Preço e Salvação escrita por 4Hours


Capítulo 1
Vitória. Mas a que custo?


Notas iniciais do capítulo

Olha só. Duas histórias em menos de 3 meses. Quem diria, hein?
Espero que apreciem essa pequena amostra do que a minha mente pode fazer enquanto eu durmo.



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A guerra finalmente havia acabado. O último invasor acabara de ser expulso.
"Finalmente acabou" - Pensou Samuel de joelhos aos pés da enorme escadaria que levava à sua vila nas montanhas.
Nenhum inimigo havia passado por elas. Nenhum civil fora ferido e nenhum edifícil fora destruído. Com isso, os guerreiros, apesar de feridos, retornavam para casa numa marcha rítmica que emanava pelos corredores de montanhas da região um canto de orgulho e felicidade.
Enquanto os outros subiam ansiosamente as escadas para se alegrar com a família ou para lamentar a perda de alguém, Samuel ficou lá, parado em transe, olhando para as nuvens que navegavam pelo azul do céu.
Ele nunca descobriu porque isso aconteceu, nem quanto tempo ficara naquele estado, mas quando se deu por si, o Sol já tocava o horizonte, banhando a terra com seus poderosos raios laranjas e amarelados.
Samuel pegou o seu cajado e se levantou. Era hora de ir pra casa.
Quando estava se preparando para o desafio que seria subir a enorme escadaria uma voz chamou a sua atenção, uma voz extremamente conhecida que alegrou todo o seu ser.
—Samuel, meu filho - Disse a voz atrás de si.
O rapaz se virou com lágrimas de alívio e viu Morgana, sua mãe e mestra, parada olhando para ele com seu sempre doce sorriso iluminando o seu rosto.
Samuel começou a correr na direção dela, queria abraçá-la, queria cheirá-la, queria sentí-la viva. Mas Morgana levantou a mão num gesto para que ele mativesse distância.
Por pura obediência e confusão, Samuel parou.
—Mãe? O que há de errado? - Perguntou ele franzindo o cenho.
A mulher suspirou fundo. Um suspiro de tristeza e melancolia, apesar de ainda sorrir docemente.
De repente, chamas começaram a sair da ponta de seu cajado, como se fosse uma tocha recém acesa.
—Olhe meu cajado, garoto - Disse a feiticeira com uma voz sofrida - As chamas que agora saem dele não mais esquentam, não mais iluminam.
Com pesar, o garoto percebeu que era verdade. O fogo que saía da arma de sua professora agora era roxo. Ele sentia de longe o frio que ele causava. E, apesar dele brilhar com um roxo impuro, o ambiente ao redor dele parecia mais escuro, parecia mais morto.
—N-não! Isso não pode ser verdade - Ele sabia o que aquelas chamas violetas significavam. Lágrimas pesaram nos seus olhos - Não! Porque, Morgana?! Porque logo você?!
Suas lágrimas tocaram o chão e seus soluços preencheram o ar. Sua professora, sua mãe adotiva, sua melhor amiga, fora corrompida pelos Espíritos da Morte.
—Ah! Meu garoto... Tudo na vida tem um preço - Ela falava com uma voz doce e triste - Esse foi o preço que essa guerra me custou... Abusei demais dos meus poderes e os Espíritos vieram me cobrar.
Ela suspirou fundo e sorriu para si mesma. Morgana sabia o que deveria acontecer agora.
—Samuel... me purifique - Disse ela.
Os olhos do garoto se arregalaram. Ele não poderia fazer aquilo. Não havia como ele lançar suas chamas nela.
—Eu... eu não consigo - Grunhiu ele apertado com força seu cajado.
—Ora, meu garoto, você deve fazer is--
NÃO CONSIGO POR FOGO NA MINHA PRÓPRIA MÃE!!!
Os joelhos dele se dobraram e um grito cortou o ar. Um grito de dor, de quem, pela segunda vez, perdera tudo.
Morgana deu um risinho.
—Meu filho, eu te amo. Mas você sabe tanto quanto eu que eu não sou mais a mulher que um dia fui. Não sou mais a sua mãe - As palavras dela, apesar de pronunciadas com delicadeza, cortaram a alma dele como se fossem a mais afiada das adagas - Por favor, faça isso enquanto eu estou consciente de mim. Não quero me tornar uma Necromante. Esses seres não mais devem andar por esse mundo.
Samuel olhou para ela com tristeza. E, com um aperto na garganta, percebeu que o tempo estava se esgotando. A pele dela, antes marrom como a casca de um carvalho, agora estava branca como sal. Suas feições, antes doces e cheias de vida, agora estavam ficando secas e cadavéricas.
Não havia mais volta para ela. A natureza cobrara o seu preço.
Samuel respirou fundo pra se acalmar. Ele ia fazer isso. Ele tinha que fazer isso.
Um Necromante como Morgana poderia destruir uma cidade inteira. Ele agora era o feiticeiro de sua Vila. Era seu dever protegê-los. Ele agora era, mais uma vez, órfão. E era seu dever salvar a sua mãe.
Ele se pôs de pé e cravou com força seu cajado no chão à sua frente.
—Você ainda se lembra de como fazer a Purificação, filho? - Perguntou Morgana, gentilmente. Sua voz estava ficando mais grave, mais ecoada, como se fosse um sussuro dos mortos. Samuel tinha de se apressar.
—Nunca esqueci de nada do que você me ensinou, mãe.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. Uma luz dourada brilhou na ponta de seu cajado.
Samuel juntou as mãos abertas numa posição de prece e entoou o encantamento.
Você, pobre alma corrompida, é aquele que transgrediu os limites.
Você, que não possui mais futuro, é aquele que pagou um alto preço. É aquele que não possui mais volta— A voz dele começou a falhar com as lágrimas que caíam. Mas Samuel continuou - Sua presença nesse mundo só causará dor e desequilíbrio. Sua alma corromperá tudo o que encostar. Você matará tudo o que encontrar.
Morgana sorriu com orgulho de seu filho. Apesar de parecer calma e serena, ela estava dando tudo de si apenas para ficar parada. Algo dentro dela queria pular no pescoço daquele pirralho, arrancar sua pele e se banhar no seu sangue.
Espera. Era algo dentro dela, ou ela era mesma que queria fazer isso?
Quem era aquele jovem mesmo? O que ela estava fazendo?
Quem era ela?
Com um esforço mental sobre humano, ela continuou parada, sorrindo.
Seu destino de destruição já está traçado. Mas não há só uma porta para você nessa jornada.
A luz do cajado dele aumentou e tomou forma de uma grande quantidade de fogo, como se houvesse uma fogueira queimando encima de sua varinha. Uma fogueira de um fogo branco, o Fogo da Luz.
Eu, em nome de toda a Luz nesse mundo, imploro à Natureza que desfaça o que foi feito. Eu peço à Ordem que reconsidere o que foi imposto à esta alma torturada. Eu, rogo para que ela seja salva.
Morgana tremia, ela queria matar aquele garoto. Ele estava tentando purificar ela. Porque ela não fazia nada?! Porque ela não conseguia se mexer?!
Samuel pegou o cajado com a mão esquerda e o girou em volta do corpo se envolvendo com as chamas, se tornando um com a luz. O fogo era quente como o Sol, mas não o queimava e também não evaporava as suas lágrimas que continuavam a cair.
Ele estendeu a mão direita na direção de Morgana e disse com uma voz que não era sua.
Você foi julgada. Aceite seu destino concedido pelo Mundo.
Correntes de prata, brilhantes como a Lua, surgiram do chão ao redor de Morgana e a prenderam com força.
Samuel segurou o cajado com as duas mãos e o apontou na direção da feiticeira.
Seus olhos se arregalaram.
Morgana, mesmo no final, sorria para ele pacientemente.
—Eu te amo, meu filho - Sussurou ela de volta a si graças às correntes - Você fez tudo muito bem. Estou orgulhosa de você.
A chama de luz saiu do corpo do garoto e avançou com fluidez e velocidade em direção à Morgana.
Enquanto era consumida pelas chamas da purifucação, Samuel ouviu ela sussurrar uma última coisa em sua mente.
—Você será um grande feiticeiro, meu filho. Deixo o povo da Vila de Sharkran em suas mãos.
Um segundo depois, mais nada restava dela.
Não houve grito, não houve dor. Apenas houve.
Samuel suspirou fundo.
—Descanse em paz, mãe.
E se virou para voltar para Vila.
Muitas pessoas se feriram na guerra, havia muito trabalho para ser feito.
Agora isso era dever dele.
"Não irei desapontá-la, Morgana. Não irei desapontá-la, mãe". Declarou ele em sua mente.
Ajeitando suas roupas e pegando o seu cajado, o jovem feiticeiro seguiu seu rumo em direção ao futuro.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Espero que sim ^^
E espero também conseguir manter esse rítmo de escrita. Mas como eu já disse:
"Não prometo nada. Mas prometo TENTAR"
E era isso
~bye



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