Felix Culpa escrita por Akemihime, RPNara


Capítulo 3
Engenharia Reversa — 1/2


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo e o próximo se passam no universo do episódio 5 da 3ª temporada. Quem não viu, pode ler sem problemas que tá tudo bem explicadinho (e demais dúvidas serão respondidas no próximo capítulo).

» Betagem por Hikari Mondo ♥



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O sol brilhava no céu enquanto Temari, sentada na beira da enorme piscina nos fundos de sua casa, ria de seu irmão Kankuro empurrando o irmão caçula, Gaara, para dentro da água.

Gaara nunca gostou muito de água, e por ser muito calmo e paciente, ele era frequentemente o alvo das brincadeiras e provocações do irmão do meio dos Sabaku.

— Pare de irritá-lo, Kankuro — Temari falou com o irmão, sem deixar o sorriso ir embora do rosto, enquanto Gaara saía da piscina completamente encharcado, xingando o outro.

Temari sempre gostou daquilo. Era raro terem momentos em família assim, só os três, aproveitando o dia sem nada nem ninguém para importuná-los.

E ela sentia falta disso.

Muita falta.

Muita...

— Hora de acordar! — Uma voz alta e firme fez com que Temari abrisse os olhos de repente, completamente desperta.

E embora o sonho ainda rondasse grande parte de sua mente, ela se levantou rapidamente, vendo todos os beliches a sua volta serem esvaziados, conforme as pessoas despertavam com a voz daquela em comando os acordando de forma altiva.

Temari se pôs a frente de sua cama, se alinhando às várias pessoas que, assim como ela, ficaram em completo silêncio e postura ereta, apenas esperando as ordens daquele dia.

Uma mulher loira, com olhos castanhos, apareceu em seu campo de visão, andando pelo corredor conforme o resto dos soldados despertavam e se colocavam em seus lugares.

— Senhores, recebemos uma missão de emergência! A população de um pequeno vilarejo próximo a cidade Pereslavl-Zalessky foi alvo de uma invasão das baratas. Elas levaram tudo, comidas, móveis... e destruíram tudo ao redor. — Ela olhou para os soldados devagar, analisando a expressão de cada um, expressões que passavam de nojo quando ouviram "baratas" para empolgação, sabendo o que aquilo significava. A mulher sorriu então, completando: — Quero todos vocês reunidos em 10 minutos no caminhão. Vamos matar algumas baratas!

Temari sorriu com a última frase de sua comandante Tsunade.

Barata era o apelido “carinhoso” que eles haviam dado para a doença que havia contaminado a maior parte da população do mundo há praticamente 10 anos. Havia transformado as pessoas em monstros completamente irracionais e não tinha mais uma forma segura de ser contida. A não ser colocando uma bala na cabeça de cada uma delas.

Fazia tempo que Temari não matava baratas. Desde que fora transferida para aquele lugar, tudo o que havia feito era simplesmente treinar sem parar. Estava até mesmo quase esquecendo como era empolgante a sensação de acabar com aqueles monstros.

— Você parece animada — Ouviu uma voz familiar ao seu lado enquanto se vestia com o uniforme próprio do exército.

— Apenas com saudade de matar algumas baratas… — Falou sem se virar, sabendo que se tratava de Tenten, a pessoa mais próxima que ela tinha ali dentro.

— E quem não está? — A outra falou, rindo. — Estou cansada de treinar tiro ao alvo imaginando ser a cabeça daqueles monstros.

— Tomara que essa invasão realmente dê para poder eliminar alguns deles. Preciso de ação. — Temari terminou de se arrumar junto com Tenten e ambas iam conversando já a caminho do caminhão que estava a postos, esperando todos.

— É a primeira vez que você vai a uma missão aqui desde que foi transferida, não é?

— Sim… E faz bastante tempo.

Quando recebeu a informação de que a maioria dos soldados de sua antiga sede em Sverdlovsk seriam transferidos para outras cidades do país depois de eliminarem a principal ameaça das baratas por lá, Temari se sentiu em parte aliviada. Aliviada por terem conseguido matar a maioria dos monstros que assolavam aquela enorme cidade, e assim a maioria das pessoas poderiam conviver em paz.

No entanto, não pode deixar de se sentir também um pouco triste, visto que acabaria se separando de seus irmãos com aquela transferência, irmãos que também viraram soldados junto com ela, e certamente seriam enviados para outros lugares diferentes.

Temari falou sério quando disse que estava com saudade da ação. Ficar parada, apenas se dedicando a treinamento nunca foi o seu forte. Ela era inquieta, gostava de estar sempre fazendo algo, principalmente algo de útil. Estar treinando todos os dias sem ao menos conseguir ir a campo para de fato fazer o que tinha que ser feito era algo que a deixava ansiosa.

E desde que fora transferida para aquela sede perto de Pereslavl-Zalessky, tudo o que a mulher tinha feito era treinar. Aparentemente as baratas de lá eram espertas. Era como se elas soubessem, de alguma forma, que haviam recebido mais soldados agora, de modo que somente depois de uma semana naquele lugar, Temari finalmente havia recebido uma missão de verdade.

Agora só esperava não se decepcionar.

— Muito bem, quem está faltando? — Tsunade perguntou quando Temari e Tenten subiram juntas no enorme caminhão.

— Hidan, é claro. — Um homem moreno quem respondeu de maneira séria, como se não estivesse nada surpreso com a demora.

Tsunade revirou os olhos, impaciente e gritou o nome do soldado, mandando-o se apressar. Este apareceu no campo de visão deles, correndo e com um enorme sorriso no rosto.

— Pedi à Jashin-sama uma boa sorte na matança de hoje! — Ele exclamou, parecendo empolgado — Todas as baratas serão boas oferendas a Ele!

Temari ignorou enquanto Tenten fez uma cara de nojo para o homem de cabelos grisalhos.

— Diga isso por si só! Eu não acredito nesse Deus estranho seu!

— Ninguém acredita. — Itachi falou, antes que Hidan pudesse protestar, e este por fim apenas cruzou os braços, resmungando que era um absurdo não acreditarem nos ensinamentos de Jashin.

O caminhão começou a se mover conforme conversavam, todos parecendo de alguma forma felizes com a missão ganha depois de vários dias sem absolutamente nada.

— O vilarejo foi invadido pelas baratas durante a noite passada — Tsunade voltou a falar então, explicando para eles. Um mapa holográfico do local apareceu à frente dos olhos de Temari, assim como de todos os outros soldados, e ela se focou a analisá-lo com cuidado enquanto Tsunade continuava sua explicação — Como vocês podem ver em seus implantes, o vilarejo é pequeno e rodeado em grande parte pelo mar. Acreditamos que com isso as baratas não devem ter ido muito longe, principalmente se estiverem a pé. Com sorte poderemos encontrar o esconderijo delas ainda hoje.

— E acabar com todas elas. — Itachi completou baixinho, pegando seu fuzil calibre 7,62 mm e preparando sua munição.


§

 

O vilarejo era de fato rodeado em grande parte por um lago e o restante por uma floresta que dava caminho para a cidade de onde vieram. A vila em si não era enorme, com pequenas e simples casas espalhadas aqui e ali, e uma igreja próxima ao lago. Era um ambiente simples, e certamente seria mais belo se não fosse pelo fato de que a maior parte das casas estava parcialmente destruída, vandalizadas de algum modo, assim como a igreja que tinha as portas claramente arrombadas e vidros das janelas em pedaços espalhados pelo chão ao redor.

Era um ambiente triste, mas para os soldados era algo que já estavam acostumados a ver quando se tratava das baratas.

A equipe de Tsunade logo se espalhou por toda a vila assim que o caminhão parou, e sob o comando dela, todos foram conversar com os cidadãos que moravam ali, a fim de pegar depoimentos e investigar tudo que havia sido roubado. Com sorte conseguiriam também uma pista de onde as baratas poderiam estar.

— Elas vieram durante a noite, nós acordamos com o barulho e...

— Levaram tudo, toda a comida!

— Nós nos responsabilizaremos por restituir todo o alimento que vocês perderam, não se preocupem com isso.

Temari passou em silêncio pelas pessoas que eram interrogadas e reclamavam exatamente a mesma coisa para todos eles, e parou ao lado de um homem de cabelos castanhos e olhos felinos que olhava atentamente para a floresta mais ao longe das casas.

— Acha que ainda estão por aí? — Ela perguntou, curiosa com a opinião dele que conhecia muito mais a respeito de conviver na floresta do que Temari.

Ele olhou em volta, pensativo.

— Estava chovendo agora pouco, por isso é difícil dizer. Mas não acho que tenham ido muito longe...

Temari olhou para ele e depois para a floresta, soltando um suspiro.

Inuzuka Kiba era o melhor soldado que tinham quando o assunto era rastrear as baratas.

Ele era brincalhão em um modo irritante, além de dar em cima de praticamente todas as mulheres do exército, mas Temari sabia que quando estavam em uma missão, ele sabia falar sério.

Kiba, que estava segurando um enorme cachorro branco para ajudar a farejar as baratas, se afastou dela ao ouvir a voz de Tsunade o chamando ao longe.

— Você viu uma barata? — Temari se virou, vendo Tenten conversando com uma menina de no máximo 10 anos ali perto de uma casa destruída.

— Sim...

A menina não falava muito, mas parecia responder timidamente às perguntas de Tenten, que se encontrava agachada para ficar a altura dela.

— E ela tentou te machucar? — Tenten lançou um olhar preocupado para Temari, sabendo que ela estava ali observando a cena.

— Eu não sei... Ela só pegou muita comida... — murmurou a criança, e Temari fechou os olhos com raiva. É claro que aquele monstro tinha tentado machucar a menina, era isso que eles faziam afinal.

E por sorte não havia conseguido machucá-la, mas sem dúvida a menina tinha ficado assustada com a situação. Isso não era algo que crianças pudessem lidar facilmente.

Temari virou de costas para Tenten que agora parecia terminar de conversar com a menina, tentando confortá-la de alguma forma, embora até mesmo a morena soubesse que não teria muito sucesso naquilo.

Temari olhou para a floresta novamente, lembrando-se das palavras de Kiba de que certamente as baratas ainda deveriam estar por perto. Ele parecia olhar desconfiado para a mata naquela hora, como se alguma daquelas coisas pudesse aparecer de repente...

E então, enquanto pensava sobre isso, foi que bem ao longe, Temari viu.

Foi uma movimentação rápida. E poderia ter sido facilmente confundida com um humano se Temari não tivesse visto que, por trás dos longos cabelos negros, o rosto branco e monstruoso se destacava fortemente.

Uma barata.

Ela estava por entre as copas das árvores, aparentemente havia ido examinar o local ou tentar roubar mais alguma coisa, Temari não sabia. Mas não tirou tempo para pensar sobre isso, se colocando a correr rapidamente na direção daquele monstro.

A barata, vendo a movimentação de Temari em sua direção, começou a fugir de forma acelerada, desviando com precisão das árvores pelo caminho.

Ela estava distante, mas não o suficiente para Temari perdê-la de vista. Se fosse rápida talvez conseguisse pegá-la.

Ergueu sua arma, atirando enquanto corria, mas naquela velocidade os tiros não eram precisos, de modo que nenhum foi capaz de acertar a barata.

Temari ouviu outra movimentação um pouco mais atrás de si, mas não se virou, ouvindo logo a voz familiar de Tenten gritar para ela.

— Onde você está indo? — Tenten se esforçava para alcançá-la, com sua arma em punho.

Ela havia visto a amiga se afastando de repente de onde estava perto dela e então começando a correr, e não pensou nem por um segundo antes de ir atrás dela.

Temari não respondeu sua pergunta, mas não precisou perguntar de novo. Se ela estava correndo dessa forma, Tenten sabia o que significava.

A loira corria rapidamente pela floresta, desviando de folhas e galhos que ficavam em seu caminho. Seus olhos verdes fixos no vulto mais a frente que também corria apressadamente para longe dela.

Ela não deixaria aquele monstro escapar.

Sabia que estava se distanciando cada vez mais de Tenten, que lutava para alcançá-la, mas sua determinação para matar aquela barata era tão grande que Temari nem se deu ao trabalho de esperar pela amiga.

Quando Temari ficava daquele jeito, completamente envolvida na ação, sentindo a adrenalina em seu corpo, ela não conseguia pensar em mais nada, focando-se completamente no seu objetivo.

Mas para seu azar, a barata realmente era rápida. Temari contornou algumas árvores que tinha certeza ter visto a barata passar por ali, e então parou de supetão, não vendo mais nenhum sinal daquele monstro.

Ela tinha certeza do que tinha visto. Tinha certeza que estava perto.

A barata ter sumido do seu campo de visão daquela forma só significava uma coisa: ela estava escondida.

E Temari sabia que na primeira oportunidade lhe atacaria.

Foi sabendo disso que ela ergueu novamente sua arma, deixando a postos, com o dedo no gatilho, enquanto inspecionava o local.

Temari foi andando lentamente, tentando não fazer muito barulho, enquanto se aproximava do que parecia ser uma pequena abertura no pé da montanha que estava próxima. Parecia um lugar meio óbvio para uma barata se esconder, e aquelas haviam se provado bastante inteligentes, mas Temari decidiu investigar mesmo assim, com a atenção redobrada, sabendo que naquele momento estava completamente sozinha, visto que Tenten não conseguira acompanhá-la e deve tê-la perdido de vista em algum momento durante a correria.

A abertura que se mostrou uma caverna minúscula no pé da montanha estava completamente vazia quando Temari chegou mais perto. Era realmente pequena, de modo que uma barata adulta não conseguiria se esconder ali com facilidade.

Não fazia nem sentido perder mais tempo ali.

Temari continuou com a arma a postos, olhando a floresta em volta. Floresta essa que parecia muito mais traiçoeira do que antes, agora que ela sabia que escondia uma barata ou mais por ali.

Mas ao olhar ao redor, Temari não conseguia ver sinal de nenhum daqueles monstros.

Ela abaixou os olhos, observando o chão. Temari nunca caçou antes de ir para o exército, mas com o tempo de experiência era capaz de identificar algumas pegadas deixadas na terra.

Se agachou, observando com atenção, tentando detectar algum tipo de rastro que a barata pudesse ter deixado.

Mas não havia nada.

Temari conteve o suspiro, a irritação começando a crescer dentro de si. A vontade que ela tinha era de gritar, chamar por aquele monstro à plenos pulmões, mas sabia que fazer aquilo poderia ser suicídio, tendo em vista que não tinha noção de quantas baratas poderiam estar ao redor.

Ela era um bom soldado, não uma louca a ponto de tentar se matar para capturar uma barata.

E como bom soldado que era, Temari ainda continuou pela floresta por um bom tempo, andando em círculos, continuando a procurar pela barata ou algum sinal de rastro dela.

— Tsc... eu não acredito que perdi ela de vista assim... — Murmurou, abaixando a arma, com raiva e sentindo-se finalmente derrotada.

Havia perdido tanto tempo caçando aquele monstro para nada. Agora teria que voltar ao vilarejo e notificar sua comandante que deixara uma barata escapar.

Tsunade não ficaria nada satisfeita, disso Temari tinha certeza.

E não poderia culpá-la, afinal também estava com raiva da situação.

Temari suspirou, saindo de perto da caverna e procurando o caminho de onde tinha vindo.

Foi então que ela de repente ouviu uma movimentação atrás de si.

E embora tenha escutado o movimento, foi rápido demais para que pudesse fazer qualquer coisa, de modo que assim que começou a erguer sua arma, sem nem ao menos ter tempo de se virar por completo, sentiu uma enorme dor na cabeça.

A dor veio seguida da escuridão e então tudo se transformou em preto e Temari não conseguia fazer mais nada.

Havia perdido.

 

§

 

Quando acordou, a primeira coisa que Temari percebeu é que estava escuro e não havia voltado para sua base no exército.

Os acontecimentos anteriores voltaram a sua mente e ela olhou ao redor, analisando o ambiente, com seu corpo todo entrando em estado de alerta.

Ela estava em uma caverna. Não saberia dizer exatamente onde, mas certamente em alguma parte da floresta. Provavelmente no subsolo, visto que não conseguia ver a entrada do lugar, mas era capaz de definir as pedras ao seu redor mesmo com a falta de luminosidade.

Não deveria ser um lugar muito grande, talvez fosse usado apenas para se esconder do povoado e do exército por algum tempo até irem embora.

Temari, que até então estava sentada apoiada contra uma parede de pedras, tentou se levantar, sentindo a cabeça latejar fortemente devido a pancada que havia recebido. Ao tentar erguer a mão para levá-la a cabeça, notou que estavam ambas as mãos presas por cordas firmes atrás do corpo.

As baratas haviam feito isso?

Temari nunca havia visto aqueles monstros agirem assim. Geralmente eles apenas corriam, ou para tentar fugir ou para tentar atacar. Mas nunca ouviu falar de casos em que raptaram membros do exército. Elas eram criaturas brutas, geralmente matar e roubar alimentos era tudo o que importava.

Então por que ela ainda estava viva?

Ela não teve muito tempo para pensar naquilo, pois assim que desistiu de levantar, voltando a se sentar inutilmente no chão, Temari conseguiu ver uma movimentação no fundo do estranho lugar que estava.

Apesar da iluminação fraca, ela conseguiu enxergar perfeitamente quando uma barata apareceu em seu campo de visão.

A barata, que de longe poderia até mesmo ser confundida com uma pessoa, com corpo de um humano aparentemente comum de um homem, se virou para ela vendo que Temari havia recobrado a consciência. E então Temari ouviu seu monstruoso som antes até mesmo de perceber sua face. O rosto completamente branco, os olhos negros e dentes pontudos sobressaindo para fora da boca, constituíam a imagem daquele monstro que era indiscutivelmente o que todos chamavam de barata.

Era diferente da que Temari havia perseguido até ali, visto que dessa vez parecia ser um homem, enquanto Temari claramente perseguia uma barata com corpo feminino e cabelos longos e negros.

Não que fizesse muita diferença isso, é claro. Todos eram monstros, independente do sexo.

A barata deu um grito monstruoso quando se aproximou de Temari, com sua boca cada vez mais aberta, mostrando todos os dentes afiados, tal qual um tubarão pronto para devorar sua presa.

E pela primeira vez desde muito tempo que estava naquele cargo de soldado, Temari sentiu medo.

Ela estava completamente desarmada e vulnerável. Aquele monstro era mais inteligente do que parecia, retirando até mesmo suas facas que mantinha escondidas por debaixo das roupas.

Mas apesar de estar com medo, Temari não recuou. Se fosse morrer, seria com honra. Não como uma covarde demonstrando que estava apavorada por causa daqueles malditos monstros.

Ela encarou a barata, com os punhos fechados de raiva, presos nas cordas apertadas atrás de si. Seus olhos verdes fitando com fúria os olhos completamente negros do bicho.

Ela iria morrer.

Tinha certeza disso.

E estava em paz, pois sabia que já havia matado muitos daqueles monstros.

E então, quando a barata se aproximou mais de si, Temari continuou encarando-a. Ela somente desviou o olhar dela quando, para sua surpresa, viu um aparelho estranho surgir na mão daquela criatura.

Temari nunca havia visto aquilo antes.

Ela olhou com cuidado e certo receio, desconfiada do que pudesse ser.

E então o pequeno aparelho que mais parecia um bastão de metal, com alguns fios para fora, começou a transmitir um som como se fosse uma espécie de apito, ficando cada vez mais agudo, conforme uma luz verde também começava a piscar.

Temari fechou os olhos, querendo poder ter as mãos livres para tapar os ouvidos.

Ela sentiu uma movimentação da barata a sua frente e abriu os olhos novamente, dessa vez mais confusa do que exatamente com raiva.

O som irritante continuava, e a barata aproximou o aparelho ainda mais do rosto de Temari. A luz verde de alguma forma pareceu ler rapidamente seu rosto, seus olhos, desligando-se de repente, e com isso o som também cessou.

— Mas o que...? — Ela ia perguntar, mas se interrompeu ao sentir a cabeça latejar fortemente.

Temari não sabia se a dor tinha relação com a pancada que havia recebido ou com o som agudo que tinha saído do aparelho momentos antes, som este que ainda parecia ressoar em seu cérebro de alguma forma.

Ela resmungou de dor, deixando o corpo cair para trás, encostado contra a parede. A dor inibindo sua preocupação com a barata que ainda estava a sua frente.

Será que era isso que elas faziam agora? Torturavam ao invés de simplesmente matar?

Temari não conseguiu pensar muito sobre isso, a dor ficando cada vez mais forte e a escuridão novamente tomando conta de tudo a sua volta.


§

Quando recobrou a consciência, Temari não fazia ideia de que horas eram, apenas que a noite já havia caído, visto que não havia mais a presença da luz do sol escapando por entre as frestas daquele esconderijo. Mas apesar disso, o lugar não estava completamente escuro.

Temari se forçou a sentar, sentindo a cabeça doendo mais leve agora. Ela olhou em volta, parando em um homem sentado um pouco mais distante, com o que parecia uma espécie de lampião o iluminando.

Ele estava sentado com as pernas cruzadas, trabalhando em um aparelho que Temari não conseguia ver da posição que estava.

Mas o que mais a assustou era o fato de ver o homem ali. Homem, não uma barata como antes.

Por que ele estava ali?

— O que você está fazendo aqui? — Temari sussurrou para ele de modo alarmante. O homem ergueu os olhos para ela, parecendo surpreso.

Ele largou o que estava fazendo e se aproximou da loira, parecendo cauteloso.

— O que disse?

— Você não sabe que esse lugar está cheio de baratas? Se elas chegarem aqui, vão acabar com você, fuja daqui! — Ela continuou sussurrando desesperada.

Não se importava de ser deixada ali para morrer pelas baratas, mas não poderia suportar vê-las matando um humano inocente que havia parado naquele lugar por acidente.

— Você... pode me ver normal?

Temari olhou para ele, incrédula.

“Ótimo, não bastasse ter parado em uma toca de baratas, ainda por cima é um retardado!”

— Você é idiota? Eu não sou cega, mas pelo visto você é burro o suficiente se quer continuar em um lugar repleto de baratas! Está querendo morrer por acaso?

O homem à sua frente suspirou e sorriu de lado, e Temari teve vontade de dar um belo soco em sua cara, não o fazendo somente pelas cordas que ainda prendiam suas mãos.

Como ele podia estar tão calmo em uma situação assim?

— Dentre todas as pessoas do exército que eles poderiam me arrumar, decidem sequestrar logo uma mulher bem problemática. Deve ser algum carma...

Ele então olhou para ela, vendo que Temari estava com um misto de raiva e confusão. Bem, não poderia culpá-la, apesar de tudo.

— Muito bem. Pelo visto o aparelho que criei deu certo dessa vez. Você reconhece isso? — Ele ergueu o estranho aparelho que uma barata tinha colocado próximo a Temari mais cedo, aquele que emitia um som horrivelmente agudo. Temari se encolheu com a lembrança do som e o efeito que causou em sua cabeça. — Vejo que se lembra, desculpe por isso, aliás, mas era o único jeito.

— O que está falando? — Perguntou ela finalmente. Ou realmente aquele aparelho havia a feito enlouquecer ou aquele homem a sua frente é que havia enlouquecido.

Temari ainda não sabia em qual das duas opções acreditava.

— Eu sou Nara Shikamaru. A barata que colocou esse aparelho perto de você hoje cedo fui eu. Agora você está me vendo como eu realmente sou, sem mentiras ou alucinações feitas pelo exército. Bem vinda ao mundo real.


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Notas finais do capítulo

Akemihime: Ok, explicações! Os nomes das vilas/cidades nesse capítulo são tiradas de cidades russas. O vilarejo que descrevemos foi um pouco baseado em um vilarejo russo real (imagem pra quem ficou curioso: https://i0.wp.com/somentecoisaslegais.com.br/wp-content/uploads/2013/10/vilarejo-russo.jpg?resize=580%2C388). Como esse capítulo era pra ser postado mês passado, o tema dele é da "mentira", e deu pra entender qual a mentira contada na história né? XD ~ E o atraso na postagem foi totalmente culpa minha (ou da minha faculdade, eu culpo ela). A Ray foi um anjo bolando esse plot e tendo toda a paciência do mundo me esperando ♥ o próximo deve sair mais rápido, espero.



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