Underestimated escrita por Vlad Petrova


Capítulo 1
O ódio mata


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, eu gostaria de esclarecer que essa não é uma fanfic criada pra ser uma "verdadeira obra de arte" ou um texto "digno de ser publicado". É algo pra conscientizar as pessoas sobre bullying, sobre exclusão social e sobre como as suas palavras infelizmente tem o poder de arruinar o dia de alguém ou até mesmo a vida.

Aos amantes de Sociologia, a relação entre bullying e suicídio jamais foi questionada, mesmo pelos maiores sociólogos de diversos países. É algo que está presente em todas as culturas, infelizmente.

Pense um pouco antes de ser grosseiro com alguém.

E às pessoas que já passaram por isso, inspirem-se em Neville Longbottom. Ele não desistiu, manteve a cabeça erguida mesmo com todas as humilhações que passou. E venceu na vida.

No mais, boa leitura.



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O dia claro, embora para muitas crianças do subúrbio escocês representasse um dia alegre e repleto de brincadeiras, para Neville Longbottom, não significava muita coisa.

O garoto de bochechas rechonchudas e dentes grandes se aproximou do grupo de trouxas que se divertiam abobadamente, cabisbaixo como sempre e falou, com sua costumeira vozinha tão baixa que quase fazia-se impossível de ouvir:

— Posso me juntar a vocês? — Sussurrou, sem se atrever a olhá-los.

Os garotos pararam de sorrir e trocaram olhares confusos. Alguns contiveram o riso, sem se absterem de direcionar ao vizinho olhares maldosos de zombaria.

— Como? — disse o garoto mais alto, de vestes luxuosas e um boné típico da Escócia.

— Posso me juntar a vocês? — O garoto falou um pouco mais alto, já pressentindo o que viria a seguir.

O playground encheu-se de gargalhadas e Neville abaixou os olhos novamente, virando as costas e traçando de volta uma caminhada até sua casa.

A cena mudou.

— Neville! Venha já aqui, seu trapalhão! — A voz firme de Augusta fez com que o jovem Longbottom estremecesse.

Engolindo a seco, ele marchou hesitante na direção da avó em passos desajeitados, abandonando a árvore no quintal onde brincava sozinho.

— S-Sim, vovó?

— Seu tio Algie quer conversar com você. — Ela disse, enxugando as mãos no avental surrado e voltando para a cozinha.

Neville engoliu a seco novamente e caminho cabisbaixo até o tio.

— Sim, tio? — murmurou.

Os olhos de tio Algie se estreitaram analiticamente, e ele mediu o sobrinho-neto de cima abaixo.

— Valha-me Merlin! Já está na hora de fazer uma dieta, sim? — ele disse, friamente.

Neville manteve-se quieto, e cabisbaixo.

— Quantos anos já tem? — Tio Algie indagou, acendendo seu cachimbo.

— 8 — respondeu Neville, com a voz falhando.

— Ora, mas é essa a idade em que os indícios de magia começam a aparecer! Me diga, Neville, o que você já fez até agora?

Neville suspirou. Já havia tido essa conversa, mas sabia que tio Algie perguntava de novo não na esperança de que algo houvesse mudado, mas apenas para lembrá-lo de que não era bom o suficiente.

— Que eu me lembre, nada, tio Algie.

O olhar desgostoso do tio seguiu-se a um sorrisinho desagradável com seus dentes amarelados.

Instantes depois, Neville estava pendurado de cabeça para baixo na janela do segundo andar enquanto o tio o sacudia e gritava, exigindo que fizesse algo, e Augusta deixou a cozinha, alarmada pelos berros do neto, e interveio.

A cena mudou.

Num momento, Neville estava passando com seus livros pelos corredores lotados de Hogwarts, tentando não ser esmagado pelos alunos mais velhos e, em outro, seus cadarços grudaram um no outro e ele caiu de cara no chão, derrubando todos os seus materiais.

Várias risadas ecoaram pelo local.

Pelo canto do olho, ele viu Draco Malfoy guardar sua varinha e murmurar algo com seus cupichas Crabbe e Goyle.

— Não sabia que agora aceitavam abortos aqui nessa escola. — E pisoteou a costela do grifino.

De repente, já não estava mais lá.

A Sala de Poções era sua definição perfeita de inferno. Primeiro, porque as aulas eram em dupla. E ninguém queria se sentar junto de “Neville Longbosta”, o bobalhão.

Ele se virou por um instante para pegar algo na mochila de couro de dragão e Draco Malfoy sorrateiramente atirou um ingrediente a mais em seu caldeirão fervente. Quando se virou, o líquido espirrou em sua cara, fazendo com que suas bochechas inchassem mais e mais.

Hermione lançou um olhar de desaprovação ao trio e o professor Snape abriu seu costumeiro sorrisinho desagradável, permitindo que a garota o levasse até a enfermaria.

Não à toa, seu bicho-papão mais tarde se tornara Severus Snape. Em seus pesadelos, constantemente o professor lhe lembrava aquilo que ele já soubera durante toda a sua vida: “Nunca será bom o bastante”.

Talvez fosse por isso que, anos mais tarde, acabou descobrindo sua proficiência em Herbologia.

As plantas não falavam, não lhe maltratavam... E, ainda assim, eram seres vivos.

É claro que ninguém se importou muito com isso, exceto a Profª Sprout, que constantemente lamentava por não tê-lo tido em sua casa.

Fora isso, ele sentia-se como se fosse invisível em Hogwarts.

Para quase todos os alunos, a escola era um lar. Um local seguro e perfeito para se socializar com seus semelhantes. Mas para Neville, era um antro de humilhações e mais exclusão.

Dino e Simas eram o mais próximo que ele havia chegado de ter amigos.

Isso, ignorando, é claro, o fato de que na maioria das vezes eles preferiam interagir sozinhos, excluindo-o por completo.

Voltando à realidade, Neville cobriu sua penseira e encaminhou-se para a cadeira medieval em seu escritório, colocando os pés sobre a mesa e suspirando profundamente. Fizera muito isso em sua infância.

Entretanto, o suspiro agora não era de lamento - ao contrário, era de vitória.

Ele apanhou sua caixinha lacrada de sapo de chocolate e conferiu a figurinha na carta surpresa.

Sorriu ao ver que era a si mesmo quem admirava.

Era ridículo, para ele pensar, que um dia realmente achara que alguém como Severus Snape poderia definir o seu futuro.

A voz em sua cabeça, dele dizendo a frase que constantemente repetira com todas as letras em sua cara durante a adolescência, agora era simplesmente risível.

“Você nunca será bom o suficiente”

Permitiu-se gargalhar a si mesmo, sozinho em seu enorme escritório.

Aquele que um dia por muitos fora julgado como um aborto, agora não era simplesmente um bruxo qualquer, muito menos alguém que poderia ser julgado como desprovido de magia.

Era considerado por muitos o segundo maior bruxo de todos os tempos.

Em sua velhice, Neville Longbottom se tornara diretor de Hogwarts.


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Notas finais do capítulo

Eu quis deixar implícito algo que há de semelhante entre Severus Snape e Neville Longbottom: ambos sofreram bullying. A diferença foi como escolheram lidar com isso. Enquanto Severus deu continuidade ao ciclo e se tornou rançoso, tratando as pessoas como era tratado, enquanto ele se tornou um comensal da morte, um assassino e um otário em muitos aspectos, Neville Longbottom escolheu ser superior e mesmo ficando muito magoado com tudo que ouvia, porque tenho certeza que ele ficou, sim, ele escolheu ter um coração bom e agir com caráter.

Sempre temos essas duas escolhas. E se você estiver passando por isso, tente resolver, sim, da melhor maneira. Mas contra-atacar jogando baixo também nunca é a melhor resposta. Seja superior. Quando ignoramos pessoas infelizes que humilham as outras pra se sentirem melhor, damos um tapa na cara com luva de pelica.

Ignore os Dracos Malfoys, ignore os Severus Snapes. Ignore os tio Algies da vida. :)

Bullying é crime, bullying é sério. Bullying mata.

Tenha educação.

Boa tarde, noite ou dia, a todos que leram até aqui.



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