Perdas e Ganhos escrita por Lucca, alegrayson


Capítulo 16
Decisões Intensas


Notas iniciais do capítulo

Em meio ao complicado pós-operatório da reconstrução de mama, conseguimos escrever algo pra você.
Novos problemas à frente. Embarquem nessa história conosco.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/755408/chapter/16

Era pouco depois de 5 AM. Tasha atravessou o longo corredor com passadas decididas. Com a mesma decisão, abriu a porta de acesso à antessala da cela de Roman e adentrou no espaço. Para sua surpresa, ele ainda dormia. Sem camisa, as costas voltadas para ela, o corpo embalado pelo sono, ele não parecia nada ameaçador. As diversas cicatrizes espalhadas por sua pela a relembraram que ele teve uma vida de batalhas ferozes.

Ele também era feroz. Ela sempre o comparara a um tigre: beleza, força, sedução se entrelaçavam fazendo dele alguém admirável, mas também temível. Mantê-lo confinado naquela cela lhe roubava tanto do fogo que ardia dentro dele. Injusto? Um tigre à solta em meio a pessoas comuns era uma ameaça. Ele estava ali porque havia ferido muita gente em seu caminho.

“Mas ele também foi ferido, quebrado, massacrado pelas pessoas que o transformaram nessa ameaça.” _ o raciocínio da latina não deixou esse detalhe escapar.

E ali estava ela, Tasha Zapata, ex-agente da CIA, reintegrada ao FBI, mas trazendo uma oferta de sua ex-agência enfeitada com o laço da promessa de liberdade, mas que mal disfarçava a faceta suicida daquela missão.

Ela respirou fundo e soltou o ar devagar tentando se centrar. Roman não era uma pessoa comum. Ele teria uma chance de sair vivo nessa missão. E então, livre daquela cela, poderia reconstruir sua vida como Remi fez.

Remi. Ela teria uma chance de perdão com Jane. Mas não com Remi. O casal de irmão era inseparável e a força com a qual enfrentavam as diversidades vinha do fato de que forma forjados juntos no calor das atrocidades a que foram submetidos na infância e juventude. Mesmo que Roman sobrevivesse, Remi nunca voltaria a confiar plenamente em Tasha.

Patterson. Tasha já sentia no vermelho com sua melhor amiga desde que omitiu sobre Borden estar vivo. Tudo que a latina queria era evitar que Patterson se machucasse ainda mais. Tantas vezes ela incentivou a amiga a dar uma nova chance ao amor, mas nunca, em hipótese alguma ela imaginou que o crush seria Roman. Ela não podia permitir que isso fosse mais longe para o bem de Patterson. Mas a amiga entenderia? As duas ainda tentavam cicatrizar as feridas da última cisão...

Zapata engoliu o amargo que subiu por sua garganta. Roman tinha uma chance pequena de sobreviver a proposta suicida que ela trazia. A amizade dela com Remi e Patterson não. A decepção de Weller e Reade fechariam o pacote. O cheiro da morte a perseguiria a partir do momento que ela encontrasse forças para verbalizar o motivo pelo qual estava ali.

“Pessoas ruins fazem coisas ruins. Pessoas boas tentam pará-las.” _ ela repetiu para si mesma no fundo de sua mente. Nunca seu raciocínio pareceu tão carente de argumentos. Mesmo assim, a HCI Global e suas novas ameaças precisavam ser paradas e ela estava disposta a pagar o preço por isso.

Aproximando-se da cela, bateu forte no vidro e disse:

— Roman, acorde. Preciso falar com vc.

Ele se virou meio assustado, se esforçando para abrir os olhos.

— Hei, Tasha. Bom dia. Ou boa tarde, boa noite. Não dá pra dimensionar a passagem do tempo aqui nessa iluminação artificial. Mas nada como ser acordado de forma suave por sua presença tão doce e meiga. Trouxe o meu caderno de esportes?

— Sem ironias. Não acordei de bom humor...

— Isso não é novidade. Seu time perdeu ontem?

Tasha bufou.

— Eu tenho uma proposta da CIA pra você.

Roman sentou-se na cama. Seu olha se transformou, tornando-se frio e calculista.

— Preciso de um minuto. _ disse seco.

Então andou até o pequeno lavatório no canto da sala e lavou o rosto. Depois vestiu a camisa do uniforme de prisioneiro e sentou-se novamente na cama.

— Sou todo ouvidos.

Tasha expôs detalhadamente a proposta: Roman se infiltraria na HCI Global através de Blake e conseguiria as informações necessárias pra derrubar a instituição. Como recompensa, teria sua liberdade de volta.

Roman se levantou e apoiou as duas mãos no alto da parede de vidro,bem em frente a Tasha, olhando de forma assustadora para ela. A latina não recuou:

— O que faz vocês pensarem que Blake confiará em mim depois de tudo?

— Teoricamente ela não sabe que você esteve por trás da queda de Crawford. Apesar de que o fato dela não ter disponibilizado nenhum forma de socorro jurídico à sua prisão indica que ela tem uma forte suspeita sobre isso. Esse é um dos grandes riscos dessa missão. Cabe à você seduzi-la novamente e fazê-la acreditar na sua inocência.

— E o que faz vocês acreditarem que sou confiável?

— Esse é o outro grande risco dessa missão. Você queria vingança de Crawford pela forma como ele roubou sua infância e te transformou num monstro naquele orfanato. Derrubar a HCI  Global é uma forma de finalizar essa vingança e impedir que novas vítimas sejam cooptadas pela instituição. Paz mundial, segurança internacional são as cerejinhas do bolo. E então, você aceita ou não?

— Porque você está me propondo isso, Tasha, se sabe o preço que terá que pagar? Pensei que éramos amigos...

Num impulso inflamado pela forma como o olhar de Roman parecia transformá-la num livro aberto, ela tentou se defender:

— Você não é meu amigo. Patterson é!

Foi dizer e se arrepender. O sorriso no rosto de Roman era a prova disso. Ele não precisava de mais nenhuma informação. Ela se sentiu ainda mais suja, expondo os sentimentos de Patterson. Droga!

Sem tirar o sorriso do rosto, Roman continuou:

— Eu tenho algumas condições.

— Condições? Fala sério! Você não pode exigir nada.

— Muito pelo contrário, Tash. Vocês precisam de mim.

— Fale.

— Quero um contato fora da CIA. Você. Todas as informações que eu mandar pra eles, mandarei também pra você que repassará para o team. E isso fica entre nós.

— Você está louco? Já não será fácil informar a CIA. Manter contato também com o FBI é maximizar os riscos.

— Eu sei. Mas não confio na CIA nem na ASN. Confiou mais em vocês. E sei que, se precisar de backup, serão minha única chance real.

— Você não conhece nenhuma forma de piedade? Isso vai mata-la!

— Ela é mais forte do que você pensa. Elas são. Remi também vai preferir assim.

Tasha deu as costas pra ele e ando pela antessala com uma mão segurando a pasta e a outra esfregando a testa.

— As coisas não saíram bem como você planejou, não é mesmo, Tash. Não dá pra ganhar todas as apostas.

Ela se aproximou da gaveta da cela e depositou o acordo. Roman pegou, assinou e devolveu.

— Tenha um ótimo dia, Zapata.

Ela saiu sem dizer uma palavra.

Três horas depois no SIOC

A equipe ficou surpresa ao ver Keaton entrar no SIOC acompanhado pelos seguranças com uma ordem de custódia de Roman. Todos se mobilizaram imediatamente para tentar impedir. Reade e Weller deram todos os telefonemas possíveis tentando ajuda externa. Remi e Patterson argumentaram de todas as formas. Tasha apenas observava. Após uma hora cansativa de enfrentamento, Roman deixava o prédio conduzido pelos responsáveis da CIA.

Após a partida, o clima de derrota tomou conta do ambiente. Reunidos na sala de Reade.

— Tem que haver alguma forma de trazê-lo de volta. _ Patterson ainda repetia enquanto andava pela sala.

— Tentei tudo quando aconteceu com Jane. _ Weller relembrou a todos com a cabeça baixa diante das limitações do seu trabalho. Ele não tirava os olhos de Remi, preocupado.

Remi estava sentada com um copo de água nas mãos, por insistência dos amigos. Sua aflição era nítida.

— Black site ou execução? Eu não posso ficar aqui sentando enquanto isso acontece.

— Fizemos tudo que estava ao nosso alcance, Remi. _ Reade argumentou tão desanimado quanto o resto da equipe.

— Então vamos quebrar as regras e agir fora da agência enquanto é possível resgatá-lo. _ disse se levantando.

— Eu concordo. É uma corrida contra o tempo. Rich, acione todos os hackers e informações da dark web. _ Patterson já determinou seu apoio a Remi.

— Hei, hei , hei. Vocês enlouqueceram? Vão acabar todos presos se continuarem com esse assunto aqui. _  Reade tentou ser sensato.

— Então vamos pra fora do SIOC. _ Remi concluiu com determinação.

— Não. Esperem! Roman precisa ficar com a CIA. _ Tasha finalmente falou e atraiu o olhar de todos na sala para ela.

A frieza que tomou conta de Remi era assustadora:

— Do que você sabe? _ disse olhando para Tasha.

— Vão infiltra-lo na HCI Global para miná-la de dentro. Ele concordou. Terá sua liberdade de volta ao final da missão.

— É suicídio! _ Patterson disse passando a mão pelo rosto.

— Ele sabe dos riscos e mesmo assim quis tentar.

— Nós deveríamos ter discutido isso em equipe, Tasha. Você é dessa equipe agora. _ Reade pontuou.

— Mas nós sempre estamos em segundo lugar nos planos. Tudo o que ela queria era afastá-lo do SIOC. Afastá-lo de mim. _ Patterson disse e caminhou em direção à porta.

— Ele vai manter contato comigo. Confia no nosso suporte._ Tasha quase gritou.

— Afastar Roman de Patsy Patt? O que eu não percebi aqui? _ Rich estava atônito.

Remi foi até a mesa de Reade e, num movimento rápido, passou a mão jogando tudo o que estava sobre ela no chão. Todos recuaram assustados.

— Torça para meu irmão sobreviver. Será melhor pra você. _ Remi concluiu olhando para Tasha que se manteve firme apesar do olhar carregado de tristeza

— Calma, todos vocês. Não vou tolerar agressões.

Remi caminhou com passos firmes e intimidadores em direção à porta. Weller tentou tocar seu braço, mas ela puxou de volta.

— Onde você vai? _ perguntou de forma mansa.

— Para o ginásio de treino, socar os equipamentos para não socar a cara de alguém aqui._ Remi foi ácida.

— Vou com você. _ Patterson disse sem olhar para Tasha.

As duas saíram e Weller se sentou na cadeira em frente a mesa de Reade. Rich recolhia as coisas do chão e recolocava sobre a mesa enquanto falava sem parar:

— Eu sei que eu gosto de adrenalina, mas vocês fazem tudo de uma forma que “wow”! Remi está grávida. Isso deveria desacelerar as coisas, não? Tigrão infiltrado, as felinas brigadas e, vocês dois entenderam a parte em que Patterson tá apaixonada por Roman?

— Rich, cala a boca e consegue uma garrafa de whisky pra gente._ Reade disse no final de suas forças.

— Eu não posso. Você nos proibiu de beber aqui.

— Estou revogando a regra por agora. Consegue essa bebida agora!

— Ok. Ok. Você é quem manda. _ e deu uma piscadinha para Reade.

Em algum lugar da Inglaterrra

Roman de ediu um prazo de 30 dias para se infiltrar. Alugou uma casa no interior da Inglaterra e, aos poucos, foi se inserindo na comunidade local. Passou a povoar os sonhos de todas as mulheres do lugar, inclusive as casadas. Só uma lhe interessava: a filha de John Lancarster, proprietário de uma milionária indústria têxtil.

Sentado num barzinho local para o happy hour, rodeado pelos novos e jovens amigos, ele ria prazerosamente. A conversa deles lhe parecia pedante, mas pensar o quanto a CIA e a ASN devia estar se remoendo após 20 dias nos quais ele não fez esforço algum para se aproximar de Blake Crawford o divertia muito.

Aos poucos o grupo foi se desfazendo e tomando outros rumos. Lauren, a filha de Lancarster, e sua melhor amiga, se afastaram como os demais, mas não deixaram o bar. Na troca constante de olhares com Roman, a garota parecia esperar um sinal verde e um local mais discreto para dar o próximo passo. Ele estava pronto para se levantar de desencadear o encontro quando ela se sentou bem à sua frente.

Blake Crawford. O look interiorano de sua roupa não diminuía em nada a sua beleza. Os cabelos presos num rabo de cavalo deixando o pescoço e colo à mostra o remeteu imediatamente ao sabor que a pele dela tinha naqueles locais. Ela tirou os óculos escuros e dois se entreolharam de forma firme e profunda. Por fim, Roman deu um pequeno sorriso irônico, pegou o celular e tentou se levantar da mesa.

— Fique! _ o tom de voz não deixava espaço para negativas. _ Temos muito o que conversar.

Ele se acomodou de novo na cadeira, mas foi assertivo:

— Não tenho nada a falar com você.

— Wow. Vai se fazer de vítima agora, Tom? Ou Ryan Mitchell? Como devo te chamar.

— Prefiro não ouvir meu nome saindo da sua boca, seja qual for o nome que eu esteja usando no momento. Troca de identidade e começar uma nova vida após passar meses numa prisão imunda da CIA não é fácil nem barato. Gastei boa parte da meu dinheiro com advogados. Um saldo negativo demais para o meu gosto. Um preço alto demais a pagar por me apaixonar pela filha de Hank Crawford e ser leal a eles.

— Leal...Você sabe que está no topo da minha lista de suspeitos.

— Ótimo, detesto o segundo lugar. Se era só isso, eu já vou.

— Você não vai tentar provar sua inocência?

— Não tenho nada a prova pra você.

— Pra quem jurava amor eterno, você esquece fácil.

— Amor só vale a pena quando é recíproco. E ser deixado para apodrecer numa prisão não é o final feliz que eu esperava.

— Eu estava de luto por meu pai.

— Então me faça um favor: viva o luto por ele e por mim também. Mate-me de vez na sua vida.

Ele se levantou e saiu.

Agora era uma questão de tempo até ela se reaproximar. Estava sozinha, não confiava em ninguém. Ela precisaria de uma âncora. E ele estaria ali para ela.

Três dias depois ela batia à porta de sua casa. A proposta era simples e clara: uma noite de sexo. A segunda e a terceira vieram com um brinde.

Quinze dias depois, ele estava de volta ao universo dos Crawford. Sabia que precisava ser cuidadoso. Blake era uma vítima? Ele precisava resistir à tentação de considerar que sim por mais que seu coração quisesse amá-la de novo toda vez que ele se fundia a ela na hora do amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Será incrível saber o que vocês acharam. Deixem um comentário, por favor.
E muito obrigada pela leitura.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perdas e Ganhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.