não disse? ^^ A verdade é que encontrei uma postagem no Pinterest que me fez coçar de vontade de escrever, então trabalhei numa OS pra ela ^^ Não esperem lá muita coisa, era só pq tava toda maluca pra ver isso acontecendo mesmo ^^ Espero que não seja muito decepcionante pra vocês Ç_Ç Mas vamos ao que interessa ^^

BoA leitura ^^



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— Como você soube que amava o papai?

Uma vez por semana Bucky era convidado na casa dos Rogers para o jantar. Uma vez por semana ele se sentava aos pés da senhora e do senhor Rogers após as refeições e ouvia histórias de tempos distantes, ou até mesmo de momentos engraçados da época na qual Steve era apenas um bebezinho. Fazia frio do lado de fora, mas a lareira da casa os permitiu vestirem somente casacos confortáveis. Bucky empertigara-se ao pé da senhora Rogers pouco antes de Steve se unir a eles logo após a refeição.

Era o inverno de 1935 e Bucky não sabia exatamente muito sobre a vida naquela época. Vivera no Brooklyn com seu pai desde que a mãe falecera e desde que se recordava era amigo do loirinho da casa ao lado. Ele não entendia muito bem sobre muitas coisas, mas ele sabia que devia muito de suas conquistas ao encorajamento que aquela família estava sempre disposta a dar nos seus piores momentos. Não entendia muito sobre a vida, mas entendia que Steve, mesmo tendo todas as doenças das quais já ouvira falar, era o garoto mais corajoso e encrenqueiro de todo o Brooklyn, e por isso mesmo Bucky não podia deixá-lo sozinho em momento algum do dia.

Enquanto a senhora Rogers resgatava o tricô que fazia de seu cesto de linhas e agulhas, o senhor Rogers sentara-se no sofá e acendera um dos seus charutos, ligando o rádio para dar àquela sala uma trilha sonora confortável, a fim de fazê-los se sentirem aconchegados. Isso Bucky não entendia muito bem, mas como sempre se sentia bem-vindo ao final de cada noite, não se importava com aqueles toques melancólicos dos contrabaixos e saxofones. Steve, que tossia muito naquele dia devido ao episódio lastimável de seu ataque de asma durante o almoço ainda na escola, sentou-se em uma almofada grande que Bucky colocara ali especialmente para ele, logo ao seu lado, aos pés da matriarca.

Sarah Rogers era a própria tradução da alegria, mesmo quando compenetrada ou em momentos de crise. Bucky jamais a vira desanimada ou irada a ponto de retorcer os traços bonitos de seu rosto. Steve se parecia muito com a mãe quando sorria. Joseph, por outro lado, era um homem sério, mesmo que essa seriedade morresse em sua face cansada. Ali, naquela casa, não havia ninguém mais amoroso que o pai de Steve, nem mesmo sua mãe. Bucky gostava daquelas noites que passava com os Rogers, ele sempre se sentia em família, seja lá o que aquilo significasse.

— Como você soube que amava o papai? – Steve questionara assim que parou de tossir outra vez.

Bucky, num movimento mais rápido, retirou o casaco que ainda usava e o colocou nas costas de Steve. Ele sabia que aquilo não resolveria sua asma, mas poderia o manter aquecido o suficiente para evitar que tudo se agravasse. Sarah sorriu para o Barnes e em seguida para o próprio filho antes de começar a falar.

— Eu soube assim que o vi pela primeira vez, quando ele entrou pela porta do Eddie’s com alguns amigos. Ele tinha um brilho diferente no olhar e um jeito engraçado de se mover, e sorria como se o mundo precisasse disso para sobreviver mais um dia. Eu não sei dizer exatamente o que foi que vi em seu pai para que tivesse tanta certeza de que ele era o amor da minha vida. – Sarah sorriu para o marido por um momento, voltando a encarar as crianças logo em seguida. – Mas eu sei que o mundo passou a ter um novo sentido quando o vi sorrir pela primeira vez.

Steve sorria largamente enquanto a mãe falava, e Bucky não conseguia desviar sua atenção daquele sorriso, porque Steve tinha um jeito engraçado de sorrir. Seu rosto era muito magro e os dentes pareciam alinhados demais para uma criança de 10 anos, mas, mesmo assim, era um sorriso fofo. Desses que iluminavam um dia ruim e que melhoravam qualquer situação adversa. Bucky achava bonito o jeito com que o sorriso ficava bem no Rogers, e então entendeu o que a senhora Rogers dizia sobre o mundo ter um novo sentido. Desviou a atenção somente quando Sarah voltou a falar, mesmo sem ter ouvido exatamente o que foi que Steve questionara daquela vez.

— Ah, meu bem, você não precisa ter pressa, você vai saber quando acontecer. – Acariciou seu rosto, encarando Bucky em seguida e fazendo o mesmo com o moreno. – Vocês dois vão saber quando o momento chegar, porque vocês vão sentir que nada mais é igual, e que nada nunca mais será.

— Sarah, você está colocando ideias demais na cabeça dessas crianças. – O senhor Rogers interferiu com seu timbre determinado e gentil.

— Ora, Joseph, e o que estou dizendo que eles não entenderão daqui uns anos? Bobagem é não contar esse tipo de coisa às nossas crianças, vivemos num mundo de ideias conturbadas e perigos constantes, é preciso cultivar um pouquinho de amor nos corações infantis, não seja tolo. – Joseph riu e se calou, Sarah era muito boa em ganhar discussões quando queria.

— E como foi conversar com ele pela primeira vez? – Steve parecia muito mais empolgado que de costume, o que arrancou um mínimo sorriso do Barnes. Steve sempre se empolgava nesse tipo de assunto, era a pessoa mais romântica que conhecera, e Bucky sequer sabia qual a finalidade disso.

— Parecia um desfile de quatro de julho no meu estômago. – Ela riu soprado. – Eu ficava nervosa todas as vezes que ele aparecia, e mais nervosa quando precisava falar. Às vezes passávamos uma tarde inteira em silêncio, mas eu sempre voltava para casa com a sensação de que tive a melhor conversa da minha vida.

Steve olhou para Bucky de relance e se lembrou de todas as vezes nas quais se balançaram naquele balanço no parque. Eram momentos silenciosos, mas únicos, e aquilo o fizera entender o que a mãe quis dizer com serem momentos de conversas preciosas. Enquanto isso, para Bucky, todos os momentos que passava com Steve eram preciosos, os silenciosos e até mesmo os conturbados. De alguma forma, quando o loiro precisava de ajuda, Bucky se sentia útil em sua vida. E pela segunda vez ele se pegou observando minuciosamente o sorriso do Rogers e sentiu vontade de sorrir também.

Bucky acabou se desesperando, porque percebeu que todas aquelas coisas faziam sentido em sua cabeça. Se sentiu desesperado principalmente depois de perceber que Steve o fazia se sentir e reagir da mesma forma a qual Sarah Rogers narrava em sua história sobre ter encontrado o seu grande amor. Era inverno de 1935 e Bucky não sabia muitas coisas naquela época, mas acabara de descobrir a mais importante delas. Era possível se apaixonar aos dez anos de idade pelo seu melhor amigo. Sentiu o fôlego morrer em sua garganta e uma ardência em seus olhos, mas engoliu aquele monstro que crescia dentro de si e permaneceu em silêncio, ouvindo a senhora Rogers falar.

— Mas às vezes eu também ficava insegura. – Ela suspirou, observando cuidadosamente de um a outro. – Porque eu não sabia o que ele poderia estar pensando de mim. Às vezes eu ficava insegura porque não sabia se as pessoas compreenderiam tanto sentimento. – Sarah abandonou seu tricô e sorriu amorosamente para Joseph outra vez, então acariciou os cabelos de Bucky, chamando sua atenção. Trocou um olhar gentil com o garoto e um sorriso caloroso, dizendo as próximas palavras com os olhos vidrados no moreno. – Às vezes ficamos inseguros porque pensamos que as pessoas não vão nos compreender, mas com o tempo e a idade eu aprendi a lutar pelo meu amor e por aquilo que eu acredito. – Acariciou novamente os cabelos do Barnes e em seguida os do filho. – Porque o amor é o sentimento mais bonito que alguém pode cultivar na vida, independentemente de quem venha.

E então Bucky sentiu que aquela última parte do discurso tinha outra finalidade, e reconheceu isso nos olhos azuis de Sarah quando ela lhe sorriu novamente. Ela certamente tinha percebido, a mãe de Steve era muito boa em perceber mentiras, ele deveria ter sido mais cuidadoso. Bucky engoliu seco e sentiu a ardência em seus olhos novamente, não queria perder os jantares na casa dos Rogers, o que faria se fosse odiado por aquela família? Ele não escolhera se apaixonar por Steve, ele sequer sabia exatamente o que era "se apaixonar", não poderia pagar por isso.

Steve continuou fazendo perguntas e mais perguntas, mas Bucky já não conseguia mais prestar atenção em nada do que era dito, em sua mente só rondava os fantasmas que o afastavam mais e mais daquele convívio. Era tarde quando o senhor Rogers anunciou que o dia tinha sido longo e que precisavam descansar, e aquela era a deixa para que o Barnes voltasse para a sua própria casa. Ele se ergueu e agradeceu polidamente pela hospitalidade, sendo acompanhado de perto por um Steve que agora já não tossia mais como tossira antes e também pela senhora Rogers. Ao pararem à porta, Steve lhe sorriu novamente e acenou, prometendo que se veriam novamente dentro de algumas horas, quando estivessem de partida para a escola no dia seguinte.

A senhora Rogers assistiu à cena com seu semblante sorridente característico, às vezes ficava difícil entender se ela estava mesmo feliz ou sendo somente educada. Quando Bucky se virou para se despedir dela, Sarah Rogers o abraçou mais apertado do que das outras vezes e, embora fosse estranho, era acolhedor ser aceito naquele abraço. A senhora Rogers acariciou suas costas e começou a sussurrar em seu ouvido para que somente ele fosse capaz de compreender.

— Meu bem, eu notei o modo como olha para Steve e eu sei que enfrentarão muitos problemas no futuro. Eu só espero que saiba que eu nunca o proibirei de frequentar esta casa e jamais revelarei isso a ninguém. Esse é o nosso segredo, James. Continue cuidando bem de Steve, ele precisará de alguém no futuro, quando Joseph e eu não pudermos mais cuidar. Eu confio em você, confio a segurança de Steve a você.

~~~~~~~~~~~~

— EU TE ATAQUEI COM A PORRA DE UMA FACA, STEVE, EU PODERIA TER TE MATADO, SEU IMBECIL! – Bucky berrou do outro lado do cômodo.

— Mas você não me feriu, Buck, é isso o que importa agora. – Ele suspirou, e tinha o mesmo jeito de suspirar de sua mãe.

Instantaneamente Bucky voltou alguns anos no tempo, ele sequer sabia de onde vieram aquelas recordações ou mesmo porque vieram, mas num piscar de olhos elas estavam ali, como se estivessem acontecendo bem em frente aos seus olhos. E no meio de tantas imagens ele reconheceu o sorriso amoroso de Sarah Rogers, quase no mesmo tempo em que se recordou de seu pedido segredado ao pé do ouvido quando Bucky não era mais que um moleque do Brooklyn. O Barnes olhou para Steve e seus olhos arderam como haviam ardido naquela noite de inverno, em 1935. Fazia anos que Bucky não sentia vontade de chorar como sentira naquele momento.

— Eu quase matei você. – Ele riu soprado, um riso doído, daqueles de quem tenta conter as lágrimas. – Descarreguei uma pistola em você, e você é mais imbecil ainda porque não estava com o seu traje à prova de balas, pelo amor de Deus, como sobreviveu por tantos anos? Você é idiota mesmo ou só se finge? Da próxima vez que for enfrentar um assassino, vê se usa um traje apropriado porque, adivinha? Eles atiram pra matar.

— Você não é um assassino, Buck, me ouviu? Você é um rebelde idiota e estúpido, mas não é um assassino. – Steve se aproximou perigosamente, segurando-o pela gola do casaco que usava. Bucky riu aquele riso doído outra vez e segurou os pulsos de Steve.

— Isso foi exatamente o que eu fui por setenta anos, Stevie.

— Isso foi o que fizeram você acreditar por todo esse tempo, eu sei quem você é.

— E quem eu sou?

— Você é James Buchanan Barnes, o idiota do meu vizinho que comia todas as minhas bordas de pizza. – Ele sorriu de viés. – É meu amigo de infância, aquele que dormiu comigo depois da morte dos meus pais só para que eu não ficasse sozinho. O cara que sempre lembrava onde eu colocava a chave reserva. O cara que me levava pra casa, porque eu não conseguia voltar pra casa sem você, Buck.

— Eu não sou mais essa pessoa, Stevie. – Ele sussurrou, suspirando derrotado em seguida. – Eu simplesmente não sou mais aquele garoto do Brooklyn.

— E por que continua agindo exatamente como ele, então? – Steve finalmente o soltara. – Eu assumi todas as responsabilidades por ter usado uma roupa que não me protegeria, fiz isso pensando que se lembraria de mim e voltaria pra casa.

— Casa... – O Barnes riu soprado novamente, sentando-se na cama e bagunçando os cabelos. – Eu não sei o que é ter casa há muito, muito tempo.

Steve sorriu e se aproximou, sentando-se ao lado de Bucky na cama. Ficaram um momento em silêncio, até o loiro rir soprado e o encarar.

— Pensei que eu fosse a sua casa, seu babaca.

— Você tem cheiro de casa, é diferente, Stevie. – E Bucky riu soprado, um riso que fizera falta. – Você tem o mesmo cheiro da casa no Brooklyn, isso me fez lembrar dos nossos jantares e das vezes que sua mãe nos contava histórias.

— Ela gostava de você. Ela realmente gostava de você.

— Eu sei disso, ela me disse várias e várias vezes.

O silêncio voltou a tomar conta do ambiente e eles ficaram muito tempo encarando um ponto vazio naquele quarto de móveis puídos e decoração duvidosa. Bucky tinha um arsenal de recordações em sua retina agora, em sua maioria, momentos com Steve. Para falar bem a verdade, era difícil encontrar uma memória na qual o loiro não estivesse inserido, era quase como se fosse natural Steve estar lá e parecia errado quando ele não estava. Depois de muito tempo, Bucky finalmente cortou o silêncio.

— Eu poderia ter te matado lá, Stevie. – Suspirou derrotado. – Eu jurei à sua mãe que te protegeria, no entanto fui o primeiro a puxar a porra do gatilho. Sarah Rogers confiou a segurança do filho a mim e, na primeira oportunidade que tive, descarreguei uma merda de uma pistola nele. – Bucky bufou. – Eu sou a porra de um assassino, Stevie, eu não merecia compaixão.

— Não, você não é. Você teve o cérebro bagunçado por assassinos, é completamente diferente. E tem mais, você sempre me defendeu, Buck, a vida inteira. Inferno! Você se jogou de um trem para salvar a minha vida, será que consegue manter isso em mente? - O desespero na voz do loiro era evidente, Bucky sentiu-o como facas atravessando seu peito.

— Eu jurei a vida inteira que te protegeria porque não saberia o que fazer sem você, no entanto fui o primeiro a tentar matá-lo e você sequer ofereceu resistência. Você é mesmo um imbecil, Rogers. – Bucky suspirou e bagunçou os cabelos outra vez. – É sério, como sobreviveu por todos esses anos?

— Não sobrevivi. – Deu de ombros. – Me atirei no oceano congelado algum tempo depois da sua morte e passei setenta anos como um picolé até que a S.H.I.E.L.D me encontrasse.

— VOCÊ O QUÊ? – Ele arregalou os olhos. – Dá pra ser mais tapado que isso, Stevie? – Ele bufou, então completou com a voz irritadiça. – Ah, dá sim! Vestir-se com um uniforme sem proteção alguma e ir encarar a morte num lugar fechado a quilômetros de altura só para poder provar a si mesmo que é capaz de reverter anos de lavagem cerebral só por conta de uma porra de um uniforme ridículo, cacete, Stevie! O Governo cobra imposto pela sua burrice? Porque deveria.

— No entanto funcionou. No final você voltou pra mim. – Ele sorriu abobalhado, então Bucky se recordou o motivo que fez Sarah Rogers pedir-lhe para cuidar de Steve.

— Não foi a merda do seu uniforme, seu imbecil. – Suspirou, passando novamente as mãos nos cabelos. – Seu uniforme não tem esse poder todo.

— O que foi que aconteceu lá em cima, Buck? – Steve sussurrara.

Bucky riu novamente e Steve começava a se irritar com todos aqueles risos sofridos. O Barnes se levantou e começou a andar pelo cômodo bagunçado e sujo daquela casa abandonada na qual vinha se escondendo há algum tempo. O que acontecera lá em cima ele ainda não sabia ao certo como explicar. Fora a frase que ele dissera, e o modo como ele o olhava, mas também fora o aroma que o atingira como um soco, instigando-o a se recordar daquela sala e daquela lareira que ficara num passado muito distante. Fora o timbre machucado de Rogers, que ele ouvira tantas e tantas vezes depois de todas as brigas estúpidas nas quais se metia e também fora o calor daquele corpo que não era mais tão pequeno. Fora todas as coisas que ele guardara somente para si e que o estavam sufocando, fora aquele maldito segredo que Sarah Rogers e ele guardavam à sete chaves há anos.

Bucky olhou para Steve e sentiu os olhos arderem outra vez, quase tanto quanto o seu coração – se é que ele ainda possuía um. Há quantos anos estava sem ver aqueles olhos azuis? Como conseguira sobreviver tantos anos longe daqueles dentes impecáveis e daquele sorriso que parecia iluminar uma cidade inteira? Há quanto tempo era apaixonado por Steve e guardava esse segredo por medo de destruir sua vida? Então Bucky riu mais uma vez, um pouco desesperado, um pouco nostálgico e um pouco machucado.

— Acabei de me lembrar de Peggy. O que aconteceu com ela?

— Peggy morreu, Buck, a reencontrei em uma casa de descanso logo depois que me resgataram do gelo. – Steve suspirou, passando a mão nos cabelos. – Mas você ainda não respondeu a minha dúvida. O que foi que aconteceu lá em cima para que se lembrasse de mim, Buck?

— Você não é o Capitão América, Steve. – O loiro uniu as sobrancelhas, mas nada disse. – Você é Steve Rogers, o idiota inconsequente e cabeça oca que arrumava confusões em todos os becos do Brooklyn para defender os fracos e oprimidos, mesmo tendo todas as doenças que a humanidade conhecia na década de 30. Você é aquela criança miúda que sorria pra mim quando meu dia tava uma bosta e me dizia que no dia seguinte tudo melhoraria, e acabava melhorando mesmo e eu nunca entendia o porquê. Você era o cara que eu tinha que seguir pra cima e pra baixo somente para me certificar de que voltaria são e salvo para casa no final do dia. Eu me lembrei de você não porque é o Capitão América, mas porque era o Stevie, porque era o garoto que eu prometi proteger e que prometi permanecer ao lado na luta até o final. Não foi a porra daquele uniforme horrível, foi você. Sempre foi você. Tem sido você desde que eu consiga me lembrar. - Steve se sentiu derreter com aquelas palavras, e seu peito pareceu tão pequeno para o seu coração que uma lufada de ar escapou de sua boca antes que ele pudesse contê-la.

— Eu senti a sua falta, Buck. – Steve se levantou e seguiu até o Barnes. – Tenho sentido a sua falta por muitos anos.

— Eu não posso dizer o mesmo. – Riu um riso macabro e Steve compreendeu que ele falava da época que passou como um soldado controlado.

— Não importa o que a Hydra fez com a sua cabeça, você continua o mesmo. Aqui – Steve depositou a destra sobre o coração do Barnes e o encarou seriamente, – você ainda é o mesmo aqui.

— Eu quase matei você. – Ele sussurrou aquilo que mais repetira desde que o encontrara naquela tarde, tentando muito fazer com que Steve compreendesse a importância daquela afirmação, mas Steve era mais idiota do que parecia.

— Você não me matou, porra! Para de repetir isso, inferno! – O loiro bufou, segurando-o firmemente pela gola outra vez. – Eu tô aqui, não tô? Então para de repetir isso, antes que eu te dê um bom motivo para completar o serviço.

— Eu não vou machucar você, Stevie, não estando consciente. Eu não posso machucar você. – Bucky estreitou os olhos, desafiando-o com o olhar.

— Você nunca me machucaria, eu sei disso. – Steve riu soprado. – Porque você me disse que não o faria.

— Porque eu prometi à sua mãe que não faria. Prometi à Sarah Rogers que viveria a minha vida inteira em função de proteger e cuidar de você.

— E por que prometer à minha mãe esse tipo de coisa? – Steve uniu as sobrancelhas.

— Porque ela percebeu naquele dia, no inverno de 1935, enquanto nos contava sobre o seu pai e o amor que sentiam, que eu também sentia o mesmo. A sua mãe me fez prometer cuidar de você porque ela sabia que a nossa vida seria difícil se um dia te contasse isso e adivinha? Eu nunca te contei. – Steve ouvia tudo calado, sem saber exatamente como reagir àquilo tudo. – Eu não queria estragar a sua vida, e depois teve o lance com a Peggy e eu saí de cena. Cair da porra daquele trem e todas as merdas daqueles experimentos que aqueles malditos alemães fizeram em mim não doeram mais do que vê-lo se apaixonando aos poucos por Peggy, Stevie, mas eu fiquei calado porque estávamos em 1944 e o mundo não estava pronto para saber que o sargento Buchanan era apaixonado pelo herói da Nação.

— Há quanto tempo você me esconde isso? – Os olhos de Steve estavam semicerrados e seu rosto, inexpressivo. – Há quanto tempo, Buck? – Ele chacoalhou o moreno quando ele não respondeu.

— Sei lá, talvez desde os meus sete ou oito anos. – Deu de ombros.

— E por que resolveu me contar agora?

— Porque estamos no século vinte e um e eu estou pouco me fodendo para o que as pessoas estão pensando. Matei a sangue frio muita gente desde que me tornei o Soldado Invernal e, agora, assumir que amo o Capitão América já não parece ser mais assustador do que enfrentar os julgamentos pelos crimes que cometi.

— Você não cometeu crime algum.

— Esse seu jeito de encarar os fatos é irritante. – Ele riu soprado, um riso de escárnio.

— Não mais irritante do que descobrir que você foi apaixonado por mim durante toda a sua vida e não teve coragem de me dizer isso. Caralho, passamos por uma guerra, seu imbecil! Nós matamos muita gente, enfrentamos a vida nas trincheiras, bombas e granadas. Eu, literalmente, invadi o covil inimigo usando um uniforme que não me protegia e um escudo só pra livrar a sua bunda branca de uns alemães babacas e você vem me dizer que tinha medo de me contar que era apaixonado por mim desde os sete anos de idade? Você é idiota ou o quê?

— Acabei de me recuperar de setenta anos de lavagem cerebral e você tá nervosinho só porque não te contei que tive uma quedinha estúpida por você? Vai se foder, Steve Rogers. – Bucky riu soprado, pouco mais espirituoso desta vez.

— Eu não chamaria de uma quedinha estúpida se você esperou mais de 80 anos para me dizer. Você tá é muito gamado, admite que vai ser mais bonito. – Steve sorriu de viés.

— Vai se foder, Rogers.

— Você só tá dizendo isso com toda essa confiança porque sabe que pode fazer isso sem precisar se refrear pelo medo de me partir ao meio agora. – O sorriso aumentou um pouco quando Bucky finalmente prestou atenção no que o loiro dizia.

— Eu quero mesmo socar a sua cara agora. - Bucky falou baixinho.

— Você faz isso depois, agora você poderia, por gentileza, vir até aqui beijar a minha boca porque faz uma eternidade desde que fantasiei com isso pela primeira vez?

Quando Bucky se jogou daquele trem, o mundo passava por uma guerra hedionda e tudo estava uma completa bagunça. Bem, o mundo continuava uma bagunça e havia uma guerra pronta para estourar em algum lugar, em algum momento – ele tinha certeza disso – no entanto, nada era mais importante do que beijar Steve Rogers naquele momento. E fora exatamente o que ele decidiu fazer quando voltou todo o caminho até pegar o loiro pela nuca e o puxar de encontro ao seu rosto. Depois se preocuparia com as guerras. Depois se preocuparia com os problemas e com as acusações de seus atos. Depois o mundo poderia chegar em peso para cobrar todas as suas falhas e arrancar-lhe a alma. Não agora, não naquele minuto, porque naquele minuto ele era completamente de Steve, e Steve tinha um jeito espetacular de prendê-lo próximo a si. E enquanto as bocas se roçavam ferozmente, um último pensamento passou pela mente do Barnes.

Agora eu posso cuidar do nosso Steve, Sarah.


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Notas finais do capítulo

#posteiesaicorrendo

Gostaria de agradecer pelo apoio e pelo caramelo que me dão ♥ Muito obrigada de verdade, eu não seria nada sem vocês (é verdade, pode perguntar por aí) ♥ Até uma próxima aventura e XoXo ;*



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