Miss you escrita por SrtaJuhBarbosa


Capítulo 1
Miss you - Capitulo Único




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Um mês depois do assalto

Uma batida na porta se é ouvida pelo lado de dentro do quarto. Silêncio. 
— Raquel? Filha?
   A senhora de idade chama a inspetora com intimidade e ao não obter resposta, empurra vagarosamente a maçaneta.
— filha...
   Lamenta ao ver a outra mulher encolhida na cama, abraçada a um travesseiro e derrubando grossas lágrimas. Maribi, a senhora de cabelos brancos, se aproxima do móvel e ficando de frente pra filha senta no confortável colchão.
   Raquel ao ver a mãe em sua direção intensifica o choro e aperta os olhos derrubando mais lágrimas e sentindo o corpo todo tensionar. Maribi suspira com pesar e acaricia os cabelos da mulher com carinho soltando um leve sorriso de satisfação por ser ela a estar ali cuidando de sua menina. Menina sim, pois para os pais os filhos sempre serão crianças, não importa a idade.
   A mais velha limpa as lágrimas da outra e apenas observa com calma sem dizer nada. Depois de alguns minutos sem nenhuma das duas falar nada, tendo apenas o barulho do choro de Raquel no ambiente, a mesma quebra o silêncio e pergunta sobre a filha em um murmuro baixo.
— Paula...
— ela foi pra escola, não se preocupe! Quer conversar agora?
   A voz doce da mãe preenche o quarto e assim que chega nos ouvidos da filha, imediatamente, essa muda a expressão e o choro que antes estava controlado, retorna com soluços.
— O que foi filha? Por que choras? Sabe que não gosto de te ver assim!
  Raquel deita a cabeça no colo da mãe, se ajeitando melhor.
— é o Salva mamãe! Ou Sérgio, sei lá! - afirma demonstrando irritação por não saber como chamá-lo.
   Maribi levanta a cabeça por um momento tentando buscar em suas lembranças quem seja essa pessoa. Ao infelizmente não recordar, disfarça fazendo a filha desabafar.
— o que tem ele filha... Fala pra mamãe!
— ahh mãe... - suspira limpando o nariz com uma flanela. - fez tudo aquilo, fugiu e ainda me fez se apaixonar por ele!
  Maribi abre os olhos e a encara estupefata.
— você está apaixonada por alguém?
  Raquel fecha o semblante e olha para a mãe preocupada e sem entender.
— está tudo bem mamãe?
   Estranha a atitude, pois havia falado aquela mesma frase para a Maribi alguns dias atrás.
— estou! Estou sim...
   Afirma com um sorriso tentando convencer a filha da mentira. Não queria ser mais um problema para a mulher. E muito menos ficar o resto da vida em um asilo sendo visitada um dia ou outro por causa de uma doença.
— continua... O que tanto aflinge minha filhinha? É a saudade? Está com saudades dele?
   Raquel abaixa o olhar entristecida e mira a flanela em sua mão recordando de todos os momentos com o professor em um flashback. Ela sorri involuntariamente, após um suspiro.
— depois do Alberto... Ele foi o primeiro homem que me entreguei sabe. O primeiro que fiz amor, não sexo!
   Pronúncia sem vergonha de falar aquelas coisas para a mãe. Eram mais que a relação mostrava, eram amigas.
— nós fizemos planos mamãe... Eu planejava viver ao seu lado até a velhice, já planejava filhos e viagens... Formar um família, uma nova vida e então...  Então descubro que ele era o professor, o mandante de todo o assalto. Meu mundo perfeito acaba novamente.. Mas durante essa descoberta ele me abre os olhos e percebo o cara maravilhoso que ele é... E como...
   As lágrimas caem novamente com força, enquanto Maribi ouve comovida e acariciando os cabelos e rosto da mulher.
— e como o amo! Amo cada detalhe... Aquele jeito intelectual e sério. O movimento tímido de encaixar os óculos, o receio de falar. A barba e o cabelo... Além daquele olhar sedutor que me encarava e me deixava toda arrepiada, me fazia sentir a única mulher no mundo. Me fazia sentir o que o Alberto nunca fez. Me fazia sentir desejada.
  Maribi mira a filha que também a olha ao final do discurso.
— isso minha filha... Isso se chama amor! Isso que sentia pelo seu pai... Isso que passei anos sentindo até sua morte. Isso que me fez não me envolver e nem casar com mais ninguém. Acontece um vez na vida!
   Explica com orgulho lembrando do falecido marido. Raquel a observa com carinho. Como ama aquela mãe.
— aonde será que ele está agora? Será que pensa em mim? Será que está com outra? Aí mamãe... Ele fugiu levando tanto dinheiro que deve estar se divertindo por aí.  
   Expressa aflita como uma adolescente com o primeiro namorado.
— filha... Ele com certeza deve estar pensando em você agora! Deve estar lembrando de todos os momentos, assim como você. Eu só te digo uma coisa! Quando é amor, não importa o tempo, o sentimento nunca muda. E digo mais... Um dia, um dia vocês vão novamente se encontrar e você minha menina, você vai ser muito feliz ainda!
   A abençoa, depositando um leve beijo em sua testa e Raquel mais calma sorri fechando os olhos ao receber o carinho da mãe.
— eu te amo!
  Declara a inspetora para a mais velha. Essa sorri e responde amorosa.
— eu te amo. Te amo muito!
   As duas se olham com leves sorrisos nos lábios. E ainda fazendo cafuné em seus cabelos, Maribi faz Raquel dormir em pouco tempo.
— você merece filha! Merece ser muito feliz nessa vida. É uma pessoa maravilhosa!
   Beija novamente sua testa voltando a velar seu sono.


6 meses depois do assalto

— eu não vou mais ver ele mamãe?       Paula Murillo pergunta entristecida para sua progenitora.
   Após negar com um movimento a cabeça, Raquel Murillo puxa a filha para um abraço e essa chora com dor.
— eu sinto muito meu amor! Mesmo com todos os defeitos, ele era seu pai!
   A mais velha das três naquele cômodo observa com comoção a cena de filha e neta. 
  Alberto, ex-marido de Raquel está morto. Assassinado pelo marido da professora de sua filha, após dar em cima da mesma. Informação essa ocultada para a menina de apenas sete anos.
— ele está lá no céu filha! E vai cuidar de você lá de cima.
   A inspetora que agora não exerce mais o cargo, após se demitir dois meses depois do assalto, acaricia os cabelos da criança em uma tentativa de consolo. Sentindo uma enorme paz por saber que o ex-marido não faria mal a mais ninguém de sua família e muito menos a importunaria.


10 meses depois do assalto

— mamãe? 

   Paula chama a atenção de Raquel que encara a TV concentrada. As duas estão no quarto da mais velha vendo um desenho animado. A pequena por estar um pouco mais baixa que a mãe na cama, precisa subir a cabeça.
  Raquel a olha sem dizer nada.
— ontem eu vi a senhora chorando...
   Revela meio ressentida por medo da reação da mulher. Sabe que a mãe não gosta de chorar na frente de ninguém e se assim faz é por estar em seu limite. Sempre fora uma criança inteligente e observadora.
   Após a frase, Raquel suspira e pensa no que responder a menina, entretanto, Paula é mais rápida e tira suas próprias conclusões.
— vovó me disse que a senhora estava triste porque está com saudades do seu namorado que foi embora. Ele não vai mais voltar? Igual o papai?!
   Questiona inocente sem saber o impacto que aquelas palavras causam na mãe. Raquel abaixa o olhar para as mãos e responde melancólica.
— eu não sei meu amor! Acho que não.
   Sente tristeza ao ouvir a si mesma dizer isso.
— que pena! Eu gostei dele. Queria que ele fosse seu namorado pra sempre!
   Afirma fazendo a mãe se emocionar e sem perceber continua o discurso.
— como era o nome dele?
— Sérgio meu amor!
   Responde sentindo o coração acelerar e aos mãos suar ao pronunciar o nome.
— Lembra quando ele disse que depois que vocês beijaram, viraram namorados?
   Raquel balança a cabeça tentando entender aonde a filha quer chegar.
— Hoje na escola o Pablo me deu um beijo na boca. Então somos namorados?
   A inspetora arregala os olhos surpresa e abre e fecha a boca tentando buscar um argumento, uma resposta para a filha.
— Paula...
   A única coisa que consegue pronunciar depois de tanto pensar.
— eu não quero ser namorada dele mamãe! Ele é feio. E beija mal.
   Explica cruzando os braços sobre o corpo indignada.
   Raquel observa sem palavras.
— filha! Você é muito nova para beijar. É uma criança ainda! Tudo tem seu tempo. Quando você crescer, vai gostar de alguém tanto que vai querer sempre beijar essa pessoa. Mas só quando você crescer!
— você gostava do meu pai?
   A menina questiona sem receio fazendo uma expressão curiosa.
— gostava filha! Eu gostei muito do seu pai... Até o dia que não gostei mais e comecei a gostar de outra pessoa...
— o Sérgio?
   Pronúncia em um corte, fazendo a mãe sorrir levemente pela sabedoria e rapidez da filha.
— ele mesmo! Eu gostei dele. Gosto dele!
— ele não gosta da senhora? Porque ele foi embora!
— as vezes as pessoas se gostam filha, mas tem motivos par não ficar juntas! Ele precisou ir embora porque precisava resolver algumas coisas.
— o que?
   Os olhos de Paula encaram a mãe atentamente.
— eu não sei!
   Revela e depois suspira começando a ficar incomodada com as perguntas da criança.
— então quer dizer que se ele voltar, vocês dois vão ficar juntos? Porque se gostam e se beijaram.
   Raquel sorri rapidamente ao pensar na possibilidade. Entretanto, volta a ficar séria ao saber que aquilo é praticamente impossível. O amor deles é complicado. Sabe que ele nunca mais poderia voltar para a Espanha e ela... Tem a vida dela ali.... Pelo menos tinha.
— você gostou dele mesmo né?
   Raquel vira para a mais nova e questiona já sabendo a resposta. Essa logo vem com um aceno de cabeça da criança.
— espero filha! Espero ficar com ele novamente um dia... Espero muito!
   Afirma aquilo mais para ela do que para Paula, perdendo-se em pensamentos por uns instantes logo depois.
— mamãe?
   A pequena chama a atenção da mãe novamente.
— então eu não preciso namorar?
   Raquel se volta para a filha e nega.
— não Paula! E nada de beijos por enquanto. Só quando crescer! Agora dormir porque já passou o horário de criança estar dormindo.
   Paula sorri e se ajeita embaixo da coberta grossa da mãe. Raquel beija a cabeça da mais nova e pronúncia um "eu te amo" que é respondido do mesmo momento. Desliga o abajur e se ajeita.
— mamãe?
— hum? Hora de dormir filha!
   Murmura sentindo a pupila pesar.
— mamãe... Quando eu crescer eu quero ser igual a senhora!
  Revela carinhosa, surpreendendo Raquel que não esperava aquilo. Deixando-a emocionada. 
— eu não gosto de te ver chorar! Não chora mais tá bom?!
  Pede em tom de ordem. 
— Você é a melhor filha do mundo sabia?! Vou tentar não chorar mais. Eu te amo muito!
  Pronúncia com a voz embargada sentindo os olhos arderem.

Naquela noite Raquel dormiu tranquilamente, sentindo ser uma boa mãe e tendo em seus sonhos um certo homem de barba, óculos e voz sexy.


345 dias depois do assalto

— Eu, sinceramente, não sei o que faço Ángel...
   A inspetora suspira cansada sentando na cadeira de frente para o melhor amigo também policial.
— eu ainda não entendi o propósito da conversa. Você quer ouvir de mim um "vai Raquel, vai atrás desse homem, segue essa localização que você acabou de encontrar. Ele é o amor da sua vida! Você está indo atrás da felicidade".
   O homem pronúncia sarcástico gesticulando com a mão, enquanto a mulher encara o amigo de olhos semi serrados. Ao terminar a fala Ángel a mira.
— Quer saber? Eu sou uma idiota! Não sei porque ainda peço sua ajuda, mesmo você me perdoando depois daquela discussão que tivemos ano passado.
   A inspetora revira os olhos e levanta da cadeira frustrada.
— Raquel... Raquel espera!
   O homem também levanta indo em sua direção e a puxa pelo braço fazendo os dois se olharem. Ele inspira e após abaixar a cabeça por um momento não acreditando nas próximas palavras, levanta e a mira.
— Você é minha melhor amiga e por você mataria e até daria minha vida.   Confesso que sinto algo mais forte de que apenas amizade e você sabe disso...
— Ángel não começa...
— não... Deixa eu continuar! Eu já superei isso e quero que você seja muito feliz, mesmo sabendo que isso não será comigo, mas sim com uma pessoa que está a quilômetros de distância daqui. Naquele dia no hospital... Eu nunca disse... Mas você foi muito corajosa em arriscar seu emprego, a guarda da sua filha por amor a esse tal de professor! E ao perceber isso não fui capaz de confessar a polícia o paradeiro do lugar. E se você tem nas mãos a sua felicidade Raquel, eu digo... Vai até lá! Você não vai perder nada, quem sabe vai encontrar muito. Viaja até esse endereço e quando chegar lá me liga dizendo que está tudo bem!
   Ángel sorri após o discurso percebendo os olhos marejados da amiga que o puxa para um abraço.
— Obrigada Ángel, muito obrigada! Eu te amo meu amigo. Me desculpe por tudo.
— Espero que se esse professor estiver lá, ele te trate muito bem, porque sou capaz de ir até ele e acabar com sua vida!
   Raquel gargalha pelo comentário do amigo e esse admira a inspetora sentindo o peito doer, o coração acelerar e os olhos a encarar com paixão. A amava tanto, a ponto de deixá-la partir.

 

346 dias depois do assalto

— Eu vou ficar bem mamãe.... Queria ir com você...
   Lamenta Paula abaixando o olhar triste. Raquel agacha em sua altura e a segura pelo rosto.
— Sabe que não resisto essa carinha meu amor... A mamãe precisa ir sozinha, mas a vovó vai cuidar muito bem de você e eu não vou demorar!
   Afirma, logo preenchendo as bochechas da criança de beijos.
— vou ficar com saudades mãe! O que vai fazer lá?
Os pequenos olhos claros da menina a encaram curiosa.
— a mamãe vai ver um lugar que pediram pra ir.
— e vai mais alguém?
A pequena questiona sapeca.
— Não Paula! Só eu.
Raquel responde bem humorada logo depois levantando e indo até a mãe.
— se for fazer amor filha, usa proteção!
Maribi afirma em um sussurro no ouvido da outra mulher.
— Mamãe!
A inspetora repreende envergonhada e vermelha. Depois de se afastar as duas se olham e a senhora beija a testa da filha.
— vai com Deus meu amor, ao chegar me avisa. Que possa encontrar o que tanto procura.
— Te amo mãe!
   Após ouvir a mesma frase de Maribi, a inspetora beija a filha, pronúncia o quanto a ama e sai pela porta da frente entrando em um táxi a caminho do aeroporto. Na mão uma passagem para Palawan, Filipinas.


347 dias depois do assalto

— Desculpe você tem um carregador?
   Raquel questiona em inglês para um homem na lanchonete do lugar. Após seguir todos os comandos do localizador, a inspetora chega até um linda vista, a imagem perfeita da fotografia que Salva tinha escolhido para o local que iriam viajar. Entretanto, ao apreciar a paisagem, seu celular apita mostrando bateria fraca antes de descarregar por completo.
— Carregador, por favor, para celular?
   Ela continua a falar para o rapaz que demonstra não entender.
— Bateria?
   Mostra o celular, porém o funcionário não entende. Frustrada, ouve segundos depois uma voz muito conhecida pronunciar, fazendo seu corpo todo arrepiar.
— Se for importante...
   O homem tira o chapéu e vira para ela.
— você pode usar o meu!
   Afirma abrindo um sorriso ao não acreditar que depois de tantos meses, sua amada está ali em sua frente.
   Raquel muda a expressão de preocupação para surpresa e após se recuperar, murmura um "Salva" com os lábios abrindo um largo sorriso posteriormente.
   Não passa nem meio minuto, ela começa se aproximar do homem vagarosamente ainda tentando ingerir a surpresa. O "professor" que observa a aproximação levanta e vai ao seu encontro admirando cada detalhe da mulher nesse tempo.
   O coração de ambos acelerados, a mente vazia e a respiração falhada. Ao se encontrarem frente a frente, o homem ergue os braços e leva até o rosto da mulher que está séria o olhando. Ele coloca um mexa do cabelo dela pra trás e fala.
— pensei que nunca iria vir! Estava te esperando.
  Sorri involuntariamente olhando dos olhos para a boca dela.
— eu senti tanto a sua falta Salva...
   Revela sincera mirando os lábios do homem que a puxa para um calmo e ao mesmo tempo desesperado beijo. Um beijo de saudades. De felicidade. De amor.
— eu nunca mais vou deixar você fugir de mim Raquel Murillo! Eu te amo!
  Declara completamente apaixonado pela mulher.
— eu nunca mais vou me separar de você Sérgio Marquina. Também te amo!
   Se beijam como se estivessem apenas os dois ali. Sem medo ou preocupação, sabendo que dali pra frente ficariam juntos e felizes.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura!
Comentem e digam o que acharam!
Até o próximo