Shoganai escrita por Kei


Capítulo 1
Capítulo 1 — DESTINO


Notas iniciais do capítulo

Palavras escolhidas: escuridão, febre, dor.

Ainda não sei o que me esperam os próximos capítulos, então gostaria de deixar claro que essa história PODE OU NÃO mudar de classificação.



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destino (s.f)

é o caminho tracejado. é por onde querem que eu siga. é o que usam para justificar a vida quando ‘algo dá errado’. é plano já escrito. é o futuro já pensado. é segredo. é a localidade final de uma viagem (física ou emocional). se a vida fosse um jogo de ‘ligue os pontos’, o destino seria os pontos (você liga como quiser, mas nem sempre forma o desenho que você quer).

 

é o que te trouxe aqui. (será mesmo?)”

— João Doerdelein

 

♠♠♠

 

— Homem ao mar! — Conseguiu ouvir com clareza o grito de um dos tripulantes, em meio às explosões. Já era o quinto (ou talvez o sexto?) marinheiro a cair e, em meio ao caos da destruição de seu amado navio, sabia que nada podia fazer por seus companheiros.

Não sabia como tinham caído naquela armadilha. Frustrava-se ao pensar que havia abaixado sua guarda, afinal, ninguém além de alguns oficiais de alto escalão da Marinha sabia daquela rota. Era impossível que um pirata aparecesse naqueles mares, no exato momento em que o Vice-Almirante estivesse passando com uma carga preciosíssima. Porém, havia acontecido e, assim, o estrategista mais inteligente da Marinha, foi enganado pela primeira vez.

O mar estava agitado. Com águas tão escuras quanto à noite e com a força para criar ondas tão altas quanto prédios. O céu parecia estar em guerra com o mar naquela tarde e um marinheiro experiente teria percebido o mau presságio na negritude do ambiente, no tempo tão frio, e nos trovões fortes que podiam ser ouvidos por qualquer canto do planeta. Parecia o fim do mundo e a grande embarcação da Marinha avançava com dificuldade, porém com estabilidade. Algo estava errado, Shikamaru quase podia sentir a tensão no ar. Lembrava-se de se preocupar por alguns momentos, antes de sua subordinada distraí-lo com alguns problemas de disputas entre a tripulação.

Não deveria ter se distraído com assuntos tão banais. Deveria ter seguido o próprio instinto. Deveria ter mandado todos os marinheiros ficarem alertas. Talvez, assim, não estaria perdendo toda a tripulação para criminosos deploráveis.

A explosão de um canhão o tirou de seus pensamentos e o maior mastro de seu navio despencou com força, enquanto o fogo tomava-o por completo. Observou com pesar a palavra “Marinha” ser transformada em cinzas.

— Vice-Almirante! — alertou um marinheiro, jogando-se na sua frente. Ouviu o som de um tiro abafado, e o homem caído não se levantou. O sangue escorria pelo ferimento em suas costas, manchando o piso do convés superior.

Aquele marinheiro havia acabado de salvar sua vida, e ele nem ao menos sabia o seu nome ou como era o seu rosto. Porém, sabia que deveria honrar o sacrifício feito por ele. Chamou por sua subordinada, que estava por perto. Poucos cálculos foram necessários para entender a situação. Estavam perdidos, não havia como salvarem-se naquela situação. O mais importante, naquele momento, era fazer com que os piratas não roubassem a carga.

— Anko, preciso que você vá lá embaixo e ative o plano B — ordenou rapidamente. Percebeu quando os olhos castanhos da companheira se arregalaram levemente, apesar da expressão séria no rosto da mulher não se modificar.

Apesar da grande diferença de idade, não havia incertezas no coração de Anko quando ela foi designada para Shikamaru. Para ela, não era nada estranho que ele fosse Vice-Almirante enquanto ela fosse somente uma capitã. Entendia a diferença de força entre eles e confiava sem dúvidas em qualquer decisão que ele tomasse. Por isso, não hesitou quando ele pediu para explodir o porão do navio, onde era guardado a carga mais preciosa.

Antes de ir, porém, puxou-o para um abraço. Encostou a pequena testa na de seu superior, deliciando-se com o rosto envergonhado que ele fez ao reagir pela última vez à sua provocação. Apesar disso, não a afastou como sempre fazia. Entendia a severidade por trás da brincadeira. Era um adeus.

— Nos vemos do outro lado — ouviu-a sussurrar próximo ao seu rosto e, antes que ele pudesse responder, Anko já havia batido continência e saído apressada.

Virou-se para o mar, a fim de observar o céu escuro enquanto esperava. Agora já não adiantava mais concentrar-se na batalha, ou no barulho de espadas se chocando e de pólvora queimando. Os gritos de seus companheiros e inimigos perdeu-se em sua mente, quase sumindo. Morreriam ali, como os heróis que desejavam ser ao se alistarem.

Desejava um cigarro como nunca. Fazia muito tempo desde a última vez, mas se pudesse ter um pedido antes de morrer, seria ter um cigarro aceso em suas mãos.

Sentiu o cheiro da fumaça antes de sentir sua presença, mas não precisou olhar para o lado para ter certeza de quem era.

— Quanto tempo, velho amigo — saudou-o, e ouviu o familiar riso leve em resposta. — Veio me buscar? — questionou, finalmente olhando para a figura de seu antigo mentor. Forçou-se a engolir o bolo que se formou em sua garganta ao olhar em seu saudoso rosto.

O homem ainda era mais alto que ele, mesmo após esses anos, e Shikamaru precisou olhar levemente para cima para poder observá-lo. Uma de suas mãos estava enfiada no bolso da calça do uniforme, enquanto a outra segurava o cigarro que ele havia acabado de tirar dos lábios. A barba negra remexeu-se em um leve sorriso e Shikamaru entendeu sua silenciosa resposta.

Sentiu a mão do mentor tocando-lhe o ombro, empurrando-o com leveza no mesmo momento em que a explosão aconteceu. Shikamaru voou para fora do barco e conseguiu virar de costas para dar uma última olhada em sua amada embarcação. O olhar carinhoso de seu mentor foi a última coisa que viu, antes do homem desaparecer.

“Hoje não, garoto.”

Sentiu o frio gélido da água do mar e, por fim, foi engolido pela escuridão.

 

♠♠♠

 

E então, foi lançado de volta pra luz.

Seu primeiro pensamento foi o rosto de Asuma, que havia aparecido para Shikamaru minutos antes da explosão de seu navio. Gostaria de ter dito algo para ele, apesar de incerto se era realmente um fantasma ou somente uma ilusão.

Não sabia onde se encontrava, mas tinha certeza que não estava morto. A forte pressão em sua cabeça, tão intensa que o impossibilitava de raciocinar com clareza e rapidez, comprovou isso. Percebeu que ainda estava fraco demais para abrir os olhos e focou em seus outros sentidos para averiguar sua situação. Era um lugar quente e pouco úmido, provavelmente uma Ilha de Verão. O cheiro forte de calcário indicava que ele estava dentro de algum abrigo natural, porém, a maciez de um colchão mostrava o conforto que havia naquele lugar. Concluiu, então, que qualquer que fosse a pessoa que o havia encontrado, teria o trazido para alguma construção feita dentro de um tipo de caverna.

Se não tivesse apurado sua audição, o som de passos se aproximando teria passado despercebido por Shikamaru. Aproveitou, então, para focar suas energias em investigar seus visitantes. Eram dois, notou, ao ouvir mais um par de passos ainda mais leve que o outro, quase silenciosos. Provavelmente mulheres, concluiu pelo perfume feminino. Ouviu o som de ferramentas sendo deixadas próximo à ele e assustou-se, não percebeu que elas já estavam tão perto.

Mãos suaves tocaram seu rosto e permitiu-se relaxar um pouco. A delicadeza daquela ação havia sido o necessário para que ele entendesse. Não eram mãos calejadas e rígidas de uma combatente, mas as macias e precisas mãos de uma médica. Sentiu que ela tirava o pano em sua testa e estremeceu quando foi substituído por um mais molhado e frio.

— A febre dele baixou? — perguntou outra moça, um pouco mais longe de onde ele estava. — Sakura, estou falando com você — irritou-se, em uma voz incrivelmente perigosa. Sentiu seus pelos se eriçarem alertando-o do perigo, mas a médica, Sakura, não pareceu se abalar, continuando o trabalho de trocar curativos.

— Uhum — resmungou, distraída, pigarreando logo em seguira. — Venha — ordenou pra outra, e Shikamaru se viu admirado pela coragem da médica. Ele notou a rouquidão na voz da moça e concluiu que fazia tempo que ela não usava palavras para se comunicar. — Com cuidado.

— Eu sei — resmungou, envergonhada. Sentiu mais duas mãos tocarem sua pele, dessa vez deslizando por seus ombros até seus braços, envolvendo seu corpo por trás. Sentiu que ela o puxava pra cima com a maior delicadeza que conseguia, o que não era muita. Seu corpo inteiro reclamou dos movimentos, e todos os ferimentos se repuxaram. Seus músculos ficaram tensos e, como se tivesse lido seus pensamentos, a mulher parou de puxar. — Ele está com muita dor, não é? — sussurrou, e Shikamaru sentiu o hálito da moça em sua bochecha.

Notou o quão forte ela era, ao segurá-lo na posição sem esforço. Sentia os músculos da mulher por entre os toques em sua pele e, por alguma estranha razão, o cheiro perfume dela o acalmava. Estava ficando difícil manter-se acordado, mas sabia que precisava. Queria descobrir o máximo que podia sem que elas desconfiassem.

A mulher voltou a puxá-lo pra cima, sentando-o por completo. Enquanto isso, a médica Sakura trabalhava no peito do homem, tirando ataduras em um enorme machucado que ele tinha pelo corpo. A queimadura estava muito feia e cheirava mal. Os finos dedos da mulher deslizaram por toda sua extensão, sem se importar com a dor que isso causava. Examinava-o com cuidado, parando vez ou outra sobre um corte escondido no queimado.

— O que tanto você quer com ele? — Sakura quebrou o silêncio, fazendo a outra mulher pular de susto. — Ele estava quase morto quando você o trouxe pra mim — continuou, pigarreando logo em seguida. — E pela extensão desses ferimentos... teria sido mais humano deixá-lo morrer. — Apesar do que havia dito, a médica não parou de trabalhar. No momento, passava uma espécie de produto gelado em suas queimaduras. A baixa temperatura foi aceita de bom grado pelo corpo machucado, que relaxou os músculos tensionados.

— Eu já te disse que eu devo à ele — confessou a outra, enquanto Sakura voltava a enfaixar seu machucado. — Nunca achei que fosse o ver novamente.

— Deve ter sido o destino que o trouxe, então — brincou a médica, apesar do leve tom de amargura em sua voz.

— Não existe isso de destino — ralhou, irritada. — Foi só uma coincidência.

— Pense como quiser. — Sakura deu de ombros. — Mas, agora, essa “coincidência” vai nos trazer problemas. Espero que você saiba o que esteja fazendo. — Puxou com força a última tira, prendendo-a logo em seguida no corpo do paciente — Pode deitá-lo.

Novamente, um enorme esforço para ser delicada foi frustrado pela outra mulher. Apesar de dolorido, Shikamaru agradeceu pela intenção. Uma leve coberta foi jogada por cima de seu corpo, cobrindo-o até o pescoço. Com delicadeza, Sakura puxou os braços para fora da coberta. Ajeitaram o travesseiro onde estava deitado e começaram a arrumar as ferramentas para ir embora.

— Será que podemos falar agora do...

— Não. — Sakura apressou-se em responder e, antes que a fúria da outra fosse direcionada para si, completou. — Não aqui.

A outra continuava furiosa e não precisou expressar-se em palavras para que pudesse ter sua explicação sobre o motivo.

— Ele escuta — respondeu, pacientemente — Não abre os olhos, mas escuta.

Uma pequena arfada foi abafada, e ele imaginou que a outra mulher tivesse escondido a boca com as mãos. Ele também estava surpreso com a conclusão da mulher, que na realidade era uma grande médica. Somente um grande médico teria percebido os sinais de consciência de um paciente tão crítico. Tinha suas suspeitas sobre aquela Sakura, mas não conseguia se lembrar de onde conhecia aquele nome...

Um forte cheiro adocicado foi parar embaixo do seu nariz e, por mais que lutasse contra, começou a perder sua consciência.

— Ele vai poder descansar agora. — Ouviu a voz doce da médica ao longe, antes de entregar-se totalmente para o sono.

Não sabia o que o havia trazido àquele lugar, com aquelas mulheres. Se fora o destino, o fantasma de Asuma ou uma infeliz coincidência. Porém, estava disposto a descobrir.


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Notas finais do capítulo

Escrevi este capítulo no início do mês, mas sempre que o lia me sentia frustrada. Pra mim ele nunca estava "bom o suficiente" pra postar e, mesmo após tentar reescrevê-lo um milhão de vezes, ele continuou do jeito que está. Então, decidi aceitar que não tem jeito e seguir em frente. Espero que gostem dele do jeito que tá e, provavelmente, voltarei logo com outro capítulo usando outras três palavras-chave (é o meu objetivo, mas vamos ver), só pra não ficar 100% frustrada comigo mesma hahahaha

Enfim, ao terminar de ler, por favor, deixe seu feedback construtivo nos comentários.
Até o próximo capítulo!



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