O princípio do fim escrita por Sayuri


Capítulo 3
Capítulo 3




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Bonga Kuenda está observando as telas enquanto relembra um dos primeiros encontros que teve com Karl-Erik. Um jovem que falava de forma apaixonada dos seus ideais. De como ele mudaria o mundo e a visão das pessoas.

“A humanidade é obcecada com o fim do mundo: catástrofes naturais, meteoros, epidemias, guerras, qualquer coisa que a leve à autodestruição. Embora obcecados pelo fim, a humanidade é ainda mais obcecada pela sobrevivência, pelo desejo de superar a morte, em ser capaz de superar qualquer desastre que lhe sobrevenha.

Durante séculos, a humanidade persistiu, se adaptou, lutou pela sua sobrevivência, se tornou forte e capaz a cada tragédia superada. Porém isto gerou indivíduos frios e calculistas, autossuficientes, rancorosos e vingativos que precisavam ser lembrados dos verdadeiros valores a ser preservados a qualquer custo.”

A solução de Erik parecia mais uma obsessão de um louco do que os ideais de um revolucionário. Erik acreditava que a humanidade precisava de um apocalipse zumbi. Que um apocalipse zumbi nos tornaria mais humanos. As pessoas valorizaram mais seus familiares e amigos, nada de crianças e adolescentes mimados e rebeldes. Haveria menos procrastinações e futilidades, pois cada dia seria uma conquista. Seria o fim do desperdício, já que isto seria como cavar a própria cova. E daria uma razão para viver, seja para encontrar um amor antigo, um familiar perdido, voltar à cidade natal ou simplesmente sobreviver.

Bonga não ligava para esta baboseira idealista. Seu objetivo era outro.

Como cinéfilo convicto, Bonga viu centenas de filmes e fez críticas de dezenas de obras cinematográficas. Esta era sua profissão até ele perceber que os filmes tinham perdido a emoção, que traziam apenas histórias vazias. Era na vida real que estava o que ele buscava: o filme perfeito.

Como um bom diretor, ele guiava os protagonistas nas suas tramas pessoais, enquanto assistia nos bastidores da sua sala. Apesar de tantos protagonistas passarem pelas suas telas, Karl-Erik era especial.

Bonga pegou mais uma bala de caramelo enquanto olhava a tela principal. O alarme havia soado e todos sabiam que algo estava muito errado quando o sistema de segurança de todo o complexo se ativou.

Erik dizia que haveria indivíduos que seriam imunes ao efeito da bactéria que ele aplicaria. Por isto, não haveria necessidade de uma vacina, este seria o modo como a humanidade sobreviveria. A chance de Anna ser um desses indivíduos era remota, Erik sabia. Ele esmurrava em vão a porta de vidro, gritando para o vazio, impotente, como se esta vã tentativa pudesse de algum modo salvá-la.

Neste mesmo instante, as bactérias no 3º andar se alimentavam de seus novos hospedeiros, levando-os a dores alucinantes e fazendo-os perder a consciência e o movimento de seus membros.

— Meu caro Erik, esta foi uma produção digna de Oscar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado da leitura.



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