O Chefe

O filho da puta que inventou a gravata era um mal amado, como se colocava aquela porcaria?

Encarei meu reflexo no espelho, me vendo no smoking caro que minha mãe fez questão que eu alugasse, pois:

— Não vou deixar você ir mal arrumado para o baile de Homecoming, garoto!

Ela sabia que por mim eu acabaria usando calça jeans e provavelmente uma das minhas camisas do time de futebol americano, já que odiava roupas formais. Olhei para a cadeira junto a escrivaninha do quarto, onde estava pendura uma das camisas. Eu tinha cinco daquelas, quer dizer, fiquei com quatro depois de Bella se apossar de uma delas.

Sorri ao pensar em Isabella, minha acompanhante para o baile daquela noite. Nós estávamos ficando a uma semana, desde que a garota confessou que gostava de mim e eu disse que era recíproco.

Não vou ser hipócrita, não me sentia assim por Isabella antes, ela era apenas a irmã do meu melhor amigo no começo. Até que o tempo foi passando e eu comecei deixar de vê-la como somente a garota que me acertou com um pincel de maquiagem no dia que nos conhecemos.

A primeira vez que eu realmente olhei Bella com outros olhos foi uma semana antes de Tanya, minha última namorada, terminar comigo. Eu estava na praia com ela — Tanya — e alguns amigos, incluindo Emmett, e vi Isabella com James na água, o cara que ela estava ficando na época.

A Swan usava um biquíni azul discreto, mas que me permitia ver seu corpo. Entretanto, não foi apenas o corpo da garota que chamou minha atenção, foi o sorriso que ela dava sempre que voltava a superfície após um mergulho.

Cara, ela era tão linda!

Quando ela começou a sair com Jacob, e virou namorada dele, eu tive de ouvir o irritante do Black discursar sobre como a Swan era gostosa, beijava bem e tudo mais. Eu não era um grande amigo dele, mas nós tínhamos uma porção de amigos em comum e era um pouco impossível não acabar tendo de ouvir o falatório do idiota, que muitas vezes continha falas vulgares sobre Isabella.

Algumas vezes eu pensei em dizer para Emmett sobre o que Jacob falava a respeito de Bella quando ele não estava perto, mas meu amigo era bem esquentado e eu temia que ele quebrasse a cara do Black e se prejudicasse. Eu também pensei em contar para ela, mas também temi que Isabella me achasse um idiota e não me desse ouvidos por ficar falando do namorado dela.

Então, por fim, ela acabou com o Black sem precisar de uma interferência minha. Como eu não sabia o que realmente sentia pela Swan — e não achava que ela fosse querer algo comigo —preferi ficar na minha, além do mais, eu estava receoso sobre arranjar uma nova namorada.

Quero dizer, era meu último ano no colégio, estava com a cabeça cheia entre o time de futebol americano, o SAT, as matérias, inscrições de faculdades e tudo mais. Uma namorada podia ser uma dor de cabeça, fora que eu tinha ficado bem pra baixo quando Tanya me chutou e não tive nada sério com nenhuma outra garota desde então, tudo que fiz foi trocar um beijo e outro em festas.

Mas, Bella... Não, eu não podia resistir a ela.

Eu ainda não tinha a pedido em namoro, estava deixando a gente se conhecer melhor, mas no fundo já sabia que eu acabaria pedindo e esperava que ela aceitasse.

— Você precisa de ajuda? — Olhei para a porta do meu quarto, papai estava ali.

— Sim, eu não sei colocar essa porra de gravata borboleta — reclamei, o fazendo rir e entrar de vez no quarto, fechando a porta atrás de si.

— Não deixe sua mãe te ouvir falar assim — ele alertou, pegando a gravata da minha mão e colocando ao redor do meu pescoço. — Ansioso?

— É só um baile. — Dei de ombros.

— Sobre Bella.

— Ah, é, mais ou menos — confessei.

— Ela é uma boa garota — ele falou, ajustando a gravata em mim. — E você é corajoso.

— Como assim?

— Ela é filha do chefe de polícia da cidade, Edward — papai disse, Charlie tinha sido promovido no começo de setembro ao cargo. — Namorar filha de oficiais não é fácil.

— Não tinha pensado nisso — murmurei.

Eu não via Charlie desde antes de começar a ficar com Bella, já que eu estava evitando aparecer na casa dos Swan por Emmett não estar muito contente comigo estar ficando com a irmã gêmea dele. Isabella e eu sempre ficávamos juntos nos intervalos das aulas, ou depois e no fim de semana passado tínhamos nos encontrado no cinema, mas nada de eu topar com o pai dela.

Charlie também não tinha aparecido no jogo do Homecoming noite passada — que o meu time ganhou —, já que ele estava de plantão na delegacia. Entretanto, Renée esteve lá e quando falou comigo foi como sempre, simpaticamente e ela parecia feliz quando me viu junto de Bella.

Mas, será que Charlie ficaria chateado por eu estar com a filha dele? Ele sempre gostou de mim, até me chamava de filho de vez em quando.

— Quando fui conhecer o pai da sua mãe, Samuel, ele foi bem assustador — papai voltou a falar. — Você sabe, ele contou a história que tinha levado um tiro na guerra e tudo mais, falou que se eu fizesse Esme sofrer eu estaria morto em um piscar de olhos.

Engoli em seco, me sentindo enjoado.

— Você está pálido — papai comentou, terminando o trabalho de me colocar a gravata.

— Claro, você está me aterrorizando — falei.

Papai riu.

— Foi mal, garoto. Você está pronto, melhor ir logo buscar Bella para não se atrasarem para o baile.

Assenti concordando, mesmo ainda enjoado e nervoso. Segui para fora do quarto com papai, estava no meio da escada quando um flash me cegou.

— Você está tão bonito! — mamãe exclamou com animação, ainda com seu celular apontado para mim tirou mais uma foto.

— Não acredito que você tá namorando a Bella — Clary ao lado de mamãe disse.

— Não estamos namorando.

— Vocês estavam se agarrando no estacionamento da escola ontem depois do jogo — Clary fofocou.

Como Bella foi me assistir jogar noite passada não teve como ficar de babá da minha irmã, o que resultou em Clarisse sendo obrigada a acompanhar meus pais ao jogo.

— Cala a boca, Clary — reclamei.

— Ei, olha como fala com sua irmã. — Papai deu um tapa na minha orelha.

— Fica paradinho ai e sorri — mamãe ordenou. — Quero mil fotos suas, está tão lindo, meu bebê!

Fiz o que mamãe queria, deixando a me fotografar por pelo menos cinco minutos. Quando acabou eu sequer conseguia sorrir mais, já sentindo minhas bochechas doerem, depois dos meus pais repassarem as regras que eu já conhecia de trás para frente, fui liberado para sair.

Peguei meu Volvo e dirigi para a casa dos Swan, levando comigo o corsage de Bella. Quando cheguei lá minhas mãos estavam suando, assim como minha testa.

Eu tinha conhecido o pai de Tanya, ele me detestava, porque quando nos conhecemos eu estava agarrando a filha dele no sofá de um modo nada casto. Por todo tempo que fiquei com ela o cara faltava me matar com o olhar, talvez eu tenha ficado um pouco aliviado quando acabamos e me livrei do Denali.

— Você consegue, Edward! — falei para mim mesmo, pegando a caixinha com o corsage no banco do carona e deixando o carro.

Caminhei rapidamente até a porta de entrada da casa, tocando a campainha uma vez. A viatura de Charlie estava ali na frente, eu sabia que ele odiava quando alguém ficava tocando a campainha sem parar e não queria provocá-lo, de maneira nenhuma.

A porta se abriu de forma brusca, revelando Charlie. O rosto dele estava preso em uma expressão irritada, em sua mão uma lata de cerveja que ele apertava com mais força do que o necessário.

— Oi, Charlie — o cumprimentei, forçando um sorriso.

— Não me chame de Charlie — ele falou, sua voz estava tão irritada quanto sua face.

Por que eu não podia chamá-lo assim? Ele sempre me deixou o chamar daquele jeito!

— M-Mas...

— É Chefe Swan para você agora, Cullen.

Ah merda, Charlie me odiava!

— S-Sim, se-senhor — gaguejei.

— Chefe!

— Sim, Chefe — me corrigi rapidamente. — É... Eu vim buscar a Bella.

— Eu sei. — Charlie me lançou um olhar muito parecido com o que o pai da Tanya tinha, será que pais faziam um curso para isso? Não tinha outra explicação. — Minha filha ainda está se arrumando, você pode entrar e esperar.

— Claro. — Entrei na casa, mas quase pedi para ficar ali fora mesmo, onde era mais seguro. Principalmente por eu não ver Renée, que devia estar ajudando Bella, ou Emmett, que com certeza já tinha saído para buscar Rosalie.

A TV estava ligada, passando um jogo de futebol americano da liga universitária, tirando Isabella, a família Swan em peso adorava o esporte. Ela não, sequer o entendia direito.

— Ah, o jogo...

— Você não vai assistir! — Charlie me interrompeu, desligando a TV na minha cara.

— Sim, Chefe — concordei, eu acho que concordaria com tudo que ele dissesse.

Porra, valia a pena tudo isso por conta de uma garota?

— Venha comigo, Cullen — Charlie ordenou, obedeci, obviamente, o seguindo até a cozinha.

Charlie sentou a mesa, apontando que eu sentasse diante dele. Fiz aquilo, segurando a caixinha do corsage com cuidado, como se aquilo fosse meu bote salva vidas.

— Fiquei muito surpreso quando Isabella me contou que iria ao baile com você — Charlie começou a falar. — Em um primeiro momento pensei que sairiam como amigos, sabe, tipo irmãos. Mas, não! — Ele colocou a latinha de cerveja sobre a mesa, algumas gotas respingaram em sua mão. — Emmett me contou sobre você e minha filha se agarrando.

— E-Eu...

Puta que pariu, eu estava fodido!

Bem que Bella tinha me dito que o fofoqueiro do Emmett contou para Charlie sobre nós dois, eu devia ir até o pai de Rosalie e contar o que eles realmente faziam quando iam à “pizzaria”.

— Quais são suas intenções com a minha filha?

— Mi-Minhas i-intenções?

— Sim, é surdo? Não ouviu o que eu disse?

Encolhi meus ombros, com mais medo ainda de Charlie.

— Não gostei de saber que você está com Isabella — Charlie continuou a falar. — É como se tivesse traído minha confiança, sabe? Era como um filho para mim, ai de uma hora para a outra começa a agarrar minha menina.

Enjoado, eu estava muito enjoado.

— Você dormia na minha casa, comia da minha comida, até mesmo já passou o dia de Ação de Graças aqui uma vez. A questão é, Cullen. — Seu olhar me amedrontou mais um pouco. — Agora você está por ai “ficando” com Isabella, já que nem teve a decência de pedi-la em namoro, então as coisas vão ser bem diferentes por aqui. Não vai entrar mais nessa casa como melhor amigo do meu filho, mas como o cara que eu vou ficar de olho se fizer algo que machuque minha filha.

Charlie se inclinou sobre a mesa.

— E eu não vou me importar em te machucar de volta, Cullen. Você me entendeu?

— Sim, Chefe!

— Excelente! — Ele terminou de beber sua cerveja, amassou a lata e de onde estava sentado conseguiu a acertar no cesto de lixo.

Sério, valia mesmo a pena sujeitar meu pescoço por uma menina?

— Estamos descendo! — Ouvi Renée gritar do segundo andar.

— Para a sala — Charlie mandou, ele seguiu na frente, eu fui atrás de cabeça baixa, encarando meus sapatos.

— Ei. — Ergui meu olhar quando chegamos à sala, me deparando com Isabella descendo a escada.

Ela sorriu para mim, eu senti aquela inquietação em meu peito e tive minha resposta. Sim, valia a pena enfrentar o Chefe por ela.

— Bella! — exclamei contente.

Isabella usava um vestido azul marinho longo, ele tinha um discreto decote, mangas finas e não era cheio de babados, ou frescuras, era delicado e simples, combinava com ela. Sua maquiagem também não era muito forte, seus cabelos normalmente ondulados estavam cacheados e soltos, de joias usava somente brincos pequenos e nos pés saltos não muito altos prateados.

Porra, ela era linda demais!

Ela terminou de descer a escada com cuidado, provavelmente temendo cair e se acidentar como acontecia facilmente consigo, atrás dela Renée sorria de orelha a orelha.

— Você está muito elegante, Edward — Renée falou, Charlie bufou.

— Obrigado, senhora Swan — agradeci.

— Senhora? — ela indagou, me olhando confusa assim como Bella, que finalmente chegou ao chão. — Não precisa me chamar de senhora, não, Edward. Nunca me chamou assim, não precisa mudar agora que está dando uns beijos na minha filha.

— Mãe! — Bella exclamou envergonhada, suas bochechas coraram automaticamente.

— Eu trouxe isso. — Sinalizei o corsage, Bella tornou a sorrir para mim.

— No pulso — Charlie alertou para a localização que eu deveria colocar o corsage.

— Sim, Chefe. — Bella me olhou sem entender o porquê de eu estar chamando o pai dela daquela forma, mas não falou nada enquanto colocava o corsage em seu pulso.

— Vamos, se juntem para que eu possa tirar fotos! — Renée exigiu.

Resmunguei, já não aguentava mais tirar fotos depois do ensaio fotográfico que minha mãe me obrigou a participar, mas eu não queria chatear Bella e nem seus pais. Sendo assim, posei para fotos com ela, sem tentar nenhuma pose comprometedora que fosse fazer Charlie arrancar meus olhos, ou sei lá, meu pau.

— Vamos...

— Espera, ainda não repassei as regras, mocinha — Charlie interrompeu a filha, Bella revirou os olhos, mas não discutiu com ele. — Nada de bebidas alcoólicas, não façam nada que daqui a nove meses se arrependam, voltem às onze...

— Ei, o baile só acaba onze e meia — Bella protestou.

E tinha a festa na casa de Jasper Whitlock depois, que era o que realmente importava na noite do baile. O Whitlock era um cara que tinha uma banda, conhecido pelas melhores festas e a casa dele era uma mansão.

— Seu toque de recolher é às onze. — Charlie deu de ombros.

— O Emmett não vai voltar às onze! — Bella falou alto, vermelha novamente, mas daquela vez por estar com raiva.

— Charlie, nós conversamos sobre isso — Renée chamou a atenção do marido, que abriu a boca para protestar, mas sua esposa foi mais rápida. — Isabella pode voltar às três.

— Ela mesma falou que o baile só vai até às onze e meia — Charlie resmungou, passando a mão por seu bigode. — Não tem motivo para ficar até mais tarde na rua.

Renée revirou os olhos, se aproximou do marido e sussurrou algo no ouvido dele. Charlie corou, assim como Bella quando ficava envergonhada, o que só me fez pensar no que Renée tinha dito para ele, eu apostava que não era nada inocente, aquilo me deu vontade de vomitar.

— Ok, vocês podem voltar três horas, mas não pensem em chegar um minuto depois disso, se acontecer eu vou mandar todas as viaturas da cidade atrás de você.

Meu Deus, Charlie virou um monstro impiedoso!

Eu sentia falta do cara legal que antigamente era só o pai do meu melhor amigo.

— Vão embora! — Renée ordenou, com um sorrisinho malicioso no rosto.

Puta que pariu, ela ia transar com Charlie depois que saíssemos e eu não conseguia tirar a imagem disso da minha cabeça. Eu vomitaria até o fim daquela noite, certeza.

Bella me arrastou para fora da sua casa, eu segui de bom grado com ela, já sem querer ficar na presença de Charlie e Renée, acho que não conseguiria os encarar depois daquela noite. A Swan parou no meio do caminho até o Volvo, o que me despertou.

— Oi! — Ela afagou meu rosto, me puxando para um beijo.

Charlie e Renée sumiram da minha mente naquele exato instante, eu só conseguia pensar em Isabella. Segurei em sua cintura, enquanto as mãos dela ficavam em meu rosto.

A beijei delicadamente, sem querer borrar sua maquiagem, por mais que naquele instante tudo que eu quisesse de verdade era agarrá-la e nunca mais soltar. Os últimos dias com Isabella estavam sendo uma deliciosa tortura para mim, eu conseguia ficar excitado apenas com seus beijos e era difícil esconder, mas não a deixava perceber, não queria que ela achasse que eu era a porra de um pervertido.

Entretanto, era claro que de noite eu me trancava no quarto e me masturbava, pensando em Isabella. Talvez de manhã também, é, de manhã também, com certeza.

— Parem com isso! — O grito de Charlie chegou até a mim.

Bella e eu nos separamos rapidamente, olhando para a porta da sua casa onde Charlie e Renée estavam. Ele furioso, ela contendo uma risada.

— Já estamos indo, pai! — a garota gritou de volta, aborrecida.

Segurei na mão de Bella, a conduzindo até meu carro, sem querer que ela discutisse com seu pai. Abri a porta do carona para ela, depois contornei o Volvo e entrei no lugar do motorista.

Antes que eu pudesse dar a partida Charlie estava parado perto do carro, justamente do meu lado. Me vi sem saída, tive de abaixar o vidro da janela.

— Se comportem. — Ele apertou meu ombro, fazendo com que eu sentisse um pouco de dor. — Você vai se comportar, Edward?

— Sim, Chefe.