Zarina disse que precisava urgentemente falar com Berry Bitty e Laranjinha e as convidou para sua casa. Primeiro, as duas foram tirar suas roupas de inverno, depois seguiram até a casa da fada alquimista.

— Acho que você é uma das poucas amigas da Tink que eu ainda não tinha conhecido — dizia Laranjinha durante o caminho.

— Eu não tenho saído muito de casa desde que você chegou. Por isso eu também não conheci direito a Berry Bitty.

— A única vez em que eu te vi — falou a fada jardineira — foi naquele dia em que você tava distribuindo pozinho mágico no lugar do Terence.

— Ih! Então você não deve ter uma boa impressão de mim...

Ela e Berry Bitty começaram a rir e Laranjinha ficou boiando, mas não se importou, já que pensava em outra coisa:

— É tão legal você misturar magia com ciência! — Era nisso que a menina pensava. — Você é a fada alquimista, né? Pelo menos, que eu me lembre, a Tink disse que era você.

— Sim, sou eu. Você gosta de ciência?

— Adoro! Não contem pra ninguém, mas eu tenho um laboratório secreto.

— Que legal! — Exclamou Berry.

— Que tipo de experiência você faz? — Perguntou a outra fada.

— Ah, eu faço algumas... Bom, a última coisa que eu tentei foi construir uma máquina do tempo.

— Ah! Por isso você disse que já tentou viajar no tempo — lembrou Berry Bitty.

— E não deu certo, é. Ao invés de me levar pra outra década, a máquina trouxe um objeto de outra década pro presente. Depois, eu tentei concertá-la, mas acabou piorando: ela parou de funcionar de vez.

— Poxa, que pena! — Disse Zarina.

Após um tempinho, as três chegaram à casa. Depois de entrarem, Zarina começou a explicar sobre o novo pozinho mágico que tinha em mente, aquele que supostamente levaria Laranjinha para casa.

— Eu só preciso do ingrediente certo.

— E você tem algum em mente? — Perguntou Berry.

Zarina sorriu e respondeu:

— Uhum. Sabe aqueles brilhinhos daquelas frutas que só você planta?

— Os Tutti Brilhos? — Disse Laranjinha. — Você acha que Tutti Brilhos podem fazer algo assim? Transportar alguém para outro mundo?

— Se forem misturados com pozinho mágico... Pensem bem: a Berry Bitty é a única fada com o poder de fazer Tutti Brilhos, e ela só tem esse poder porque não veio do Continente, mas de outro mundo totalmente diferente. A magia dela é a prova de que ela veio de tão distante, de que atravessou mundos; se for misturada à magia da Terra do Nunca, com certeza vai criar algo muito forte, como transportar alguém para outro mundo. Eu passei muito tempo pensando nisso...

Laranjinha e Berry Bitty ficaram pensativas. A segunda olhou em volta e disse:

— Não tem nenhuma Baga Brilhante aqui. Você quer que a gente busque alguma lá fora ou que eu plante uma aqui mesmo?

— Na verdade, eu já tentei usar Baga Brilhante e não deu muito certo... Acho que as bagas atrapalham um pouco a ação dos brilhos. Eu até tentei extrair os Tutti Brilhos, mas não consegui a quantidade suficiente... Por isso, eu preciso de você.

— O que quer que eu faça?

— Será que você consegue, tipo, fazer só os Tutti Brilhos, sem as bagas?

— Eu já plantei bagas sem Tutti Brilhos, mas nunca fiz o contrário... Mesmo assim, posso tentar.

Berry Bitty se concentrou e abriu as mãos uma na frente da outra, tentando fazer algum Tutti Brilho sair delas. Ficou assim por um tempo e depois falou:

— Desculpa, eu não consigo. Essa é mesmo a única alternativa?

— Não — respondeu Zarina. — Quer dizer, eu não sei... Mas posso continuar tentando com as Bagas Brilhantes... Mesmo assim, isso é só uma teoria, eu nem sei se é possível fazer esse pozinho mágico que eu tenho em mente...

— O que eu posso fazer pra ajudar? — Perguntou Laranjinha.

— Vocês duas não precisam fazer mais nada. Já é noite, é melhor irem descansar. Daqui pra frente, eu me viro.

Então Berry Bitty voltou ao Vale da Primavera, Laranjinha foi procurar Tinker Bell e Zarina, Bagas Brilhantes.

**

Após procurarem por horas e não acharem nem sinal das duas estrelas, Mirtilo, Tom Tom e os cidadãos da Cidade Tutti Frutti estavam muito cansados e foram para suas casas dormir. A busca por Laranjinha teria que continuar no dia seguinte.

Moranguinho estava com tanto sono, que, quando foi dormir, nem percebeu a ausência de Maçãzinha. Só após acordar foi que notou, mas achou que a prima apenas havia levantado mais cedo e voltado para o Laboratório Secreto, já que estava tão obcecada por aquele lugar.

A conclusão de Moranguinho estava metade certa: Maçãzinha estava mesmo no Laboratório Secreto, mas não havia estado em seu quarto nenhuma vez. Na realidade, ela não havia saído do laboratório desde que entrou lá (a não ser para usar o banheiro da casa de Laranjinha). A pequena não tinha a menor noção do horário e acabou virando a noite investigando a máquina do tempo. Durante essa investigação, uma coisa que notou foi que o interior da máquina estava CHEIO de Tutti Brilhos. Laranjinha havia exagerado! "O que será que o excesso de Tutti Brilhos pode provocar numa máquina do tempo?" Maçãzinha se perguntou. Ela era uma ótima técnica em Tutti Brilhos, mas percebeu que realmente não conseguia responder uma pergunta como essa, e começou a pensar se havia alguma coisa sobre eles que ela ainda sabia.

Depois do longo tempo perdido na noite anterior, muitos passaram a desacreditar na teoria da Fruta do Nunca e preferiram voltar a procurar Laranjinha de maneiras mais normais: espalhando fotos pela tuttinet, explorando os arredores da cidade etc. Os que continuavam acreditando na teoria, ou que, pelo menos, achavam que havia alguma magia envolvida no sumiço da garota, voltaram a pesquisar assuntos relacionados nos livros e na tuttinet. Mirtilo, por exemplo, que era um dos adeptos da teoria, aproveitou que estava de volta à Cidade Grande para pesquisar tudo o que pudesse sobre magia na biblioteca de lá, que tinha livros diferentes dos da Livraria da Amora.

Como não sabia que já era dia, Maçãzinha ficou impressionada ao ver a luz do sol quando saiu da casa de Laranjinha. Foi à livraria e encontrou Amora Linda, Moranguinho e Gotinha de Limão.

— Oi Maçãzinha — as meninas cumprimentaram.

— Veio ajudar nas pesquisas? — Moranguinho perguntou.

— Ahm... Sim. Amora, você tem algum livro sobre Tutti Brilhos?

— Você acha que o sumiço da Laranjinha tem a ver com Tutti Brilhos? Interessante... BOSLEY, A MAÇÃZINHA QUER OS LIVROS SOBRE TUTTI BRILHOS!

Enquanto a traça guiava Maçãzinha até os livros, Amora contou que achava que as duas estrelas não tinham sido encontradas na noite anterior porque talvez não pudessem ser vistas do hemisfério em que se encontrava a Cidade Tutti Frutti e que estava pesquisando para ver se alguém do hemisfério oposto já as tinha visto. Limão contou que pesquisava ainda mais sobre dentes-de-leão. Moranguinho não sabia exatamente o que procurava e, naquele momento, não procurava nada, pois estava preocupada com Maçãzinha. Por isso, ao invés de contar sobre o que estava pesquisando, como as outras tinham feito, ela perguntou:

— Maçãzinha, você tomou café da manhã?

— Não, vim direto do laboratório pra cá — a menina respondeu enquanto começava a formar uma pilha de livros em seus braços.

— E quando você foi pro laboratório?

— Ué, ontem, quando a Ameixinha me levou pra lá...

— Você passou a noite lá? — Perguntou Limãozinho. — Espero que, pelo menos, tenha dormido na cama da Laranjinha.

— Não, eu não dormi na noite passada. Na verdade, eu nem tinha noção do tempo enquanto tava no laboratório. O que é irônico, já que tem um relógio lá; mas eu fico tão concentrada com a máquina do tempo, que esqueço de olhar pra ele...

— São todos os livros que temos — disse Bosley, entregando o último livro sobre Tutti Brilhos para Maçãzinha pôr no topo de sua pilha.

— É o suficiente. Obrigada, Bosley. Tchau, gente! — Disse a menininha, saindo da livraria.

— Você pode deixar os livros aqui enquanto toma o café da manhã — disse Amora Linda, aproximando-se de Maçãzinha.

— Amora, você esqueceu que eu sou uma aventureira? Eu já passei três dias inteiros numa caverna sem comer. Eu preciso fazer essas pesquisas logo, não tenho tempo pra comida e aguento ficar sem café da manhã.

— Não importa — disse Moranguinho — quanto tempo você consegue ficar sem comer porque você vai agora mesmo para a Cafeteira Tutti Frutti comer umas panquecas, e não adianta dizer o contrário, você não pode ficar sem café da manhã!

— Ah, tá bom...

Após comer as panquecas, Maçãzinha levou os livros para o Laboratório Secreto e ficou lá o dia todo, mas, dessa vez, ficou de olho no relógio e saiu para comer nas horas do almoço e do jantar, o que Moranguinho achou ótimo.

Com aqueles livros, Maçãzinha descobriu que realmente não sabia tudo sobre Tutti Brilhos. Ao que parecia, eles eram muito mais poderosos do que ela pensava. O livro que mais chamou sua atenção foi um que falava de diversas teorias sobre Tutti Brilhos. Uma delas dizia que os Tutti Brilhos podiam ter contato com mundos paralelos. Por alguma razão, ela tinha cada vez mais certeza de que tudo estava ligado ao sumiço de Laranjinha.

Já era noite quando Maçãzinha ficou lendo e relendo diversas vezes aquele mesmo livro (principalmente a parte da teoria dos mundos paralelos). Ela estava tão concentrada, que não olhou para o relógio uma vez sequer e não percebeu quando já era quase madrugada, assim como não percebeu que estava morrendo de sono.

A menina não parava de se fazer a mesma pergunta que fizera anteriormente: "O que será que o excesso de Tutti Brilhos pode provocar numa máquina do tempo?" Pensando nisso, ela começou a devanear por causa do sono, até acabar dormindo de vez, deitada no chão do laboratório.

**

Aquela conversa sobre Peter Pan deixou Tinker Bell com muita vontade de sair por aí explorando a Terra do Nunca, não que nunca tivesse feito isso, mas agora seria diferente, pois estaria com Laranjinha. Só que a fada não sabia que Zarina teria um assunto urgente para tratar com sua amiguinha, então teve que deixar a aventura para depois. Seria melhor mesmo, já que a Terra do Nunca era bem mais interessante durante a noite!

Então após Laranjinha encontrar Tinker Bell, as duas saíram para ver o máximo que pudessem do que estava além do Refúgio das Fadas. Se Laranjinha ficasse com muito medo (algumas partes da Terra do Nunca podiam ser bem sinistras) ou se as duas ficassem com muito sono, elas voltariam para o Refúgio.

Enquanto isso, Zarina, em sua casa, tentava, sem sucesso, criar o novo pozinho mágico teletransportador. Ela tentava não só com Bagas Brilhantes, mas com vários outros ingredientes, misturando cada um com diferentes tipos pozinho.

Até que ouviu batidas na porta. Ao abri-la, deparou-se com Berry Bitty, que segurava um pote tampado.

— Eu consegui! — Disse a jardineira.

— Conseguiu o quê? — Disse Zarina, dando espaço para a amiga entrar.

— Eu consegui fazer Tutti Brilhos sem as frutas, eles estão aqui dentro — ela mostrou o pote. — Desde que saí daqui da sua casa, eu continuei tentando, até que, quando já tava no meu quarto, prestes a dormir, eu consegui. Tutti Brilhos voaram por todo o cômodo (ainda bem que eu tinha fechado a janela) e eu consegui colocar tudinho dentro deste pote. Mas vai ser um problema se essa quantidade não for suficiente, porque depois eu fui tentar de novo e não consegui  mais — Berry entregou o pote para Zarina. — É melhor você tomar cuidado na hora de abrir, senão eles escapam.

— Tudo bem, eu vou tomar cuidado. Bom, pelo que eu tô vendo — Zarina deu uma espiadinha no conteúdo do pote —, essa quantidade é bem mais do que eu consegui extrair das Bagas Brilhantes, então está ótimo! Obrigada.

Berry voltou para casa muito feliz por ter ajudado, e ela realmente queria que Zarina conseguisse criar o novo pozinho.

A fada alquimista, com muito cuidado, despejava pozinho mágico amarelo no pote (agora destampado) que Berry Bitty lhe entregara. Após misturar tudo e adicionar um grãozinho de pozinho mágico azul, foi fazer o teste.

Segurando o pote com uma mão, pensou na Pedra da Caveira, e, com a mão que estava vazia, pegou um pouco da mistura e jogou sobre si.

Em um piscar de olhos, lá estava Zarina na escuridão da Pedra da Caveira.

— DEU CERTO!

— Tem alguém aqui? — Zarina ouviu uma voz de menina perguntar.

Ao olhar em volta, notou que, não muito longe, havia alguém, que ela não conseguia ver direito devido à escuridão, mas parecia ser uma fada muito pequena, menor do que Laranjinha.