Perdas e Ganhos escrita por Lucca, alegrayson


Capítulo 29
Felicidade tem limites?


Notas iniciais do capítulo

Após quase dois anos tentando ajustar agendas e trocas ideias, nossa fanfic chegou ao fim. Rolou de tudo nos bastidores: discussões, censura, desencontro de plots, altas risadas. Ao final de tudo, os ganhos superaram tudo! Perdas? Só se for do sonho dessas duas autoras em se encontrarem pessoalmente durante a escrita. Fica a promessa de São Paulo e Pará um dia superarem essa distância.
Dedicamos esse capítulo a uma aniversariante muito especial, leitora dessa história, amiga de fandom e grande incentivadora. Leninha, feliz aniversário!
Obrigada de coração a todos vocês que acompanharam essa história até aqui. Tanta coisa mudou na série e em nossas vidas que a conclusão dessa fanfic é, antes de mais nada, fruto da nossa gratidão e respeito a cada leitor.
Esperamos que esse capítulo final atenda às expectativas. Boa leitura.



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Os primeiros 30 dias com a pequena Alice em casa transcorreram como se fosse um sonho para Kurt e Jane. A bebê trouxe novos desafios ao casal, mas passaram por todos eles com sorrisos nos rostos. Alice era a prova viva do quanto o amor dos dois era forte e capaz de superar as adversidades.

E, finalmente, chegou o dia de receberem as filhas mais velhas. Avery e Bethany chegaram meio ressabiadas, procurando sentir as novas regras da casa e as mudanças trazidas pela mais jovem integrante da família. O casal se esforçou em deixá-las à vontade principalmente com relação à aproximação da irmãzinha.

Kurt levou as malas para o quarto e, ao retornar à sala, ficou paralisado com a cena. Suas meninas reunidas no sofá. Avery segurava desajeitadamente a pequena Alice enquanto Jane a orientava e encorajava com Bethany empuleirada no seu colo acariciando o pé da irmãzinha. Uma onda de sentimentos bons varreu e aqueceu seu coração. Nunca em sua vida, imaginou que existisse tamanha felicidade aguardando por ele depois de tudo que passou.

Seu instinto protetor dizia que Kurt seria capaz de tudo por elas. Entretanto, também tinha a certeza de que não havia no mundo quatro mulheres mais espetaculares do que aquelas que ocupavam seu sofá. Avery os mantinha informados sobre todos os acontecimentos de sua vida e pedia orientação constantemente. Bethany, apesar da pouca idade, também demonstrava estar atenta a todas as orientações que recebia. Allie e Connor cuidavam muito bem da criança e Kurt se sentia satisfeito com o espaço que tinha na vida da filha. Ele sabia que, dentro dos limites impostos pela distância, era um pai presente. A maior prova disso era a forma com sua Little Bee ficava à vontade quando estava com ele e Jane e dava grandes demonstrações de amor pelo casal. Alice, sua caçula, veio ao mundo prematura, com baixo peso, mas em poucos dias o medo em lidar com a pequena deu lugar a certeza de que estavam fazendo um ótimo trabalho. Ela se desenvolvia rápido e comunicava ao pais suas necessidades de forma clara seja no choro ou nas expressões faciais.

Mas a paz que carregava dentro de si para guiar essa família vinha principalmente do fato de Kurt saber que não estava sozinho nessa tarefa. Jane estava com ele. Sua Jane. A mulher que mudou sua vida, derrubou seus muros e tornou sua vida muito mais leve e feliz. Não havia ninguém em quem ele confiasse mais no mundo.

Rapidamente, ele pegou o celular e fez o maior número de fotos possível. Queria eternizar esse momento. Numa das última capturas, a imagem mostrou Jane olhando para ele. Havia um brilho intenso brincando com o sorriso nos olhos dela. Ela estava radiante e feliz e vê-la assim era tudo que eles queria para sua vida toda. Mas, como sempre, os olhares de Jane falavam mais que palavras. Ela o estava convidando para compartilhar aquele momento, não apenas como um expectador, mas como parte essencial daquela família.

E Kurt se juntou à elas.

Seis meses depois...

A família estava reunida na vasta sala de visitas casa suntuosa que Patterson e Roman compraram num bairro nada barato de New York City. Os aplicativos que os dois desenvolviam em parceria eram um verdadeiro sucesso. Todos se surpreenderam quando anunciaram que continuariam na cidade após o casamento que aconteceu no mês anterior. Esperavam que se mudassem para a Califórnia, mas o casal queria estar por perto para prestar assessoria ao SIOC sempre que necessário. Patterson não queria se afastar completamente de Tasha. Tinham um forte vínculo, eram praticamente irmãs.

Tasha e Reade ficaram extremamente gratos por essa decisão. Ele continuava como diretor do escritório do FBI de NYC e ela era sua principal agente de campo. Contrariando todas as apostas dela, a relação profissional deles se fortaleceu após decidirem morar juntos há cerca de três meses. Com a saída de Patterson, Rich e Boston assumiram seu posto no SIOC, e o casal precisou crescer em liderança para não perder o controle da situação. Apesar de estarem muito felizes, não oficializaram seu relacionamento no trabalho. Os amigos não entenderam, mas sabiam que o casal precisava de tempo para sintetizar as mudanças.

A mudança mais drástica afetou Jane e Weller. O casal foi convidado para gerenciar a equipe de segurança da Casa Branca. Proposta irrecusável que lhes garantiria uma vida e aposentadoria muito mais confortáveis. A mudança para Washington aconteceu há cerca de dois meses. Apesar da responsabilidade, seus novos empregos envolviam fatores de riscos extremamente baixo e isso foi determinante para o casal fazer essa escolha.

Roman estava com Alice no colo. Ela era extremamente sapeca e simpática. Reagia as caretas do tio com gargalhadas. Patterson se aproximou se juntando aos dois. Jane, que aproveitava o momento para curtir os braços do marido, comentou:

— Hmmmm, vocês ficam lindos com um bebê, sabiam?

O casal se entreolhou sorrindo e isso não passou despercebido à todos que estavam na sala:

— O que? Será que eu posso sonhar com um sobrinho em breve? – Jane não conteve sua curiosidade diante de algo que a deixaria tão feliz.

— Tínhamos sim planos para um filho em breve, mas ... – Patterson disse.

— Mas? Como assim “mas”? Vocês estão tentando uma gravidez ou não? – Tasha ficou inquieta.

— Queríamos um filho, mas decidimos que esse primeiro não viria através de uma gestação convencional. Por isso entramos com o pedido de adoção. – Roman contou

— Sabemos que os orfanatos que existem atualmente são muito diferentes daquele em que Jane e Roman cresceram, mas ainda assim é não é uma família. Além disso, talvez essa criança nos encorajasse a tentar uma gravidez daqui há alguns anos. – Patterson esclareceu.

— Isso é fantástico! Tenho certeza que serão ótimos pais. – Jane conclui.

— Mas foi daí que tudo saiu do controle e... – Patterson parecia confusa ao falar e Roman se aproximou para apoiá-la.

— Temos um positivo para uma gestação de 8 semanas. – ele concluiu.

Flashback on

Aquela notícia inusitada a tinha pego de surpresa. Ela mal parecia acreditar no resultado de exame que estava passando por seus olhos. Era algo bom e assustador ao mesmo tempo, mas o que iria acontecer a partir de agora? Eram tantas incertezas que Patterson nem se atrevia a imaginar a reação de Roman - no fundo ela tinha até medo disso - mas estava confiante que seria praticamente a mesma reação dela: um misto de sentimentos com a esperança de que tudo daria certo no final. Ou diria começo?

As mãos tremiam tanto, mas não tanto como o resto do corpo e seus movimentos involuntários ainda tentando dar um sentido ao que estava sentindo. Ela sabia bem que uma notícia dessas muda a vida de pessoas para sempre, e que era questão de tempo todos saberem - nem se desejasse poderia esconder por mais alguns meses... poucos meses -

— " Eu estou grávida " pela primeira vez ela falou em voz alta, em uma tentativa frustrada de se acalmar.

Não deu certo.

Jamais daria.

Eram muitas variáveis a se pensar e para entender.

— Porque eu complico o que não tem que ser complicado... repetia sem parar. E mais algumas vezes para a mente absorver aquelas palavras e talvez desejando receber algum conforto ou resposta mental.

Não deu certo.

Novamente.

O desespero tomava conta de Patterson a medida que a ficha caia. Ela estava realmente grávida e a situação era mais complicada do que parecia. Roman, o pai, coisa que ele nem sabia ainda, bom, isso também era complicado, o relacionamento de ambos estava bom, daquele jeito que só eles entendiam e aceitavam, agora um filho... não estava nos planos dela. E nem dele - pelo menos era isso que Patterson insistentemente pensava -

" Preciso contar isso do melhor jeito possível "

Ela andava de um lado para outro, ainda tentando absorver a notícia que estava na tela do computador. O exame de rotina que ela tinha feito para apresentar no trabalho e agora tinha dado a ela o resultado que ela menos poderia esperar.

— "Grávida "

Suas mãos passavam ao redor da barriga ainda impercetível, era algo que ela muitas vezes tinha visto na rua ou em alguma loja de grávidas aleatória, sendo um pouco surreal imaginar que agora era com ela e que dentro de pouco tempo se tornaria mãe. Para nunca mais deixar de ser.

O telefone toca.

Roman, do outro lado da linha, parecia adivinhar que algo especial estava acontecendo.

— Oi amor, pensei em marcarmos algo para essa noite. Que me diz de massas, um bom vinho?

Patterson desejava gritar ao telefone logo, mas sabia que não era a hora certa. E nem o momento adequado.

— Pode ser. Estou faminta. Vamos nos encontrar em algum local e depois decidir?

—  Na verdade, pensei em algo mais caseiro e aconchegante. Posso passar aí e levar a massa.

— Eu me encarrego do vinho. Eu te aguardo.  Até mais. Te amo.

— Também te amo. Até mais.

Patterson não pensava em marcas de vinho e nem em massas. Na verdade, pensava somente em uma coisa. E pela primeira vez em muito tempo, não era sexo.

As variáveis pareciam infinitas e impossíveis de equacionar. O tempo passou sem que ela fosse capaz de planejar uma forma especial de contar à ele. Quando Roman chegou, a cozinha e Patterson estavam uma bagunça, mas o jantar estava pronto.

Ele não precisava de mais nada pra entender que algo a estava deixando preocupada. Se aproximou e a abraçou.

Ali, nos braços dele, todo o resto parecia tão insignificante pra ela, por isso retribuiu o abraço e se permitiu deixar as variáveis de lado em troca da paz e segurança que aquele relacionamento lhe proporcionava.

Quando finalmente se afastaram, Roman perguntou:

— Está tudo bem?

Ela respirou fundo e pediu um tempo com a mão enquanto se afastava em direção ao quarto. Voltou pouco depois. Olhou para ele de baixo para cima com aquele olhar que sempre derretia o coração de Roman:

— Eu queria encontrar uma forma especial de dizer isso... Mas fiquei tão... emocionada e impactada que tudo que quero e dividir isso com você. – e mostrou o teste de gravidez em sua mão – Acho que nos descuidamos mais do que imaginávamos. Vamos ser pais.

Roman mordeu o lábio inferior e as lágrimas banharam seu rosto. O que tinha com Patterson sempre lhe pareceu bom demais, mas isso era como resgatar um paraíso perdido: ele teria uma família – a sua família.

Sem conseguir falar, a puxou para perto e disse apenas:

— Obrigado!

A emoção dele dispensava palavras. Ela era plenamente capaz de sentir tudo o que a notícia tinha significado. Levando as mãos ao rosto dele, puxou-o para um beijo. Nada poderia ser mais perfeito.

Flashback off

Todos comemoraram e foram até o casal para abraça-los. Quando a euforia do notícia se acalmou, Jane continuou:

 – Eu soube que Rich e Boston também entraram com pedido de adoção. Nossa família crescerá bem rápido e nossa alegria em saber que Alice poderá crescer com os filhos de vocês é enorme. Pra ser perfeito só falta...

Então, de forma quase natural, todos os olhares da sala se dirigiram à Reade e Zapata que logo perceberam a intenção por trás daquilo:

— Mira! Não me olhem desse jeito. Já chega o Ed, não estou preparada pra isso agora. – Tasha falou.

— Eu? O que eu fiz? Nem toquei nesse assunto com você ainda... – Reade se defendeu.

— E precisava? Você desacelera o passo toda vez que passamos em frente a uma loja de roupas para bebês, está sendo super protetor com Afreen desde que ela anunciou a gravidez e hoje pediu para Kurt te ensinar a trocar a fralda da Alice. Te conheço bem o suficiente para saber que a ideia de ter um filho anda povoando seus pensamentos, Reade. – a latina disse rindo e então deu um rápido selinho nele. – Vamos curtir a Alice, depois teremos os filhos de Patterson/Roman e de Rich/Boston, que Deus proteja essa última criança. O nosso pode ficar para o ano que vem.

A última frase plantou um sorriso largo no rosto de Reade e todos riram.

Pouco mais tarde, Jane foi para o quarto trocar a fralda de Alice e Patterson e Tasha a acompanharam. Sempre que ficavam só as três, o tom da conversa mudava. Os laços de amizade entre elas estavam mais estreitos do que nunca. Confidenciavam sentimentos e angustias da vida conjugal, sonhos e necessidades. Por isso, aquele foi o momento escolhido pela tatuada para introduzir um assunto delicado. Assim que terminou a troca de fraldas, entregou a filha à Tasha e baixou os olhos sem coragem de encarar as amigas no que ia dizer:

— Meninas, estou precisando muito da ajuda de vocês... – e tentou expor a complexidade do problema com os detalhes mais relevantes ainda sem encarar as amigas.

Ao finalizar o relato, deu um longo suspiro.

Patterson precisou expressar sua opinião:

— Jane, ainda acho que contar a verdade ao Kurt seja o melhor caminho. Ele vai entender e te ajudar nisso.

— Dessa vez, estou com Jane, Patterson. Ele não vai entender e isso pode desencadear outras reações. Esse plano pode dar certo. Nós três nos unimos e resolvemos isso. Pode contar comigo, Jane. – Tasha se prontificou e olhou para Patterson cobrando o mesmo.

Mas foi apenas quando Jane ousou olhar para ela, com os olhos constrangidos e suplicantes, que Patterson se pronunciou:

— Eu não sei como vocês me convencem a fazer essas coisa. Ok. Seremos algo do tipo de “As Panteras” ou seja lá o que for essa loucura em que vamos nos meter. Tô dentro. Conte comigo, Jane.

Nas próximas duas semanas, as três levantaram as informações e materiais que precisavam com muita discrição. Nenhum dos meninos desconfiou de nada. Nem mesmo Rich que era tão bisbilhoteiro.

Aguardaram uma data conveniente. Kurt teria uma importante reunião em NYC e, por isso, estariam na cidade por alguns dias. Atentas aos prazos, organizaram as coisas de forma rápida. Teriam que agir durante aqueles dias.

Quando chegou o dia combinado, Jane foi com Alice até a casa de Patterson ainda bem cedo.

— Aqui tem tudo que ela vai precisar: fraldas, roupinha extra, papa de frutas e de legumes. O leite que consegui juntar nos últimos dias está congelado. Ela está aceitando bem naquele copinho de suco. Se tudo der certo, eu voltou final da tarde... – abraçou a filhinha e deu um beijo suave em sua cabecinha cabeluda antes de entrega-la à amiga. Depois que o fez, continuou – E, Patterson, nem sei como te agradecer por me ajudar com tudo isso.

A loira levou a mão até o ombro dela e deu um leve aperto:

— Não precisa me agradecer. Vocês são minha família. Jane, só me prometa que terá cuidado e que não exitará em colocar Weller por dentro de tudo isso se for necessário.

A tatuada consentiu acenando com a cabeça e deu um sorriso a amiga. Nesse momento, Tasha chegou.

— Eu odeio o trânsito de NYC nesse horário. Estou muito atrasada?

— Não, está bem no horário. – Jane a tranquilizou.

— E essa florzinha da titia? Own, Alice Weller, se eu me permitir engravidar antes do que planejei, a culpa será toda sua! – e beijou o pezinho da garotinha que deu uma gostosa risada. E, virando-se pra Jane, perguntou: - Preparada?

Jane suspirou e assentiu com uma postura austera que lembrava muito Remi. Isso fez Tasha sorrir:

— É isso aí. Você sabe e tem tudo que precisa. Não tem como dar errado. Vá lá e faça o que precisa ser feito. Nós cuidaremos bem de Alice até você voltar. – a latina tentou mostrar confiança na amiga. Como Patterson tinha se afastado com a bebê, ela resolveu acrescentar sussurrando: - E, Jane, não importa o que aconteça, em hipótese alguma, abra o jogo com Kurt. Ele não pode saber de nada, confie em mim.

Pela terceira vez nos últimos minutos, Jane voltou a sacudir a cabeça concordando com tudo, mas dessa vez estava plenamente ciente que tinha feito promessas contraditórias às amigas. Estava feliz por tê-las por perto. Foram fundamentais na organização de tudo e ainda cuidariam de Alice hoje. Agora era com ela. Cumpriria mais essa missão, quem sabe a última, sozinha. Disse um adeus relutante e saiu.

Era quase horário do almoço. Kurt havia apresentado tudo que precisava na reunião. Nada mais que seria dito dali em diante o interessaria. Mas era o protocolo continuar ali, preso e engravatado naquela sala fechada, rodeado por homens que apresentavam mais seus egos do que qualquer coisa útil à segurança da Casa Branca.

 Quando o celular vibrou no seu bolso, ignorou mantendo o profissionalismo. A segunda vez já o deixou curioso. Na terceira, pensou em Jane com Alice. E se a filha precisasse de algo? Dispersou o pensamento, Jane jamais ligou nem mesmo quando a pequena teve febre pela vacina. Ela nunca solicitava sua ajuda quando estava nessas reuniões.

Na quarta vez, ele não resistiu. Devia ser algo importante. Discretamente retirou o aparelho do bolso e colocou no colo. Já tinha parado de tocar. Ligação perdida de Jane. Seu coração pulou uma batida. Acessou as mensagens à procura de alguma informação. Só uma foto de Patterson e Tasha com Alice dizendo que estava cuidariam da bebê naquela manhã para Jane ir às compras. Pediu licença, disse que precisava retornar uma ligação importante.

Discou o número da esposa antes mesmo de chegar a um lugar reservado. Ela não atendeu. Fez uma segunda tentativa.

— Kurt... – a voz de Jane chiou no aparelho parecendo muito distante, cansada e aflita. Havia muito barulho de interferência. Ele só conseguiu identificar o final da frase: - ... venha sozinho. - E a ligação foi interrompida.

Ele ligou mais três vezes e nada. Agradeceu ao infinito por terem instalado rastreadores em seus smartphones. No começo pareceu um exagero, mas o passado dela podia trazer necessidades inesperadas, então fizeram isso.

O localizador apontou para uma propriedade rural a uma hora de distância da cidade. Ele mal fixou a localização e o sinal dela desapareceu. Aquilo não era bom. Sua vontade era acionar todas as agências de segurança para sair ao resgate de sua esposa. Mas ela pediu que ele fosse sozinho.

Chamou Reade e o deixou de sobreaviso. Combinaram códigos de mensagens que trocariam a cada 15 minutos. Na ausências deles, o FBI agiria.

Saiu com o carro com a luz de emergência e sirene ligadas. Graças a isso estava fora da cidade em tempo recorde. Fora de lá, desligou tudo que pudesse chamar a atenção para seu carro. Assim que se aproximou da propriedade rural, começou a sondar detalhadamente a redondeza. Nada chamou sua atenção. Reade enviou informações via satélite obtidas por Rich: tudo parecia calmo. Era uma propriedade luxuosa que já abrigou uma conhecida casa noturna dos magnatas nova-iorquinos. Foi fechada há alguns meses por denúncias de prostituição no local. Oficialmente deveria estar desocupada enquanto rolava o processo.

Ainda vasculhando a área externa, Kurt localizou um carro pequeno deixado atrás do prédio. Olhando dentro do veículo, encontrou uma blusa de Jane. Não havia sangue ou qualquer sinal de luta no interior. Ela devia ter usado esse carro para vir até o local por vontade própria. Isso o deixou aliviado.

Rodeou o prédio, tentando olhar pelas janelas. Mas as pesadas cortinas limitavam visões externas do interior. Resolveu entrar pelos fundos. A porta estava destrancada. Com a arma em punho, percebeu o quanto o interior do local era escuro. Atravessou a cozinha e chegou ao vasto salão principal. A disposição da mobília, o piso elevado do lado direito, as luzes de neon no teto, não havia qualquer dúvida quanto ao tipo de diversão que era oferecido ali. O local parecia vazio. Pensou em chamar Jane, mas se ela estivesse refém de alguém, isso não seria uma boa ideia.

Numa mesinha lateral, a correntinha de ouro com uma pequena esmeralda pendendo num pingente chamou sua atenção. Era de Jane. Ele a presenteou com isso no último aniversário. Não estava arrebentada. Jane deixou aquilo como uma pista pra ele, tinha certeza. Isso renovou o desejo de encontrá-la o quanto antes.

Começou a subir as escadas. Foi lento porque precisava ser discreto. O corredor lá em cima parecia vazio. Diversas portas se espalhavam dos dois lados. Muitos quartos. Apenas uma porta entreaberta, aquela que única que ficava de frente no final do corredor, provavelmente dando acesso à suíte principal. Podia ser uma armadilha.

Cauteloso, vasculhou quarto por quarto. Tudo vazio. Parecia que há muito tempo nenhuma viva alma passava por ali. A poeira se acumulava por tudo. Restava só o quarto mais suspeito. Seu celular vibrou mostrando que o celular de Jane voltou a emitir sinal de localização. E vinha do quarto à sua frente. Sentia-se caminhando para abatedouro. Mas se Jane estivesse lá dentro com vida, nada o impediria de resgatá-la.

Sondou o interior do cômodo pela fresta da porta entreaberta. A escuridão não lhe dava informação alguma além de que parecia ser bem maior que os outros quartos. Empurrou a porta jogando um pouco da escassa luz do corredor pra dentro do cômodo. Não ajudou muito. A mobília preta e os tecidos vermelhos não colaboravam com a claridade. Parecia vazio como todo o resto da casa.

Caminhou dois passos pra dentro do cômodo e tudo aconteceu muito rápido. A porta se fechou atrás dele enquanto uma luz negra se acendeu do outro lado do quarto, destacando uma mala cinza propositalmente colocada sobre um tablado que tinha no centro um barra de metal que ia do teto ao chão.

Kurt não precisou ver a etiqueta que a mala trazia. Ele reconheceria aquela bolsa em qualquer lugar. A mala da qual Jane saiu na Times Square. Um sensação gélida ameaçou percorrer sua espinha vislumbrando um cenário nefasto à frente, mas se deteve ao ver algo se movendo dentro da bolsa.

O zíper se abriu e um braço magro recoberto por uma longa luva de couro se esticou buscando o mundo fora da mala.

Kurt baixou a arma e estreitou o olhar. Sua apreensão o deixou. Tudo parecia tão óbvio agora. As pistas colocadas para atraí-lo. Como não desconfiou? Rapidamente pegou o celular para informar Reade. Com o qu estava prestes a sair daquela mala, tudo que ele menos queria era o FBI chegando ao local.

“Estamos bem. Abortar missão.” – enviou para o amigo e voltou sua atenção à mala na sua frente.

Ela se levantou decidida e sensual, de costas para ele. Vestia uma roupa de couro completamente colada ao seu corpo. As costas estavam desnudas deixando à mostrar o seu nome: Kurt Weller marcado sobre a pele dela. O short era minúsculo e acabava muito antes do que Kurt ousaria sonhar. Ela não teve preocupação em usar qualquer meia. As tatuagens cobrindo a pele de suas perna eram capazes de compor o look com o couro e o scarpam preto alto de muito mais ousada.

Jane olhou para trás, mantendo a postura enrijecida e desafiadora de Remi e, com voz firme, mas com um suave preocupação, perguntou:

— Você está muito bravo por perder o final de sua reunião?

Kurt quase deixou o sorriso escapar e inundar seu rosto, mas com um pouco de esforço conseguiu se manter sério.

— A reunião estava esgotada. Nada mais me interessava lá. Essa missão aqui é... mais importante. – e levantando as sobrancelhas, entrou na brincadeira – Sou o Agente Especial Kurt Weller. Meu nome está tatuado nas suas costas, logo sou o responsável pelo seu caso.

Jane não foi tão eficaz quanto Kurt ao conter o sorriso que se formou no seu rosto, uma mistura de satisfação pela compreensão do marido e malícia:

— Eu não desejaria nenhum outro, Agente Especial Kurt Weller.

— Só tenho uma dúvida: você não deveria sair nua dessa mala?

 - Pensei que talvez fosse mais eficiente para sua... – e limpou a garganta – investigação se acompanhasse enquanto eu tiro essa roupa.

— Agente Doe, sua técnica se baseia na sua experiência com o FBI?

— Hmmm, houve um caso há algum tempo atrás... Isso pode ter me inspirado. Ou talvez meu lado terrorista esteja falando mais alto hoje. Você terá que assumir o risco. Sente-se.

— Sou um agente com vasta experiência profissional. Acho que dou conta desse caso. – Kurt disse puxando a cadeira que estava na lateral.

Jane estalou os dedos e a iluminação do local foi alterada. A música de fundo subindo e ela começou os movimentos do strip-tease. Sabia que precisa cativar totalmente a atenção do marido, impedindo que ele refletisse sobre a situação porque perceberia o quanto Patterson estiveram por trás daqueles efeitos e Tasha das roupas e ensaios.

Weller não pensava em nada. Tudo que fazia era um esforço sobrehumano para se conter desde que Jane saiu da mala na sua frente. Ela o tinha por completo agora.

Quando Jane girou pela barra de metal deslizando até o chão e impulsionando o corpo em direção dele para então ficar de joelhos na sua frente e pedir que ele soltasse o cadarço que trançava a frente do corpete que ela usava, percebeu que o marido estava trêmulo. Isso a fez sentir uma sensação de poder gostosa sobre ele incentivando-a a se soltar e brincar com aquela fantasia de todas as formas que agradasse os dois.

Ela se aproximava, permitia toques e depois se afastava impedindo-o de se satisfazer. Ele aceitava as regras, não sem murmurar palavrões incompreensíveis para poder continuar a brincadeira sem explodir de desespero e agarrá-la.

Jane tentou deixa-lo mais à vontade tirando seu paletó e gravata como parte da coreografia. Depois soltou o sinto e os botões da sua calça.

Quando ela finalmente ficou completamente nua, calçando apenas os sapatos, laçou-o com sua própria gravata, puxando-o de encontro ao seu corpo:

—  Observe atentamente todas as pistas escondidas no meu corpo, Agente Weller, porque tudo isso começa e termina com você.

Ele aceitou o convite, colocando seu corpo ao dela e a encarando com toda a fome que sentia:

— Sweet heart... – sussurrou

Jane levou o dedo à boca dele o silenciando.

— Não! – sussurou de forma firme. – sou sua striper essa noite. Me chame de Candy.


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Notas finais do capítulo

Uma observação importante que queremos deixar é sobre o nome que Jane pede que Kurt use na sua frase final. É uma referência a um vídeo dos bastidores em que Jaimie disse que, se fosse striper, seu nome seria Candy.
Gostaram da nossa louca fanfic? Por favor, compartilhem conosco suas impressões, críticas e sugestões. É uma ótima forma de incentivo.
Mais uma vez, agradecemos por cada minuto de seu tempo dedicado a leitura de Perdas e Ganhos. Você fez duas autoras amadoras muito felizes.



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