Clubinho Amoroso escrita por Sadie Ketchum Potter


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá!!

Faz quase dois anos que não publico nada aqui, mas vou arriscar ;-)

Boa leitura chuchus!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/755750/chapter/1

Já era quase meio dia e meio, a maioria dos alunos no Colégio Limoeiro encontrava-se em suas salas de aula na ansiedade para irem embora em direção às suas casas. Mônica, assim como Magali, Cascão e Cebolinha, anotava a matéria de História necessária para o trabalho que realizariam na semana que vem.

Tinham agora treze anos, estavam no sétimo ano e haviam crescido, Mônica e Magali ganharam seios protuberantes, o cabelo da primeira estava no queixo e seu corpo já deixara de ser rechonchudo, enquanto que Cebolinha parou de falar “elado”, ganhara mais de cinco fios em sua cabeça, a voz estava mudando gradativamente assim como a de Cascão.

Muita coisa aconteceu desde que estavam no segundo ano do fundamental, Mônica voltou para a escola no terceiro ano e desde então continuaram grudados, nas férias do final daquele mesmo ano o clubinho estava pronto mais uma vez, com as meninas sendo membras (e as únicas) e frequentes encontros por lá.

O sinal soou por toda a escola, os alunos sorriram largo e foram andando em direção à porta sem fazer tumulto. Mônica e Magali conversavam sobre o namoro da segunda e de Quinzinho, que ia muito bem, assim como Cascão e Maria Cascuda.

— Então, vai passar em casa hoje? – Questionou a mais forte.

— Não vai dar amiga, vou sair com o Quinzinho depois da escola...

— Cascão, não se esquece de passar no clubinho depois do almoço, precisamos decidir algumas coisas!

— Ih Careca, não dá não, a Cascuda e eu vamos nos encontrar, assistir Homem-Aranha no cinema...  – Respondeu o sujinho para o amigo. Sujinho era só apelido agora, Cascão finalmente perdera o medo da água e tomava banho.

Os quatro continuaram andando, se separaram ao terem que ir para suas respectivas casas. Por serem quase vizinhos, Mônica e Cebola acabaram indo para o mesmo lugar, sem se falarem muito. Não era um silêncio incômodo, mas algo calmo, confortável e de certa forma prazeroso. Enquanto caminhavam, não notaram que suas mãos e corpos se aproximavam, o braço dela roçava de leve no braço dele, e depois de algum tempo as mãos se encontraram e se entrelaçaram.

Ela chegou em casa antes do amigo, se despediu com um beijo de bochecha com bochecha e entrou no portão baixo que separava sua casa da calçada. Cebola ficou observando a amiga andar e sentiu seu coração doer um pouco. Estranhou a sensação, mas não se importou, continuou seu caminho até chegar em casa, entrou na residência e cumprimentou sua mãe, que cozinhava o almoço para ele e sua irmã Maria Cebolinha (Mariazinha). A pequena tinha agora sete anos, e não parava de aprontar como o irmão mais velho fora naquela idade.

— Filho, e o Cascão?

— Vai sair com a Cascuda... – Ele falou murmurando. – É um saco, mas vou fazer o que? Ele é meu melhor amigo e tenho que apoiar né?

— Você devia arrumar uma namorada, sabia? – Mariazinha respondeu. – Que tal a Mônica?

O garoto se engasgou com um pedaço de bife à milanesa ao ouvir aquilo. Sua irmã mais nova só podia estar enlouquecendo, em sua cabeça ele e Mônica nunca combinaram, eram praticamente rivais na infância (claro que tinham seus momentos de amizade, como quando ela o defendia de Tonhão ou quando foram procurar o Floquinho). Cebola simplesmente encarou Maria Cebolinha com uma expressão indignada, revirou os olhos e continuou a comer seu almoço.

Assim que acabou com sua comida, colocou o prato na pia e subiu para seu quarto, iria estudar um pouco e depois pensaria no que fazer durante a tarde. Conhecia seu amigo sujinho, sabia que o resto da tarde seria passado com sua namorada. Adorava ver os dois juntos, claro, porém às vezes batia um ciúmes pequeno, como se tivesse sido substituído. Bem, não deveria encucar sua mente com aquilo, colocou o caderno sobre sua prancheta e começou a anotar algumas coisas que pensou serem úteis, estudava todo dia por quase uma hora e meia (e isto incluía os deveres de casa).

Ele, mesmo tentando se concentrar a todo o momento, não parava de pensar no que Mariazinha havia dito, ou melhor, não parava de pensar na melhor amiga. Confessava para si mesmo que Mônica não saia de sua cabeça há alguns meses, e no fundo sentia que não era algo ruim, entretanto não arriscaria nada. Passada a uma hora e meia (de tentativa) de estudo resolveu ir para o quintal, encarou o clubinho que ficava na árvore nos fundos de sua casa, deu de ombros e subiu a escada, em seguida chamou Floquinho para subi-lo também.

— É, preciso de fazer uma faxina... – Cebola murmurou para si mesmo, encarando os inúmeros gibis espalhados pelo chão, junto de antigos planos infalíveis, bichos de pelúcia e brinquedos (alguns até das meninas e de sua irmã menor).

O jovem começou a recolher gibis antigos do Capitão Pitoco e do Ursinho Bilu, deixou-os em ordem e os colocou em uma pequena cestinha que sua mãe montara quando tinha sete anos, ajeitou os bichos de pelúcia em alguns cantos e deixou os planos em outro pedaço, sentou em uma das almofadas e bufou, pensando no que poderia fazer.

Seus olhos foram guiados até dois pequenos papéis em meio aos planos, andou calmamente até eles e viu que eram os cartões para mostrar que faziam parte do clube. Era o dele e o de Cascão, deu uma risada baixa ao vê-los e os guardou no bolso com muito cuidado, já estavam bem frágeis por conta dos anos.

— Faço parte desse clube, posso entrar? – Uma voz feminina e muito familiar soou pelo lugar.

— Sabe que não precisa mais disso, né Mô? – Cebola respondeu, rindo da amiga.

Ela entrou no clubinho e ficou impressionada com o lugar completamente arrumado, parabenizou-o e sentou em uma das almofadas, próxima do amigo de infância.

— Como soube que eu ia estar aqui?

— Ora, aqui era seu lugar favorito pra ficar sozinho, e como eu também estava só resolvi fazer companhia... – A dentucinha olhou em volta e sorriu de lado. – Sabe, às vezes sinto falta da Magá, mas aí penso que o Quim está a deixando feliz, então eu simplesmente esqueço desse ciúmes bobo.

— Eu também fico com ciúmes do Cascão e da Cascuda, mas vou fazer o que? Só dá pra apoiar, ele é meu melhor amigo. – Cebola deu de ombros.

Ficaram em silêncio após a breve conversa, a garota encarou os gibis e pegou um para ler, e o menino fez o mesmo. Notou que sua amiga se mantinha compenetrada na leitura, estranhou pelo fato de que Mônica nunca fora fã de gibis e figurinhas do Capitão Pitoco, não imaginou que ela fosse se interessar em tal leitura.

Cebola olhou o céu pela janela da casinha de madeira, um sol forte se fazia presente naquela tarde, nenhuma nuvem no céu azul onde ele viu um avião passar. Deu um suspiro, o que ele e Mônica poderiam fazer? Ficar apenas lendo gibis? Mas e as conversas?

Notou que seu coração acelerou ao perceber que estava sozinho com a garota. Nunca ficara tão ansioso, pelo menos não se recordava. Olhou a amiga de canto e viu que a mesma estava quase terminando de ler, decidiu que devia conversar mais com ela, talvez até trazer um lanche da tarde (apesar dela não ser a Magali). A dentucinha pousou o gibi sobre a caixa que continha outros, estava prestes a pegar outro, porém fitou Cebola na janela e resolveu se juntar a ele.

— O que tá fazendo?

— Pensando, só isso... – O garoto disse, colocando os braços na madeira e encostando o queixo neles. – É estranho pensar que temos treze anos e já somos quase adolescentes, né?

 Mônica assentiu, balançando sua cabeça positivamente e sorrindo.

Aquele sorriso pareceu preencher algo no coração de Cebola, esse “algo” ainda era incompreensível para ele, até mesmo para ela, mas quem sabe um dia não entenderiam?

— Sabe, de vez em quando sinto falta de ser criança, apesar de que você sempre queria roubar meu Sansão! – Ela falou, cutucando a ponta do nariz dele com seu dedo indicador.

— Ora, alguém precisava dar um jeito no encardido... – Após isso o garoto pegou na mão dela sem perceber, acariciando as costas com o polegar.

A menina engoliu em seco, porém não retirou sua mão, continuou daquele mesmo jeito, aproveitando o carinho que recebera, tão raro, mas tão bom. Ele ficou quieto, com um sorriso e olhando a vista, no fundo desejando que aquele silêncio permanecesse por mais tempo possível, era muito reconfortante, e apenas com Mônica era assim.

Os dois se entreolharam, perceberam o brilho nos olhos de cada um e se sentiam confortáveis. O mundo parecia ter congelado, apenas eles se movimentavam, cada vez mais próximos, os olhos fechando devagar e os lábios aos poucos tentavam se chocar. Não demorou para o encontro acontecer, calmo, sereno, doce, e delicado como uma flor que desabrocha. Permaneceram naquele selinho por alguns segundos até Cebola pedir passagem para sua língua explorar a boca de Mônica, logicamente ela permitiu e sentiu a língua áspera, porém macia, dele. A sensação de estarem nas nuvens era maravilhosa, não queriam sair de lá, adoravam o gosto da boca um do outro. Infelizmente o ar se fez preciso, separaram-se devagar e abriram os olhos. Rostos ruborizados, parecendo pimentas, era o que havia naquele clubinho que há anos não recebia visitas além do garoto.

Mônica colocou a mão no peito, o coração estava acelerado como nunca, sentia as bochechas arderem, era como se pegassem fogo. Cebola não estava diferente, na realidade estava como a amiga, e evitava encará-la de tanta vergonha. Foi seu primeiro beijo e não sabia se fora bem ou mal. Ele olhava para o céu azul que começava a ficar menos claro, o sol aos poucos ia diminuindo sua força e algumas nuvens brancas e finas deram o ar de sua graça. Sol, céu e nuvens, as testemunhas daquele ato de amor tímido.

— Deve estar tarde... – A menina comentou, sorrindo de canto e ainda ruborizada. – Minha mãe disse que eu tenho que voltar lá pelas cinco pra visitar uma tia com ela...

— Certo... – Ele riu baixo e sem graça, pegou na mão dela e a beijou.

— Até amanhã!

Mônica estava na entrada quando Cebola a chamou por um momento.

— O que achou do beijo?

— Sinceramente? – O garoto balançou a cabeça. – Eu amei... Muito obrigada!

A garota beijou a bochecha dele e desceu a escadinha, indo embora e deixando-o lá, plantado com cara de bobo apaixonado. Cebola passou o resto da tarde no clubinho, cantando She Loves You dos Beatles, a felicidade em sua alma implorava para ser clamada aos quatro cantos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Clubinho Amoroso" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.