Sol de Uma Tarde de Inverno escrita por Swimmer


Capítulo 1
1- Véu e Grinalda




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Minha mãe sempre quis se casar no inverno. Nunca fez sentido pra mim, mas ela vivia me dizendo isso quando eu era pequena, na época fazia menos sentido ainda porque ela era casada com o meu pai.

No ano passado ela conheceu o Michael, um cara super legal e que gostava muito dela, eles dizem que foi amor à primeira vista. Acho que eu devia avisar que meus pais se divorciaram cinco anos atrás, por isso não acho que Mike seja um destruidor de lares ou algo assim.

Eles marcaram o casamento para a segunda semana de janeiro e eu seria obrigada a comparecer, para ter certeza disso minha mãe me pediu para ser uma das madrinhas. Quem não ficou feliz com isso foi meu pai, que além de não ser convidado para a festa ainda perderia uma das três semanas que tinha no ano com sua única filha.

Meu pai ainda mora em Nova York, na casa em que cresci. Na quinta-feira ele me levou até o aeroporto e nos despedimos antes que eu entrasse no avião que me levaria para Los Angeles, onde vivo com a minha mãe desde o divórcio.

A casa em L.A. estava exatamente como quando saí, exceto que meu quarto estava mais limpo. A sala de estar estava lotada de revistas de noiva, amostras de tecidos e outras coisas assim. Minha mãe subiu para o quarto cinco minutos depois de chegarmos. Não impliquei porque ela se casaria no dia seguinte, afinal.

Peguei um refrigerante e salgadinho na cozinha e também subi. Coloquei uma música para ouvir enquanto desfazia as malas, não muito alto porque se minha mãe acordasse seria meu fim.

Às duas da manhã desisti de colocar tudo no guarda-roupa, empurrei as roupas para o chão e mandei mensagens para as minhas amigas, avisando que tinha voltado. Kat respondeu na hora mas Lauren devia estar dormindo.

 

Acordei na manhã seguinte com o sol batendo no meu rosto, sempre esqueço de fechar as cortinas. Andei até o banheiro e olhei meu reflexo no espelho. Meu cabelo loiro estava todo bagunçado, passei a escova pelos fios, lavei o rosto e desci.

Minha mãe não estava na cozinha. Deixei o celular em cima do balcão e abri a geladeira. Onde foi parar o leite dessa casa?

—Você recebeu uma mensagem de alguém chamado Lauren - disse uma voz masculina atrás de mim, me fazendo pular de susto.

Parado ali estava Ben Harrison, filho de Michael Harrison, também conhecido como meu futuro meio-irmão. Normalmente eu disfarçaria melhor que estava encarando mas com o cabelo preto, olhos azuis e o corpo maravilhoso sem camisa no meio da minha cozinha ficou meio difícil.

Peguei a caixa de leite e fechei a geladeira.

—Pelo amor de Deus, Ben, quer me matar do coração? - perguntei colocando o leite em uma tigela.

—Só queria ajudar - ele disse com um sorrisinho satisfeito. - Já está pronta?

Olhei para baixo. Ben era esperto o bastante para saber que eu não iria a lugar nenhum de pijama. O que ele tinha de bonito tinha em dobro de irritante.

—Claro - revirei os olhos. - O que você está fazendo aqui mesmo?

—Sua mãe me disse pra ficar à vontade - sorriu. - Então entrei na piscina.

—E veio até aqui só pra entrar na piscina? - coloquei cereal na tigela e finalmente percebi que havia uma poça d'água embaixo dele. - Espero que saiba que você é quem vai limpar isso - apontei.

—Vim trazer minhas coisas. Elisa mandou você se arrumar logo e disse pra encontrarmos eles na fazenda - Ben foi para a sala, deixando um rastro de pingos de água, e voltou com uma toalha na mão.

—Encontrarmos? No plural? - peguei uma colher.

—É, Thereza. Pegue seu vestido e vamos logo.

Dei de ombros e caminhei até as escadas. Havia várias caixas na sala, provavelmente com as coisas de Ben. Se ele ficasse quietinho eu podia ficar dentro de um carro com ele por uma hora.

—Limpe o chão - gritei.

—Se demorar eu vou te deixar aqui - ele gritou de volta.

 

A cerimônia foi linda. Pelo menos os cinco minutos que prestei atenção foram, sei que é minha mãe mas não posso fazer nada se o discurso estava chato. A festa também seria na fazenda, que pertence ao irmão de Mike e por isso eles não tiveram que pagar. O lugar é muito bonito, uma tenda tinha sido montada no gramado e decorada com flores azuis e brancas. Os vestidos das madrinhas também eram azuis. O meu, que tinha alças finas e era mais curto na frente, se destacava dos demais, já que as amigas da minha mãe tinham saído juntas para comprar e “esqueceram” de me chamar.

Os recém-casados saíram para a festa e eu fiquei esperando, como minha mãe pedira, até que todos os convidados tivessem ido para a tenda. Uma estrutura de madeira fora montada ao redor do altar, fiquei observando as dezenas de mulheres - muitas delas da minha família - andando lentamente enquanto seus sapatos de salto afundavam na terra fofa. Elas não pareciam se importar mas eu não estava nem um pouco ansiosa pela minha vez.

Quase todo mundo já tinha ido, minha avó estava sentada e Ben estava ocupado dando em cima de uma das minhas primas de décimo segundo grau, a quarta e última pessoa ali. Tive uma ideia e abri um sorriso. Caminhei até os dois e me apoiei nos ombros de Ben.

—Ei, Kayla, Ben e eu temos que pegar umas coisas com o tio dele, será que você pode levar a vovó até a tenda? - perguntei.

—Claro. Você está linda, Thereza - ela sorriu e se virou para o lugar onde minha avó estava sentada.

—Você também.

Ben e eu ficamos observando as duas se afastarem até estarem longe o suficiente para não nos ouvirem.

—Por que fez isso? - ele empurrou meu braço.

—Agora você é da família, não pode sair por aí agarrando minhas primas - fiz minha melhor cara inocente.

—Não te conheço a muito tempo, mas sei que está mentindo - ela me olhou irritado. - A não ser que… Você tá com ciúme, Thereza?

Mantive a expressão séria por dois segundos antes de começar a rir.

—Eu? Com certeza, Ben. Continue pensando assim. Vim te chamar pra irmos pra tenda - falei. Ben cruzou os braços e continuou me olhando irritado. - Tá… por isso e porque não quero parecer um pato andando ali com metade do sapato afundando na grama.

—E eu por acaso pareço um príncipe encantado pronto pra te resgatar?

Só de pensar que teria que viver com essa poço de gentileza daqui pra frente já ficava irritada.

—Não, mas parece um excelente pilar móvel, é só estender o braço e andar quietinho.. Vamos logo.

Ben resmungou por todos os trezentos metros até a entrada da tenda. Os convidados falavam todos ao mesmo tempo, era irritante e minha cabeça começou a doer um pouco. Desejei que Kat ou Lauren estivessem ali, poderíamos pegar alguns docinhos e sair dali.

Uma nova música começou a tocar nas caixas de som, soltei o braço de Ben e vi minha mãe caminhando em nossa direção. Ela estava linda, o vestido bordado na parte de cima ficara perfeito nela e o cabelo castanho estava preso para trás, ainda com o véu no topo.

—Olha só pra vocês - ela abriu um sorriso. - Parecem até irmãos de verdade.

Graças a Deus não somos, pensei.

—Já disse que você tá linda, Elisa? - disse Ben.

—Já sim, mas pode dizer quantas vezes quiser, querido. É ótimo pra minha autoestima - ela passou a mão pela cabeça e gesticulou para que a seguíssemos. - Pode me ajudar com isso, filha? - minha mãe apontou o véu quando chegamos perto do painel onde as pessoas iriam posar para as fotos.

Minha mãe sentou em uma cadeira e comecei a tirar os grampos que prendiam o véu.

—Então, crianças… Mike e eu resolvemos começar nossa lua de mel hoje mesmo, e não amanhã de manhã, como tínhamos planejado - disse. Eu não conseguia ver o rosto dela mas sabia que estava sorrindo. - Prometem pra mim que a casa vai sobreviver a semana inteira?

—Ai, mãe… - suspirei. - Não é como se eu fosse dar outra festa depois de ter ficado de castigo por dois meses - puxei o último grampo e tirei o véu.

Na última vez que minha mãe foi viajar eu chamei alguns amigos para uma festinha. Alguém teve a brilhante ideia de trazer bebidas e não acabou nada bem, minha mãe ouviu essa história do policial que estava mandando meus amigos embora. Fiquei dois meses trancada em casa e sem celular, um pesadelo.

—Prometo não deixar a Thereza dar nenhuma festa - Ben falou.

—Como se você pudesse me impedir - entreguei os grampos para minha mãe.

—Parecem mesmo irmãos, brigando desse jeito - ela se levantou. - Bom… Quando voltar quero a casa inteira e vocês dois inteiros também. Confiamos em vocês.

Observei minha mãe se afastar. Por dentro tentava bolar um jeito de pegar uma bebida sem que meus parentes percebessem, seria uma longa semana.


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Notas finais do capítulo

Oi! Espero que tenham gostado. Qualquer sugestão é só dizer nos comentários



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