Perdas e Ganhos escrita por Lucca, alegrayson


Capítulo 23
Sob a sombra da morte


Notas iniciais do capítulo

A vida de Roman está por um fio.
Remi também não está bem.
Kurt irado por Remi se arriscar.
Patterson fragilizada por Roman.
Ainda bem que existe alguém lá por eles.
Dedicamos esse capítulo a uma leitora especial que está completando mais uma primavera: Flear Doe (nossa Fernanda).
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/755408/chapter/23

Kurt não disse uma palavra. Se aproximou de Remi com a cara fechada, a pegou nos braços e saiu rumo ao elevador. Zapata os segue preocupada.

Os paramédicos atenderam Remi no térreo e não encontraram nenhuma alteração. Como a queixa dela persistia, orientam o casal a seguir até o hospital para um averiguação obstétrica acompanhada de ultrassonografia.

Kurt permaneceu calado o tempo todo, respondendo apenas aos paramédicos.

— Acho que já estou melhor. Eu preciso ir até Roman. – Remi diz, mas ao se levantar, buscou apoio no braço de Tasha demonstrando que não era totalmente verdade que o que havia dito

— Você vai passar por uma avaliação obstétrica antes, Remi. Ou será que você não pode fazer nada por esse bebê? – Kurt diz visivelmente nervoso.

Ela se calou. Assentiu com a cabeça e o seguiu. Zapata observou tudo em silêncio e decidiu acompanhar o casal. A coisa entre eles estava tensa demais para deixá-los sozinhos.

Já no carro, ela recebeu uma mensagem de Reade e respirou fundo antes de iniciar aquela difícil conversa com os amigos:

— Remi, preciso que você me diga uma coisa. Você se lembra quantas vezes atirou em Blake?

A morena enrijeceu o corpo contra o banco e ficou calada.

— Quantas vezes você atirou, Remi? – Kurt repetiu a pergunta com raiva.

— Acho que três. – ela respondeu rápido, bufando num desabafo.

— Merda! – Kurt soca o volante – Você sabe que isso não é mais legítima defesa, não é?

— Eu não lembro direito, tá bem? Ela disse que me queria viva, mas que o bebê podia morrer. Eu estava com muita raiva e muito medo...

— Você acertou no primeiro tiro? – Tasha tentou fazer a pergunta parecer trivial

— Claro que acertei! – Remi respondeu e sua respiração ficou ofegante novamente.

— Ok. Os miolos da Blake estouraram com dois deles. Um certeiro e outro de raspão. Vamos dizer que eu subimos juntas para detê-la. Vocês se encontraram enquanto eu estava do outro lado. Quando ela apareceu e apontou a arma, você se virou num reflexo e atirou. Esse foi o tiro que não acertou Blake. Em pânico, você mirou novamente e puxou o gatilho mais duas vezes. Entendeu, Remi? Você pode repetir essa versão pra mim?

Remi assentiu trêmula, respirou fundo e repetiu a versão de Zapata.

— Talvez isso amenize a situação.

Kurt balançou a cabeça em concordância e disse:

— Obrigada, Tasha. – sua voz estava firme de novo.

— Obrigada... – a voz de Remi estava trêmula.

Nos hospital, assim que chegaram, a equipe de enfermagem levou Remi para dentro enquanto Kurt ficou para preencher a ficha dela. Tasha aproveitou esse momento para encarar o amigo:

— Kurt, olha pra mim. Eu sei que ela é difícil e que deve estar sendo horrível pra você lidar com isso ainda mais porque tudo envolve a vida do bebê também. Mas acredite em mim, não é o momento de bater de frente com Remi. Kurt, a cena que encontramos ao chegar lá em cima foi horrível. Acho que Roman não sobreviverá. Então, tenha calma com ela.

Ele acenou concordando.

— Ótimo. Vou procurar informações sobre Roman. Ela vai querer saber. Volto assim que puder. – se despediu com um leve aperto no braço do amigo -  Vai ficar tudo bem.

Weller respirou fundo absorvendo as palavras de Tasha. Ela tinha razão. Não era o momento para ser tão duro com Remi. Tinha sido um dia difícil e as coisas poderiam ficar ainda piores. Ela reagia da forma que sempre foi treinada para fazer: com raiva. Mudar isso exigiria tempo.

Ele entrou na sala de emergência e seu olhar cruzou com o de Remi imediatamente. Numa reação quase instantânea, ela baixou a cabeça, fugindo dele. Assim que Kurt estava ao lado da cama, ela disse:

— Eu preciso saber como meu irmão está. – sua voz misturava medo e acusação, como se Kurt a estivesse impedindo de fazer o que precisava.

— Eu sei, Remi. Zapata está verificando e logo trará atualizações. Os médicos estão cuidando dele. Você precisa deixar que cuidem de você também. Pelo bebê.

Ela assentiu e continuou olhando para o lado. A médica de plantão chegou, se apresentou e os questionou sobre os acontecimentos que os trouxeram ali. Kurt começou o relato:

— Somo do FBI. O irmão dela foi ferido durante uma operação e Remi acabou atirando na pessoa que atirou nele. Depois disso começou a passar mal.

A médica fez uma expressão visivelmente descontente com o fato de Remi estar nessa operação de campo grávida:

— Sua pressão arterial e batimentos cardíacos estão normais. A glicemia também está normal. O resultado dos outros exames sanguíneos chegarão em pouco tempo. O que você está sentindo?

— Está difícil pra respirar. Minha cabeça fica pesada. A vista escurece...

— Parecem sintomas emocionais.

— Não, não é emocional. Eu controlo bem minhas emoções em campo. Eu já matei outras pessoas antes... tem algo errado comigo... – Remi disparou a falar e só depois percebeu Kurt olhando firmemente para ela e balançando a negativamente a cabeça num sinal para que não relatasse seus hábitos assassinos. Então ela se calou.

— Durante a gestação, seu corpo está sob efeito de altas doses hormonais e isso pode te tornar mais emotiva diante de uma situação familiar delicada ou ao atirar em outra pessoa... – a médica começou dizer. – Vou realizar uma ultrassonografia para vermos como o bebê está. Acho que isso ajudará a te tranquilizar.

O casal agradeceu e acompanhou a médica até a sala ao lado. Remi foi preparada para o exame. Kurt se sentou ao seu lado e pegou sua mão.  Imediatamente, ela buscou seu olhar e expirou mais aliviada. Ele não conseguiu conter o sorriso, se aproximou e encostou sua testa na dela:

— Está tudo bem. Eu estou aqui. – e sentiu que ela apertava sua mão em resposta.

Ala cirúrgica – terceiro andar desse mesmo hospital

Zapata entrou na sala de espera e encontrou Patterson completamente vulnerável sentada no sofá, com a cabeça entre as mãos ainda sujas de sangue. Ela se aproximou devagar e se abaixou em frente da amiga:

— E aí?

A loira levantou a cabeça, respirou fundo, seus rosto estava coberto de lágrimas:

— Ele está passando por uma cirurgia... perdeu muito sangue e... – Patterson se jogou nos braços da amiga e deixou o choro aflorar.

Tasha a abraçou e esperou que ela se acalmasse. Minutos depois, quando o choro diminuiu, disse:

— Venha, tem um banheiro aqui. Vamos tirar esse sangue das suas mãos e rosto.

Meia hora depois o médico adentrou a sala. Patterson segurou firme na mão de Tasha. Juntas ouviram que Roman estava bem e que poderiam vê-lo. A felicidade diante da notícia tomou conta de Patterson que arrastou Tasha junto consigo para dentro do sala de recuperação onde o irmão de Jane estava.

Assim que chegaram ao lado da cama dele, Patterson lhe deu um beijo na testa e soltou a mão de Tasha para segurar a de Roman:

— O médico disse que você está bem. Só recuperação agora. – a loira disse empolgada para Roman.

— Oi... – ele respondeu ainda sonolento – Isso é bom. Eu tive um anjo que me socorreu.

Zapata pensou que se não saísse logo dali poderia vomitar por ouvir aquelas frases melosas.

— Na verdade... Dois anjos...- Roman continuou. – Oi, Zapata.

— Oi – ela respondeu desconfortável acenando de forma fria – Bem, eu vou deixar vocês aqui e vou avisar a Jane... quer dizer, a Remi, que está tudo bem.

E saiu da sala.

Assim que chegou ao corredor de acesso aos elevadores, Tasha encontrou Reade:

— Ei, finalmente te encontrei. – ele disse.

— Oi. – ela respondeu rápido e continuou – Reade, presta atenção: Vamos dizer que eu subi com Remi. O primeiro tiro não acertou Blake, então ela entrou em pânico e atirou duas vezes seguidas...

— Céus, eu vou fingir que não ouvi o “vamos dizer” com o qual você começou a frase.

— Roman passou por cirurgia e está bem. A Patterson estava pior que ele, mas agora que o novo crush do mau dela está bem, tá lá ao lado dele suspirando. – e revirou os olhos e continuou falando descontroladamente – Não tem como isso acabar bem. E Remi passou mal. Ela tá abalada. Não sei se o bebê tá bem. E outro que não estava bem era o Weller. Você lembra quando ele ficava irritado quando era contrariado há alguns anos atrás, antes da Jane? Pois é. Tá desse jeito. O que não ajuda em nada a situação. Tive que deixar os dois sozinhos para socorrer a Patterson. Mas agora vou lá ver se está tudo bem e dizer a Jane... droga! Não é mais Jane, é Remi. Vou dizer a Remi que o irmão dela sobreviveu. Espero que já tenham realizado os exames e que o bebê e ela estajam bem...

— Tasha...

— Oi?

— Respire. – Reade olhava diretamente nos olhos dela. Ela obedeceu e respirou. Presa no olhar dele, seu peito foi ficando apertado, um nó se formou na sua garganta e ela o engoliu de volta. – Você criou um álibi para Remi, mediou o conflito do nosso casal favorito, confortou sua melhor amiga mesmo não aprovando esse novo romance dela. Tudo isso foi ótimo. Mas agora, relaxe.

Ela olhou de volta para ele e não foi mais capaz de manter em pé a barragem que segurava a mar de emoções daquele dia. Se jogou nos braços de Reade que a envolveu com carinho. Só pouco depois Tasha percebeu que estava chorando.

Sala de Ultrassonografia

Enquanto a médica ia mostrando o bebê, o casal foi se esquecendo dos problemas e curtindo cada detalhe: mãozinhas, pezinhos, nariz, boca, orelhas. Era tudo tão perfeito! Comentaram cada característica comparando com as suas e com das duas irmãs, Avery e Bethany.

O celular começou a vibrar no bolso de Kurt. Ele tentou ignorar, mas a insistência das chamadas o fez pedir licença e pegar o aparelho para ver do que se tratava. Era Tasha avisando que Roman estava bem. Ele transmitiu a notícia a Remi que ficou ainda mais calma e voltou a sorrir.

Voltaram a se concentrar nas imagens do bebê. Aquele momento era deles e queriam poder curtir um pouco mais essa visão do filho ou filha. De repente, a médica disse:

— Então, como puderam ver, está tudo bem. Batimentos normais. Ela está ativa e confortável aí dentro da barriga da mamãe.

— Ela? – os dois disseram juntos.

A médica ficou desconcertada:

— Sim, ela. É uma menina. Vocês ainda não sabiam? Por favor, me desculpem.

O casal se entreolhou em êxtase. Saber que tinham um filho a caminho era ótimo. Mas agora sabiam mais ainda sobre essa criança tão desejada: era uma menina! Os dois não conseguiram conter o beijo que trocaram. Depois Kurt disse:

— Tudo bem, doutora. Estamos felizes em saber. Muito obrigada.

A médica saiu, deixando o casal sozinhos. Remi se sentou na maca e se virou para Weller:

— Kurt, você está realmente feliz como eu?

Ele a abraçou depois se afastou apenas o suficiente para se conectarem através do olhar e disse:

— Remi, eu passei 25 anos da minha vida procurando por uma garotinha que eu amava e perdi. Durante todo esse tempo, sempre achei que não haveria felicidade pra mim se meu pior pesadelo se confirmasse. Então, você entrou na minha vida e usou isso para me manipular, mentiu, me fez sentir novas formas de dor... Mas desde que se fez presente, todo o vazio que existia e me impedia de ser feliz desapareceu. Minha vida foi totalmente preenchida outras meninas: Jane, Bethany, Avery... e agora essa garotinha aqui. E todas vocês são tão fortes, tão únicas que por mais que eu queira fazer de tudo para protegê-las, eu me sinto seguro porque se eu falhar ou faltar, sei que são capazes de prosseguir. – e riu – acho até que estou mais aliviado em saber que é uma garotinha. Isso me faz ter certeza de que nenhum dos problemas que você enfrentou nessa gestação vai afetá-la porque ela será forte com a mãe dela.

Os dois trocaram alguns beijos suaves e Remi continou:

— Eu sei que já prometi outras vezes e não cumpri. Mas eu te garanto que o maior desejo que existe dentro de mim é fazer tudo para ela nascer bem e para a nossa família dar certo. Mais que tudo. Eu...- e pegou a mão dele e colocou nos seu peito – Eu sei que sou complicada, mas... – e olhou direto nos olhos dele – Eu nunca me senti tão ligada a outra pessoa como me sinto ligada à você...O que eu tô tentando te dizer é... – e o sentimento transbordou pelos olhos dela - Eu te amo, Kurt.

Ele encostou a testa na dela e disse sussurrando:

— Eu também te amo. Mais que tudo. – ficaram assim por um momento. Então ele se afastou e a lembrou – Venha, precisamos ver o resultados dos exames de sangue e depois escolher o nome dessa garotinha.

 Analisados os últimos exames, a médica não viu motivo para segurar Remi no hospital e a liberou para ir pra casa, mas pediu que descansasse pelo resto do dia.

O casal estava deixando o hospital quando se viu rodeado por agentes da CIA e da ASN.

— Jane Doe? Precisamos levá-la sob custódia para averiguações.

Weller se colocou imediatamente à frente da esposa enquanto ela olhava desesperada para ele.

— Ela não vai a lugar algum.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram?????
Críticas e sugestões são bem vindas. Deixe um comentário para sabermos a percepção de vocês sobre essa história, por favor.
Muito obrigada pela leitura.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perdas e Ganhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.