Uma noite na Floresta escrita por Just a Player


Capítulo 1
Uma noite na Floresta


Notas iniciais do capítulo

Espero que curtam tanto quanto eu curti escreve-la.



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—Fuja!

Foi o que ouvi naquela noite quando me deparei com toda a minha vila pegando fogo, não tive nem tempo de pensar ou perguntar por quê para velha comerciante, pois logo em seguida ela caiu na minha frente com uma flecha traspassando o seu olho. Meus instintos de sobrevivência, que até então eu imaginava não ter, se afloraram e eu comecei a minha corrida, mas não corria como costumava, usava minhas mãos para pular galhos ou aumentar a minha velocidade parecendo até que era um cão correndo em alguns momentos.

Minha corrida selvagem não demorou, ou demorou? Já não sabia, não tinha noção de quanto tempo havia passado, a noite ainda ocupava os céus, mas não podia distinguir se tudo aconteceu em minutos ou em horas, só sabia que me encontrava as margens de um lago.

Cai de joelhos, meu corpo tremia, era medo ou apenas cansaço? Aos poucos eu me aproximei da superfície líquida e tentei ver o meu reflexo, além de meus cabelos desgrenhados eu tinha meu rosto manchado de sangue, não havia nem reparo que o sangue da velha havia respingado em mim. Juntei minhas mãos em concha e as enchi com a água do pequeno lago, em seguida joguei no meus rosto tentando me limpar um pouco, minhas madeixas se encharcada com água de pesaram pendendo mais que o normal.

Quando meu coração desacelerou pensei no que fazer, afinal não sabia nem o que havia acontecido com a minha vila.

—Quem é você?! – um homem de uns quarenta anos aparentando ser um caçador apareceu da floresta apontando para minha cabeça.
 

—Só estou fugindo de algumas pessoas que incendiaram minha vila. – minha voz falhou um pouco, minha respiração continuava ofegante.

—Lamento por tal. – o homem abaixou a besta e se aproximou. – Suas roupas estão todas rasgadas, vamos para minha casa, tenho comida e algumas peças antigas que podem lhe servir.

Tentei responder, mas não conseguia emitir nenhum som, então apenas concordei com a cabeça e tentei me levantar para segui-lo, mas quando dei meu primeiro passo eu novamente cai de joelhos. O homem se preocupou e se aproximou, mas eu fiz um sinal com a mão para que ele deixasse eu me levantar, sem sua ajuda, estava mal, contudo acreditava ser capaz de pelo menos isso. Após alguns tropeços consegui me manter de pé e seguir o homem, mesmo que com alguma dificuldade, ele andava por uma trilha meio apagada pela natureza, um caminho de fácil passagem para quem sabia onde ir.

Não demorou muito para que chegássemos a um local aberto onde haviam duas cabanas de madeira, uma maior que eu acreditava ser a casa do homem e uma menor que poderia ser um depósito ou qualquer outra coisa. Ele abriu a porta do maior e entrou sem dizer nada, como eu não tinha muitas opções eu entrei em seguida tentando observar o lugar mesmo com pouca luz, mas isso não foi um problema por muito tempo já que o homem acendeu uma lamparina e algumas velas pela casa.

— Vou buscar um pouco de comida e umas roupas, o chuveiro fica na porta no final do corredor a direita, faça bom proveito. – ele se distanciou até que eu o perdi de vista.

Tateando as paredes do local eu me sustentava até o cômodo que ele havia falado, pude reparar que a casa era simples com poucos móveis e nenhum enfeite, visivelmente não vivia nenhuma alma feminina por ali há muito tempo, mas não podia negar que a casa estava limpa e bem organizada. O banheiro era um ligar apertado com uma pedra de material desconhecido separando a foça do local de se lavar, para me levar havia uma torneira, um balde , uma esponja e algumas pétalas de flores para me perfumar sendo que a maioria eram cravos. Ao tentar retirar os trapos que vestia eles rasgaram mais ficando inutilizáveis não podendo nem servir de pano de chão, quando abria a torneira e despejei a água do balde em mim percebi que estava morna, o bom homem devia ter colocado alguma lenha para esquentar a água do encanamento, uma atitude bem gentil.

Quando terminei percebi que não tinha nada para me secar e decidi andar pela casa procurando o cavaleiro que tinha me oferecido abrigo, andando pelos cômodos encontrei ele vindo com uma pequena pilha de roupas, quando viu meu corpo nu as largou no chão enquanto corava e cobria o rosto com suas grandes e peluda mãos.

—Vista-se por favor! Elas devem estar grandes, mas foram as menores que eu consegui achar. – ele se virou imediatamente após dizer aquilo e saiu dali indo para um cômodo ao lado.

Eu peguei as roupas, eram grandes blusas e grandes calções, tudo muito maior que eu, mas isso só comprovava mais a minha teoria de que ele morava sozinho. No fim eu peguei uma das peças e usei para me secar, as outras eu vesti afinal mesmo após sair de um banho quente eu ainda sentia frio afinal estávamos quase no final do outono. Enquanto terminava de me vestir senti algo perguntando a casa e me enchendo o olfato, o paladar e a fome! Vinha do cômodo onde o homem havia entrada, provavelmente a cozinha pelo cheiro, só não esperava que ele estivesse cozinhando algo tão cheiroso para mim.

Segui até a cozinha onde vi o homem sem camisa cozinhando em frente há uma pequena fogueira, ele enchia o caldeirão de metal com alguma verduras e com um pouco de água, mas o que de certa forma mais me chamou a atenção fora o seu corpo peludo reduzindo um pouco as chamas crepitantes da fogueira, ele era grande e forte, parecia como um urso! Mas era um urso gentil, que me acolherá e estava a cozinhar para mim, no fim o mundo precisava de mais ursos assim para ser um lugar melhor.

Tentei manter silêncio, mas o meu corpo fraco não aguentou muito e estremeci caindo de joelhos ao chão, o gentil homem se assustou e correu ao meu encontro me ajudando a me reerguer, dessa vez não hesitei em aceitar a sua ajuda, logo ele me ajudou a sentar na mesa e serviu para mim uma grande tigela da sopa que estava fazendo, mas antes de se sentar comigo ele entrou para dentro da casa e voltou vestindo uma blusa.

—Você deve comer para sua fraqueza passar, você sofreu um pouco para chegar até onde estava, porque pelo que eu sei a vila mais próxima fica muito longe. – ele fez uma pais a e serviu um pouco para ele, colocou uma colherada na boca e gemeu. -Uhm! Está uma delícia! Prove um pouco.

Forcei-me a colocar uma colherada para dentro, mesmo que fosse tão pouco e eu estivesse tão fraco ainda sim não sentia vontade alguma de comer, era quase como se estivesse morrendo de fome, mas ao ver a comida essa fome passasse. Enfim, com a sopa em minha bica eu pude sentir um bom sabor de infância igual as comidas que a minha avó fazia, um gosto delicado de vários legumes. O sabor era tão bom que toda a minha indisposição passou e eu comecei a comer mais e mais, uma colher seguida da outra, cheguei até a derramar um pouco em meu pescoço, mas não me importava tanto.

—Vai com calma. – ele riu. – Ainda tem muito mais no caldeirão. – ele se aproximou com um pano na mão e limpou meu pescoço antes que o caldo da sopa escorrer para roupa.

—O..oo..ooo..obrigado.- disse com um pouco de medo.

—Finalmente uma palavra. – ele riu novamente. -Quando terminar venha para o quarto, vou arrumar as coisas para você dormir.

O homem se retirou e me deixou comendo ali, agora eu já comia com mais calma aproveitando cada colher, cada pedaço de legume, aproveitando a sensação que causava e aproveitando as poucas memórias que eu tinha daquele senhor. Mesmo mal conhecendo ele, esse me passava uma calma natural, não sabia se era por estar abalado, mas também me sentia mais seguro estando ali com ele por perto, talvez só sentisse isso por causa do meu recente trauma, ver alguém morrer na sua frente e fugir desesperadamente não é algo que faça bem a saúde de qualquer um.

Quando terminei eu coloquei a colher e a vasilha em uma bacia cheia de água, onde ele deveria lavar as coisas, terminei de apagar a fogueira e as velas da cozinha e fui andando para o quarto, agora eu já conseguia me firmar em pé sem pé e usar escorar em nada, um grande avanço em poucos minutos. Quando cheguei no quarto a cama estava arrumada, uma grande cama de casal, os lençóis estavam estendidos e a espera de alguém para usá-los, já o homem estava do lado da cama com algumas cobertas em seus braços, quando me aproximei ele disse:

—Bem, eu não tenho outra cama ou lugar para dormir nessa casa então gostaria de pedir para que dividíssemos a mesma cama, mas se quiser e preferir eu posso dormir no chão da sala, sem problema algum, se isso te deixar mais confortável. – ele tentava explicar de forma que parecia muito que ele só quisesse o meu bem.

— Não. – disse andando até ele é agarrando uma de suas mãos. – Eu prefiro que fique e durma na cama comigo, assim me sinto mais seguro.

—Tudo bem. – ele não pareceu estranhar o pedido, nem o contato, apenas guardou as cobertas extras que estavam em sua mão e deitou-se na cama.

Mesmo que eu estivesse meio acanhado acabei seguindo ele é deitando do seu lado, mas de costas para o homem, ele levantou da cama e apagou as velas e lamparina e, em seguida voltou a deitar-se do meu lado. Tudo caminhava bem para uma boa noite de sono, contudo eu não conseguia fechar os meus olhos, todo vez que tentava lembrava de cena da senhora morrendo na minha frente, por isso não conseguia parar de me mover na cama tentando achar uma posição melhor ou algo do tipo.

—Você está Bem? -O homem perguntou sussurrando, pelo visto havia acordado ele.- Está tendo pesadelos e não consegue dormir?

—Sim. -virei olhando para ele, ele ainda tinha feições duras, mas seu rosto me reconfortava de uma forma que nem eu imaginava que pudesse. -Posso fazer um pedido estranho?

—Pode , é claro. Espero que eu possa atendê-lo. – o homem se aproximou um pouco para ouvir meu desejo, pude sentir sua respiração, um ar quente em meu rosto.

—Você pode dormir abraçado comigo? – ele pareceu se assustar um pouco com o pedido, só então percebi o quão ridículo fora. -Esqueça, foi um pedido bem ridículo, boa noite
— virei e fechei os olhos com força tentando esquecer.

Enquanto me esforçava para esquecer meu pedido e o olhar de susto do homem eu senti algo grande e quente me envolvendo, quando abri os olhos percebi que ele estava me abraçando com cuidado, um abraço aconchegante que o colocou tão perto de mim que pude sentir sua respiração quente na minha nuca e os fios de sua barba também. Espantei um pouco por ele ter realizado o meu pedido, mas isso não durou muito uma vez que o conforto e a segurança que eu sentia em seus braços me fez dormir rapidamente sem que eu tivesse aquele pesadelo novamente.

Contudo eu também não sonhei com nada, era como se minha noite fosse apenas aquele sentimento de proteção que eu sentia, sem imagens de coisas, sem nada, só esse sentimento que preencheu toda minha noite. Quando meus olhos se abriram novamente ele não estava mais comigo naquela cama, apenas eu, isso me deixou um pouco desesperado, mas logo isso também passou quando escutei sons vindo da cozinha seguidos de um delicioso odor. Levantei tentando arrumar as roupas que estavam muito largas em mim, dei alguns nós para tentar diminuir a quantidade de pano e enfiar um pouo5dentro das calça.

—Bom dia ! -O homem surgiu na porta sorridente e novamente sem camisa. – Estou preparando uma comida para você, venha logo.

Assim ele passou pela porta e sumiu novamente, antes de segui-lo eu arrumei a cama e utilizei o banheiro, quando fui para cozinha ele já estava sentado comendo um pedaço de pão com um pedaço de carne assada. Sentei em sua frente e comecei a comer um pouco também , após algumas mordidas identifiquei a carne como sendo de lebre, estava muito saborosa e ficará ótima com o pão.

—Estava muito gostoso, obrigado pela refeição e pela estada. -ainda estava sem graça por todo o ocorrido da noite anterior. -Também peço desculpas se isso parecer falta de educação, mas pretendo partir imediatamente para minha vila para tentar ajudar qualquer sobrevivente e começar a reconstrui-la.

—Tudo bem, não esperava que ficasse muito mesmo. – ele sorriu de lado com um pouco de tristeza, por ele viver sozinho aposto que o pouco tempo de minha companhia havia sido bom para ele.

—Contudo eu prometo voltar para lhe pagar o que devo! – o homem assustou e riu um pouco da minha frase.

— Não me deves nada , fiz isso sem a intenção de receber nada. – ele sorriu novamente e recolheu as vasilhas a lavando na mesma bacia que eu havia colocado os da noite anterior.

Terminei de me arrumar, e fui para porta da sua casa , ele me acompanhou e indicou a direção de onde eu havia vindo, se despediu com um abraço e eu parti, porém o caminho todo eu só pensava em voltar para ele algum dia e eu fiz disso uma promessa em minha vida, encontrar aquele homem novamente. Chegando na vila eu vi várias pessoas ajudando a retirar escombros, imediatamente fui ajudá-los a achar as pessoas e a retirar o entulho, ajudei na reconstrução dela r quando estava tudo ajeitando e todos com as suas rotinas de volta eu retornei para floresta a procura da casa daquele homem, procurei várias vezes e nunca a encontrei, todos os meses eu vagava procurando por ele é por sua casa, mas sem resultados.

Até que um dia eu me casei na vila, tive filhos e filhas, eles cresceram e tiveram seu filhos também, e é por isso que vocês estão aqui hoje meus netos, por ter vocês eu não pude mais procurar aquele homem, mas sinto que ainda me encontrarei com ele um dia, mesmo que seja no outro mundo.


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