Você já se perguntou o que acontece depois que morremos? Será que vamos para um outro plano e nossas vidas continuam lá como um espírito assexuado e de certa forma feliz no paraíso? 

O inferno existe?

O céu existe?

Quando morremos tem mais algo, ou ali acaba tudo?

É estranho ser um menina de 23 anos tão popular, bonita, todos querem estar comigo, mas de um tempo pra cá tantas coisas mudaram, a vida adulta me chamou e ela é difícil, ainda mais quando você mora com dois pais que não se comunicam com você por escolhas que você teve no passado, e um irmão um pouquinho mais velho que é um saco de aguentar.
Bom, pra quem não me conhece ainda me chamo Yuri, sim, Yuri. Tenho um irmão de 24 anos chamado Hansol e fomos criados sempre trancados dentro de casa, obrigados a seguir regras, meio longe da família briguenta, uma família cheia de mistérios, até pouco tempo atrás nem celular poderíamos ter. Ah mas calma aí, vocês precisam saber do que estou falando.

Hansol: Yuri, acorde. Vai perder o café.
Yuri: Avise-os que já estou descendo, só um minuto.
Hansol: Você sabe como eles estão né?
Yuri: Tudo bem, qualquer coisa tomo café na rua mesmo.
Enquanto eu me trocava, percebi que ele desceu e nossos pais brigavam já logo cedo, o foco como sempre é dinheiro, uma família cheia de tudo e cheio de nada.
Já faz um tempo que estou evitando tomar café com eles, prefiro pegar meu irmão e tomar café na rua mesmo, evita ouvir coisas.
Rebecca: Minha filha, você tem hora, desça para o café.
Ao abrir a porta do quarto me deparo com minha mãe ainda toda desarrumada, como se não tivesse nada para fazer após aquele lindo café em família.
Yuri: Vou tomar café na rua hoje de novo, não se preocupem comigo.
Rebecca: Yuri, cada gota de café posta naquela mesa é para ser bebível, é gasto do meu dinheiro e não do de você e seu irmão.
Se tudo fosse mais fácil eu já havia mandado minha mãe e meu pai a merda e estaria bem longe daqui.

Bom, eu só peguei minha bolsa mesmo e sai com meu irmão, fui deixar ele na universidade e dentro do quarto ele não fala um pio, é inacreditável como este garoto me ignora. É inacreditável como toda a minha família se ignora e só se fala quando alguém precisa de algo do outro.
É difícil narrar algo que ninguém pode ver, até parece fácil só escrever, escrever e deixar aqui tudo para vocês como se fosse apenas um carta.

Aquele dia estava sendo difícil, mas até que enfim pude chegar no curso, aqui estou.
Eli: Oi Yuri, como está?
Bom, este é meu melhor amigo Eli, ou somente L mesmo.
Yuri: Estou bem, como sempre dias estressantes, nem café tomei ainda, tive que ir deixar o Hansol na universidade de novo e já sabe né.
Eli: Este garoto está na hora de tomar vergonha na cara, o pai de vocês não vai viver dando regalias para ele, assim como não deu para você.
Yuri: O melhor da vida foi poder ter conseguido todas as minhas coisas sozinha.
De manhã faço curso de línguas, a tarde eu fico fazendo trabalhos e coisas do tipo para a faculdade que chega logo a noite, e ainda bem só faltam 2 semestres para tudo isso acabar e eu realmente me formar.
Yuri: É, trabalhar 2 anos, conseguir coisas boas, ser boa aluna, ter um carro. Acho que consegui dar um grande avanço na vida.
Eli: Claro, eu ainda espero o meu carro até hoje enquanto ando de ônibus.
Yuri: Viva com meus pais e meu irmão e você rapidamente descobre que não quer viver da mesma forma que eles.
Eli: Ainda continua as brigas todos os dias?
Yuri: Sim e quando parou?
Eli: Por que são tão fascinados em dinheiro.
Yuri: Eu não sei, há tantas coisas melhores para se fazer além de só pensar em contas, dinheiro, contas e dinheiro. Mas vamos entrar, já ta dando o horário e não podemos nos atrasar para a aula.

Minha vida continua nisso, por dias, meses, anos, segundos até. É sempre a mesma rotina, mas sempre buscando o melhor para a minha vida, mas tá difícil, a negatividade é demais por ali. 

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Hansol: Mano, vamos cabular mais um aulinha, ninguém vai nem descobrir que a gente não entra neste lugar. 
Naiki: Porra, de novo Hansol. Pra que?
Hansol: Vamos dar umas voltas, fumar alguma coisa, daqui 1 hora meus pais saem de casa, vamos pra lá. Hoje a Yuri só chega a noite.
Naiki: Isso já ta ficando muito estranho, porque você não quer mais vir a aula.
— Na minha casa ninguém me entende, eu sou um muleque, criado como uma criança e que não ligo pra nada mesmo, meus pais tem dinheiro e querem só que a Yuri saia logo de casa para vivermos bens e sozinhos. Ela enche o saco com o politicamente correto dela. Essa garota não presta pra nada.

E eu fui fumar uma maconha para ficar legal e voltar pra casa já que não tem ninguém lá pelas próximas horas e ainda bem que o Naiki pode vir comigo, esse é mais fodido que eu.

Naiki: Mano, vai dizer que sua irmã nunca levou um namoradinho pra casa?
Hansol: Não, ela é toda certinha, quer casar.
Naiki: Toda gostosinha, nem gosto de pensar naquela menina de pernas abertas que já fico de pau duro.
Hansol: Caralho, a mina é minha irmã mas quantas punhetas já não bati só de ficar olhando ela tomar banho e limpar aquela bucetinha dela.
Naiki: Eu vou dar é um jeito de pegar a sua irmã, Hansol.
Hansol: Cara para de ser louco, se meus pais descobrem algo eles são capazes de matar eu e você.
Naiki: Ou ela.
— Já tinha passado o tempo, já podíamos ir pra casa, curtir um pouco e beber algo enquanto ninguém está em casa até porque eu gosto pra caralho de sexo e ficar aqui com esse louco falando que quer comer minha irmã é foda.

Naiki: Meu sonho é ter uma casa como a sua.
Hansol: Ter a casa é fácil, quero ver viver em uma família como a minha... todos os dias a mesma coisa.
Naiki: Vou dar uma mijada.
— Eu sou muito safado, meu amigo tem certeza que sou hétero mas eu tenho que fazer isso, ele vai mijar na minha casa, o pau dele é grande e não posso negar que sempre quis fuder com esse garoto desde o colégio quando ainda tomávamos banho juntos e falávamos sobre os primeiros pelos nascendo.
Mas é sério, como o Nai cresceu gostoso, esse corpo, tudo nele ta gostoso demais, mas ele não pode nem pensar nisso. 
Naiki: Até o banheiro da sua casa é maneira. O que tem pra gente comer já que sua irmã não tá aqui?
Hansol: Caralho mano para de ser assim. Só pensa em sexo.
Naiki: Meu corpo é movido a sexo.
Hansol: Mano, eu trouxe você aqui para uma coisa.
Naiki: Quantas minas chamou?
Hansol: É coisa séria.
Naiki: Fala logo.
Hansol: Precisamos dar um fim na Yuri. 
Naiki: Você tá louco?

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Minha vida de menina sempre foi um desafio, sabe, como se nada fosse o suficiente para eles. Sempre foi assim, meu irmão nunca foi o menino perfeito, nunca fez o certo, sempre foi errado. Eles sabem, eu tenho certeza que sabem e por que só eu tenho que ser assim?
Eli: Yuri, presta atenção na aula. Já tá acabando.
Yuri: Desculpa, to meio avoada hoje, algo está me fazendo mal.
Eli: Fica tranquila, já já vamos comer e passa. 
Algo estava me incomodando muito, isso não é normal, nossa me sinto meio sem ar com essas coisas.

A aula acabou, e mais uma vez digo que meus dias continuam a mesma coisa. Nada de ultra interessante. 

O tempo passou rápido. Eu disse que não ia fazer nada, nem um emprego eu consegui. Mas chegou minha formatura, é o meu dia. 

Eli: Você conseguiu garota.
Yuri: Sim, eu consegui.
Rebecca: É, pelo menos algo de útil você fez na sua vida.
Eli: Vamos sair daqui.
Aquele comentário mexeu comigo, e ao ver que só minha mãe estava ali foi bem triste. Cadê o resto das pessoas daquela casa? Cadê a consideração? É zero mesmo.

A lista começou a ser chamada, e um por um subia lá em cima, recebia o diploma e era tudo tão...

...Yuri

Eu não sabia o que fazer, subi rápido, muitas emoções, um filme passava pela minha cabeça, cada segundo de vida, cada toque não moderado, cada vez que o sinal foi ultrapassado de forma errada. Será que sou eu mesma? 
Aquela ali sou eu?

E de longe eu só pude ouvir: AGORA.
Eu não entendi nada, até sentir a pressão e ver: meu pai, minha mãe, meu irmão e seu melhor amiga Naiki olhando pra mim.

Por que comigo? Eu merecia tudo isso? Quem fez isso comigo? 

Por que ele passou a mão em mim?

Por que ela está cheirando aquilo?

Por que? Por que ser assim comigo?

Realmente a vida é algo que não dá para entender. Enquanto estou aqui, não estou aqui mesmo. 

Quem fez isso comigo?

Eu queria entender a vida, a maldade dos outros.

Quem fez isso comigo?

Pai, mãe, me ajuda. Sou a única filha de vocês.

Quem fez isso comigo?

Hansol, meu irmãozinho lindo. Eu to aqui.

Foi questão de segundos para um filme passar na minha cabeça e eu ver toda minha faculdade me olhando, gritando, uns chamavam a polícia, outros choravam. Porque o Eli tava chorando tanto e correndo a minha direção e no mesmo tempo ele não me alcança. O que está acontecendo e quem fez isso comigo são as únicas coisas que consigo pensar durante esses 10 segundos que demoro para cair no chão, enquanto com firmeza vejo meus familiares me olhando parados, com olhares frio, como se tivessem conseguido algo.

Ao mesmo tempo que eu via muito sangue saindo de meu peito, minhas vistas se escureciam de forma rápida e ali parecia que tudo acabava.

Ou começava.