“Ele pode não gostar de chocolate”.

A dúvida plantada pela amiga a deixou numa pilha de nervos a três dias do dia de São Valentim.

— Mas é tradição entregar chocolates nessa data! — tentou argumentar com Tenten. E a garota prontamente rebateu:

— Esqueceu do chato do seu primo? Ele é diabético E detesta chocolate! Nada contra, afinal sobra mais para mim... mas eu não posso dar chocolates para ele nessa data.

Além de amiga, Tenten era sua cunhada e conselheira nas horas vagas, namorada de seu primo há dois anos. Neji era, simplesmente, a seriedade em pessoa.

“Sinceramente, como pode alguém não gostar de chocolate?!” pensava. Ele até comia um doce ou outro, bem raramente e de forma controlada, mas chocolate sempre foi algo rejeitado pelo Hyuuga.

— E o que você faz nessas datas?

— Nada, oras. — A morena deu de ombros. — A tradição manda eu dar chocolates. Como ele não gosta, fingimos que essa data comemorativa não existe. Simples.

— Mas como eu vou saber se ele não gosta três dias antes e sem levantar suspeitas?

Hinata conheceu o novo namorado, Naruto, há quase seis meses, no início da faculdade de Administração. Depois de tantos flertes, encontros e vários pedidos de namoro desde o início do curso, a Hyuuga enfim aceitou o pedido, há pouco mais de um mês.

O pouco tempo não lhe dava segurança para afirmar, com certeza, se Naruto gostava de algo ou não. Incluindo chocolates.

A moça de coques deu de ombros novamente, aparentemente arrependida pelo conselho. Ainda não conhecia o namorado de Hinata, afinal. Talvez tivesse se precipitado com o aviso e assustado a amiga à toa.

— Pergunte a ele — enfim sugeriu a mais velha. — É melhor estragar a surpresa do que correr o risco de ele rejeitar o presente.

— Naruto-kun não parece ser o tipo de pessoa que recusa presente, mesmo que não goste.

— Vai ser pior se ele fingir que gosta, não acha?

Hinata gemeu, tristonha. Tenten se arrependeu de suas palavras outra vez, puxando a amiga para seu colo, a fim de consolá-la.

Naruto quis passar o dia seguinte com a namorada, aproveitando o fato de ambos não terem aula. O loiro a levou a um piquenique pela manhã – ele era mais romântico do que sua natureza escandalosa aparentava – e a um restaurante de lámen adorável no centro da cidade, para almoçarem.

— Eu amo esse lugar! — ele lhe confessou com os olhos azuis brilhando. — Venho aqui desde que era pequeno. Tio Teuchi me acolheu quando me perdi dos meus pais uma vez, durante um festival. Chovia forte e ele cuidou de mim, me dando a primeira tigela de lámen da minha vida, enquanto Ayame — ele apontou para a moça que atendia os clientes — procurava meus pais. Foi um dia especial.

Hinata se encantou pela história, perguntando se ainda demoraram para encontrar os Namikaze, ao que ele logo respondeu que foi o tempo de ele terminar a primeira tigela. Kushina, a mãe do rapaz, foi a primeira a chegar, logo o acompanhando na refeição tardia. Minato chegou meia hora depois, encontrando esposa e filho terminando a terceira tigela, cada um, de lámen de porco.

— Ele nos acompanhou também, mas tomou só uma tigela. Papai sempre comeu pouco. — Hinata riu.

— Parecem pessoas adoráveis.

— E são! Preciso levá-la para conhecer mamãe! Ela me cobra isso há um tempão! Diz que vai preparar o melhor lámen dela quando a nora for visitá-la!

Tentou não ruborizar, mas foi difícil. A faculdade tomava boa parte de seu tempo, mas a moça queria muito conhecer os pais de Naruto, assim como queria que ele conhecesse a sua família.

— Podemos marcar para o fim de semana — sugeriu. — Não temos provas ou trabalhos na semana que vem mesmo.

Naruto a olhou, sorridente como sempre. Chegou mais perto dela, deixando-a envergonhada.

— Adoro quando você cora.

E a beijou ali mesmo, no meio do restaurante.

A tarde foi marcada por passeio no shopping e cinema. Naruto estava muito empolgado para assistir ao filme de seu super-herói favorito e Hinata não resistiu ao seu olhar pidão. Foram aos risos para a fila da pipoca.

— Vou querer um balde gigante, por favor — ele pediu à atendente, surpreendendo a namorada com sua gula novamente. Não faziam duas horas desde que almoçaram! — E você, Hina? O que vai querer?

— Uma água e um chocolate, por favor.

— Chocolate? — Ele estranhou o pedido. — Sabe que ele não vai durar nem os trailers, não é?

— Não estou com fome, Naruto-kun. Nós almoçamos há pouco tempo.

— Pipoca não enche, Hina.

Ela sorriu, negando mesmo assim. O rapaz apenas se conformou e fez os pedidos. Na sala de cinema, ele ofereceu um pouco de sua pipoca, olhando penalizado para a barra de chocolate que a namorada abria. Hinata negou novamente e, ao olhar para seu doce, uma luzinha se acendeu.

— Você quer um pedaço, Naruto-kun?

O loiro negou também, sorrindo com a boca cheia de pipoca. Hinata fez uma careta, mas não evitou o riso.

— Isso foi nojento — falou depois de engolir, meio sem graça. — Desculpe.

A morena deu um beijinho na bochecha dele, falando baixinho o quanto gostava de sua espontaneidade.

— Mas evite me mostrar o que está comendo — concluiu, arrancando uma risada do garoto também.

— Pode deixar.

Hinata se acomodou de volta na sua cadeira, feliz com o encontro, mas ainda pensando no bendito doce em sua mão.

Naruto rejeitara o chocolate porque estava comendo pipoca ou porque não gostava do doce?

Ficaram no shopping até a noite chegar, divertindo-se com as coisas que queriam comprar e não podiam. Antes de se despedirem, perto das dezenove horas, Naruto ofereceu um jantar em um restaurante que gostava, prometendo deixá-la em casa em seguida.

— O que vamos comer?

— É rodízio. Pode comer o que quiser e o quanto quiser — falou animado.

Ele a puxou até a praça de alimentação, entrando em um restaurante lotado, que oferecia os mais variados alimentos e besteiras. Hinata ficou com minissanduíches, pizzas e outras massas.

E ficou chocada quando Naruto apareceu na mesa com uma tigela de lámen.

— De novo?

— Eu gosto muito — confessou timidamente.

— Estou vendo! — Riu. — Mas você poderia variar um pouco, já que comeu cinco tigelas hoje.

— Não prometo nada — falou antes de provar do caldo, disfarçando e fazendo a moça rir.

Assim que o Namikaze a deixou em casa – após muita relutância em deixá-la sair de seu carro, tentando convencê-la, com beijos, a ficar mais tempo com ele –, Hinata foi para seu quarto, jogando-se na cama e olhando para o teto minutos a fio.

— Hina? — Sua irmã, Hanabi, colocou a cabeça para dentro do cômodo. — Já jantou? — A mais velha confirmou. — Papai perguntou por você.

— Diga que já estou indo dar boa-noite a ele. Vou tomar um banho primeiro.

Distraiu-se novamente, esquecendo das próprias palavras. Quase tomou um susto quando a irmã apareceu em seu campo de visão, fazendo cócegas em seu rosto com os fios de cabelo compridos e castanhos.

— No que pensa tanto?

Hinata sorriu, puxando a irmã para deitar ao seu lado, abraçando-a carinhosamente.

— No dia de São Valentim.

— Chocolates? — perguntou a mocinha, animada.

— Sim... e não. — A dúvida pairou no semblante da caçula. — Tenten me lembrou que Neji não gosta de chocolate. E eu não lembro de já ter visto Naruto-kun comer também. Estou com medo dele não gostar.

— Mas Neji é uma exceção, mana! — Hanabi se virou, a olhando categoricamente. — E um chato! Não pode levar nosso primo como exemplo!

— Eu sei. — Ela riu com a indignação da jovem. — Mesmo assim... eu devia ter perguntado antes a Naruto-kun. Pode não ser por gosto... ele pode ter alergia, não pode?

Hanabi ficou pensativa por uns segundos, voltando a deitar ao lado da irmã.

— Dê outra coisa também, então, se está com tanta dúvida. A tradição pede chocolates, contudo, não a impede de presentear seu namorado de outras formas.

“Faz sentido” pensou. Poderia fazer outra comida para seu namorado, uma vez que o passatempo favorito de Naruto era comer.

— Ele gosta muito de lámen.

Sem olhar, pôde ouvir uma risadinha da garota.

— Eu e papai sempre dissemos que seu lámen é o melhor do mundo. Tenho certeza que Naruto achará o mesmo.

14 de fevereiro. Dia de São Valentim.

Hinata estava nervosa. Os chocolates, em formato de corações, já estavam prontos sobre a bancada da cozinha, arrancando vários “own” de Hanabi. O lámen ainda precisava de mais alguns minutos de cozimento, o suficiente para que estivesse pronto e ainda quentinho quando Naruto chegasse.

A moça propôs um almoço com a família também, mas sua irmã e seu pai negaram veementemente, afirmando que aquela data era para casais e que poderiam conhecer Naruto outro dia.

Sendo assim, Hiashi e Hanabi trataram de sair de casa ainda pela manhã, deixando-a apenas para Hinata e seu namorado.

Pensando melhor, nervosismo era pouco para definir seu estado.

Sempre dera Tomo Choco* para Kiba, Shino e Tenten, e Family Choco** para Hiashi e Hanabi – esses estavam guardados na geladeira, para presentear mais tarde.

Porém, era a primeira vez que fazia Honmei Choco*** para alguém...

Respirou fundo, tentando livrar-se da tremedeira. Não melhorou muito quando a campainha tocou, no entanto.

— N-Naruto-kun! — Sorriu abertamente ao abrir a porta e encontrar seu loiro. Abriu passagem para que ele entrasse. — Seja bem-vindo ao lar dos Hyuuga.

— É muito bonito! Obrigado por me convidar.

— Imagina... vamos, entre! Estou terminando de cozinhar.

Naruto a seguiu até a cozinha, estancando logo na entrada do cômodo.

— Que cheiro maravilhoso! — Os olhos azuis se arregalaram ao deduzir o que tinha na panela que Hinata mexia. — Não acredito que...

— Sim! — falou animada. — Fiz lámen para nosso almoço. Desconfiei que iria gostar.

Hinata olhou para o rapaz, à beira da emoção ainda na soleira da cozinha.

— Hina...

— E, para sobremesa... — continuou antes que o nervosismo a impedisse — Chocolates! — Pegou a caixinha rosa em formato de coração e entregou para Naruto. — Eu não sabia se gostava de chocolates, então estou dando eles junto com o lámen. Tudo bem assim?

O Namikaze acenou, ainda sem palavras. Aceitou a caixinha e Hinata notou que ele a abria quase tão nervoso quanto ela. E quando ele enfim viu os bombons, o semblante atônito a deixou receosa.

— Honmei choco... — falou num sussurro.

— V-Você não gostou?

Sofrendo por antecipação, a cabisbaixa Hyuuga tomou um susto quando Naruto a abraçou de repente, quase sufocando-a no aperto.

— Você... — ele gaguejava. — Você é a garota mais incrível da face da Terra! Eu já te disse isso? Você é maravilhosa, Hina! — Naruto se afastou para olhá-la, ambos com os olhos marejados de emoção. — Eu nunca recebi chocolates antes, sabia? — O garoto a beijou, apaixonado. — Eu amo você!

Era a primeira vez que Naruto dizia aquelas três palavras...

Deixando escapar uma lágrima, Hinata lhe sorriu docemente e retribuiu:

— Eu também amo você, Naruto-kun!

Demoraram mais de um mês para dizer que se amavam, mas Hinata tinha certeza que, a partir dali, falaria e demonstraria seu amor todos os dias.

— Que lámen maravilhoso, pelo amor de Hashirama! — Naruto disse sonhador, depois das cinco tigelas de costume.

— Hashirama? — Ela riu.

— É um ninja poderoso, de um anime que adoro — explicou. — Por favor, Hina, você precisa cozinhar esse lámen mais vezes! É o melhor que já comi! — Ele hesitou um instante. — Que mamãe nunca me escute dizer isso.

Rindo, Hinata levou a última tigela do rapaz para a pia, decidindo lavar tudo depois que ele fosse para casa. Voltou para a mesa e o encontrou comendo o primeiro chocolate que ela fizera, fechando os olhos e deliciando-se com o sabor.

— Que mão você tem para a cozinha, mulher! — falou ainda mastigando, entusiasmado. — Case-se comigo!

A moça caiu na gargalhada, e ele a acompanhou enquanto devorava os bombons.

— Não acredito que pensou que eu não ia gostar! Eu adoro chocolates!

— Minha amiga Tenten lembrou de meu primo, Neji, que é diabético e não gosta de alguns doces — explicou. — Acabei ficando com medo de você não gostar do chocolate, ou de ser alérgico... muitas paranoias — concluiu, fazendo-os rir.

Naruto aproximou sua cadeira com a dela, oferecendo-lhe um docinho antes de roubar-lhe um beijo profundo e apaixonado.

— Delicioso... — Hinata roubou outro beijo, encantada com a mistura de doce e paixão que os envolvia. — O chocolate também, é claro.

A morena sorriu bobamente.

— Fui uma boba em acreditar que você não gostaria do chocolate, não é? — falou entre beijos, ao que ele logo confirmou.

— Com certeza. — Deu um último selinho nela. — Foi a melhor combinação que ganhei! Lámen e chocolate...

Ele se afastou um pouco, como se tivesse acabado de pensar numa possibilidade absurda:

— Por acaso existe alguém nesse mundo que não gosta de chocolate?