Humanidade: A Queda escrita por Daniel A Soares


Capítulo 1
Capítulo 1 - Caos


Notas iniciais do capítulo

Heeeey. Esta é uma história original. Estarei definindo os dias de postagens, pelo menos dois por semana. Como vão notar eu sou um dos protagonistas junto com meu amigo, isso foi um desafio que um amigo fez para mim e surgiu esse livro. Espero que gostem e se divirtam lendo. Até mais. Bye.



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Capítulo 1 — Caos

"No caos se encontra a chave da sobrevivência. No caos o instinto se ativa. No caos vemos quem realmente somos." SOARES, Daniel

Fechei os meus olhos e tentei pensar onde eu tinha errado, eu era fraco, não conseguia agir com rapidez em situações de perigo, no geral eu travava em situações assim. Então, como eu, um ser humano tão patético, tinha sobrevivido a essa merda toda de morte, de sangue, de cenas grotescas e perigo por todos os lados? Um grito ecoou, um grito feminino, meus sentidos voltaram, coloquei a arma na minha cintura, peguei uma barra de metal e me preparei, a garota gritou novamente meu nome, mas eu já estava pronto. Como eu tinha sobrevivido? Só tinha uma explicação: ela. Aquelas pessoas me olharam, na verdade não era mais seres humanos, eram animais movidos pelo instinto de matar e se alimentar, eu podia não ser forte por mim, mas quando era para lutar por outras pessoas eu mudava por completo, uma fúria assassina percorreu meu rosto e era assim que deveria ser. Pelo menos eu tinha despistado o maníaco que antes fora meu amigo. Vamos voltar um pouco a história, quando o mundo não parecia um filme de terror cor de sangue.

°°°°

Algum tempo atrás

Eu estava no Terminal de Integração da Praia Grande conversando com um amigo meu no whatsapp, foi quando meu ônibus chegou e eu entrei para a ir a universidade, era o ônibus que ia direto para lá, então estava lotado e eu me sentia dentro de uma lata de sardinha (sensação comum). Eu consegui me sentar próximo a janela e de repente fui tomado por uma sensação estranha, o dia estava ruim, era a primeira vez no semestre que eu pegava o ônibus lotado e conseguia sentar, o calor estava além do comum, além disso tinha aquela estranha nuvem preta cobrindo São Luís, que aumentava ainda mais a sensação de calor. Graças ao semestre apertado (consequência da greve) eu não conseguia visualizar as notícias, então só sabia o que era comentado, diziam que a nuvem cobria grande parte do globo e que tinha surgido logo após um imenso surto pandemico de Zika, Chikungunya e outras estranhas variações de doenças que surgiram do nada e que se espalhavam tão rápido quanto os mosquitos, diziam que a nuvem estava indo embora e era resultado de toxinas liberadas durante o extermínio em massa dos insetos, parte da toxina já estava se dispersando no ar e voltando a superfície e a partir daí o ar seria purificado pelas plantas, não havia com o que se preocupar. Eles estavam profundamente errados.

Naquele dia quente meu coração se apertava no peito, o trânsito estava horrível, haviam vários acidentes na pista e eu acabava de ver o pior deles. Um dos passageiros tinha sido arremessado contra o para brisa do carro e estava irreconhecível, mas o pior veio em seguida, meus olhos captaram um movimento e virei a tempo de ver os olhos brancos do homem me encarando e sua boca se mover. Fechei os olhos pensando: algumas funções do corpo ainda se mantinham ativas por algum tempo depois da morte, tinha que ser isso. Foi quando algumas pessoas começaram a desmaiar dentro do ônibus, caindo uma por cima das outras, vi um homem em um carro com o rosto caído no volante, as coisas definitivamente estavam estranhas e eu precisava voltar para casa. Empurrei uma garota que tinha caído sobre mim e analisei a situação. Pessoas gritavam dentro do ônibus querendo sair, o motorista e o cobrador pareciam ter desmaiado também, teria que atravessar um mar de pessoas até lá para destravar as portas, eu já estava começando a me sentir claustrofóbico ali dentro, eu precisava sair e isso me salvou.

Olhei para as janelas e vi que finalmente poderia realizar meu sonho de puxar as alavancas de emergência ao lado da janela. A primeira foi muito difícil e quebrou, pulei para as cadeiras da frente e dessa vez consegui, empurrei a janela e ela caiu se estilhaçando com o impacto. Pulei e caí sobre o carro que estava do lado, fazendo o teto afundar um pouco, o motorista nem se mexeu lá dentro, comecei a correr de volta para o Terminal da Praia Grande, quando ouvi os primeiros gritos. Virei para trás e olhei que um garoto tentava sair pela janela que eu tinha aberto, foi quando surgiu uma garota, a mesma que estava sentada ao meu lado, ela era linda, tinha aquela beleza meiga e fofa de garotinha, mas agora seu rosto se contorcia com uma uma fúria assassina, seus olhos brancos e sem expressão assustavam e ela mordeu o pescoço do garoto que gritou. Eu fiquei ali em choque, a garota bateu a cabeça da sua vítima no contorno da janela e continuou a se alimentar, só então percebi que eu também estava gritando, minha cabeça girava e minha garganta estava seca.

Forcei minhas pernas e vi uma viatura da polícia no canteiro do retorno, corri até lá e quando me aproximei vi o sangue que tingia as janelas, um policial, ou pelo menos o que ele tinha sido algum dia, me olhou com seus olhos brancos inexpressivos e começou a arranhar o vidro como se pudesse atravessar e me pegar. Fechei os olhos me sentindo um fraco pela segunda vez naquele dia, vi um homem cair de uma bis, o motoqueiro estava sem capacete e teve o corpo arrastado na pista, sua cabeça indo em direção ao pneu de um ônibus que seguia sem controle, virei para outro lado, mas ainda ouvi o ruído seco de algo sendo esmagado. Corri em direção a moto que ainda estava ligada, percebi que chorava, eu cambaleava em direção a moto e temia que a qualquer momento eu fosse desabar ali. Alcancei a moto e com um certo esforço a levantei, precisava voltar para casa e ver se minha família estava bem, era só o que eu pensava. Tive um pouco de dificuldade para ligar a moto, afinal fazia tempo que não pegava uma e estava muito nervoso, consegui ligar após segundos que pareceram uma eternidade e disparei daquele local, costurando o trânsito horrível que se propagava nas principais avenidas, ouvia ao longe sirenes e gritos de histeria, não podia ser, isso não podia estar acontecendo, não na vida real. As lágrimas atrapalharam minha vista e não sei como, mas a moto levou sua segunda queda em menos de 10 minutos.

Fui arrastado pela pista até parar em frente a uma casa, rapidamente uma garotinha que parecia ter 11 anos surgiu no portão e o abriu para que eu pudesse entrar. Ela obviamente não sabia o que estava acontecendo, me ajudou a entrar e fechou o portão. Fui em direção a entrada da casa e ela me parou.

— Por aí não é seguro. Minha mãe está presa aí dentro. Ela comeu o Billy, eu não sabia o que fazer. — a garota confessou com lágrimas nos olhos.

— Quem é Billy?

 

— Nosso cachorrinho. Ela tinha desmaiado e ele estava lambendo o rosto dela quando o ela acordou e começou a morder ele. — a garota enxugou as lágrimas na camisa. — Ela às vezes era má, mas nunca foi assim. As vezes ela tinha crises e meu pai mandava que eu trancasse ela e ficasse segura até ele chegar. Ela sempre ia para o hospital e voltava melhor. — a guria não parava de tagarelar. — Ela vai ficar melhor né? — parecia nervosa e com medo da minha resposta.

— Você precisa olhar nos meus olhos. — falei calmo. — Sua mãe vai para um lugar melhor, aquela ali não é ela, eu não sei explicar, mas não é ela. — fechei os olhos, eu não podia usar aquela palavra com aquela criança inocente.

— Ela é um zumbi né? Minha mãe!? — a garota falou cabisbaixa. — Tipo The Walking Dead, minha mãe não vai melhorar mais.

A garota começou a chorar novamente e eu a abracei. Droga! Pelo menos ela sabia e eu não teria que falar muita coisa, eu era péssimo em consolar pessoas. E a garota estava certa, eu não queria usar a palavra, mas estava óbvio o tempo todo, o apocalipse finalmente tinha chegado e tinha trazido uma praga de mortos-vivos. Definitivamente a vida era uma merda. A garota me levou pela porta do quintal e me mostrou a cozinha, pelo que pude deduzir a mãe dela sofria de um tipo de transtorno bipolar (ou de personalidades) terrível, por isso cada cômodo da casa tinha porta e tranca para que ela pudesse ser isolada em caso de emergência, pelo menos até que a ambulância chegasse. Quem diria que esse simples sistema de proteção iria proteger essa jovem criança de uma morte certa.

Do lado de fora os zumbis vagavam alheios a tudo, mas eu tinha certeza que se um deles me olhasse desfilando na porta aquilo se tornaria um inferno bem rápido. A moto tinha ido parar alguns metros mais a frente, não sabia se ela ainda iria funcionar, mas era minha única esperança de sair daquele bairro. Eu estava no bairro do Anil, não sabia exatamente em que parte dele, só sabia que era uma avenida esquisita onde ônibus como Circular 1 e Cohatrac 3 passavam. Eu nunca tinha gostado muito daquela avenida, pois geralmente era deserta e um pouco escura. A escuridão continuava, mas agora a avenida estava tomada de zumbis a procura de carne. Minutos atrás uma mulher bonita, com roupas justas de academia tinha passado gritando em frente a casa, a garotinha até tentou ajudar, mas a mulher, que andava arrastando seu pé direito, que estava em frangalhos, caiu uns metros a frente e foi imediatamente atacada por um zumbi que mordeu sua bochecha, arrancando um pedaço de carne que fez a expressão da mulher se transformar em um sorriso macabro, em seguida abriu a barriga da mulher e em questão de segundos outros zumbis se aproximaram daquele banquete. O problema é que os zumbis atraídos pela gritaria ficaram pela avenida e meus planos de voltar ao Novo Cohatrac com rapidez pareciam ir por água abaixo.

Suspirei, já tinha passado 1 hora desde o acontecimento, a nuvem negra realmente se dissipava lá no alto e no fundo eu alimentava esperança de que aquilo fosse um bom sinal. Minutos atrás alguns aviões tinham caído, eu vi um avião passar bem próximo ao telhado da casa e logo após ouvi o estrondo ensurdecedor, mas logo os barulhos cessaram, as buzinas pararam, as sirenes deixaram de tocar, os aviões pararam de cair e só podia se ouvir os gemidos e o constante ruído de mastigação. Eu tinha tentado ligar para a minha família, mas o telefone dava fora de área ou desligado, eu não podia ficar muito tempo ali, precisava procurar minha família, eles deviam estar todos em casa preocupados comigo. Eu só podia esperar que o pior não tivesse acontecido.

Suspirei e aceitei o miojo que a garotinha me ofereceu, ela era pequena, lembrava um pouco minha irmã mais nova, tinha uma expressão valente no rosto, mas eu sabia que aquela criança estava tão assustada quanto eu, ainda assim era incrível a calma que ela mantinha naquela situação.

— Será que alguém vem nos salvar? — a garotinha me olhou esperançosa segurando um pequeno urso de pelúcia azul.

— Eu espero que sim. Você tem alguma notícia do seu pai? — perguntei tentando aliviar o clima.

— Ele não vai mais voltar. — a garotinha apertou o urso contra si.

— Como assim? Onde ele tá?

A garota olhou para o alto como se estivesse pensando, apertou mais o urso contra si e de repente olhou em meus olhos. Ali estavam, as lágrimas que teimavam em surgir só para mostrar que ainda éramos seres humanos, fracos e sofrendo em silêncio, enquanto o mundo inteiro desmoronava lá fora.

— Ele pegou um avião um pouco antes das pessoas enlouquecerem. Era uma viagem pra outro país. — a garota baixou a cabeça e enxugou as lágrimas irritada.

Eu entendi tudo, mas preferi não comentar nada, talvez ela ainda tivesse alguma esperança de encontrar o pai, mas eu sabia que era quase impossível. Supondo que o avião não tivesse caído, que ninguém tivesse sido infectado dentro do avião e que ele chegasse a salvo dentro de algumas horas em seu destino, era humanamente impossível que ele conseguisse fazer o percurso de volta, uma vez que os sistemas de comunicação estavam a beira de um colapso e o aeroporto provavelmente estaria infestado.

— Esse urso é bonito. — falei tentando mudar de assunto.

— Papai me deu. O nome dele é Pi, meu pai me entregou antes de sair e disse que o Pi iria me proteger quando ele não tivesse perto. — a garotinha riu pela primeira vez.

Eu pensava na minha família, aquela espera estava me matando, comemos algumas frutas e decidi ir olhar o movimento lá fora. Os zumbis pareciam estar se dispersando e indo para outros lugares, já eram 16 horas, a nuvem realmente tinha sumido do céu, mas iria escurecer em breve e sair a noite seria extremamente perigoso. Sentia uma necessidade imensa de voltar para casa, eu precisava da minha família, precisava da proteção e segurança deles. Não tinha como saber quem estava em casa, talvez eles já tivessem em casa, ultimamente todos tinham medo da tal nuvem negra e todos de casa tinham pegado uma virose, menos eu, por isso eu ainda saia para minhas aulas, "Você é um universitário, você não pode ficar doente" eu costumava repetir para mim mesmo esta frase que ouvira da minha mãe. Torcia para que estivessem em casa, assim poderíamos nos reunir e pensar em algo.

— Minha mãe me deu um beijo antes de eu sair hoje e disse: "Daniel não chegue tarde". Meu coração tá apertado sabe? — desabafei com uma criança. — Eu não gosto da idéia de deixar você sozinha com tudo isso acontecendo, mas eu preciso mesmo ver minha família. — falei rapidamente.

A garotinha me encarou com seus grandes olhos e fitou meus olhos curiosa, talvez procurando algum indício de que eu fosse desistir da idéia e de repente subiu as escadas do corredor e subiu para os quartos. Me encostei na parede e pela primeira vez depois que entrei ali me deixei desabar, chorei como se isso fosse minha única alternativa, me permiti ter um momento de pânico. Eu não era forte, estava com muito medo e estava todo dolorido, diversos arranhões se espalhavam em meu corpo e minha perna direita doía.

— Estou pronta! Você vai levar algo? — Me virei e vi que a garotinha trazia consigo uma bolsa da Peppa, nas mãos estava o urso e vestia uma roupa preta engraçada, parecia uma mini ninja. — É uma fantasia que usei na festa de Halloween da escola. Eu era a ninja zumbi. — que ironia.

— Você não pode ir comigo. Acho que aqui estará mais segura. — falei com calma.

— Minha mãe é um zumbi, não sei onde meu pai está e sou uma criança de 11 anos. Tem certeza que eu estou segura aqui? — ela me encarou zangada.

— Na verdade não existe lugar seguro, mas lá fora pode ser pior. — falei tentando convencê-la.

— Não vou ficar aqui sozinha. Não vou! — a garotinha bateu o pé e vi que seria inútil discutir.

Comecei a arrumar minhas coisas, me livrei do livro e do caderno que estava em minha bolsa, deixei apenas um para que eu pudesse escrever o que acontecia, coloquei alguns alimentos dentro da bolsa e levei duas facas grandes e desliguei o segundo aparelho celular para poupar bateria. Realizei todo o processo de arrumação sendo encarado pela garotinha que enchia uma pequena lancheira com garrafinhas de água e algumas frutas.

— Tudo bem, eu te levo. — falei aquilo já me arrependendo. — Mas você tem que me esperar. Vou lá fora buscar a moto e volto.

— Pra quê moto? Vamos de carro! Papai deixou o carro aqui. — a garota pulou empolgada. — Você sabe dirigir né? — me olhou esperançosa.

Me lembrei da última vez que tinha dirigido um carro, eu estava aprendendo e isso fazia tanto tempo que eu nem lembrava como eu fazia para dar a partida. Olhei para a garotinha que já começava a esboçar uma expressão impaciente.

— Digamos que eu meio que esqueci. — dei um sorriso amarelo diante da cara de desaprovação da garotinha. — Vamos descansar um pouco, saíremos bem cedinho.


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Notas finais do capítulo

Geeeente. A tendência é só piorar. Continuem acompanhando e até a próxima. Isso se nada acontecer :3



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