A Latere escrita por KL, Juh11


Capítulo 2
Capitulo 2


Notas iniciais do capítulo

Juh: Bem vindo a mais um capítulo de A Latere! Eu estou bem empolgada com essa fic.
Temos uma boa e uma má notícia. A boa é que o capítulo está maravilhoso e enorme. A má, é que ainda não cumprimos o desafio do mês. (Talvez vocês considerem como bom um capítulo extra hahaha).
Esse capítulo é bem importante para o desenvolvimento da fic, então leiam ele com bastante atenção.
Espero que gostem ^^

KL: A Juh disse tudo hauhau'
Só tenho a acrescentar que nesse capitulo nós temos algo que para quem acompanhou PJ é algo comum: Uma profecia (que vai estar em italico no texto). Nao se assustem vocês que não conhecem a obra, profecias são para serem confusas mesmo HUAHUA' Espero que gostem e deixem um comentario!

Qualquer duvida, consultem o glossario nas notas finais ou mandem para gente!



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Shikamaru POV

Depois da confusão com as quimeras, a maioria dos campistas voltou diretamente para seus chalés, sem disposição para terminar o jantar. Os chalés eram construções bonitas, porém não harmônicas, distribuídas em forma de U no centro do acampamento, com uma ou outra construção fugindo da formação, todos numerados. Cada deus e deusa tinha seu próprio chalé e nós éramos separados de acordo com quem era nosso pai ou mãe, morando no chalé correspondente com nossos meios-irmãos.

Meu chalé não era particularmente lotado como o de Hermes, que como um deus viajante tinha muitos filhos e recebia os campistas cujo o pai ou mãe não havia sido ainda determinado. Os deuses tinham uma pequena dificuldade as vezes de lembrar de seus filhos e alguns campistas demoravam alguns anos até ser reclamado por seu pai ou mãe. Eu não tinha tido esse problema, a maioria dos filhos de Athena não tinha. Meu pai sabia quem ela era e me contou a verdade quando me botou em um taxi junto com um sátiro para o acampamento em um dia particularmente difícil de nossas não tão fáceis vidas, quando cheguei no acampamento, mesmo sabendo a verdade, Athena me reclamou.

Estava quase chegando no chalé que era minha casa durante os verões e no último ano completo. Eu costumava passar apenas os verões no Acampamento desde os meus doze anos, ficando o resto do ano letivo na minha casa com meu pai e minha madrasta que eu tinha como mãe. Mas, desde que a barreira se enfraquecera tanto, todos os campistas que tinham disponibilidade para tal vieram defender o acampamento.

Se não fossem meus sentidos aguçados, eu teria tido um sobressalto quando Naruto surgiu a minha direita, correndo.

—Shikamaru! –ele chamou com sua voz escandalosa, parando a minha frente.

Naruto era um garoto da minha idade. Tinha a pele queimada de sol e um sorriso faceiro que era característico das crianças de Hermes. O cabelo era loiro e os olhos azuis brilhavam em divertimento ou malicia a maior parte do tempo.

—Mais? –perguntei com uma careta, achando que estávamos sendo atacados mais uma vez.

—Não! –ele respondeu prontamente com um riso fácil. –Tudo tranquilo na fronteira, deixei um pessoal do chalé cuidando das coisas por lá.

—Ah... –eu suspirei aliviado, duas quimeras era o suficiente para o ano todo, por mais que eu soubesse que haveriam mais monstros mais cedo ou mais tarde com nossa barreira tão enfraquecida –O que foi então?

—A vovó está te chamando. –ele respondeu –Pediu pra você ir na casa grande falar com ela.

Levantei as duas sobrancelhas.

—Se a senhora Tsunade ouvir você chamando ela de vovó, vai quebrar você no meio. –eu avisei –Você sabe e insiste.

Naruto deu de ombro, o sorriso brincalhão em destaque nos lábios.

—Gosto do perigo. –ele respondeu –Vou ajudar a Sakura com os feridos.

Revirei os olhos vendo Naruto se afastar. Sakura era uma filha de Apolo também da nossa idade e ela e Naruto tinham chegado juntos ao acampamento quando ambos tinham 11 anos. Naruto era apaixonado por ela desde então, mas ela não dava muita bola para ele.

Suspirei, desviando meu rumo para a cada de fazenda que ficava após o riacho, minha cama teria que esperar. A casa era gigantesca, de quatro andares, onde os semideuses mais velhos, nossos instrutores, viviam. Também vivia a diretora do acampamento, Tsunade Senju, a semideusa que ajudou a vencer Gaia e ganhou a imortalidade.

Não havia ninguém na varanda, então adentrei a casa rumando ao já conhecido escritório da diretora. A porta estava aberta e eu parei a baixo do batente, olhando para dentro do escritório. A senhora Tsunade estava de pá, na frente de um retrato na parede, encarando a foto contida nele com os braços atrás das costas, eu não podia ver seu rosto.

Meus olhos se prenderam por um momento no retrato que ela admirava, sabendo que ela provavelmente já tinha notado minha presença. Era um homem de cabelos brancos e longos, vestido em uma armadura romana. O nome dele era Dan e todos sabiam da trágica história de amor dele e de nossa diretora.

Dan era um legionário romano, lutou na guerra conta Gaia, onde ele e a senhora Tsunade se conheceram, e padeceu. Diziam que ele tinha ganhado os Elísios e não quis voltar quando lhe foi dada a oportunidade, ele era um guerreiro afinal e morreu como um. Por fim, pediu para que Tsunade aceitasse a imortalidade e cuidar das novas gerações de meio-sangue. Ela aceitou, mesmo consternada com a possibilidade de ficar longe do homem que amava.

No fim, a deusa do amor e da beleza, Afrodite, ficou tão comovida com toda a situação que quis dar um presente ao casal, convencendo Hades, o senhor do submundo, a conceder um dia no ano para que os dois pudessem se encontrar: Todo equinócio de primavera, nossa diretora desaparecia pela manhã e voltava apenas no dia seguinte.

—Shikamaru Nara. –a voz dela soou me sobressaltando.

—Senhora Tsunade? –perguntei com a voz falhada pelo susto.

A mulher de cabelos loiros suspirou, se virando para mim. Ela me fitou por um momento, os olhos eram cor de mel e brilhavam. Quem era tratado por ela, a maior médica/curandeira de nosso acampamento, dizia que aquele brilho era acolhedor. Eu, como já tinha visto sua pontaria com o arco e flecha e ouvido falar que ela derrubava ciclopes no soco na guerra, achava que aquele brilho significava perigo.

—Disseram que queria me ver. –eu continuei quando ela não disse mais nada e ela tornou a suspirar, virando-se e indo em direção de sua escrivaninha, sentando-se na cadeira atrás dela.

—Sim, sim. -ela respondeu -Entre. -eu o fiz e, quando cheguei próximo a sua escrivaninha, ela fez um gesto para eu sentar em uma das duas cadeiras -Eu quero discutir a questão da barreira com você.

—Comigo? -perguntei só para garanti.

—Sim, Shikamaru. - ela respondeu um tanto impaciente  -Você é o conselheiro-chefe do chalé de Athena, melhor estrategista desse acampamento, o gênio entre os gênios, o filho de Athena mais inteligente que pisou alguma vez nesse acampamento, não?

Fiz uma careta. Eu não gostava de nenhuma dessas alcunhas. Quer dizer, gostava de criar estratégias e ajudar a proteger meus amigos e melhorar nossas vidas aqui dentro e lá fora, mas eu não gostava de ser considerado o melhor. Eu só queria ser um cara mediano e levar uma vida mediana.

Foi minha vez de suspirar.

—Algo assim. -respondi.

Tsunade revirou os olhos.

—Todos os semideuses, inclusive você, já tentaram identificar a causa do enfraquecimento da nossa barreira. -ela começou - Jiraya apareceu depois de quase dez anos sem dar as caras apenas pra isso, e mesmo assim não conseguimos nenhuma causa ou informação. -ela deu uma pausa, apoiando os cotovelos na mesa e o queixo nas mãos -Tem aqueles que acham que isso é culpa dos romanos...

—E o que a senhora acha? -perguntei a interrompendo.

Ela arregalou de leve os olhos, mas não parecia estar brava com minha intromissão.

—Não sei se isso faz sentido. -respondeu -Por mais que Rasa tenha ficado nervoso com a situação da morte do campista, tudo aconteceu muito rápido para que não tenha sido premeditado.

—Sim, eu pensei nisso. -respondi -A não ser que eles já planejassem um ataque ao acampamento antes disso, não havia como conseguirem traçar um plano para enfraquecer a barreira em tão pouco tempo. Mesmo que eles tivessem um... Contato aqui dentro, alguém que passe informações para eles, isso só faria sentido se eles estivessem planejando um ataque. Ou esperando que a gente atacasse e se resguardando.

—Você realmente pensa em tudo. -Tsunade riu-se -Não vou negar que é uma possibilidade.

—Um espião? -perguntei supresso.

—Prefiro a palavra que você usou antes –Tsunade observou –“Contato”. Rasa é um homem desconfiado. Não acho que é uma possibilidade descartável ele ter um contato aqui dentro. Mas um plano para enfraquecer o acampamento... Ele não ganharia nada com isso.

Eu fiquei em silencio, mesmo que na minha cabeça as possibilidades começassem as e abrir. Sim, haviam muitas coisas que alguém podia ganhar atacando ou nos enfraquecendo, mas deixei que a diretora pensasse, achando melhor não dizer nada nesse momento.

—A senhora quer eu faça algo. –eu afirmei depois de um longo tempo em silencio onde Tsunade apenas me estudou com o olhar.

—Quero. –ela respondeu. –Quero que você veja o oraculo.

Meus olhos se arregalaram.

—Mas, senhora... –eu respirei fundo –Nós só vamos até o oraculo atrás de uma profecia se...

—Sim. –ela me cortou –Quero te dar uma missão para descobrir o que está acontecendo.

—Por que eu? –perguntei.

Existiam semideuses mais velhos e experientes dentro do acampamento, eu bem sabia disso e não me achava qualificado minimamente para uma missão fora da barreira. Eu mal conseguia voltar a cada verão sem um desastre que me fizesse ter que trocar de escola.

—Você tem levantado nossas defesas por todo o verão, Shikamaru. –ela respondeu com sinceridade. –Nós temos ótimos lutadores aqui e até mesmo bons estrategistas como Kakashi, mas você tem um cérebro muito mais perspicaz que qualquer um deles. De acordo com a profecia que você receber, você pode escolher pessoas que ache mais adequadas para seguirem com você.  Mas creio que a melhor opção para liderar essa missão é você.

—Isso é tão problemático. –resmunguei, vendo o cenho da senhora Tsunade se franzir.

Depois de levar um sermão da senhora Tsunade, concordamos que era um pouco tarde para eu visitar o oraculo. Prometi que pela manhã eu iria e, assim que recebesse minha profecia, iria comunica-la.

Rumei de volta para meu chalé, a maior parte do acampamento estava silenciosa e escura. Apesar das defesas magicas estarem fracas, elas ainda mantinham as chuvas e nevascas afastadas, mesmo estando no meio do inverno. Porém, isso não significava que não estava frio e eu abracei meu próprio corpo até chegar na porta do chalé número seis. Era uma construção azul com detalhes em ouro e uma coruja esculpida sobre a porta. A abri, sendo recepcionado por um calor gostoso da lareira que algum dos meus irmãos acendeu. Observei duas meninas mais novas inclinadas nas mesas da oficina que tínhamos aqui dentro, mas não estava com cabeça para me interessar por qualquer coisa. Nas paredes do chalé existiam plantas, mapas e armaduras, pendurados e muito usados por todos. Os beliches ficavam afastadas, encostadas na parede para dar espaço para nossa biblioteca e mesas e cadeiras que usávamos para estudar.

Minha cama era meio afastada da dos outros. Eu gostava de sossego e meu sono era algo precioso para mim. Deitei de barriga pra cima na parte de baixo do beliche, nem dando ao trabalho de trocar de roupa, por mais que eu soubesse que não estava no melhor estado.

~x~

O caminho que fiz pela manhã após o café não me era desconhecido, mas me deu um frio na barriga mesmo assim. Era uma manhã fria no acampamento e eu pude ver ao longe, próximo ao pinheiro gigante que marcava o início da nossa barreira magica, dois campistas fazendo vigília.

Respirei fundo e senti o cheiro dos morangos de nosso campo encherem meu nariz. Na primavera e no verão, o cheiro dominava todo acampamento, porém no inverno ele era mais contido apenas aquela área onde as frutas cresciam. Nós os cultivávamos o ano inteiro, uma benção dada pelo deus Dionísio, e era com a venda deles, pagávamos as despesas do acampamento.

Andei mais um pouco, adentrando a floresta que circulava a plantação. Com poucos minutos de caminhada, sai em uma clareira onde uma casinha de madeira rustica, mas muito bem cuidada se erguia.

Na varanda da casa, numa cadeira de balanços, estava sentada uma mulher que sorriu ao me ver.

—Que bom te ver, Shikamaru! –ela exclamou sorrindo, se levantando.

Eu sorri de volta, cumprimentando com um aceno de cabeça. Kurenai era uma mulher bonita e gentil, tinha cabelos negros até o meio das costas, meio repicados, e olhos castanhos de um tom que eu só tinha visto no olhar dela, eles eram avermelhados. Ela tinha um sorriso misterioso de quem sabe mais do que diz e mais do que as outras pessoas, o que deixava muitas delas nervosas.  E ela realmente sabia. Kurenai era mortal, mas tinha o dom de ver através da nevoa. Ela também abrigada o espirito do Oraculo de Delfos em seu corpo.

—Shikamaru está aqui? –escutei uma voz de dentro da casa e logo depois saiu de dentro dela um homem.

—Sim, querido. –Kurenai respondeu se virando para trás, o vestido branco e preto que usava ondulou, ela pousou a mão na barriga avantajada e logo Asuma estava de seu lado.

Sorri para ele também. Asuma era filho de Hefesto, logo era forte e um tanto musculoso. Sua pele era um pouco mais morena do que a maioria dos meio-sangues, os olhos e cabelos escuros e as mãos calejadas de trabalhar nas forjas. Era também meu professor preferido quando eu estava na quinta-serie e foi ele que alertou os sátiros sobre minha presença na escola.

—Não sabia que você tinha vindo com os outros campistas. –ele disse, fazendo sinal para eu entrar.

Segui ele e Kurenai para dentro de casa.

—Eu também não sabia que vocês estavam aqui. –respondi, me sentando a mesa da cozinha com eles.

—Resolvemos tirar uma licença desde que Kurenai engravidou. –ele respondeu, rocando a mão da mulher por cima da mesa e sorrindo para ela –Também preferimos ficar aqui, pra ajudar com o acampamento e não vejo lugar melhor para nossa filha nascer do que aqui.

Sim, os dois eram um casal. Casados a quase cinco anos, mesmo Kurenai sendo o Oráculo desde que tinha dezenove anos. O que eu sabia da história era que Asuma havia sido um adolescente rebelde que fugiu de casa quando ainda era uma criança. Ele encontrou o Acampamento Meio-Sangue praticamente sozinho, mas não parava muito tempo por aqui, sempre indo e voltando. Antes de Hefesto o reclamar como filho, haviam pessoas que acreditavam que ele era filho de Hermes, pois ele era um aventureiro.

Conheceu Kurenai em uma dessas andanças. Ela tinha tido um problema com o carro no meio da estrada, e ele parou para ajudar. Ela se sentiu ameaçada pelo sujeito forte e mal-encarado que tinha laminas de bronze atadas ao cinto e andava numa moto, ela acabou batendo nele com a bolsa no meio de todo o nervosismo da situação. Asuma ficou surpreso, pois os mortais comuns distorciam a visão das armas até se tornar coisas normalmente aceitas e aquela bela moça a sua frente gritava perguntando que tipo de bandido ele era.

Ele acabou a ajudando e a impressionando com seus dons com maquinas, e acabou explicando sobre a verdade dos deuses, o que deixou a mulher aliviada de saber que todas as coisas anormais que ela via não eram frutos de sua imaginação. Em algum momento, os dois acabaram namorando e descobriram que ela estava destinada a ser o próximo oráculo, não sei se exatamente nessa ordem. Asuma largou a vida na estrada, fez faculdade e os dois se tornaram professores do primário durante o ano letivo e ela o oráculo e ele instrutor no acampamento nos verões. Kurenai tinha contado a notícia da gravidez para todos no último dia do verão, antes dos campistas que passavam apenas as férias no acampamento irem embora.

Eu sorri para a notícia, feliz em saber que eles esperavam uma menina.

—Kakashi me mandou uma mensagem no começo do inverno. –expliquei –Eu não podia deixar de vir. As coisas estão tão malucas aqui que nem pensei que vocês também estavam por aqui até a senhora Tsunade me propor procurar a orientação do oráculo.

Asuma assentiu seus olhos estreitaram, ele suspirou.

—Tinha esperança que apenas tivesse vindo nos visitar. –ele riu-se.

—Eu bem queria. –respondi em um murmuro.

—Não fique assim, Shikamaru. –Kurenai se pronunciou. –Você é um grande herói, vai se sair bem em uma missão.

—Isso é Kurenai ou o oráculo falando? –brinquei e os dois riram.

—A senhora Tsunade quer que você descubra o que está acontecendo com a barreira? –Kurenai perguntou após as risadas sessarem.

—Sim. –respondi, engolindo seco.

—Me pergunte o que quer saber então. –ela disse.

Respirei fundo e me endireite na cadeira, Asuma se levantou e se postou ao lado de Kurenai, pronto para caso ela precisasse dele.

—O que eu devo fazer, Oráculo de Delfos? –perguntei.

Os olhos de Kurenai rodopiaram na orbita e ela se curvou para frente com brusquidão. Asuma não se mexeu, acostumado com as estranhezas das profecias. Eu respirei fundo de novo, Kurenai se endireitou e os olhos dela brilhavam num tom berrante de verde, como faróis. Quando ela falou, sua voz se triplicou, como se três Kurenais estivessem falando:

 “Segredos se escondem onde a terra padeceu
O herói solitário, criança da deusa da guerra
Deve seguir um caminho já trilhado e encontrar seu igual, recontando uma história
A fúria desperta pela traição descoberta fará o chão se abrir
E os levará por um tortuoso labirinto de possibilidades
Seu lar e sua verdade em jogo
Ao lado, uma hipótese questionável
A escolha derradeira levará os deuses a decisão final
No equinócio de primavera é o prazo afinal”

A última palavra saiu e Kurenai desmoronou, Asuma a apoiou prontamente. Nossos olhos se encontraram e eu finalmente soltei a respiração que eu não tinha percebido que estava segurando.

~X~

Temari POV

Eu estava cumprindo o papel mais chato de centuriã e fiscalizava a arrumação das camas. Cada campista era obrigado a arrumar sua cama antes de iniciar as atividades do dia. Organizar seu espaço pessoal era questão de disciplina e consideração para que o outro não fosse obrigado a ficar num espaço coletivo bagunçado. Além disso, numa guerra de verdade, é essencial saber onde está cada um dos armamentos e para isso, nada de camas bagunçadas.

Anoto o nome de Matsuri pela terceira vez naquela semana, ela estava em probatio a quatro meses, mas ainda assim encontra certos problemas para se adaptar. Vejo que apesar do pouco tempo no acampamento, Amagi arrumou sua cama com perfeição novamente.

—Tema. – me viro em direção a porta e vejo Kankuro parado a porta com uma expressão facial perturbada. –Eu caminhei até a forja dos Akasunas para pegar peças para melhorar minha marionete. – a forja dos Akasunas pertencia a família de Sasori, de lá saiam a maioria das nossas armas e melhorias para as marionetes de combate. –Sasori estava a caminho jogando a carcaça de uma marionete perfeita que ele “sacrificou” para ler a vontade dos deuses. – vi meu irmão fazer um bico e não me contive no riso, Kankuro achava um absurdo a utilização de marionetes para o augure. –Enfim, ele pediu para você encontra-lo no templo de Júpiter, disse que era importante.

Suspirei irritada, agradeci a Kankuro pela informação e seguiu em direção a Colina dos Templos. Ser chamado por Sasori para ir ao templo de Júpiter só significava uma coisa: receber uma missão. E com todos esses ataques que estávamos recebendo, tudo o que eu menos queria era sair do acampamento.

O Templo de Jupiter Optimus Maximus era o maior de todos, ele possuía um pavilhão redondo com um anel de colunas que sustentavam o domo de ouro, acima dele, grandes nuvens giravam em torno permanentemente. Encontrei Sasori sentado no altar, os cabelos ruivos balançando levemente com a brisa que entrava no templo e os olhos castanhos focados em uma das nossas cópias dos livros sibilinos.

Isso era o sinal claro de tudo o que eu não queria, uma profecia para seguir com uma missão. Os livros sibilinos eram, no passado, o registro das profecias dos romanos, sendo consultados em tempos de crises. Quase todos os livros originais foram queimados quando Roma caiu, porém, muitos anos atrás, uma harpia que havia tido contato com os livros originais e lembrava-se das profecias, recebeu ajuda para transcrevê-los.

Ao ouvir meus passos, Sasori fechou o livro que estava em sua mão e se voltou para mim. Não pude deixar de notar que debaixo de seus olhos tinham olheiras imensas.

—Pelo visto Kankuro te encontrou rápido. – ele deu um sorriso de lado. – Prometi que daria uma das minhas marionetes da minha coleção pessoal se ele te avisasse o mais rápido possível.

—O que houve? – perguntei preocupada. Sasori possuía ciúmes da sua coleção pessoal. Para oferecer a Kankuro apenas para ele correr e me chamar...

—Pedi para ele avisar ao pretor que temos que convocar o Senado ainda hoje. – ele parecia realmente cansado, talvez a vida de ser o augure, centurião da Primeira Coorte e trabalhar nas forjas da família estivesse começando a cansá-lo. –Eu tenho trabalhado dia e noite tentando descobrir alguma maneira de acabar com essa frequência de ataques as nossas fronteiras. – aparentemente, meu pai também forçou ele a tentar encontrar uma solução. –Não sei se foi minha insistência ou se Febo está com pena de mim, mas recebi a mensagem mais clara desde que me tornei o augure.

—E qual seria? – perguntei curiosa, cresci ouvindo Sasori reclamar de como os deuses nunca eram claros.

—“Convoque a centuriã da terceira imediatamente. Livro 4, pagina 22”, bem especifico, não? – ele levantou uma das sobrancelhas de maneira interrogativa, de fato, era incomum uma mensagem vir clara assim. –Então, parece que você ganhou uma profecia.

Eu fiz uma careta e ele riu, talvez para tentar descontrair o nervosismo. Ganhar uma profecia diretamente nunca era algo bom.

—E que profecia é essa que necessita de tanta pressa? – perguntei, se fosse para resolver os problemas da fronteira, valeria a pena receber uma missão.

Sasori pegou o livro que estava em sua mão quando eu cheguei e leu em voz alta:

Segredos se escondem onde a terra padeceu
O herói solitário, criança da deusa da guerra
Deve seguir um caminho já trilhado e encontrar seu igual, recontando uma história
A fúria desperta pela traição descoberta fará o chão se abrir
E os levará por um tortuoso labirinto de possibilidades
Seu lar e sua verdade em jogo
Ao lado, uma hipótese questionável
A escolha derradeira levará os deuses a decisão final
No equinócio de primavera é o prazo afinal”

—Isso era urgente? – perguntei um pouco irritada. –O equinócio de primavera é daqui a três meses! – esbravejei para o ruivo que concordou com a cabeça. Com o ritmo que os ataques estavam vindo, em três meses já estaríamos destruídos. –Você tem certeza que isso era urgente? Que isso é para resolver nosso problema com a barreira?

—Os deuses tem suas maneiras de dizer que algo é urgente, acredite em mim. – ele deu um suspiro cansado, pelo visto tinha pensado no mesmo que eu. –Mas até agora, essa foi a única resposta que eu tive e se o equinócio está longe, significa que você vai encontrar bastante problema pela frente.

~X~

A seção emergencial do Senado foi logo após o almoço, dando tempo para que todos os centuriões voltassem a seus alojamentos e vestissem suas togas. Eu ainda não entendia o que mais Sasori poderia ter visto para estar com aquela pressa toda, mas fosse o que fosse, não parecia ser algo muito bom.

Seguimos todos juntos em direção ao Senado, um edifício grande com uma cúpula branco, que ficava dentro dos limites da cidade de Nova Roma. Os limites da cidade eram conhecidos como Linha Pomeriana, era a zona de segurança máxima de todo o acampamento. Ela tinha diversas barreiras mágicas e era vigiada constantemente pela estátua de mármore de um homem, esculpido apenas da cintura para cima, chamado Término. Além disso, era proibido atravessar a linha divisória portando uma arma, fosse de qualquer tipo.

O interior do Senado não era tão impressionante quanto sua arquitetura exterior, ele era apenas um auditório com um estrado na frente e várias cadeiras viradas para ele formando um semicírculo. Sentei-me na quinta cadeira da primeira fileira como de costume e esperei que os outros centuriões, os fantasmas e alguns dos veteranos que viviam na cidade se acomodassem. Cerca de quinze minutos depois, meus pais pediram a atenção de todos para o palanque.

—Nos desculpem essa convocação de emergência. – Karura começou, meu pai não era muito dado a formalidades. – É de conhecimento de todos que nossas barreiras de proteção estão sendo atacadas com uma frequência maior do que o normal. – muitos fantasmas e vários do veteranos começaram a proclamar coisas como “Aqueles gregos nojentos!”, “Ataque-os logo!”. Minha mãe apenas ergueu a mão num claro gesto para cessar os comentários junto com um olhar de poucos amigos. –Ainda não sabemos os motivos desses ataques... – mais protestos se espalharam pela sala, porém cessaram quando perceberam que a pretora queria falar – Contudo, nosso augure leu as vontades dos deuses e eles disseram que deveríamos mandar um dos nossos para uma missão. Sasori, por favor, leia a profecia recebida.

Sasori se levantou de sua cadeira, era a primeira a esquerda do auditório, e leu a profecia copiada num pedaço de papel, pois era proibido tirar qualquer cópia do livro sibilino do templo de Júpiter.

—Por que fomos convocados como se fosse uma emergência se o equinócio de primavera é só daqui a dois meses? – perguntou Omoi, um rapaz de pele negra, filho de Marte, que junto a sua irmã gêmea Karui liderava a Quarta Coorte.

—A mensagem era curta e clara, a missão deve ser dada a Temari o mais breve possível. – o ruivo comentou de maneira calma.

Antes que qualquer outro se pronunciasse, Rasa tomou a palavra.

—Karura e eu discutimos a profecia antes de nos reunirmos e chegamos à conclusão que mesmo sendo contra as regras, Temari, como descendente de nossa deusa Belona, deve seguir sozinha na missão, assim como manda a profecia. - vi meu pai olhar de relance para sua tatuagem em seu braço esquerdo, onde ostentava orgulhosamente o símbolo de Belona – Tambem concordamos que “o lugar onde a terra padeceu” se refere as Montanhas Rochosas no oeste, onde ocorreu a guerra contra Gaia.

Vários murmúrios começaram a correr pelo Senado e pude sentir diversos olhares sobre mim. Uma missão solitária era algo completamente incomum, porém, ataques sucessivos as nossas barreiras também.

—Também concordamos que a legião tem condição de bancar os custos de sua viagem pela maior parte do caminho. –minha mãe continuou.

—E quanto ao resto da profecia? –Kankuro perguntou e ganhou uma encarada dera de nosso pai.

—Cabe a Temari desvendar. –Sasori foi quem respondeu.

—Seguindo para a votação, todos os que forem a favor dessa missão, levantem a mão. – Rasa continuou como se Kankuro não tivesse se pronunciado e um leve sorriso se formou em seus lábios, a maioria havia aprovado. –Muito bem, missão aprovada. Temari, após a seção, compareça a principia para discutirmos os detalhes para sua partida. Aproveitando a presença de todos, vamos discutir a pauta semanal.

A seção do Senado continuou normal, entretanto, eu não participei da maneira que costumava. Aparentemente, eu sairia do acampamento o mais cedo possível e iria sozinha. Pelo menos “Deve seguir um caminho já trilhado e encontrar seu igual” parecia promissor, talvez eu encontraria um ex-legionário para me ajudar no caminho. Apenas podia esperar que, seja quem fosse que largaria a aposentadoria para me ajudar numa missão, tivesse alguma pista sobre o que está acontecendo, pois mais do que nunca não me parecia ser culpa dos gregos, por mais que eu também sustentasse raiva deles pelo que ocorreu a Daimaru, minha mãe sempre me ensinou que a raiva obscurece a razão.

Enquanto eu ouvia meu pai discutir uma questão com Omoi, a frase da profecia que falava sobre a descoberta de uma traição cruzou minha mente e uma sensação gelada passou por minha espinha, ao mesmo tempo que o resto da profecia me deixava com a sensação que a vida de todos do Acampamento Júpiter e Nova Roma estavam em minhas mãos.


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Notas finais do capítulo

Glossario:
Acampamento Júpiter - campo de treinamento para semideuses romanos, localizado entre as Oakland Hills e as Berkeley Hills, na Califórnia
Acampamento Meio-Sangue - campo de treinamento para semideuses gregos, localizado em Long Island, Nova York
Afrodite – deusa grega do amor, da sexualidade e da beleza. Forma romana: Vênus
Apolo - deus grego do sol, da profecia, da música e da cura; filho de Zeus e gêmeo de Ártemis. Forma romana: Apolo (ou Febo ou também Febo Apolo)
Athena - deusa grega da sabedoria e da guerra justa. Forma romana: Minerva, tendo sido destituída do cargo de deusa da guerra, sendo somente da sabedoria.
augure – sacerdote romano que usa de algum meio para prever a vontade dos deuses
Belona - deusa romana da guerra, sem correspondente grego
centurião – oficial do exército romano
Coorte – unidade militar romana Ciclope – gigantes de apenas um olho no meio da testa que trabalham nas forjas de Hefesto
Dionísio – deus grego dos ciclos vitais, das festas, do vinho e da insânia. Forma romana: Baco.
Elísios, Campos – local onde apenas as mais virtuosas das almas vão depois da morte, espécie de paraíso da mitologia grega. Localizado no Mundo Inferior.
Febo - deus romano do sol, da profecia, da música e da cura; filho de Júpiter e gêmeo de Diana. Forma romana: Apolo
Gaia - deusa da terra; mãe dos titãs, gigantes, ciclopes e outros monstros. Forma romana: Terra
Hades – deus grego do Mundo Inferior e dos mortos. Forma romana: Plutão
Hefesto - deus grego do fogo, do artesanato e dos ferreiros. Forma romana: Vulcano
Hermes - deus grego dos viajantes; guia dos espíritos dos mortos; deus da comunicação. Forma romana: Mercúrio
Júpiter - rei romano dos deuses; também chamado de Júpiter Optimus Maximus (o melhor e maior). Forma grega: Zeus.
legião - a principal unidade do exército romano, consistindo em tropas de infantaria e cavalaria.
Legionário – membro de uma legião.
Marte - deus romano da guerra. Forma grega: Ares
Névoa – força mágica que disfarça coisas aos olhos mortais, pode afetar semideuses também.
Oráculo de Delfos
pretor – pessoa eleita para magistrado e comandante do exército romano.
principia – quartel-general em um campo romano
probatio – período de experiência para novos recrutas de uma legião
sátiro – criatura grega que tem a metade superior do corpo humano e a metade inferior de bode, seguidores do deus Pã. Em Percy Jackson costumam ser os responsáveis por encontrar semideuses nas escolas para trazer para o Acampamento Meio-Sangue. Forma romana: fauno.
Vulcano - deus romano do fogo, do artesanato e dos ferreiros. Forma grega: Hefesto



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