O sétimo visconde escrita por Catarina Costa


Capítulo 6
A visita de um amigo


Notas iniciais do capítulo

Quando Anthony recebe a visita de seu melhor amigo. E um convite.



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Simon Basset não costumava ir à casa dos seus amigos. Mas aquela visita era diferente. Seu melhor amigo havia sofrido uma grande perda. E embora a ideia de perder o próprio pai não tirasse seu sono, sabia o quanto Anthony amava Edmund. Por isso, contrariando seus hábitos e convicções, bateu à porta da Casa Bridgerton.

Por pouco, não riu quando o mordomo, com um ar grave, disse que iria anunciar sua presença ao Visconde Bridgerton. Simon tinha um título de cortesia, era o Conde de Clyvedon, mas ainda não havia entrado para valer no mundo do qual Anthony agora fazia parte. Nem fazia questão de herdar o título do pai e se tornar o Duque de Hastings. Se pudesse, nunca usaria nada que houvesse passado pelas mãos dele.

Atravessou o hall de entrada sem perceber que, de uma porta entreaberta, uma menina de grandes olhos castanhos observou-o passar.

Sentada no sofá, tentando concentrar-se em um bordado, a mãe da menina perguntou:

 —Quem está aí, Daphne?

—Um dos amigos de Anthony, eu acho.

Violet aprovou o fato com um movimento de cabeça.

— Isso é bom. Seu irmão está precisando se distrair um pouco.

—Ele está trabalhando muito.

— Não posso culpá-lo por desejar aprender como tudo funciona antes de ir para Oxford. Espero, porém, que, ao chegar lá, ele consiga relaxar um pouco.

Daphne olhou na direção da porta, pensativa.

— Será que ele também vai para lá?

—Ele quem?

—O amigo.

— Não sei. Talvez. Passe a linha verde, por favor, filha. Preciso fazer umas folhinhas para essa flor.

A menina passou a linha para a mãe com um sorriso.

— A senhora não gosta muito de bordar.

— Não. Mas também preciso ocupar meu tempo, ou vou enlouquecer. Não, esse verde é muito escuro... Vamos experimentar o mais claro. Acho que deixará a manta de Hyacinth mais alegre.

                                                               *             *             *

Quando o mordomo anunciou o nome de seu melhor amigo, Anthony espantou-se. Simon não era esperado; para falar a verdade, julgava que só o veria novamente em Oxford.  Levantou-se de trás da escrivaninha e foi abraçá-lo.

—Clyvedon! O que o traz a Londres?

— Desculpe-me por ter aparecido sem avisar, mas soube de sua perda e eu não podia deixar de apresentar meus pêsames.

Os dois desfizeram o abraço. Lentamente e Anthony fez um gesto para que o amigo sentar-se, perguntando:

— Obrigado. Posso oferecer a você uma bebida?

Simon assentiu e Anthony serviu dois dedos de uísque para cada um deles. Quando se acomodou em uma poltrona em frente, o então Conde de Clyvedon arriscou uma pergunta delicada:

— Como você está? Digo, de verdade.

Anthony ergueu os olhos da bebida devagar.

— Honestamente? È como se tivesse perdido uma parte do meu próprio corpo, como um braço.

Simon apertou os lábios e sacudiu a cabeça, esperando que sua expressão fosse solidária, embora, na verdade, não conseguisse compreender o que isso significava. Nunca havia amado e, a essa altura, já tinha certeza de que não amaria o próprio pai assim.

— Eu sinto muito, Anthony. Não consigo nem imaginar o que é isso. E seus irmãos? Como estão encarando tudo isso?

— Estão sobrevivendo, cada um do seu jeito.

— Pelo menos, eles têm você.

— E minha mãe.

— E ela, como está?

— Devastada. Mas a chegada da minha irmã caçula conseguiu animá-la um pouco, fazê-la voltar à vida. É uma mulher incrível.

— Ela tem muita sorte por poder contar com você.

— Não sei ela concordaria com essa afirmação — foi o comentário amargo de Anthony antes de dar um gole em seu uísque.

— Por que ela não concordaria? Se é que posso perguntar.

— Porque a morte do meu pai alterou a minha posição. Eu agora sou o sétimo Visconde Bridgerton, com todo o poder e as responsabilidades que tenho direito: o título, a fortuna e a família. Acho que vai levar um tempo para ela se habituar a tudo isso. Se é que um dia ela voltará a me olhar do mesmo jeito.

Simon ergueu o copo.

— Tolice! Sua mãe ama você... Embora o motivo seja incompreensível!

Anthony sorriu. Era bom conversar com um amigo depois de dias tão sombrios e difíceis. Adotando um tom mais descontraído, mudou de assunto:

— E então, Clyvedon? Preparado para Oxford?

— E como não? Alfaiate, livros... Já providenciou tudo o que precisa?

— Uma parte.

— Fico feliz que não tenha desistido, Anthony.

— Cheguei a pensar nisso. Mas minha mãe acha que devo terminar minha educação.

—E ela tem razão. Além disso, a nossa matilha ficaria seriamente desfalcada sem você.

Os dois riram, mas Anthony sacudiu a cabeça.

— Não sei se eu...

— Ora, vamos, Anthony! Parece estranho se divertir agora, quando... Bem, quando tudo que aconteceu é ainda tão recente. Mas tenho certeza de que após alguns dias em Oxford você recuperará a antiga forma.

— Eu sou o chefe dessa família agora — observou Anthony, em um tom que, no entanto, já dava margem a certa zombaria — Tenho de dar o exemplo.

— Pois eu lhe digo que ainda é muito cedo para Anthony Bridgerton se aposentar. Aliás, falando nisso, gostaria de comparecer a uma pequena reunião essa noite? Quer dizer, eu não sei quais são as regras do luto, mas creio que não haverá problema. Não será como um baile ou coisa parecida.

—Uma reunião? Na casa de quem?

— Da Condessa Beaumont.

— Não seria a viúva de Francis Beaumont?

— Ela mesma. A mãe dela era espanhola. Por isso, a condessa também é conhecida como a Invencível Armada...

— Apenas por ter mãe espanhola?

— Não exatamente. Também por não ter se deixado seduzir por nenhum homem após a viuvez.

Anthony soltou uma gargalhada.

— Sempre haverá um inglês para derrotar a Invencível Armada.

— Pois acredite se quiser, dizem que até agora a Invencível Armada está invicta! Vamos, Anthony! Haverá música, bom vinho e boas conversas. O que me diz?

Anthony olhou para o fundo do copo, como se a resposta estivesse dentro dele. E a resposta que ouviu de seus próprios lábios o surpreendeu.

— Por que não?

                                                               *             *             *

Não que ele precisasse pedir permissão à mãe para qualquer coisa. Mas Anthony não gostaria de ir a uma festa (uma pequena reunião, lembrou ele), sem a aprovação de Violet. No fundo, estava dividido entre ir ou não e tinha esperanças que, se ela se mostrasse desconfortável em relação à ida dele, talvez pudesse ficar.  Mas a mãe o surpreendeu:

— Acho que seria ótimo!

— Não é inadequado?

Violet cerrou os olhos.

— Desde quando você se preocupa com o que é inadequado? Se há algo que aprendi como sua mãe, é que, no final das contas, você sempre fará o que lhe dá na veneta.

Anthony esboçou um leve sorriso

— Não gostaria de aborrecê-la, caso considerasse inadequado que eu, como chefe da família...

— Vá, Anthony. Se uma parte sua não desejasse ir, você nem teria tocado no assunto. Simplesmente ficaria calado, dando o assunto como encerrado. Portanto, vá e divirta-se um pouco. Afinal, apesar de ser o chefe dessa família, você tem apenas dezoito anos.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: o encontro explosivo de Anthony e Alba, a Condessa Beaumont.



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