O sétimo visconde escrita por Catarina Costa


Capítulo 1
Uma promessa não cumprida


Notas iniciais do capítulo

Em vários trechos da série, é comentado o quanto Anthony se saiu bem em suas inúmeras funções. Mas, dada a sua idade e forma abrupta como seu pai morreu, certamente não deve ter sido tão fácil como parece, como, aliás, ele dá a entender em sua conversa com Kate durante a tempestade em Aubrey Hall. Essa história procura reconstruir o primeiro ano do sétimo Visconde Bridgerton e alguns dos desafios que ele enfrentou.



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Violet não podia deixar de pensar o quanto era irônico que, de todos os seus filhos, justamente aqueles que mais amavam Aubrey Hall não haviam nascido lá. Anthony e Benedict vieram ao mundo na pequena propriedade na qual ela e Edmund foram morar quando se casaram. O pai dele ainda vivia e ostentava o título de quinto Visconde Bridgerton. Se tudo corresse como manda o ciclo da vida, Edmund seria o sexto e seu pequeno Anthony, o sétimo. Enquanto isso não acontecia, as crianças desfrutavam dos dias de visita ao avô, primeiro engatinhando e depois, correndo pela casa e brincando de se esconder.

Anthony amava ir até lá. Tio Hugh colocava-o no cangote (que nem de longe era tão bom quanto o do pai) e o avô não se cansava de contar-lhe histórias sobre seus antepassados. No início, a maioria delas não era um pouco atraente para um garoto tão pequeno, mais interessado em cavaleiros e piratas. Mas conforme ele crescia, uma ou outra façanha de seus antecessores conseguia cativá-lo.

Quando Edmund tornou-se o sexto Visconde Bridgerton, Anthony tinha quatro anos. E a primeira coisa que fez ao colocar os pés em Aubrey Hall, dessa vez para morar, foi procurar pelo avô.

— Ele não está mais aqui, filho — explicou Edmund, com toda paciência. — O vovô está em um lugar melhor.

— Melhor do que Aubrey Hall? —inquiriu Anthony, sem acreditar que pudesse existir lugar na terra que fosse melhor do que a casa e as terras onde estavam agora.

—Tão bom quanto.

—Se era tão bom quanto Aubrey Hall, por que ele foi embora?

Edmund coçou a testa. Não fazia sentido discutir com Anthony ou mesmo tentar enrolá-lo. Quase sempre era uma batalha perdida.

— Porque... Porque era hora de ele partir.

— Jeremy disse que o vovô morreu.

Violet franziu as sobrancelhas para o marido, que explicou rapidamente:

— Cavalariço. Trabalha nos estábulos.

— Sim, é claro... — assentiu Violet, agachando-se para falar com o filho. — O papai e o Jeremy estavam falando a mesma coisa com palavras diferentes, Anthony. O vovô morreu. Ele partiu, por isso que nós não o veremos mais aqui, mas sempre nos lembraremos dele com carinho.

O menino processou as informações com a rapidez que lhe era característica, aparecendo com outra pergunta.

—Isso quer dizer que não existe mais um Visconde Bridgerton?

— Não, filho — esclareceu o pai, desmanchando seus cabelos com ternura. — O Visconde agora sou eu. Um dia, será você.

— Quando?

— Falta muito tempo.

— Você tem de morrer, como o vovô, para eu virar visconde?

—Eu... É...

— Se for assim, eu não quero ser visconde — declarou o menino, de maneira resoluta.

— Isso vai levar muito tempo, filho — interferiu Violet. — Do jeito que seu pai é novo e forte, você só será um visconde quando já estiver muito velhinho e enrugado.

Um esboço de esperança passou pelo rosto do menino. A ideia de que o pai teria de morrer, como o avô, para que ele se tornasse um visconde, lhe revirava o estômago e fazia com que a garganta doesse, como se ele estivesse com vontade de chorar.

— Promete, mamãe?

— Prometo.

—Mesmo assim, eu não sei se quero.

— Pois acho que tenho a solução para esse impasse — contemporizou Edmund, pegando o filho no colo. — Quando eu for um visconde bem velhinho e enrugado...

— Como uma ameixa?

Edmund não pode deixar de soltar uma risada.

— Sim, como uma ameixa! Eu então chamarei você me ajudar. Seremos dois viscondes, o velho e o novo.

A expressão de Anthony se iluminou.

— Pode ter dois ao mesmo tempo?

— Daremos um jeito. Você me ajudaria em minhas tarefas?

A resposta foi um abraço apertado transbordando de afeto, admiração e tudo mais que cabia em um abraço de um menino de quatro anos louco pelo pai.

— É claro, papai! É claro que eu ajudaria. Vou trabalhar junto com você!

Tudo isso passou pela cabeça de Violet quando, catorze anos depois, sua cunhada mais velha, conhecida como Billie, entrou em seu quarto. Trajava luto, como ela. E trazia a notícia que a Viscondessa esperava que nunca fosse ouvir enquanto vivesse.

— Agora é oficial, Violet. Anthony tornou-se o sétimo Visconde Bridgerton.

O bebê por nascer, já bem pesado, deu uma série de chutes na barriga de Violet, refletindo sua própria inquietação. Ela estava preocupada. Seu filho mais velho tinha apenas dezoito anos e todo um mundo para descobrir. Quando Edmund tornou-se visconde, era jovem, mas nem tanto assim. Já havia terminado seus estudos. Tinha uma esposa. Dois filhos. Anthony não estava nem perto disso.

—Ele não estava pronto, Billie.

Billie suspirou.

— E quem estava?

— Você não entende. Anthony não esperava que isso acontecesse tão cedo. Ouso dizer que ele nem queria o título, a não ser que pudesse herdá-lo do pai ainda em vida e aliviá-lo dos seus deveres.

—Entendo. Mas, em nosso mundo, um primogênito de um aristocrata nunca tem escolha.

Os olhos de Violet encheram-se de lágrimas.

— Eu prometi a Anthony, tempos atrás, que ele só se tornaria um visconde quando estivesse bem velhinho e enrugado.

Billie sacudiu a cabeça.

—Nunca faça promessas que não dependam de você para serem cumpridas.

—Hoje eu sei disso. Mas, naquela ocasião, me pareceu ser a única forma de apaziguar seu coração.

— No entanto, a realidade é que Anthony acaba de se tornar o mais jovem Visconde Bridgerton de nossa linhagem. E se ele não estava pronto para isso, que Deus ajude vocês.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso... No segundo capítulo, saberemos um pouco mais como Anthony se sentiu em relação a isso. E como Violet reagiu ao ver o filho tomar o lugar do pai.



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