Nostalgia escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
Saudade


Notas iniciais do capítulo

Um pequeno momento fofinho pra vocês



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O trabalho de Hokage não é fácil. Tsunade soube disso antes mesmo de aceitar aquele cargo, mas o peso que carregava nos ombros, depois da guerra, era simplesmente indescritível e inominável.

Uma coisa era participar de uma guerra como médica ativa, ver seus amigos e companheiros morrerem sem poder fazer nada para remediar.

Outra – ainda pior, se possível – era contar as baixas como Hokage após um embate tão brutal.

Quisera ela que o tempo no hospital redobrasse ou triplicasse. Durante os primeiros dias, fora extremamente requisitada, mas agora não podia fugir de suas obrigações, era fato.

Suspirou. Será que seu avô e o tio-avô tinham passado pelos mesmos pesares? Era tão nova, não conseguia se lembrar. Mas quando fechava os olhos, a imagem de Tobirama com aquela expressão sisuda sempre lhe vinha à mente.

Mas nele era natural, como para Hashirama era natural sorrir lhe trazendo um presente sempre que retornava de alguma nação diferente.

E durante sua infância, enquanto Tobirama estudava para criar novos jutsus, passava horas e horas sentada em seu colo, praticando a arte de desenhar coelhinhos, tão felpudos e fofos como ele próprio com aquele casaco.

Suspirou, afastando as memórias e foi até o fundo falso atrás de uma das extensas prateleiras com livros e pergaminhos. Quando puxou a garrafa de sakê, algo mais veio junto; um pergaminho que se desenrolou junto de uma carta.

O pergaminho, claro, ela reconheceu. Os selos inacabados, o manuscrito ainda falho. E os milhares de desenhos de coelhinhos sobre ele: o primeiro esboço do Kage Bushin no Jutsu.

Sentiu as lágrimas se acumularem no canto dos olhos à lembrança tão viva que tinha com o tio-avô. Tobirama poderia parecer fechado para muitas pessoas, sério demais. Mas com ela, era diferente. Tinha um ar diferente. Não era como o seu avô Hashirama, mas mesmo assim...

Os olhos dela se voltaram para a carta. O que poderia ser aquilo? Um segredo sobre o jutsu? Algum estudo inacabado?

Pegou-se olhando para a carta, sentindo o perfume quase inexistente, mas ainda assim tão característico dele. O mesmo perfume pelo qual sua tia-avó Hime havia se apaixonado.

− Perfume cretino. – Tsunade pegou-se dizendo e rindo, sentando-se com a carta e com o pergaminho em mãos, acariciando a caligrafia doce e saudosa, tão bem rebuscada de Tobirama.

Lembrou-se das horas infindáveis nas quais ele se dedicava aos estudos, por vezes se esquecendo de comer e dormindo em cima dos pergaminhos e das próprias anotações.

Já estava se perguntando se não seria invadir a intimidade dele violar aquela carta, mas que diferença fazia se não estava mais presente?

Aquela era a sua última oportunidade de ter algo inédito de Tobirama.  Uma lembrança que ainda não possuía.

Deu um gole na garrafa de sakê quase esquecida ao seu lado, os olhos passeando pelo envelope de tom creme, envelhecido pelo tempo. Por fim, e sem perder mais tempo, usou o abridor de cartas para não correr riscos.

Havia uma única folhada dobrada em papel branco, um recorte de pergaminho feito para caber especialmente ali.

Foi com surpresa que Tsunade passou os olhos pela carta e viu que ela falava de si.

Minha pequena Tsuna,

Hoje você é nova demais para compreender os pesares da guerra, e gostaria que nunca compreendesse. Às vezes, quando te trago para a biblioteca e te isolo comigo, permitindo que desenhe por horas a fio sobre meus pergaminhos, estou apenas me poupando de toda a violência que já passei e causei, e me preparando para o que ainda virá.

Você é a minha paz em meio a todo banho de sangue do qual já fiz parte.

Viver nessa era em que você nasceu nunca foi fácil, mas espero sinceramente que o futuro te reserve algo melhor.

Sei que meu irmão – seu avô –  luta incansavelmente pela paz em uma utopia de mundo shinobi perfeito, mas não acredito que isso possa existir. Não enquanto nós formos vistos como armas, um exército de soldados criados para matar e morrer por nossas nações.

Espero que suas mãos nunca tenham que se sujar em um ambiente assim, mas sei que você vai seguir os nossos passos e ser shinobi não te poupará de certas escolhas ruins.

Ainda assim, acredito em você. Acredito que as suas mãos não foram feitas para destruir e sim para curar.

Lembra-se quando você me disse que queria ser médica? Que queria curar todos os males do mundo para que seu vovô, eu, vovó Mito e aquela insuportável da irmã dela não tivéssemos mais que lutar? E assim poderíamos todos viver em paz no seu chá da tarde, com doces de mentirinha e suas canções terrivelmente ruins.

Sei que vou sentir falta disso tudo quando esse tempo se for. Espero ver você crescer, mas não sei o que a guerra reserva para nós. Só posso desejar que você fique segura, que nunca se esqueça de seus princípios e que siga o melhor caminho possível.

Sei que você vai ser forte. O sangue Senju corre em suas veias afinal.

Sinto muito orgulho de você, Tsuna, e onde quer que eu esteja, saiba que estarei olhando por você. Amo você.

Coelhinho.

Tsunade não consegue evitar as lágrimas que caem sobre o pergaminho desenhado enquanto segura a carta entre os dedos. O perfume dele ainda está lá. Sua presença ainda está. Tocando o papel, sente como se tocasse seu casaco felpudo novamente.

− Espero que se orgulhe mesmo de mim, Coelhinho. – murmurou baixinho, olhando pela janela. E por um momento, foi como se uma estrela brilhasse mais do que as outras.

Ou talvez fosse apenas a nostalgia que batia mais forte naquela noite cheia de saudades.


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Notas finais do capítulo


Link da história do apelido do Senju Cretino: https://fanfiction.com.br/historia/755432/Coelhinho/

Depois de escrever essa fic, aqueceu meu coração. Queria mais momentos assim dos dois.

Obrigada, nee-chan, porque você me inspirou a escrever com eles!

Até o próximo!



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