Em seu lugar escrita por Aislyn


Capítulo 2
Vantagens e negociações


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Takeo reapareceu no quarto instantes depois, trazendo uma caneca de café nas mãos, mas parou no batente da porta ao notar o namorado parado em frente ao espelho. Aproximou-se um pouco mais, estendendo a bebida e olhando por cima de seu ombro, tentando ver o que ele tanta observava.

 

— Aconteceu alguma coisa? Você parecia exaltado no telefone. – e olhou para o chão onde o aparelho jazia, reforçando a situação.

 

— Eu estou horrível! – Mikaru anunciou incrédulo sua sentença de morte, pela primeira vez notando que a voz não era a sua.

 

Levou as mãos à face, apertando e puxando as bochechas algumas vezes, depois erguendo uma mecha de cabelo com a ponta dos dedos, como se tivesse asco de tocar, os fios repicados num tom castanho-avermelhado, tão diferentes dos seus claros e bem cuidados. Não querendo confirmar o resto da desgraça, mas sabendo que era necessário, desceu o olhar pelo tronco, cutucando a barriga e as pernas expostas pela falta de um short. Quem dormia só de regata e cueca?! Era pra se exibir?

 

— Não estamos no seu aniversário para você acordar revoltado com sua aparência. – Takeo riu baixinho, levando a mão aos fios do namorado, bagunçando-os mais – Vem tomar café. Eu fiz panquecas.

 

— Não podia fazer nada mais calórico?! – Mikaru ainda olhava a imagem no reflexo, cogitando seriamente a ideia de ir para o banheiro cortar os pulsos. Quantas calamidades mais ele teria que enfrentar antes de ter um pouco de paz? Começou a resmungar e praguejar baixinho, ignorando a presença de Takeo atrás de si – Ele precisa seriamente de uma dieta! Como tem coragem de aparecer em público assim?

 

— Está se referindo a você em terceira pessoa? Devo me preocupar? – Takeo desistiu de oferecer a caneca para Hayato, tomando um gole enquanto ouvia suas divagações, tentando entender o que estava errado daquela vez – Vamos lá, koi… você sabe que é bonito. Por que essas paranóias?

 

— Eu não sou paranóico! Você não entende como é estar nesse corpo! – Mikaru finalmente desviou o olhar do espelho, temendo passar mal se continuasse a encarar o reflexo por mais um segundo – O que você vê de bonito nisso?!

 

— Hm… por onde eu começo? – Takeo passou o dedo pelo lábio do namorado, contornando e seguindo em direção ao pescoço – Eu gosto dos seus lábios, principalmente quando sorri, das suas mãos habilidosas me tocando… dessas coxas grossas... – apertou-as para demonstrar o total interesse, sendo repelido por um tapa em seu braço – Hei! Isso dói!

 

— Não faça isso de novo! – Mikaru afastou vários passos, sentindo o corpo tremer de leve. Era assim que aqueles dois agiam a sós? Fazendo aquelas… coisas logo cedo?

 

— Ok, ok… vou me comportar. – levantou as mãos em sinal de paz, sabendo que o namorado havia gostado, ou não teria corado daquela forma, mas se preferia se fazer de difícil, ia levar do jeito dele. Acenou com a caneca, apontando com a cabeça para a porta – Vamos comer. Eu vou preparar outra coisa pra você.

 

* * *

 

Hayato tentou ligar novamente para seu celular, pelo menos umas cinco vezes, no mínimo, mas a chamada nunca completava. Ou Mikaru havia quebrado o aparelho quando percebeu a troca ou a bateria havia acabado ou sabe-se lá o que poderia ter acontecido.

 

Não tinha a menor ideia do que podia fazer para voltar para o próprio corpo, mas ficar esperando não estava nos planos. Precisava se encontrar com aquele loiro azedo e… espera, ele era o loiro azedo agora! Droga! Em todo caso, precisava se encontrar com Mikaru. Encontrar uma solução e caso aquilo se prolongasse, trabalhar juntos para que um pudesse passar pelo outro sem grandes dificuldades.

 

Dirigiu-se até a porta que supôs ser o guarda-roupas, dando de cara com um closet enorme… e sem graça. A maioria das roupas contida no espaço era em tom branco ou escala de cinza e todas, sem exceção, faziam parte das peças de um terno. Nenhuma camiseta visível, nenhuma calça jeans, nada de tênis.

 

— Não acredito que esse loiro azedo usa essas roupas até em casa! – então se lembrou que ele era um viciado em trabalho, o que significava que raramente ficava em casa, tendo outra ideia a seguir – Bom, agora tenho as medidas dele ao alcance, posso comprar roupas decentes. Ah, achei! – bem no fundo de uma das gavetas, escondido debaixo de várias outras camisas, estava o conjunto que deu de presente de Natal: a bermuda e camiseta estampadas com tema de verão. Visto a embalagem, Mikaru havia tirado do pacote somente no dia que ganhou – Eu pensei em encontrar com ele no café, mas acho que vou passar no shopping antes.

 

* * *

 

Comparado com a pessoa que acordou ao seu lado essa manhã e o homem comendo à sua frente, Takeo notou uma melhora gritante no humor do namorado. Era normal Hayato ter alguns dias ruins, quando a auto-estima não ajudava ou a paranóia dava as caras, mas não era normal ele ficar tão agressivo e fugir dos seus toques, assim como não era normal ele comer tão avidamente. Sabia que ele gostava da sua comida, mas já era a quinta ou sexta panqueca.

 

Mikaru, por sua vez, não via nenhuma vantagem em estar no corpo gordo daquele ex-vocalista de merda, até ver a mesa do café da manhã. Há quanto tempo não tinha uma refeição matinal decente?

 

Sem falar que teria Takeo ao seu lado, que era algo que desejava muito! Não costumava ter pessoas de confiança por perto e sempre ao alcance das mãos mas, estando no corpo Izumi, isso se tornaria possível. Poderiam sair juntos, passear, conhecer os lugares que ele mais gostava na cidade, divertir como faziam quando eram adolescentes. Seria perfeito! Perfeito, se não estivesse preso no corpo daquele idiota, mas isso não significava que não podia tirar vantagem da situação.

 

Quando se deu conta do rumo de seus pensamentos, outra memória veio a mente: Katsuya. Se estava preso no corpo de Hayato, pensando em se aproveitar de Takeo, nada impediria que o outro fizesse o mesmo com seu namorado. E isso ele não ia admitir! Sabia o quanto era desprezível a sua vontade de aproveitar aquela situação, mas não queria ver Katsuya ser envolvido. Takeo tinha seus defeitos aos montes, era um sacana dos grandes, mas o seu namorado não. Podia ser errado considerá-lo inocente, mas ele realmente não era do tipo que tinha maldade no coração e sempre via o melhor em qualquer pessoa. Acreditava piamente nisso, caso contrário ele não veria tantas qualidades em si.

 

Largou o prato pela metade, ignorando o olhar interrogativo de Takeo e voltou ao quarto, ligando o celular novamente, discando para o próprio número.

 

— Oi, tudo bem por aí?— Hayato atendeu o celular após poucos toques, apoiando o aparelho entre o ouvido e o ombro, deixando as mãos livres para abotoar a camisa – Acredito que foi um choque e tanto pra você também… eu mesmo não tenho certeza se é real, mas acho que não tenho outra opção…

 

— Eu não quero saber se acredita que é real ou não. Não quero que envolva o Katsuya nisso!

 

— Ah, sim… temos que falar sobre nossos namorados. Não pensa em contar pra eles?

 

— Claro que não! Eu não quero que Katsuya me veja assim e nem tente se aproximar!

 

— Acho que vai ser difícil, porque se vamos fingir que somos o outro, vai precisar ir pra cafeteria no meu lugar.

 

— Tsc… tem isso também… você terá que ir pra empresa… – Mikaru andou em círculos pelo quarto, andando até a porta e fechando-a. Não podia correr o risco de deixar Takeo ouvir.

 

— Pelo visto temos muitas coisas pra acertar. Que tal nos encontrarmos no café? É um local em comum que frequentamos e vamos ter privacidade pra combinar tudo.

 

— Ok, te encontro lá daqui a pouco. – Mikaru ia desligar o telefone, quando foi chamado novamente.

 

— Espera! Eu… não sei dirigir. Como posso chegar no café sem levantar suspeitas? Você vai com o Takeo, mas…

 

— Ligue para meu motorista. Diga que meu carro estragou ou que não está com vontade de dirigir.

 

— Ah… sim, tem mais isso. Não consigo usar seu celular, preciso da senha.

 

Mikaru praguejou do outro lado da linha, esfregando o rosto com força. De todas as pessoas que conhecia, não se imaginava, em hipótese nenhuma, passando a senha do seu celular para ele, mas assim o fez.


— Daqui umas três horas, na sala da gerência. — marcou Hayato, desligando a seguir. Teria tempo o suficiente para passar no shopping antes e seguir para o local marcado depois. Só se via usando aquele tanto de branco e tons pastéis no seu casamento, isso se fosse usar alguma roupa formal. Mikaru precisava de uma repaginada no closet urgente!


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Notas finais do capítulo

Continua...



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