O amor abençoado pelo Nilo escrita por kagomechan


Capítulo 27
Incomparável


Notas iniciais do capítulo

como sempre, demorou mas saiu o cap novo ♥



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Sadie podia até ter saído do quarto deixando Anúbis com ordens bem específicas de ir descansar, mas isso era uma coisa que ele simplesmente não conseguia ficar calmo o suficiente no momento para fazer. Sua cabeça estava pensando em mil coisas diferentes que lhe impediam de simplesmente relaxar na cama e dormir. Assim, ele se levantou e começou a andar pela casa procurando por Sadie. Passou por alguns aprendizes ocupados estudando ou se divertindo até encontrar Sadie na biblioteca junto com Bastet

Ele entrou tranquilamente na biblioteca notando que Sadie estava sentada em uma das cadeiras enquanto Bastet procurava algo pelas estantes. A deusa gata lançou um breve olhar para Anúbis quando ele entrou mas voltou a fazer o que fazia logo em seguida enquanto Sadie falava:

— Talvez algum papiro sobre esconder coisas? - perguntou Sadie - Coisas não tão tocáveis… Tipo… o ka? ou o ba? acho que o feitiço do bracelete tem algo a ver com isso.

— Esconder um objeto é uma coisa… mas esconder um ka ou um ba? - questionou Bastet soltando um suspiro - Não sei… 

— Não acho que seja simplesmente esconder o ka ou o ba, porquê isso em si já é bem complicado. - opinou Anúbis entendendo o rumo da conversa - Hórus estava sempre de olho nos mortais e mesmo assim só décadas depois que percebeu que tinha algo de diferente com Imhotep. Ele teria notado um humano sem ka.

Ao ouvir a voz dele, Sadie se virou para poder ver ele entrando na biblioteca e para encarar ele com uma expressão de que já anunciava uma bronca chegando.

— Você não deveria estar descansando? - perguntou Sadie.

— Você também deveria e aqui está você. - respondeu ele indo até ela e sentando-se displicentemente na mesa que ela usava para juntar os papiros de sua pesquisa por mais que até agora apenas um tenha sido digno o suficiente de estar ali.

— Eu estou bem. - respondeu ela - Você que usou mais magia. Aposto que nem tem o suficiente pra sair daqui e surgir no quarto do nada.

Anúbis preferiu não responder a aposta feita pela esposa e simplesmente olhou para Bastet e para a porta num pedido silencioso de que queria falar a sós com Sadie. De início, Bastet não gostou muito de ter sido expulsa da biblioteca. Ficou encarando Anúbis com uma expressão levemente irritada e as mãos na cintura mostrando bem o descontentamento. 

— Tem alguma coisa que vocês conseguem fazer juntos sem ficar nem sequer trocando esses olhares de irritados? Nossa, acho incrível como vocês não se mataram nunca… vocês não se mataram nunca né? - perguntou Sadie ao notar o que estava acontecendo ali.

— Não. - respondeu Bastet indo até a porta à contra gosto.

Depois que Bastet saiu, Sadie ficou encarando Anúbis com um olhar de curiosidade esperando ele falar o motivo de tudo aquilo. Mas, quando ele soltou um suspiro e desviou o olhar com uma expressão pensativa no rosto, Sadie notou que teria que dar um incentivo a mais para ele falar o que passava pela sua mente e tentava, em vão, botar em palavras.

— Então… - disse Sadie - O que exatamente Bastet não pode ouvir? Está pensando em plantar erva-de-gato?

— Não. - disse Anúbis achando levemente graça da ideia - Embora aposto que ela iria adorar. Principalmente se acabar atraindo um monte de gatos até aqui.

— Então o que é? - perguntou ela.

— Estava pensando sobre algumas coisas que você viu nas memórias… - disse ele inseguro como falar sobre aquilo.

— Bem, a esse ponto acho que posso dizer que te conheço bem o suficiente para entender que você não está falando sobre tudo relacionado ao bracelete, magias, Imhotep e etc, certo? - perguntou ela.

— Certo. - respondeu ele - Bem… é sobre Anput…

— Imaginei que fosse. - respondeu Sadie - Não falaram nomes no pouco que vi mas, deduzi que deveria ser ela. A garota que estava com você na construção da pirâmide de Djoser, né? 

— Sim. - confirmou Anúbis - E… bem… não sei nem bem o que quero perguntar. Acho que… se você está bem. Emocionalmente falando.

— Acho que sim… - respondeu sadie - Bem… é estranho porque, por um lado, quase todo mundo tem ex-namorados ou ex-namoradas. Nada muito de anormal nisso. Especialmente considerando que o que vi foram dois adolescentes e… bem… nós não somos mais adolescentes. Mas…

— Mas… ? - perguntou Anúbis quando Sadie deixou a continuação de sua fala perdida no ar por alguns segundos.

— Mas… - continuou ela - Não estamos falando de um namoro, ou até um primeiro casamento, que durou alguns anos. Estamos falando de um casamento que durou literalmente milhares de anos. E isso é um número que nem se eu entrar no livro dos recordes como pessoa mais velha viva eu vou conseguir alcançar. Nem mesmo a metade.  E… eu fico pensando nisso às vezes quando tocamos no assunto dela sabe? Vocês viveram tantas coisas juntos e… eu sei que não deveria ser uma competição, mas é como eu me sinto às vezes.

— Não é uma competição. - concordou Anúbis pegando a mão dela gentilmente e acariciando-a com ambas as mãos - Nenhum de nós dois vai ter mais centenas de anos pela frente, mas isso não significa que não iremos, e estamos inclusive, criar nossas próprias memórias.

— Mas… não importa o quanto aproveitamos a vida… não vai ser o mesmo tanto que você viveu com ela. - disse Sadie - Eu fico com inveja às vezes. Por mais errado que isso possa ser. E me sinto mal por isso também inclusive. Por sentir essa inveja. E… droga… vocês viveram coisas que nem posso tentar reproduzir… vocês viram as pirâmides sendo construídas! A esfinge! Viram a Grécia Antiga quando era novinha em folha também né? E… o que mais? Foram para as Antigas Olimpíadas também? Viram uma luta de gladiadores no coliseu? Como vou sequer tentar reproduzir algo do tipo? Algo tão historicamente importante!

— Bem… na verdade sim, fomos… - admitiu ele suspirando - Se é uma olimpíada que quer, podemos ir assistir uma das Olimpíadas modernas. Além do mais, não faz sentido querer reproduzir o que vivi com Anput. Você não é ela. Você é a Sadie. São pessoas completamente diferentes, de histórias completamente diferentes que gostam de fazer coisas diferentes e tem opiniões e pensamentos diferentes. Não precisamos tentar imitar o que vivi com Anput e nem é isso que quero também. Quero criar memórias com a mulher que amo, e essa mulher e você. Independente de que memórias são. Não precisamos ver uma civilização antiga em seu auge para isso. É um novo século, com coisas novas para fazer. Eu prefiro bem mais ir ver um filme no cinema com você do que ver outra luta de gladiadores no coliseu.

— O deus da morte tem nojinho de sangue de verdade e prefere o de hollywood? - perguntou Sadie em tom de brincadeira apesar de ter gostado muito de ouvir aquelas palavras.

— Com o tanto de múmia que já fiz e sendo o processo de mumificação indiscutivelmente um tanto nojento, creio que não preciso responder essa pergunta pois sabe bem a resposta. - respondeu ele - Mas, o que quero também dizer é, temos diante de nós oportunidades de coisas que nunca que eu teria tantos séculos atrás. Para você podem parecer coisas irrelevantes até, do cotidiano, mas muitas das coisas que fazíamos tantos séculos atrás também eram e hoje os historiadores se descabelam, estudam desesperadamente e escavam por toda parte tentando entender mais como era a vida naquela época.

— Uma entrevista com você e acabou o trabalho dos egiptólogos. - brinco ela soltando uma risada - Nenhum deus já quis sair contando pros humanos essas coisas não?

— A metade se diverte em ver as tentativas. - admitiu ele - Outra metade não dá a mínima. E, no final das contas, todos concordam que deveriam se virar sem tantas influências externas.

Nesse ponto, Sadie se levantou da cadeira em que sentava enquanto, lá no fundo de sua mente, numa parte do pensamento alheia à toda aquela conversa, ela notava como sentar e levantar de cadeiras ficava cada vez mais complicado conforme sua barriga não parava de crescer. 

Além disso, Anúbis viu ali sua deixa para sair de cima da mesa. Em seguida, Sadie lhe deu um pequeno sorriso e o abraçou ternamente sentindo o coração mais leve com toda aquela conversa.

— Você é fofo demais se preocupando comigo por causa de tudo isso. - disse ela - E obrigada também apesar de eu ainda não aceitar muito que uma ida ao cinema e coisas do tipo tenha mais impacto do que ver uma luta de gladiadores de verdades ou qualquer coisa antiga dessas.

— Os tempos são diferentes. - respondeu Anúbis - Eu vivi bem mais do que o Egito Antigo tinha para oferecer do que o mundo que você conhece tem a oferecer. Não vou fingir que não sinto saudades, mas são sensações diferentes. Eu gosto da surpresa que eu tenho quando vejo algo novo e, mesmo eu já estando bem mais atualizado…

— Está mesmo. - disse ela rindo e se soltando do abraço para olhar para ele - Mas ainda acho meio engraçado ver você mexendo num computador.

— Enfim… - disse ele revirando o olhar mas com um sorriso no rosto - Como eu ia dizendo… mesmo eu já estando bem mais atualizado, neste século as coisas se atualizam muito rápido. É incrível. Mas, independente do que estivermos fazendo, passar tempo com você é o mais especial para mim.

Sadie abriu um sorriso maior com o rosto todo corado e sentiu os olhos enxerem de lágrimas que não podia controlar e que não sabia porque estava chorando já que nem era nada de chorar. Sua explicação só tinha uma então, hormônios.

— Que fala clichê. - respondeu ela com uma risada.

Sadie segurou o rosto dele delicadamente e se aproximou dando-lhe um doce beijo nos lábios. Breve, mais doce o suficiente para que o carinho do ato pudesse ser sentido até o fundo do coração. Quando se afastaram, eles ficaram presos no olhar um do outro enquanto Anúbis levantou sua mão direita para acariciar a bochecha de Sadie.

— Clichê, mas eu gostei. - disse ela.

— Essa era a intenção. - respondeu ele.

— Aliás, mudando completamente de assunto… - disse Sadie - Acho que já sei qual dos nomes que você sugeriu é meu favorito. 

— Qual? - perguntou ele limpando as lágrimas que tinham saído dos olhos dela.

— Aya. Que tal? - perguntou ela - Simples, tem uma sonoridade bonita… 

— Eu gostei. - respondeu ele com um sorriso depositando um beijo no topo da testa dela.

— Acha que já posso contar pro Carter e pros meus avós a escolha de nome então? - perguntou Sadie com um sorriso.

— Você quem decide. - respondeu Anúbis - Se achar que não vai acabar mudando…

— Aí eu conto de novo. - respondeu Sadie soltando uma risada - Vamos lá comer algo e ir logo pra cama. Vou mandar mensagem pra eles e aí podemos descansar. Os dois já que você também está pegando no meu pé. Até porque não estamos só focados nisso, temos ainda que trabalhar também.

O suspiro pesado de Sadie foi o suficiente para provar para Anúbis que ela não estava gostando tanto assim de trabalhar. O que foi estranho para ele. Ela gostava do trabalho normal e comum dela.

— Está acontecendo algo no trabalho? - perguntou ele.

— Além de todos já terem percebido Bastet lá toda hora me perseguindo sempre de algum jeito apesar de acharem que é só um gato de rua comum e aí ficarem o dia inteiro dando comida pra ela ou fazendo carinho nela? O que é até engraçado… admito… - disse Sadie - Bem, o trabalho em si está normal. O problema é que Clare começou a trabalhar antes de ontem no andar de cima numa outra empresa.

— Porquê não me contou? - perguntou ele - Ela ainda não está falando com você?

— Fiquei focada e empolgada demais com a ideia de montar o berço e tudo mais. Acabei esquecendo. Mas agora que já estou pensando em como mais uma semana está vindo… não consigo deixar de pensar nisso agora… Acho que foi mesmo demais para ela toda a revelação de deuses egípcios e tudo mais.

— Podemos arrumar um feitiço fácil para ela esquecer essas coisas. - sugeriu Anúbis.

— Não quero mentir para ela. E isso é injusto. - respondeu ela - De toda forma, vamos deixar isso para lá. Ignorar isso um pouco. Vamos fingir que tudo está bem, comer e ir para a cama.

E foi isso que eles fizeram. Os dois comeram um macarrão à bolonhesa feito com molho pronto acompanhado de um bom suco de laranja, viram um pouco de TV (à muito custo para Anúbis que estava exausto) e então foram para cama. Enquanto Anúbis se rendeu ao cansaço pela falta de magia, Sadie ficou no celular teclando empolgadas mensagens para Carter e os avós contando sobre a escolha de nome. Não demorou muito para Carter começar um longo debate sobre como ele achava que tinha uma rainha egípcia não tão famosa que havia tido esse mesmo nome. 

[ Carter (20:45) : Acho que foi uma rainha da 13ª dinastia. O nome não me é estranho mas não lembro de quem era o faraó com o qual ela foi casada. Se é que tem um consenso nisso. O que é esperado da 13ª dinastia. Foi um período de declínio com muitos faraós reinando por pouco tempo ]

[ Sadie (20:47) : Nerd ]

[ Carter (20:48) : Sabe que seu marido sabe tudo isso também e muito mais que eu. Pq não chama ele de nerd também? ]

[ Sadie (20:49) : Pq é diferente ]

[ Carter (20:59) : ei. me ajuda numa coisa? ]

[ Sadie (21:00) : oq?]

[ Carter (21:05) : queria uma segunda opinião para ver se minha ideia de pedido de casamento pra Zia tá boa. ]

[ Sadie (21:05) : OMG! É SÉRIO ISSO?! VAI FINALMENTE PEDIR ELA EM CASAMENTO?! ] 

[ Carter (21:06) : Sabia que ia falar algo assim…]

[ Carter (21:06) : Mas sim… vou… ]

[ Sadie (21:07) : Quais são seus planos então, maninho?]

A empolgação dos dois irmãos deu então uma sequência de conversa de várias fotos enviadas, dicas e perguntas que Carter ficou muito feliz em poder fazer. Estava realmente achando precisar de uma opinião feminina sobre sua ideia por mais que Sadie fosse bem diferente de Zia. 

Eles tinham pensado em esperar um pouco mais, mas era difícil não ficar com inveja e com vontade de se casar ao ver os amigos se casando ao seu redor. A próxima festa seria de Will e Nico, quem sabe qual seria a seguinte.

 


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