The Rose's Last Memory escrita por Lara


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Bela e a Fera não é de minha autoria, afinal se trata do meu filme favorito da Disney. Esta história é algo que pensei faz um bom tempo, mas que agora finalmente consegui colocar tudo no papel. Usei o filme animado de 1991 como base, porém também fiz referências ao novo de 2017. Espero que gostem! Reviews são mais do que bem vindas! Boa leitura!



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Era uma noite fria de inverno, onde os pequenos flocos de neve caiam lentamente sobre as pétalas do roseiro no jardim do reluzente castelo. Olhando para as rosas vermelhas, uma mulher escondida por um capuz verde escolheu a mais bela, recolhendo-a com o maior cuidado possível e lançando um encantamento sobre ela. Enquanto caminhava em direção a porta de entrada do castelo com a ajuda de sua bengala, já conseguia escutar o barulho da alegre festa que ocorria ali dentro. Não era de se surpreender que se tratasse de uma grande festa, pois o príncipe completava seu décimo primeiro aniversário. Parecia até que o próprio rei compareceria a este evento, mesmo com todas as suas ocupações no centro do reino. A misteriosa mulher bateu na grande porta de madeira anunciando a sua presença para logo em seguida esperar que alguém a recebesse. Durante a sua espera, ela chegou a se perguntar se alguém teria escutado as suas batidas com todo o barulho da festa e para a sua surpresa alguém abriu a porta e este alguém era ninguém menos que um lindo menino loiro de olhos azuis. Fazia tanto tempo desde a última vez em que havia se deparado com aqueles olhos que a mulher se perdeu em seus pensamentos por alguns segundos. O príncipe que atendera a porta com um sorriso brilhante, ao perceber que não se tratava da pessoa que esperava logo fez o sorriso desaparecer e mudou sua expressão para desapontamento.

— Pois não? Esta perdida? A aldeia fica naquela direção. - apontou com o dedo sem esperar qualquer tipo de resposta. 

— Oh, muito obrigada por sua preocupação, mas não estou perdida. - devido ao tom da voz da mulher o menino percebeu que se tratava de uma velha senhora. - É verdade que estava indo em direção a aldeia, porém devido a esse frio e a minha idade achei que seria mais prudente me abrigar no mais próximo local até que o tempo melhore. - fez uma pausa. - Será que eu poderia me abrigar aqui? Não quero incomodar ninguém, ficaria apenas até o tempo melhorar. 

— Venha para a luz. - ordenou um pouco desconfiado daquela velha mulher. Ela deu alguns passos para frente com a bengala fazendo com que a luz iluminasse o seu rosto. Era uma velha senhora com nariz comprido, queixo torto, um olho maior que o outro e dentes tortos. Nada em sua feição era harmônica e isso a tornava alguém de uma aparência horrível. Mesmo espantado pela feiura da velha o príncipe refletiu por alguns segundos e chegou a uma conclusão. - Esta bem, eu a deixo ficar aqui se você me presentear com algo muito especial. Hoje é o meu aniversário! 

— Verdade? Meus mais sinceros parabéns, meu jovem. - ela começou a procurar por algo dentro das suas vestes. - Tenho certeza de que esse presente o agradará. - a velha senhora lhe ofereceu uma rosa. O menino ficou surpreso ao fixar seus olhos na rosa vermelha, porque aquela definitivamente era a última coisa que esperava ganhar de alguém. Já houve um tempo em que adorava observar as rosas crescendo no jardim, contudo isso mudou assim que aquela pessoa deixou de existir na sua vida. 

— Uma simples rosa? Quem você pensa que eu sou? Como uma coisa dessas poderia me agradar? - e começou a se afastar com uma expressão de nojo. - Pegue a sua rosa e suma da minha frente. Volte para qualquer que seja o lugar de onde veio, velha feia. 

— Tem certeza? - por alguma razão a voz dela parecia diferente quando disse essas palavras. - Um jovem inteligente como você deveria ter a ciência de que, às vezes, as coisas não são o que aparentam ser. Não se deixe enganar pelas aparências, pois a beleza esta no interior das pessoas. 

— Do que diabos você esta falando? Já chega! Desapareça! - e começou a fechar a porta, no entanto antes que conseguisse fechar completamente a porta um vento forte emburrou a porta e consequentemente ele também. Uma luz o obrigou a fechar os olhos e quando voltou a abri-los viu que a velha se transformara em uma bela mulher loira com um vestido verde vivo. Ao em vez de estar segurando uma bengala, a loira segurava uma varinha mágica. A feiticeira abriu os olhos e o encarou com um triste olhar. 

— Como eu pensava... Não há mais amor em seu coração. - mesmo espantado com a transformação dela, o jovem príncipe abriu a boca para dizer algo, mas ela continuou a falar. - Suas palavras, suas desculpas, tudo o que queira dizer agora não significam nada para mim, porque sei exatamente que tipo de pessoa você é. - ela se aproximou lentamente dele apontando-lhe a varinha até que esta encostou no seu peito. - Como castigo pelo seu frio e arrogante tratamento você vai se tornar exatamente o tipo de ser que é por dentro. Uma fera. - antes que pudesse entender tudo que tinha se passado ali seu corpo começou a mudar em algo monstruoso. Nunca em toda a sua vida tinha sentido uma dor física como aquela. Seus membros alargavam, unhas e dentes afiados cresciam e pelos brotavam por toda parte do seu corpo. Seus gritos de agonia logo se transformaram em rugidos animalescos. - Este feitiço cairá sobre o castelo e em todos que aqui vivem. - dito essas palavras todos que se encontravam na festa se transformaram em objetos. Depois que a sua transformação acabou, o príncipe olhava para si mesmo sem compreender no que se tornara. Quando levantou a cabeça para poder questionar ou ameaçar a feiticeira, ela não se encontrava mais ali. A porta continuava aberta fazendo com que o frio da noite entrasse no castelo.

Lá fora a neve persistia em cair tranquilamente mostrando o quando a natureza e o clima se mantinham apáticos aos acontecimentos humanos. Uma carruagem com a ajuda de quatro elegantes cavalos vinha do sul adentrando na floresta com uma escolta de cinco cavaleiros. O barulho que estes produziam fazia com que todos os animais ali perto permanecessem afastados ou até mesmo aumentassem a distância entre eles e os humanos. Foi neste cenário que algo inesperado aconteceu, todos os cavalos se agitaram até pararem de correr completamente ignorando todos os comandos de seus donos. De dentro da carruagem, ouviu-se uma voz autoritária e fria.

— Por que paramos?

— Sinto muito, sua Majestade. Os cavalos... - começou a dizer um dos cavaleiros perto da carruagem. 

— Eles subitamente pararam de se mover? - o homem completou a frase. 

— Exatamente, senhor. 

— Hm... - a porta da carruagem foi aberta e ele desceu. - Fiquem aqui. Eu vou verificar uma coisa. 

— Mas... 

— É uma ordem, não uma sugestão. 

— Sim, senhor. - o homem vestido com vestes elegantes e próprias para o frio se afastou adentrando na floresta sem pensar duas vezes. Tudo o que seus homens puderam fazer era seguir as suas ordens. Não demorou muito até que o rei encontrasse quem havia causado toda aquela confusão. Ela estava sentada em um tronco de árvore brincando com um coelho tão branco quanto a neve acumulado no chão. 

— Imagino que tudo isso tenha um bom motivo. - disse de forma neutra para mulher. 

— Ninguém te obrigou a vir até aqui, Majestade. – respondeu ainda sem o encarar.

— E você não tem nada haver com o que aconteceu com os cavalos. 

— Belas criaturas como aquelas não deveriam passar suas vidas servindo homens como os seus. - fez uma pausa. - Muito menos sendo escravos de um rei como você. 

— Vá direto ao ponto, Agathe! - o coelho ficou tão assustado que correu para longe dali. 

— Parece que você continua a se esquecer. - a mulher se levantou e o encarou secamente. - Eu não sigo ordens de ninguém, principalmente as suas. - o homem deu meia volta e começou a se afastar até que ela voltou a falar. - Lancei um feitiço em Adam. A aparência que ele tem agora é exatamente o que você o transformou nestes últimos anos. Uma fera. - ele a encarou com uma genuína feição de surpresa. 

— Esta maluca? - ela riu. - Por que você faria isso com ele? - parando abruptamente o riso ela avançou fazendo com que ele puxasse a espada em defesa. Segurando-o pela roupa com a espada a milímetros de distância do seu pescoço. 

— Por que de fato. - sua raiva era nítida na expressão que fazia. - Talvez ao em vez de fazer isso eu deveria ter te transformado em uma estátua de pedra pensando como o mundo seria melhor sem ter alguém como você por perto. - ela o soltou. - Mas isso não mudaria nada, muito menos o estrago que você já fez naquele menino. - afastou-se preocupada mais como o que ela seria capaz de fazer a ele se permanecessem tão perto, do que o que ele poderia fazer a ela. 

— Não há nada de errado com o meu filho, feiticeira. - ele continua a manter a espada em punho. - Ele era fraco e eu o tornei forte. Tudo o que fiz foi  ensina-lo a ser o rei que um dia ele será.

— "Vincit qui se vincit"? “Vence aquele que se vence”. Realmente acha que ao superar suas fraquezas ou falhas, controlando suas emoções e ações, ganha-se todas as batalhas a frente? - seus olhos se encontraram. - Você nunca vai mudar. Sei disso desde antes de vocês dois terem se casado, porém... ela nunca me escutou. - por um tempo ninguém disse nada. - Não me importo com você ou com o seu futuro. No entanto, não existe possibilidade alguma que deixarei Adam se tornar em um homem sem coração como você. O feitiço permanecerá até que chegue o dia em que ele mude. Você pode ficar ao lado dele e ajuda-lo a quebrar o meu feitiço ou... - ela o encarou esperando por uma resposta da parte dele, sendo que ela já sabia qual seria essa resposta. O homem guardou a espada na bainha e a encarou. 

— Este país precisa de um rei. – respondeu de forma arrogante como se fosse algo óbvio que qualquer um chegaria à mesma conclusão.

— E aquele garoto precisa do pai. – retrucou de braços cruzados.

— Ela não te perdoaria. - os olhos dela ficaram surpresos. - Mesmo que esteja fazendo isso pensando no bem de Adam, ela não te perdoaria por fazê-lo sofrer. - um sorriso estranho se formou nos lábios da loira.

— Bem, você deveria ter pensando nisso antes de matá-la. 

— Você me culpa?! - ele pareceu genuinamente ofendido e com raiva. 

— Eu culpo o mundo, mas sim. Culpo você também. - fez uma pausa. - Porque se você a amasse tanto quanto ela te amava... ela ainda estaria aqui. - uma bela rosa surgiu entre os dedos pálidos dela. - Lembra o quanto ela amava essas rosas? – estendeu-lhe a flor. - Pegue a rosa e ajude o seu filho a se tornar alguém melhor do que nós dois. – ele apenas observou a rosa e deu um passo para trás, vendo aquilo como nada menos que todas as coisas que ele evitou desde aquele dia.

— Espero sinceramente que esta seja a última vez em que nos encontremos, Agathe. – deu as costas e começou a caminhar pelo mesmo caminho que fez até chegar ali.

— O sentimento é mútuo, Majestade. – e a rosa desapareceu.

Após o incidente no dia do seu aniversário, o príncipe se escondeu dentro do seu quarto se recusando a sair dali ou a aceitar o que havia lhe acontecido. Sem se importar com que os criados diziam por detrás da porta, a Fera se sentava em um canto escuro do quarto tentando conter as lágrimas e grunhidos que insistiam em sair da sua boca. O que ele havia feito para merecer um destino tão cruel como aquele? Por que a feiticeira o tinha enganado se disfarçando como uma velha horrenda? Tudo por causa de uma simples rosa? Estava condenado a viver como um monstro porque havia rejeitado uma rosa? Besteira! Nada fazia sentido algum.

— Se não comer, você vai morrer. – ao reconhecer aquela voz feminina, um rugido feroz e alto ecoou pelo quarto desarrumado tão terrível que teria assustado todos os criados e qualquer outra pessoa que o ouvisse, porém a feiticeira permaneceu inabalada.

— VÁ EMBORA! – rugiu para ela com raiva.

— Não.

— Por que você esta aqui?! Ainda não está satisfeita por tudo o que fez?! – ele se levantou, mas permaneceu no canto escuro. – Quer assistir o meu sofrimento?! – em poucos passos ele já estava diante dela. – DEIXE-ME SOZINHO!

— O feitiço pode ser quebrado. – ela levantou o braço mostrando que segurava a mesma rosa que havia oferecido a ele. O príncipe se afastou rapidamente sentindo medo daquela flor que estranhamente brilhava agora. – Essa rosa irá florescer até o seu 21º aniversário. Se você aprender a amar alguém e for retribuído na época em que a última pétala cair, o feitiço estará desfeito, caso contrário você estará condenado a permanecer fera para sempre. – uma mesa ali perto caída no chão se levantou por magia e se pôs na frente da feiticeira a qual depositou a rosa sobre ela. Os flocos de neve entraram pela varanda e se transformaram em um belo cristal que serviu como proteção para a rosa encantada. – Sugiro que cuide muito bem dessa rosa caso queira algum dia voltar a ser humano. – colocou também uma carta ao lado da rosa. – Seu pai me pediu para lhe entregar isso. – as palavras dela chamaram a atenção da fera, porém ele ainda se manteve cauteloso.

— Mentira! Por que você teria uma carta dele? – ela simplesmente o encarou com o seus belos olhos verdes sem expressar qualquer emoção. De fato, ela era uma bela mulher e a sua falta de emoção a tornava ainda mais assustadora.

— Use o espelho mágico de sua mãe. – deu as costas e começou a se afastar. – Tenho certeza de que ele também o ajudará várias vezes no futuro. – e desapareceu.

Não demorou muito para que o príncipe conseguisse encontrar o espelho, afinal ele estava no exato local em que o havia visto pela última vez. Na biblioteca. Perguntou-se como a feiticeira sabia da existência dele, mas logo deixou esses pensamentos de lado ao se focar no que realmente queria saber. De acordo com a sua mãe, ela havia ganhado aquele espelho depois de conhecer uma feiticeira e ele permitia que o usuário visse qualquer coisa que desejasse ver. Segurando o espelho tentando ignorar o seu próprio reflexo pediu em voz alta para ver o pai. A fera que o encarava com olhar de repulsa desapareceu e em seu lugar estava um homem em pé olhando pela janela adornada de ouro. O homem não estava sozinho, ao seu lado um velho senhor questionava se não haveria outra forma de resolver o problema.

O problema será resolvido quando o príncipe quebrar o feitiço. Até lá, ninguém deve saber o que aconteceu com o meu filho.— disse o rei friamente. – Use qualquer método que lhe convir. Quero que a existência daquele castelo suma do mapa.

Sua Majestade, tem certeza de que não deseja pelo menos trocar algumas palavras com a Sua Alteza? Tenho certeza de que o príncipe...— antes que pudesse continuar o rei o interrompeu.

Tudo o que precisava dizer está escrito na carta que pedi para a feiticeira levar a ele.

E o senhor tem certeza de que ela entregará? Depois de tudo o que fez...

Ela pode ser uma mulher cruel, mas não é uma mentirosa.— fez uma pausa. – O assunto está encerrado. Tenho coisas mais pertinentes a resolver.— o lugar onde estavam os dois homens desapareceu e a fera voltou a encara-lo com um triste olhar. Ele abaixou o espelho e voltou o olhar para a rosa que iluminava o quarto escuro. Caminhou lentamente até ficar próximo o suficiente para pegar o envelope lacrado por um selo real. Deixou o espelho no lugar onde se encontrava a carta e depois de abri-la leu-a mentalmente. Adam não sabia exatamente o que esperava encontrar escrito naquele papel tão familiar, no entanto tinha certeza de que seria algo muito mais comprido do que apenas três linhas. “Meu filho, não espero que compreenda isso agora, mas quando chegar a sua hora de governar este país entenderá que um rei deve sacrificar certas coisas pelo bem maior. Seu pai.” Sem conseguir mais controlar a sua raiva e frustração, rasgou em vários pedaços tanto a carta quanto o envelope. Ainda bufando de raiva, virou-se na direção do retrato da família e rasgou o rosto de seu pai e o seu próprio. Colocou as mãos sobre o rosto e se encolheu no canto mais próximo. Aquela foi a primeira vez em que chorou desde a morte da sua mãe.

Após vários anos tentando quebrar o feitiço, o príncipe perdeu todas as esperanças de algum dia voltar a possuir forma humana. Amor. Quem seria capaz de amar um monstro como ele? E como ele poderia amar alguém se nem mais se lembrava o que esse sentimento era? Foi neste momento em que um viajante perdido entrou no seu castelo e possibilitou que Adam conhecesse a mulher que mudaria a sua vida para sempre.

No momento em que a Fera descobriu os seus verdadeiros sentimentos com relação a bela jovem da vila, um sorriso, que há muitos anos havia desaparecido, floresceu nos lábios da feiticeira. Mesmo apenas podendo observar tudo ao longe ela sabia que a hora do feitiço se quebrar tinha chegado e isso lhe trazia uma felicidade tamanha que não poderia nem ser descrita por simples palavras. Amor era realmente algo muito curioso, capaz de mudar o coração das pessoas.

Ao ver praticamente a vila inteira se unindo a um homem como Gaston, a feiticeira novamente se deparou com as piores partes do ser humano. Como eles conseguiam ter uma mente tão pequena e manipulável? Quando trancafiaram Bela e o seu pai, Agathe pensou que não seria uma má ideia colocar a nova invenção do pai de Bela em uma posição estratégica.

Enquanto a chuva persistia em cair sobre a vidraça da janela adornada por ouro, o rei observa o ambiente lá fora com tamanha atenção que poderia se achar que ele conseguia ver algo muito além do pátio de entrada do castelo. Fechou os olhos e respirou fundo parecendo mais cansado do que se encontrava há apenas um minuto atrás. Durante todos esses anos tinha esperado pelo dia em que poderia finalmente parar de olhar por aquela janela na esperança de receber notícias sobre o seu filho, porém isso nunca ocorreu e o último dia havia chegado. De repente, o ambiente ficou completamente em silêncio o que o fez abrir os olhos e notar que as gotas de chuva lá fora estavam pairando no ar. Como se tivessem sido congeladas no tempo.

— Que poder extraordinário. – comentou ainda mantendo os olhos fixos na janela sem se virar para encarar a mulher encapuzada atrás de si. – É realmente uma pena. Tanto potencial e ainda sim não consegue quebrar as regras que a mantém assim. – fez uma pausa. – Qual é o resultado?

— Ele conseguiu quebrar o feitiço. – apesar de essas palavras trazerem uma sensação de alívio, o homem ainda se manteve cauteloso como os seus instintos o avisavam. – Mas mesmo que ele volte para a sua forma original... Eu não vou conseguir salvá-lo. – foi apenas neste instante que ele se virou para encará-la.

— O quê? – ela baixou o capuz.

— Adam está morrendo. – a mulher loira começou a se aproximar do homem. – E não importa o quanto eu deseje salvá-lo, não posso. – ela colocou algo sobre a palma da mão dele. – Mas você pode. – sobre a palma da mão estavam as pétalas caídas da rosa encantada.

— “Se você a amasse tanto quanto ela te amava... ela ainda estaria aqui.” – citou as palavras que a feiticeira disse a ele há muitos anos atrás. – Você sabia que havia um jeito de salvar Rosemarie e nunca me contou. – disse enquanto tinha os olhos fixos nas pétalas em sua mão. – Por quê? Se você acha que eu não a amava, o que a faz pensar que posso salvar meu filho agora?

— Porque temos uma única coisa em comum. Mesmo que seja de maneiras diferentes, nós dois amamos eles. – a loira puxou a varinha e jogou um feitiço nas pétalas. – Eu quero que você use esse amor para salvar a vida de Adam, contudo a escolha é sua. Afinal, tudo tem um preço.

Anos depois, assim como no dia em que tudo começou, o grande castelo recebia convidados de todos os lugares para celebrar o aniversário do príncipe junto com os novos membros da sua família. Diferente daquela época, poderia encontrar entre os convidados pessoas de todos os tipos e classes o que dava ao ambiente uma sensação agradável e acolhedora. A feiticeira nunca pensou que chegaria o dia em que se sentiria confortável dentro daquele castelo. Após entregar o seu convite para a uma das pessoas que ajudava a receber os convidados, ela caminhou entre as pessoas tomando o devido cuidado de evitar qualquer um que a reconhecesse até parar ao se deparar com um belíssimo quadro. Um sorriso se formou em seus lábios ao mesmo tempo em que um pensamento lhe ocorreu. "Alguém parece mais feliz desde a última vez em que a vi." Agatha só precisou andar mais um pouco pelo salão para encontrar as pessoas que procurava. De fato, aquela era uma das famílias mais bonitas que já tinha visto em toda sua vida. Príncipe Adam, apesar de agora ser um homem maduro e admirável, ainda mantinha seus traços joviais e infantis principalmente quando ria ao brincar com menino de cabelos castanhos. Sua esposa conversava animadamente com pai o qual carregava nos braços um bebê. Havia várias outras pessoas ao redor deles os quais ela conseguia facilmente reconhecer, por isso não achou prudente se aproximar e escolher se dirigir ao jardim.

Ao se aproximar das roseiras, a loira percebeu que elas voltaram a ter aquele brilho vivo que possuíam antes e isso a deixou bastante contente. Ver aquelas rosas vermelhas tão vivas era quase como se conseguisse ver a rainha que as amava tanto parada ali sorrindo para si. Era algo bonito e ao mesmo tempo triste.

O som da voz da jovem mulher cantando uma música de ninar para o bebê em seu colo preencheu o jardim, dando-lhe mais vida ainda que as flores das mais diversas cores já davam. Sentada ao seu lado no banco de mármore, a feiticeira estava com os olhos fechados ouvindo atentamente a canção. Seus longos cabelos dourados se encontravam presos em uma bela trança feita por ninguém menos que a rainha ao seu lado mais cedo naquele mesmo dia.

— Acho que ele finalmente caiu no sono. - comentou sussurrando após terminar de cantar.

— Uma pena... - disse a loira apoiando o seu queixo no ombro da amiga para poder observar o bebê. - Eu adoro ver os olhos dessa pequena criaturinha. - a rainha riu baixinho. - Estou falando sério. Você deveria ficar muito agradecida dele ter herdado a sua beleza. Já imaginou se fosse parecido com aquele homem? - ela se afastou um pouco fazendo cara de nojo.

— Você só diz isso porque não gosta dele. - colocando os seus cabelos castanhos atrás da orelha, encarou-a com olhos repreendedores. - Ainda acredito que haverá um dia em que vocês dois se tornaram bons amigos.

— Se você diz. - ela esticou o braço para poder apertar de leve o nariz da amiga. – Diga-me, você realmente esta feliz com tudo isso? - a morena a encarou confusa. - Ninguém vai te recriminar, então pode me contar a verdade. - e foi então que um sorriso tímido, porém bonito do seu próprio jeito surgiu nos lábios rosados da rainha.

— Isso pode parecer bobo para você, no entanto não consigo me imaginar mais feliz do que já estou. - baixou o olhar para o bebê o qual continuava a dormir. - Tornar-me esposa e mãe foi a melhor coisa que me aconteceu. - ela segurou a mão da feiticeira enquanto mantinha a outra envolta do bebê. - Sei que você sempre se preocupa comigo, mas esta tudo bem! Pode ficar tranquila, Agatha.

— É impossível. - deu um leve riso. - Lembra de como nos conhecemos?

— Isso é injusto! Eu era apenas uma criança. - seu rosto ficou levemente corado de vergonha.

— Para mim você sempre será aquela menininha desastrada apaixonada por rosas. - fez caricia nos cabelos castanhos. - Não importa quantos anos passe... - ficou com uma expressão seria. -Nunca mude, Rose. - a jovem mulher abriu a boca para responder, porém ouviram uma voz masculina a chamando vindo do castelo.

— Rosemarie!

— Por que você não fica mais alguns minutos? - sugeriu a loira sorrindo. - Só para mostrar a Sua Majestade que nem tudo pode ser ganho através de ordens.

— Agathe!

— Esta bem. - as duas se levantaram e ao fazerem isso, os olhos azuis do bebê se abriram. - Meu querido príncipe Adam. - dirigiu-se ao bebê que a observou com atenção. - Mesmo tento recusado os infinitos pedidos da sua mãe para ser a sua madrinha... - a rainha revirou os olhos ao ouvir essas palavras. - Eu lhe desejo toda a felicidade do mundo. - beijou a testa dele. - Que você se torne um maravilhoso rei amado por todos, assim como a sua mãe. - em resposta ele riu esticando os pequenos bracinhos na direção dela.

— Ele adora você. - comentou a mãe do menino se afastando. - Não suma por muito tempo, esta bem? - parou e se virou a cabeça na direção da amiga.

— Sim, minha rainha.

— Boa noite. - a voz gentil de uma jovem a trouxe de volta a realidade. - Acho que ainda não fomos apresentadas. - seu vestido amarelo brilhou com a luz do luar quando se curvou educadamente. - Sou Bela. - apesar de já a ter visto de longe incontáveis vezes, a impressão que tinha dela agora diante de si era diferente.

— Agathe, sua Alteza. - a feiticeira segurou uma parte do seu vestido verde e se curvou.

— Por favor, chame-me de Bela. - seu rosto estava levemente corado. - Ainda não consigo me acostumar como toda essa questão da realeza. - ela riu. - A única coisa que fiz foi casar com o homem que amo.

— Então o fato dele ser o filho do rei foi pura coincidência? - brincou a loira.

— Exatamente! Imagine a minha surpresa quando descobri isso! - ambas riram alegremente o que acabou por fazer o bebê se mexer nos braços da mãe.

— E quem seria esta linda criança? - aproximou-se um pouco para poder ver melhor o bebê. Para a sua surpresa quando olhou nos olhos dela reconheceu imediatamente aquela tonalidade azul única. - Ora, ela tem os olhos do pai.

— Não é? - disse contente. - Fiquei bastante feliz ao perceber isso no dia em que ela nasceu. - fez uma pequena pausa. - Como posso descrever? Além de bonitos eles trazem uma sensação boa quase como se quisesse dizer...

— "Tudo vai ficar bem". - a interrompeu completando o que ia dizer. - Sinto a mesma coisa. - sorriu. - Afinal, eles são os olhos da mãe de Adam. - Bela estava prestes a dizer algo quando o som de passos se aproximando chamaram a sua atenção.

— Mamãe, mamãe! Estávamos procurando por você! - um menino correu até a mãe e segurou a sua saia.

— Verdade? Desculpe, filho. Mamãe só queria tomar um ar fresco.

— Bela querida, você não deveria ficar aqui fora com esse frio. - disse Adam se aproximando.

— Esta tudo bem. Não esta tão frio assim.

— Mesmo assim... - de repente ele parou de falar e seus olhos se arregalaram em surpresa e pavor.

— O que foi? - estranhou a expressão do marido. Em um movimento rápido, o príncipe se colocou na frente da esposa e do filho sem tirar os olhos da mulher loira que o encara com uma expressão serena.

— Há quanto tempo, príncipe Adam.

— O que você esta fazendo aqui?! - Bela conseguia sentir a mão do marido tremer enquanto essa segurava o seu braço. Apesar de tudo o que eles já haviam passado, aquela era primeira vez em que ela o via com tanto medo.

— Minhas mais sinceras desculpas, Bela. Eu não me apresentei corretamente. – segurando a borda do seu vestido fez uma reverencia. - Meu nome é Agathe. Sou a feiticeira que amaldiçoou seu marido anos atrás. - ela sorriu. - Mas algo me diz que você já suspeitava disso.

— Como você conseguiu entrar? - a feiticeira voltou a atenção para o homem de vestes formais azul.

— Pela porta da frente, naturalmente. Isso é jeito de tratar um dos seus convidados?

— Desculpe, mas eu não me lembro de ter te convidado. – retrucou tomando cuidado com as palavras que escolhia. - Afinal, da última vez em que você apareceu no meu aniversário as coisas não acabaram bem.

— Então... você ainda me odeia? - ele permaneceu em silêncio tomando toda a cautela possível.

— Isso é mais um truque?

— Entendo que pense dessa forma depois de tudo o que fiz, porém não se preocupe. – a loira tinha uma expressão serena e tranquila. - Não sou o tipo de pessoa que arruinaria o aniversário de alguém pela segunda vez, sabe? Estou aqui somente para lhe responder as dúvidas que possui. Eu lhe devo no mínimo isso. - as palavras dela o surpreenderam.

— Você... me deve? - perguntou quase não acreditando nas palavras que pronunciava.

— Claro. – durante um bom tempo ninguém se pronunciou e por essa razão, Bela resolveu dizer algo para mudar aquela atmosfera pesada.

— Parece que essa conversar vai durar um bom tempo, por isso eu e as crianças vamos nos sentar naquele banco ali. - comentou ainda segurando o bebê no braço direito e com a mão esquerda segurou a mão do filho.

— Quê?! Você vai me deixar sozinho com ela? – exclamou o príncipe cheio de receios.

— Do que você esta falando, Adam? - disse rindo. - Vamos estar bem ali, então não se preocupe com nós e tenha uma boa conversa com ela, esta bem? – ela piscou um dos olhos e se afastou.

— Quem é aquela mulher de verde, mamãe? - perguntou o menino enquanto se afastavam.

— Uma velha amiga do seu pai, por isso a gente não pode atrapalhar a conversa deles.

— Se eu não te conhece, príncipe Adam, diria que esta com medo de mim... – brincou a feiticeira sorrindo.

— E por que eu deveria ter medo de você? - retrucou sério. - Não sou mais uma criança.

— Sim... Tem razão. Aquele pequeno menino não existe mais... - seus olhos se encontraram. - Porque quem esta agora diante de mim é um belo homem que logo se tornará rei. – ele a observava com receio.

— Você... parece diferente.

— Pareço? – perguntou genuinamente surpresa. – Bem, creio que não seria de se estranhar que você não foi o único que mudou depois de todos esses anos. Quem sabe? Talvez eu não esteja acostuma a ter os meus desejos atendidos.

— Desejo?

— Sobre isso... Deixo para a sua imaginação. - durante algum tempo nenhum dos dois disse nada.

— Eu realmente posso perguntar qualquer coisa? - questionou ainda desconfiado.

— Qualquer coisa. - mesmo assim ele se manteve em silêncio. - Sei que tem várias perguntas, contudo por que não começa pela primeira que teve ao me conhecer? - ainda um pouco preocupado, o príncipe optou por seguir o conselho dela.

— Por que você me enfeitiçou naquele dia?

— Porque não queria que você se tornasse alguém igual ao seu pai, mas isso não passa de uma desculpa para justificar um ato cruel. Você era apenas uma criança e eu sabia disso. Também sabia o quanto sofreria para quebrar o feitiço. No entanto, nada disso me impediu de continuar. - fez uma pausa. - Se eu fosse normal como qualquer outro ser humano, poderia facilmente me aproximar de você e te ensinar a seguir o caminho certo. Mas eu sou uma feiticeira, então fiz o que estava em meu poder fazer mesmo tendo ciência de que não seria perdoada.

— ... – pensativo ele voltou os olhos para a sua família sentada no banco. - O que você fez comigo por muitos anos me pareceu nada mais do que um pesadelo impossível de se acordar... Ser obrigado a ver o mundo pelos olhos de uma fera me mudou em maneiras que nem eu não saberia descrever. - inconscientemente cruzou os braços. - Dito isso, quando penso no tipo de pessoa que seria se nada disso tivesse acontecido... Este tipo de pensamento me assusta muito mais do que todo aquele tempo em que vivi como uma fera. - quando Adam a olhou nos olhos e sorriu a feiticeira ficou surpresa. - Se não fosse por você, Bela e eu nunca teríamos nos conhecidos e muito menos formado uma família juntos. Por isso, eu lhe agradeço.

— Não mereço os seus agradecimentos. - ela disse de forma neutra.

— Mesmo que pense assim, meus sentimentos não vão mudar. - ela desviou o olhar.

— É realmente o filho dela. - antes que Adam pudesse dizer qualquer coisa eles escutaram o choro do bebê. O príncipe já estava caminhando para próximo da esposa quando a feiticeira colocou a mão no seu ombro. Ela se aproximou de Bela e se abaixou ficando no mesmo nível sem se importar em amassar ou sujar o seu belo vestido verde. - How does a moment last forever? How can a story never die? It is love we must hold onto. Never easy, but we try. - começou a cantar fazendo com que o bebê prestasse atenção nela. - Sometimes our happiness is captured. Somehow, our time and place stand still. Love lives on inside our hearts and always will. - Adam começou a fazer uma expressão de surpresa. - Minutes turn to hours, days to years and gone. But when all else has been forgotten. Still our song lives on. - o bebê adormeceu facilmente.

— Como...? Onde... onde você aprendeu essa música? - ele ficou tão surpreso que mal conseguia formular as palavras.

— Sua mãe tinha o costume de cantar essa música quando você era um bebê.

— Que inesperado! Eu não imaginava que você fosse tão boa com crianças, Agathe. - comentou Bela. - Quer segura-la? - tanto ela quanto Adam foram pegos de surpresa.

— Posso?

— Claro! - colocando com calma e cuidado o bebê foi dos braços da mãe para os da feiticeira. Fazia tanto tempo desde a última vez em que havia segurado uma criança em seus braços que Agatha se sentiu um pouco desnorteada, porém ao mesmo tempo aquilo lhe trazia uma sensação nostálgica. Como se o tempo nunca tivesse passado. - Como era a mãe de Adam?

— Ela era uma garotinha curiosa e desastrada. Sempre pensando nos outros antes de si mesma. - fez carinho no rosto do bebê adormecido. - Teimosa e corajosa. Poderia facilmente ter o mundo no alcance das suas mãos, mas ao em vez disso ela escolheu ser a esposa do rei. - riu. - Amor é realmente algo curioso, não? - levantou-se e entregou o bebê nos braços de Adam. - Ah! Antes que eu me esqueça. - espelho mágico surgiu na mão direita dela. - Seu presente de aniversário.

— O espelho mágico? – falaram ao mesmo tempo o príncipe e a Bela.

— Quando o encontrei ainda estava sob o feitiço, mas infelizmente escolhi dar uma segunda chance para um verme e as coisas acabaram como se era de se esperar. Deixando isso de lado, achei que vocês ficariam felizes em tê-lo de volta.

— Este é o espelho mágico que pertencia a vovó?! - perguntou animado Ben.

— Sim, mas agora ele é só um espelho como qualquer outro. - Agatha se agachou e estendeu o espelho para o menino. – No entanto, isso não muda o fato de ainda ser muito importante para os seus pais, por isso tome muito cuidado com ele. - Ben segurou o espelho e se divertiu com ele. - Vocês deveriam voltar para dentro. Afinal, como se pode ter uma festa de aniversário sem o aniversariante? - enquanto caminhavam para dentro do castelo, Adam e Agatha ficaram atrás conversando.

— Sobre o verme que você mencionou... - ele começou.

— Ah, não se preocupe. A queda pode não ter sido o seu fim, mas os lobos não são tão gentis quanto eu, principalmente com caçadores. - apesar de em momento algum mencionarem de quem estava falando, tanto o príncipe quanto Bela, a qual não participava da conversa, mas escutava discretamente, sabiam exatamente quem era o verme que a feiticeira falava. - Se não se importar, Sua Alteza, eu tenho uma pergunta para você. - fez uma pequena pausa. – Como vai o seu pai?

— Que pergunta inesperada. Tive a impressão de que você o odiasse.

— Posso lhe garantir que não é apenas uma impressão, porém isso não muda o fato dele ser o seu pai. - seus olhos se encontraram. - Por isso fiz a minha pergunta. - ele respirou fundo antes de começar a falar.

— A última vez em que nós conversamos, depois de quebrar o feitiço, ele deixou bem claro que mesmo que pudesse voltar no tempo teria tomado a mesma decisão. - aconchegou melhor o bebê em seus braços. - Como príncipe eu compreendo a posição em que ele se encontra e os sacrifícios que deve fazer pelo bem de todos. Como filho e pai... não consigo entender como alguém consegue abandonar o próprio filho a sorte do destino. - beijou a testa da filha. - Minha família e amigos são as coisas mais importantes que tenho na vida e eles sempre viram em primeiro lugar para mim. Isso não vai mudar quando eu me tornar rei. - riu. - Acho que isso significa que me tornei naquilo que você queria.

— Não. Você foi além das minhas expectativas. E isso me deixa muito feliz.

— Agathe. - ouvi-lo chamando pelo seu nome a surpreendeu. - Você é a feiticeira que deu o espelho mágico para a minha mãe, certo? - ela permaneceu em silêncio. - Vocês eram amigas e essa é a verdadeira razão porque você me enfeitiçou. - no momento em que ela parou de andar ele também parou e se virou na direção dela. - Estou errado? - em resposta ela sorriu.

— Feliz aniversário, Adam. - ela o abraçou tomando cuidado para não apertar o bebê entre eles. - Fico feliz em poder finalmente ter a oportunidade de lhe dizer isso. - ao se afastar beijou a sua testa. - Sua mãe ficaria orgulhosa. – e começou a se afastar.

— Espere!

— Sobre o seu pai... – parou de andar. – “Se esta história precisa de um vilão, eu não me importo em ser um.”, é o que ele provavelmente pensou da última em que nos vimos. – ela riu. – Bobo, não? Que tipo de vilão pensaria uma coisa dessas?

— Adam? – ele se virou para Bela que se aproximava e quanto voltou a olhar onde a mulher loira se encontrava, não havia mais ninguém por ali. – O quê? Ela já foi embora? Eu ainda nem tinha perguntado se ela poderia te transformar em fera de novo. – disse sinceramente desapontada.

— Você esta brincando, certo? – ela sorriu e o beijou na bochecha.

— Claro. – riu. – Um pouco. – ela pegou a filha do colo do marido. – Você parece muito feliz, Rose. Ficar no colo do papai é mais divertido do que no da mamãe?

— Onde vocês estavam? Procuramos por vocês em todos os lugares! – Horloge como sempre olhou no seu relógio de bolso aflito. – Já passou da hora do discurso! Por sorte, o nosso caro Lumiere teve a bondade de entreter os convidados com as suas piadas sem graça. – ao mencionar o seu velho amigo sua voz mudou para desdém.

— Pedimos desculpas pelo incomodo, Horloge. Não percebemos que horas eram. – apenas algumas palavras de Bela já bastaram para mudar completamente o animo dele.

— Não se desculpe, Sua Alteza! Nós só estávamos preocupados de algo ter acontecido...

— Horloge! Olhe! O espelho mágico da vovó! – disse animadamente Ben mostrando o espelho que segurava com as duas mãos. O senhor de bigode se assustou ao ver tal objeto.

— Oh meu Deus! Onde...? Como...? – ele olhava hora para Bela hora para Adam.

— Sim, sobre isso... Nós conversamos mais tarde. – respondeu Adam já empurrando o velho companheiro para frente. – Onde você disse que o Lumiere estava?

— Adam? – apesar de já fazer muito tempo desde a última vez em que ela o havia chamado de Fera, o príncipe sentia um pouco de saudades daquela época sempre que Bela o chamava pelo seu verdadeiro nome. Isso era algo que apenas o casal sabia. – Conseguiu dizer tudo o que queria para ela? – a pergunta o fez pensar sobre a última conversa que tiveram sobre o que fariam se algum dia se encontrassem com a feiticeira.

— Não. – Adam observou Bela colocar o fio de cabelo castanho que havia caído sobre o rosto atrás da orelha, como era de seu costume fazer. – Ela disse que ia responder as minhas dúvidas, mas no fim só me deixou com mais perguntas.

— Aí esta você, Ben. – dentro da multidão saiu um jovem rapaz de cabelos claros. – Venha! Estávamos esperando por você para começar a jogar. – os olhos do pequeno menino chegaram a brilhar de felicidade.

— Posso ir, por favor? Mãe? Pai? – pediu olhando de um para o outro.

— Claro, desde que Zip prometa cuidar de você. – o rapaz sorriu ao ser mencionado.

— Não vou tirar os meus olhos dele! – Ben estava prestes a correr junto com Zip quando olhou para o espelho que segurava. Entregou-o para a mãe e desapareceu na multidão junto com o outro rapaz.

— Bela. – aproximou-se da esposa colocando a mão sobre o ombro dela. - Vou procurar por ela. – a morena sorriu.

— Boa sorte. – ele também retribuiu o sorriso e se inclinou para beija-la.

— Desculpe, Horloge. Tenho que fazer uma coisa antes do discurso. – disse já começando a se afastar. – Eu já volto. – e desapareceu entre a multidão sem se quer escutar os protestos do homem de bigode.

Questionando os convidados se por acaso viram uma mulher de cabelos dourados e vestido verde, o príncipe procurava pela feiticeira desejando que ela não tivesse simplesmente desaparecido ao fazer uso do seu poder. Já estava na porta de entrada quando avistou ao longe uma mulher loira conversando com um homem que estava de costas para Adam. Ele correu o mais rápido que conseguiu sem esbarrar em nenhum dos convidados e quando finalmente estava próximo o bastante para que os olhos verdes dela o notassem, Agathe sorriu e piscou para ele antes de dar as costas e se afastar.

— Ah, sinto muito. – disse automaticamente ao se esbarrar com o homem com quem a feiticeira estava conversando. – Estou tentando alcançar uma pessoa antes que ela...

— Adam? – a familiaridade na voz fez com que o príncipe se esquecesse do que estava falando e também do que estava fazendo. Virando-se para encarar propriamente a pessoa com que havia esbarrado, ficou pasmo ao reconhecer o homem que estava diante de si.

— Pai? O que... O que você esta fazendo aqui? – as palavras saiam da sua boca automaticamente. – Por que esta vestido assim? E a sua escolta? E por que você estava conversando com Agathe? – foi neste instante que ele se lembrou do que veio fazer ali. – Agathe! Tenho que ir atrás dela. – já estava prestes a começar a correr quando foi impedido pela mão de seu pai que o segurou pelo braço.

— Ela me pediu para lhe dizer algo caso tentasse ir atrás dela. – os dois se encararam. – “Guarde as perguntas para a próxima vez. Você tem algo mais importante para fazer agora.” – agora que olhava mais atentamente o seu pai, o príncipe notou o quanto ele parecia diferente. Mais velho e cansado como se o passar do tempo não tivesse sido gentil. Era difícil de imaginar que o homem diante de si era o mesmo rei que por anos se esforçou em agradar, tentando ser o filho que ele tanto desejava. Tudo o que queria, tudo o que sempre quis desde a época em que não passava de um menino era deixar o pai orgulhoso, mesmo que ele parecesse estar longe do seu alcance. Agora, quando se entre olhavam, Adam percebeu que ambos tinham a mesma altura. – Podemos conversar, filho?

— Claro. – os dois se encaminharam para um lugar mais calmo e com menos pessoas, o que os levou para a biblioteca. – É bom vê-lo, senhor. – o jovem homem ajeitou a sua postura tentando pensar no que deveria dizer exatamente. – Se eu soubesse que viria teria feito os devidos preparativos para a sua chegada. – fez uma pausa. – Posso perguntar o que exatamente foi a sua conversa com Agathe?

— Nada que valha a pena mencionar em voz alta. – respondeu enquanto encarava a lareira. – Imagino que ela já deve ter falado uma ou outra coisa sobre mim. Como por exemplo, a razão por trás do feitiço.

— Ela me contou várias coisas, mas no fim deixou mais perguntas do que respostas. – o homem mais velho deu um leve riso irônico. – Ela disse que não queria que eu me tornasse alguém como você. – o rei soltou um longo suspiro e se sentou na cadeira mais próxima.

— Depois que sua mãe morreu, voltei-me completamente para as minhas tarefas e deveres de um jeito tão profundo que me impediria de pensar em qualquer outra coisa. Principalmente na dor. E a cada dia você se tornava mais parecido com ela. – fechou os olhos. – A decisão de vê-lo apenas como o herdeiro do trono foi a solução que encontrei para me permitir ser o rei que este país precisava.

— “Quando chegar a sua hora de governar este país entenderá que um rei deve sacrificar certas coisas pelo bem maior.”? – citou de forma neutra as palavras que nunca havia esquecido mesmo depois de todos esses anos. – Levou-me anos para compreender as suas escolhas, mas agora eu entendo, pai. – fez uma pausa. – Apesar de entender não sei como perdoa-lo. Porque quando mamãe morreu, você perdeu a sua mulher, porém eu perdi tanto ela quanto você. – disse com uma expressão triste. – De que adiantava ter tudo se a única coisa que eu queria nunca aconteceria? – por um tempo nenhum dos dois disse nada até o momento em que o rei soltou um longo suspiro.

— Não estou pedindo pelo seu perdão, Adam. Sei muito bem que existem coisas neste mundo que não merecem absolvição, assim como todas as coisas que fiz e deixei de fazer por você. – levantou-se e colocou o braço no ombro esquerdo do filho. – Para mim ter você aqui vivo e bem é mais do que o suficiente. – o jovem príncipe abriu a boca para dizer algo, mas foi pego de surpresa ao receber de seu pai um embrulho um pouco desgastado pelos anos. – Feliz aniversário, filho. Desculpe por ter demorado todos esses anos em te entregar isso. – o rei sorriu, mas com os olhos tristes. – Vou indo agora. – começou a se afastar.

— Pai! – o mais velho parou de andar e voltou à atenção para o filho que caminhou em sua direção. – Por que você não fica mais um pouco? Tenho certeza de que Bela e Ben adorariam ver o senhor. Além disso... eu gostaria que você conhecesse a sua neta. – no fundo o príncipe queria dizer o quanto gostaria de passar mais tempo com o pai, mas não teve coragem o suficiente. O rei sorriu feliz em perceber que apesar de estar ao lado de um homem totalmente crescido, ainda conseguia ver um pequeno garoto na expressão de seu filho.

— Tem certeza? Nada me faria mais feliz do que isso, porém penso que a minha presença só traria desconforto para todos. – o filho riu segurando o ombro do pai.

— Não os subestime, pai. Estamos falando de pessoas que tiveram que viver junto comigo enquanto eu era uma fera. – ver aqueles olhos azuis profundos fez com que o rei se lembrasse da primeira vez em que o viu no colo da mulher com os mesmo olhos. O que será que ela diria se pudesse ver o filho crescido assim?  – Vamos. – acompanhando o filho, os dois saíram da biblioteca e voltaram para o salão principal.

Enquanto adentrava a floresta perto do castelo, percebeu o quanto ela havia mudado desde a última vez em que havia estado lá. Não se tratava de uma mudança física, sentia que o ambiente perdera completamente toda aquela sensação negativa. Depois de passar anos perambulando por aqueles corredores de árvores, deixou o seu instinto o guiar até uma cachoeira onde se encontrava sentada sobre a grama verde uma mulher com uma coruja branca no ombro direito.

— Finalmente te encontrei, Agathe.

— Que surpresa agradável. - comentou a mulher virando o rosto para sorrir ao visitante que abaixava o capuz. - A que devo esse prazer, Majestade? - Adam riu ao ouvir essas palavras.

— Por favor, não seja tão formal comigo. É muito estranho. - caminhou até ficar próximo dela. - Posso me sentar ao seu lado?

— Naturalmente. - com essa resposta ele se sentou ao lado da feiticeira notando que dali dava para ver uma parte do castelo mesmo com a existência da densa floresta. Por algum tempo nenhum dos dois disse nada como se estivessem esperando que o outro tomasse a iniciativa de dizer algo. No entanto, o silêncio que se seguiu não era estranho ou desconfortável, muito pelo contrário. As perguntas que tanto desejava fazer a aquela pessoa por alguma estranha razão não pareciam agora tão relevantes. Ficou surpreso ao perceber que apenas a presença dela ao seu lado era o suficiente para satisfaze-lo.

— Minha esposa me pediu para lhe agradecer por tudo o que fez por nós. - disse com um sorriso genuíno. - E também gostaria de saber se existe alguma forma de me fazer voltar a ser a fera. - a feiticeira começou a rir tão fortemente que a coruja em seu ombro levantou voo e pousou em um galho de árvore próxima.

— Realmente, aquela garota não deixa de me surpreender. - fez uma pausa ainda tentando se recuperar dos risos. - Diga a Bela que apesar de entender perfeitamente as razões dela, feitiços não devem ser vistos de forma tão leviana. - sua voz foi aos poucos ficando mais séria. - Cada um deles tem um preço.

— Eu sei. - respirou fundo. - Ser uma feiticeira não deve ser algo fácil.

— Ao meu ver, ser um rei é algo ainda mais complicado. - sorriu para ele. - Parabéns pela sua coroação, Adam. Apesar de todas as dificuldades que estão por vir, tenho certeza de que você conseguirá supera-las.

— Como você pode ter tanta certeza? - perguntou curioso em saber o que se passava na mente dela.

— Porque você não estará sozinho. - fez uma pausa. - Esse foi o erro de Louis. Não importa o quão forte você seja, carregar o peso de um reino sozinho é impossível. - ela voltou a observar o castelo. - Ele pode ter sido um idiota, mas no fim era um bom homem.

— Nunca imaginei que a ouviria chamar o meu pai pelo primeiro nome ou se quer falar algo de bom sobre ele. O que aconteceu? Esta doente? - brincou com a loira.

— Ele salvou a vida de alguém com quem me importo muito. - encaram-se. - Mas você já sabia sobre isso, não? - por alguns segundos ninguém falou nada.

— Acho que sabia desde o dia em que o vi no meu aniversário, porém fingia que não. Os anos seguintes que pude passar ao lado dele foram tão bons que quando ele morreu foi como se eu o tivesse perdido mais uma vez. - olhou para baixo, contudo logo levantou o rosto. - Fico feliz que apesar de tudo ele não parecia ter nenhum arrependimento, assim como eu. - o som da floresta era tão acolhedora que em certos momentos eles paravam de falar só para escutar a vida ao seu redor. - Diga-me, Agathe, esta vai ser a última vez em que nos veremos?

— Posso ser uma feiticeira, no entanto ainda sou incapaz de ver o futuro.

— Não mude de assunto. Sabe muito bem o que quero dizer. - apesar de tentar ela foi incapaz de esconder o sorriso. - Eu não quero que você desapareça. - essas palavras causaram surpresa na mulher. - Queria que você fizesse parte da minha vida, da mesma forma que fez com a minha mãe. - antes mesmo que ela pudesse desviar o olhar, logo se deparou com aquele par de olhos azuis.

— Isso é um pedido ou uma ordem? - quem se surpreendeu agora foi o próprio Adam.

— Eu nunca se quer sonharia em dar qualquer tipo de ordem para você. - disse rindo deixando o seu rosto mais bonito do que já era. - Tenho a impressão de que você me transformaria em uma estátua de mármore. - ela riu também ao mesmo tempo em que bagunçava os cabelos loiros dele.

— Você sabe... Você sabe que eu nunca vou conseguir ou querer substituí-la, certo?

— Não desejo que você a substitua. - respondeu sério. - Isso não seria certo com ninguém, especialmente com você. - de dentro das suas vestes ele retirou um livro o qual estendeu para a feiticeira. - Um presente meu e da Bela. Espero que goste. - sem jeito ela aceitou o livro e o abriu com certa curiosidade. - Seria muito egoísta da minha parte querer que você me ajude a lembrar o tipo de pessoa a minha mãe era?

—Se isso é ser egoísta, então eu sou a pessoa mais egoísta do mundo. - fechou o livro e o abraçou. - A propósito, eu esqueci de perguntar uma coisa na última vez em que nos vimos. - o rei a observou com curiosidade. - Qual é o nome da sua filha? - Adam sorriu.

— Rosemarie. - Agathe sorriu também.

— Um lindo nome, de fato. – fez uma pausa. – E por que você esta com barba? Isso só lhe deixa parecer mais velho. – ela nem tentou esconder o tom de crítica. – Por acaso quer tentar parecer com o seu pai?

— Não quero contar. Você vai rir.

— Agora eu realmente quero saber. – ele permaneceu em silêncio tentando evitar o olhar dela. – Será...? – quando ela se deu conta de algo, começou a rir. – Não pode ser! Ela realmente te pediu para fazer isso? – o silêncio apenas confirmou as suposições dela. – Você realmente se casou com uma mulher incrível.

— Eu sei. – ele sorriu orgulhoso.

Era uma vez, em um país distante, um jovem rei que vivia em um reluzente castelo. Embora em seus tempos de juventude tivesse agido como um príncipe mimado e egoísta, um feitiço o fez perceber que a verdadeira beleza das pessoas vem do seu interior. Diferente de seu antecessor, o rei governou o país e o seu povo com a ajuda dos seus leais amigos e familiares e juntos trouxeram o mais prospero de todos os reinados. Nos momentos de lazer, a família real gostava de viajar para conhecer o mundo e viver as aventuras que os aguardavam. Todo ano, o rei presenteava a rainha com uma rosa mostrando o quanto a amava e o que ela significava para ele. Com o passar dos anos, mesmo com os desentendimentos e certas discussões, o amor que tinham um pelo outro não mudou, apenas se intensificou. Eles viveram felizes para sempre. Mesmo após a sua época, sua história seria contada de geração para geração de forma que nunca seria esquecida e se tornaria algo tão antigo quanto o próprio tempo.


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Notas finais do capítulo

A música "How Does A Moment Last Forever" pertence ao filme de 2017. Link para escutar:https://www.youtube.com/watch?v=bNlN9o__tQI



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