“Sempre que ouvir

O som triste do violão

Saiba que estarei com você

Do jeito que posso estar

Até que esteja

Em meus braços novamente

Lembre de mim”

Miguel sabia que a música pulsava dentro dele. O orgulho de saber que era tataraneto de um grande músico, o colocara em maus lençóis. Mas, mais do que isso, ao descobrir que seu tataravô era, na verdade, um homem de caráter, se sentiu exultante.

A tristeza não cabia em si quando descobriu que ele desapareceria.

Fez o possível para recuperar sua foto, para chegar a tempo, mas a inveja e a amargura de Ernesto o impediram. Realizaria ao menos seu último pedido: o de cantar para Mamá Coco.

A música fluiu naturalmente, cada palavra expressa com a intensidade do sentimento que Héctor havia feito crescer em seu peito. Era um calor gostoso, como receber um abraço quentinho no inverno.

Mamá Coco, que sempre permanecia estática em seu lugar como uma planta fazendo fotossíntese, pareceu criar vida nova ao escutar aquela música. Era como se voltasse a ser a garotinha que, por tanto tempo, se perguntara onde o pai estava e se havia se esquecido dela.

Nunca, Héctor diria. Como poderia esquecer-se?

O sorriso no rosto enrugado ao final da música encantou Miguel, preenchendo-o de sentimentos que julgava inexistentes pela própria família quando lhe negaram o dom que possuía.

Mas agora ele compreendia. Olhando o sorriso vivido no rosto de Mama Coco, simplesmente compreendia.

E ela se lembrava, pois um amor assim, que atravessava as barreiras entre os vivos e os mortos, simplesmente não podia ser esquecido.