A Transição escrita por Extraordinário


Capítulo 1
Capítulo 1 - O Recomeço


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo retoma o episódio em que a Yuki é transformada em vampiro pelo seu irmão, Kaname, enfatizando seus sentimentos em relação a sua transformação. Espero poder te agradar e proporcionar alguns minutos de fantasia e felicidade ao seu dia.



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            Tem sido difícil esse período de transição. Agora que recuperei as minhas memórias, vejo o Kaname de outra forma, como um irmão bondoso que sempre esteve trabalhando por mim. Mas... O estranho é vê-lo assim após 10 longos anos... Sinto como se tudo o que eu passei tivesse sido um grande borrão, uma desculpa para não morrer tão cedo. E o pior é não poder culpar ninguém por isso... É ter que agradecer por isso. Imagino o quão difícil foi para ele passar tantos anos escondendo os seus verdadeiros sentimentos pra me proteger. Porque isso tinha que acontecer logo agora? Agora, como uma puro sangue, tenho tradições e responsabilidades para cumprir, como a de casar com meu irmão... Sempre foi o meu sonho tê-lo, amá-lo, mas agora isso me parece tão errado. Ter sido humana por tanto tempo mudou muito minha forma de pensar e de me relacionar e, com certeza, o incesto é um absurdo. Talvez nem tão absurdo quanto a sede de sangue que estou sentindo... A verdade é que não entendo os meus desejos, minhas vontades, me sinto outra pessoa, alguém desconstruído e sem identidade. E o pior de tudo é que só me vem uma figura à mente: Zero.

            O Kaname está sendo super atencioso e é impossível não ser inundada por gratidão e afeto quando me deparo com ele, meu doce vampiro. Quando acordei, a primeira coisa que me perturbou foi a sua presença, a necessidade absurda de sentir o seu sangue, seu ouro vermelho me enchendo, me acalmando. A sensação é absurda, viciante... Posso sentir os seus batimentos, suas inseguranças, seu humor, sua vitalidade... É como invadir o consciente. Naquele momento eu pude perceber o seu estado de espírito... e o que eu senti? Paixão. O Kaname me ama. Havia paz, felicidade, mas com um rigor de aspereza, provavelmente pelo medo de como eu reagiria. Sempre tão gentil. Só havia confusão na minha mente... E ele percebeu se retirando e me dando tempo pra pensar. No que eu havia me tornado? Meu corpo inteiro ferve absolvido em um tremor intenso, de poder e, antes que eu pudesse pensar sobre isso, ouvi o trincar do vidro se partindo na janela. É isso o que eu faço agora? É isso o que eu sempre fiz?

            Gemi de dor ao sentir os cacos rasgando a minha pele, mas o pânico veio segundos depois, ao ver meu corpo se regenerando rapidamente, como se eu nunca tivesse sido atingida. Atordoada, levantei e me dirigi ao espelho... Aquela era a nova e velha Yuki, a vampira, irônico não? Paralisada, tentava processar a imagem diante de mim, uma mulher extremamente pálida, como porcelana, e com cabelos longos e negros, como a noite. Meus olhos reluziam um vermelho pulsante, ao mesmo tempo em que sentia o cheiro de diversos tipos de sangue há centenas de metros. Minhas unhas cresceram, agora apresentavam um aspecto selvagem de garras. Mas além do medo e da falta de identidade... A sensação de poder escorrendo nas minhas veias era viciante. Passei a vida toda me sentindo pequena, frágil, praticamente inútil... Agora eu sou o monstro. E... Eu gosto disso.

            Devo ter dedicado um longo tempo à observar meu corpo no espelho, tentando conciliar a Yuki humana com a vampira, mas ainda não havia conseguido uma resposta. E, além de tudo, algo me atordoava incessantemente... A cor dos meus olhos era tão vívida quanto à dos olhos do meu melhor amigo, Zero. Um flashback enorme passou diante de mim, todos os momentos em que, inocentemente, me entreguei para que ele saciasse sua sede, em que, mesmo sem entender o que se passava no seu corpo, dava tudo de mim para vê-lo confortável consigo mesmo. E agora percebo que eu nunca o compreendi. Nunca sequer imaginei a ardência agonizante que um vampiro tem que lidar todos os dias, assim como tenho certeza que nunca entenderei a vergonha de ser um vampiro destinado a caçar a própria espécie. O momento em que senti meu peito apertar mais forte foi ao lembrar da última cena em que o vi... Apontando uma arma para mim, com ódio no olhar. Ah velho amigo... O que será de nós?

            E toda essa nostalgia me impulsionou a pular o vidro, correndo pela neve em direção ao seu dormitório. Foi então que reparei que não sentia mais o frio ou o calor, apenas o vento passando pelos meus longos cabelos. Até que uma voz me trouxe de volta a realidade, era Aidou-senpai. – Yuki! Aonde pensa que vai? – dizia ele, até perceber a situação em que se encontrava e hesitar, corrigindo: - Quero dizer, Yuki-sama, por gentileza, volte. São ordens do Kaname-sama. – era visível o rubor crescendo no seu rosto, sem saber como lidar com a situação. – Sinto muito, senpai, mas sigo as minhas regras agora – mas, ao sair, senti a tensão em torno dele e do Akatsuki, então, para não prejudicá-los, respondi: - Podem vir comigo se quiserem, para o Kaname não puni-los. – seus corpos relaxaram expressivamente e, em seguida, saímos todos para o dormitório masculino.

            O caminho não era longo, pedi que os rapazes esperassem na entrada do dormitório, subindo sozinha. Já tinha feito aquele percurso incontáveis vezes, mas nunca como daquela vez... cada degrau simbolizava uma lembrança minha naquela instituição, dentro da bolha de proteção que me encontrei por anos, era como se eu estivesse pisando em quem eu construí, esmagando as ilusões do passado e indo em direção ao futuro. Mas que futuro era esse? E quando me dei conta, já podia sentir a aura de ódio diante de mim, além do barulho do revólver que apontava para a minha cabeça. Era ele. E era eu. A uma porta de distância. Ambos se sentindo, confusos, imersos numa atmosfera de rancor e medo. Tornei-me que ele mais odeia, não apenas em um vampiro comum, mas no indivíduo mais precioso da espécie, uma sangue puro, o mesmo tipo de gente que destruiu a família dele e o transformou numa aberração. Sim, é isso o que nós somos.

            Mas, mesmo diante desse conjunto desconfortável de sensações, só conseguia dizer a ele: - A Yuki que você conheceu não existe mais, Zero, pois meu lado vampiro a consumiu. – sentia o sangue subindo para a sua cabeça, ele estava mais nervoso a cada segundo – Não vou te culpar se quiser me destruir, mas, se for possível, não desista de mim tão fácil, amigo. Porque, no final, estamos mais parecidos do que nunca. – sua mão tremeu e fraquejou segurando a arma, sei que o que disse foi extremamente cruel, mas não deixa de ser verdade. Se ele quiser me odiar, vou entender, mas que fique bem claro como eu me sinto em relação a isso. Enquanto saía do corredor, pude ouvir um grito abafado, forte, de indignação, saindo do seu quarto, mas não voltei. Era melhor ele extravasar sozinho.

            E então desci os degraus com força, olhando para frente, com a força que sempre desejei, mas com o coração partido. Fui escoltada pelos rapazes até o dormitório da lua, onde vi meu noivo, inconformado, esperando por mim frente à janela que eu quebrei, no segundo andar. Bem, chegamos ao meu agora.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Peço que comentem suas opiniões, críticas e sugestões. Obrigada desde já!



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