A um passo de você escrita por Hinazi


Capítulo 1
Aproximação


Notas iniciais do capítulo

Foi um sufoco decidir o que escrever, não nego. Era um milhão de possibilidades, e eu entrei a beira do desespero por medo de desapontar.
Mas deu tudo certo no fim, e levei o mês todo de Janeiro escrevendo pedacinho por pedacinho, modificando várias vezes, haha. Eu me diverti escrevendo sua história e gostei bastante do resultado, foi algo que acabou saindo melhor do que eu planejava.
Porém releva a sinopse, porque eu não consegui pensar num resumo bom o suficiente da história.
Aliás, eu conhecia todas as webcomics, desculpa por não ter escolhido nenhuma, ahusha, sou muito insegura para usar personagens já existentes.
Bom, eu não sei muito bem o que dizer aqui, espero que goste.



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Movimentos tão leves, fluídos, onde o corpo parecia voar a cada salto. Que pareciam não exigir nenhum esforço. Era tão natural... Tão apaixonante. Andrew simplesmente não conseguia desviar o olhar do garoto que dançava maravilhosamente bem, naquele estúdio pequenininho do final da rua principal.

Provavelmente um dos melhores dançarinos que já vira. Não só por seus movimentos. Mas pela emoção que cada passo transmitia. E disso Andrew entendia, afinal, ele próprio era um dançarino há anos.

Quando Nicolas começava a dançar, não havia quem não parasse para prestar atenção. Andrew a cada final de ensaio, terminava com o corpo vibrando, coração acelerado e a boca seca.

O que sentia era sem volta a essa altura. Nicolas não apenas dançava bem, como também era encantador fora da dança. A cada vez que Nicolas sorria enquanto conversava com os amigos, bochechas redondas e avermelhadas pelos exercícios recentes, olhos pequenos que quase sumiam entre as bochechas, toda uma combinação inteira de fofura, seu peito se torcia todo e um sorriso se estendia pelo seu rosto também.

Tudo naquele garoto parecia contagiante, magnetizante. Talvez não fosse apenas enquanto dançava que Andrew não conseguia desviar os olhos de Nicolas.

Esperou todos saírem, após o final do horário de aula. Nicolas sempre ficava para ensaiar um pouco mais.

— Ainda está ensaiando pra peça? - Perguntou, da maneira mais natural que conseguia, ainda que fosse uma das primeiras vezes que conversavam, e podia sentir as bochechas queimar, enquanto entrava outra vez na sala, paredes cobertas de espelhos e pisos escorregadio.

Nicolas deu um pulo, assustado com uma súbita segunda voz no recinto, virando o corpo todo em direção à porta.

— Ah, me desculpa, não foi minha intenção te assustar! - Andrew levantou os braços em frente ao corpo, nervoso. Segurou o próprio cotovelo, tímido. - Eu... Ahn... Você poderia me ajudar com alguns passos da apresentação?

Qualquer um que observasse a cena saberia que Andrew estava mentindo. Dançava há anos e era confiante nas próprias habilidades. A apresentação que fariam não exigia passos lá muito complicados que já não dominasse. Era uma clara desculpa para que pudesse conversar mais com Nicolas. Porém Andrew não conseguia pensar em outra forma para que pudesse se aproximar do outro.

Nicolas o encarou por alguns segundos e Andrew temeu que tivesse sido descoberto, porém o loiro sorriu e concordou com a cabeça, fazendo com que Andrew soltasse um suspiro em alívio.

— Sem problemas. - Levantou do banco onde estava sentado. - Então, do que precisa?

Andrew explicou os passos que supostamente não conseguia realizar direito, e Nicolas parecia ter toda a paciência do mundo, enquanto demonstrava cada um devagar e pedia para que Andrew os repetisse.

A parte mais difícil era fingir e se esforçar para não deixar claro que de fato conseguia realizá-los, e exigia concentração de si para isso. Mas valia a pena, pois o levou a passar um tempo a mais, sozinho com ele. A voz e atenção dele toda para si.

Com a adrenalina daquele sentimento ainda retumbando dentro de si, ele combinou de ensaiarem outra vez no dia seguinte. E no outro e no outro.

Gastaram a semana toda nos ensaios, onde precisava fingir cada vez menos e apenas aproveitar a companhia um do outro enquanto dançavam.

Na sexta-feira, voltou à sala para o tão esperado ensaio extra a sós.

— Qual passo vai querer revisar hoje? - Nicolas iniciou a conversa, tão logo Andrew entrou.

Andrew coçou a cabeça, hesitante.

— Acho que eu já consegui pegar tudo que faltava. Mas pensei que talvez… Pudéssemos continuar ensaiando juntos? Em casa, minha irmã não me deixa em paz um segundo e-

— Claro, não vejo porque não. - Concordou rápido. - Aliás, queria pedir sua ajuda em algo também. - Demonstrou o passo em que estava com dúvidas, se estava realizando ou não da forma como deveria.

Andrew tinha planos de convidar Nicolas para o festival de música que ocorreria dali algumas semanas, porém sabia que se o convidasse logo de cara, seria recusado na hora. 

Já conversavam há uma semana, mas ainda não era o suficiente. Então naquela sexta, por mais que as palavas e a vontade estivessem ali, foi para casa com o pedido entalado na garganta, esperando uma oportunidade melhor.

*

Andrew não sabia se por meio de todos aqueles ensaios seu objetivo de se tornar próximo de Nicolas estava sendo cumprido, mas sabia com toda a certeza de que estava muito mais apaixonado do que antes.

Antes mantia apenas a ideia do que achava que Nicolas seria, baseado no que via. Passando o tempo juntos, conversando não só sobre os passos e dança, ele estava realmente conhecendo-o. Agora, após saber quem Nicolas era de verdade, não podia deixar de se encantar mais.

Conforme os dias passavam, e nenhuma menção sobre pararem o que estavam fazendo, a atmosfera entre os dois se tornava muito mais confortável. Deixaram de apenas ensaiarem juntos, os passos repetitivos tão conhecidos após tantos ensaios, executavam de forma automática, numa memória muscular, para que tivessem o próprio momento de diversão. Escolhiam músicas aleatórias, se deixando levar pelos sons e batidas, relaxando o corpo. Estavam à vontade o suficiente um com o outro para que sincronizassem passos e rissem um para o outro.

Não precisavam combinar se ensaiariam juntos no próximo dia, havia um silencioso acordo mútuo que estariam lá.

— Você precisa ouvir a música que eu achei nesse fim de semana! - Andrew correu em direção à caixa de som, do outro lado da sala, celular em mãos. - Ouve só isso! Não tem como resistir.

Em alguns ensaios, traziam músicas específicas para dançarem no final. Andrew provavelmente já havia mostrado mais da metade de sua playlist de músicas favoritas. Nicolas não estava numa situação diferente. O gosto pela dança e por músicas enraizava e fortalecia a amizade.

Andrew fechou os olhos e se deixou levar pelo som da música recém descoberta que tanto o encantara. Não era agitada como uma música pop e também estava longe das instrumentais lentas, essa tinha batidas profundas, que a cada virada de trecho, tirava-o do chão num novo salto. O ritmo fazia Andrew se sentir livre. Os pés, por alguns segundos, longe do chão. Flutuando por um curto espaço de tempo antes de sentir o piso liso outra vez tocando a ponta dos pés.

Antes do meio da canção, Nicolas juntara-se a ele. Precisou observar os passos do outro por um momento para tentar acompanhá-lo. Ainda que não imitassem um ao outro, havia certa harmonia em como os passos de cada um completava o do outro, ao rodopiarem próximos, direções contrárias, voltando para perto para se afastarem outra vez.

Não era preciso que falassem muito enquanto dançavam. Na maioria das vezes, mal estavam de olhos abertos, porém, a cada vez que os olhos se encontravam, ali, tão vulneráveis ao se expressarem, sentia que subiam um degrau, tornando-se ainda mais íntimos.

Era fácil perceber para qualquer um que observasse a dança dos dois de por que, de repente, terem se tornado tão próximos.

Deslizaram em direção ao chão quando a última nota soou pela salinha do estúdio, ambos ofegantes pelo esforço.

Bochechas vermelhas e corações acelerados, os corpos deitados lado a lado, opostos um ao outro, Nicolas com a cabeça para a direita e Andrew para a esquerda.

— E então, o que achou dessa? - Andrew perguntou, após recuperar o fôlego.

— Uma das melhores que você já me mostrou, com certeza. - Andrew pôde ouvir o som que Nicolas fazia ao sorrir e rir ao mesmo tempo, quando o ar saia num "uff" pelo nariz. - Foi de tirar o fôlego mesmo. Parecia que eu tava' me movendo sozinho.

— Não é? Ela dá essa sensação de que vai levar a gente embora, tipo, se você se distrair, "puff", você se desintegra no ar. - Levantou as mãos, demonstrando. Tentava explicar da melhor forma o que sentia ao dançar. Não que achasse que fosse muito bom com as palavras.

Nicolas riu, concordando.

— Dessa vez, eu tô' acabado. Minhas pernas não aguentam mais nada. - Nicolas levantou, apoiando as mãos no joelho. A própria aula com a professora havia sido cansativa o bastante. Então ensaiaram mais algumas vezes sozinhos. A música que haviam dançado tanto o relaxou como também determinou o fim das suas energias.

Caminhou até a bolsa, em cima do banco no fim da sala, ajeitando o cabelo comprido que já soltava do rabo de cavalo, retirando a garrafinha de água de dentro dela e se preparando para ir embora.

Andrew se deu como terminado por aquele dia também. Sentou no chão, olhando para Nicolas. Os lábios franzidos numa linha. O dia do festival estava se aproximando, sabia que deveria convidá-lo logo. Hoje. Agora.

— Escuta... Você vai naquele evento de música que vai ter daqui uns dias? - A voz tremera um pouco no começo, continuava repetindo na própria mente. Mantenha tudo natural. Casual.

Ao contrário de Andrew, que estava surtando por dentro, Nicolas nem ao menos piscara, enquanto remexia na bolsa.

— Ah, acho que não... Eu quero muito ir, mas nenhum amigo meu aceitou ir comigo, e ir sozinho não tem a menor graça. - Finalmente achara a toalha de rosto! Puxou-a da bolsa com um sorrisinho. Jurava que tinha esquecido. Mal conseguia vê-la no meio de tanta tralha contida lá. Usava a mochila para carregar as coisas da escola também. - E você, vai ir?

Andrew comemorou internamente. Era a chance perfeita, e soava até um pouco surreal. Totalmente suscetível a dar errado. Mas precisava tentar. Soe casual. Soe casual.

— Parece que somos dois. Meus amigos também recusaram ir comigo. - Nem ao menos havia perguntado a algum deles. - Sendo assim... Que tal irmos juntos?

— Claro, por que não? - Baixou a toalha do rosto e sorriu, como se o pedido não fosse nada demais. Enfiou ambos, toalha e garrafa dentro da bolsa outra vez e fechou o zíper.

Andrew levantou num pulo, o coração acelerando muito mais que ao terminar de dançar, minutos antes. Parecia pesado, apertando no peito. Meu deus, mal podia conter a felicidade. Lutou para não abrir um sorriso gigante, disfarçou, sorriu de leve.

— Fechado então. Te vejo amanhã, até. - Agarrou a própria bolsa e saiu correndo pela porta, enfim deixando o sorriso gigante se espalhar pelo rosto.

Andrew continuou correndo até alcançar a bicicleta do lado de fora, o céu já escuro. E enquanto pedalava para casa, a voz soou alta na rua gritando "uhu" a plenos pulmões, rosto ainda cortado no sorrido gigante que estampava sua cara e parecia longe de deixá-la.

*

Andrew chegou quase meia hora mais cedo no local de encontro. Em casa não conseguia se acalmar, as pernas e os dedos das mãos não paravam quietos e a mãe logo o expulsou de casa para que fosse de uma vez.

Nicolas chegou poucos minutos depois. Ambos chegaram cedo, bem antes do horário marcado. Andrew ficou feliz ao perceber que estava certo em ter saído de casa antes. Por pouco não o deixou esperando.

Nicolas apertava a alça da mochila, os lábios franzidos num sorriso nervoso pairando sobre o rosto. O cabelo estava arrumado diferente do normal, os fios claros soltos sobre o ombro. Era incomum vê-lo sem as leggings justas, usando uma bermuda qualquer.

— Oi. - Emitiu num som tímido.

Subitamente Andrew sentiu a timidez tomar conta de si também.

— Oi. - Riu um tantinho sem graça, sem saber o que dizer. Pareciam estar se falando pela primeira vez novamente.

Encararam um ao outro por alguns segundos, sem dizer nada.

— Aconteceu alguma coisa com você? - Andrew arriscou perguntar. Normalmente tão logo se encontravam, já estavam falando pelos cotovelos.

Nicolas subiu o olhar, que antes pairava no chão, para os próprios sapatos, e piscou rapidamente, esboçando um sorriso um pouco mais conhecido de Andrew.

— Ah, não, nada. Já que estamos aqui, vamos então?

Andrew preferiu não insistir mais no assunto e concordou.

Qualquer clima esquisito que possa ter existido ao se encontrarem sumiu rapidamente após chegarem ao evento, substituído por empolgação.

A paisagem enchia e transbordava a visão. Muitas cores, muitas pessoas, muita informação reunida em um lugar só. As tendas, lojinhas com itens musicais, de discos à camisetas, continham as mais diversas decorações, saídas diretamente do lado grunge/indie do tumblr.

Ao fundo estava o palco onde aconteceriam as apresentações das bandas, que só começaria às dez da manhã. Alguém passava o som lá em cima, que ecoava pelas caixas de som espalhadas pelo local. A própria escola de dança deles apresentaria ali, no terceiro dia, nas apresentações e competição de dança.

Nos dois dias que antecediam a própria apresentação para qual tanto ensaiavam estavam livres de ensaio, dispensados para que relaxassem.

Outros colegas da turma deveriam ou pretendiam estar vagando por ali também.

Começaram a explorar, indo de tenda em tenda, sentindo o dinheiro se esvaziarem de seus bolsos aos poucos. Os shows não demoraram muito para começar a partir da hora que terminaram de ver todas as tendas do corredor principal.

Assim como a maioria dos adolescentes presentes, trouxeram o pano para que sentassem e assistissem aos shows que durariam o dia todo. Felizmente conseguiram um lugar na sombra por terem chegado cedo, e mesmo que o som não estivesse tão forte, ele ficaria. Soltaram a caixa térmica na grama ao lado e sentaram, os primeiros acordes da música já tocando.

A banda que tocava não era muito conhecida, composta de adolescentes amadores um poucos mais velhos que eles, tocavam covers, e nem tão boa assim, mas ainda sim Nicolas balançava a cabeça devagar, de olhos fechados, apreciando a música e sorrindo. Andrew podia olhar à vontade.

Nicolas era lindo daquele jeito, todo distraído e alegre.

*

O dia para os dois se passou em frente às bandas que tocavam, entrando as cada vez mais conhecidas, algumas tocavam covers, outras músicas de autoria própria, e ainda as que tocavam ambos os tipos, saindo raramente do pano estendido.

Havia anoitecido há pelo menos duas horas, e a banda última banda, a principal, estava no meio da própria apresentação.

Andrew não tinha a mais clara das lembranças sobre o que acontecera para os levar até Nicolas correndo para longe do pano, sem ao menos dizer tchau.

Sentados próximos, cantando juntos a plenos pulmões, junto com a maioria dos adolescentes presentes, a música atual. Tudo pareceu se encaminhar para aquele determinado momento.

Ao mesmo tempo, viraram um para o outro, no refrão da música, rindo do jeito tosco como cantavam, numa bolha própria. Os rostos estiveram próximos demais por segundos demais. Olhares se encontraram e não parecia haver mais risos. Silêncio. Andrew não sabia quem exatamente havia iniciado o beijo, sua última memória era de Nicolas fechando os olhos, inclinando-se, até Nicolas se afastar bruscamente, bochechas coradas e olhos brilhando pelas lágrimas que se acumulavam.

— Desculpa. Desculpa mesmo. Não era desse jeito que eu... - Nicolas levantou num pulo, agarrando a bolsa e o casaco, todo desajeitado. - Eu preciso ir.

Andrew não conseguiu dizer ou fazer nada enquanto via Nicolas correr entre as pessoas, ao som da música ao fundo, como uma trilha sonora de filme, o deixando para trás, sozinho no lençol colorido, ainda de boca aberta.

*

A apresentação que tanto ensaiaram chegou sem que nenhum dos dois tivesse trocado qualquer palavra. Ou tido qualquer contato.
Andrew não foi ao segundo dia do evento. Sem Nicolas não tinha muito sentido. Ir sozinho só seria deprimente.

Evitou pensou demais no que acontecera, seja para que não se iludisse criando falsas esperanças ou enlouquecesse tentando dar algum sentido. A melhor forma de resolver era falando com Nicolas diretamente.

Não conversaram antes da apresentação. Precisavam se concentrar e focar na peça. Não era hora para discutir qualquer coisa além daquilo. Durante, seus papéis não tinham interação alguma, e mal estiveram no palco ao mesmo tempo. Mas após o final, nada mais os impedia. Ele não tinha como fugir.

Andrew o esperou passar pela porta, saindo do camarim improvisado e o confrontou.

— Nicolas, espera aí! - Segurou o garoto pelo pulso sem força alguma, apenas para conseguir a atenção desejada.

Nicolas virou, o rosto contorcido numa expressão incomum. Não levava a expressão leve, o quase sorriso. Nicolas parecia inseguro e nervoso e Andrew duvidava que fosse pela apresentação que acabara de ocorrer.

— O que... - A voz falhou e ele limpou a garganta, recomeçando. - O que foi? - Sua voz também não soava como o habitual. Vê-lo daquele jeito, todo irreconhecível partia o coração de Andrew.

— Você estava incrível hoje. Parabéns. - Pareciam ter voltado à estaca zero.

O rosto de Nicolas suavizou num sorriso triste, meio forçado. As sobrancelhas franzidas não mentiam.

— Ah... Você também. - Sua voz soava como um "ah, era só isso".

— Bem, não é bem isso que eu queria conversar com você. Hm... é sobre dois dias atrás.

— Olha... - Nicolas começou.

— Não vou perguntar o que foi aquilo. É só... Você não me beijou só no calor do momento, né? - Transpirava esperança e insegurança em cada palavra. Tinha evitado pensar demais naquilo, mas agora tudo o atingia de uma vez.

— O quê? Não! - Pareceu ofendido por um momento. - Eu gosto de você. Por isso eu te beijei.

Andrew suspirou em alívio, e não pôde evitar o riso que saiu de sua boca.

— Se você vai rir, eu vou- Andrew jogou os braços em volta dele, o riso preenchendo os ouvidos de Nicolas.

— Eu nem consigo acreditar que o encantador Nicolas gosta de mim, e que é recíproco. Eu gosto de você também, Nic.

Nicolas arregalou os olhos e abraçou de volta, rindo também. Os dois adolescentes não sabiam de que forma reagir.

— Quem não consegue acreditar nisso sou eu. Quando pediu ajuda, até achei que estava me iludindo achando que tinha uma chance...

— Como assim?

— Oras, era meio óbvio que você não precisava de ajuda com os passos.

— Quê? Você sabia? - Separaram por alguns centímetros, para que olhassem um nos olhos do outro.

— Era bem fácil perceber que tinha algo de errado, Andrew.

— Como?

— Qual é, Andrew. Você sabe que não dança mal, Andrew! Acha que é o único que presta atenção nos outros? - Andrew corou.

— Você sabia até disso? Eu era tão óbvio assim?

— Provavelmente não. Eu só percebi porque também estava te olhando. - Dessa vez foi Nicolas que pareceu ficar sem graça.

— Meu deus... Que vergonha... - Pôs a mão no rosto, até as orelhas estavam vermelhas.
Nicolas pôs a mão sobre o coração.

— Achei que ia morrer quando você veio pedir ajuda para mim. Nós dois dançando juntos e sozinhos parecia bom demais para ser verdade.

— Eu só quero me enfiar num buraco... - Andrew o abraçou outra vez, escondendo o rosto.

"Que bonitinho" pensou Nicolas, "Ele não quer que eu o veja todo envergonhado". Riu e deu tapinhas nas costas dele.

— Nem foi tão ruim assim vai, fica tranquilo.

— Foi por isso que você estava todo estranho do dia do festival, quando nos encontramos? Por que você sabia? - Murmurou, sem retirar o rosto do pescoço do outro.
Nicolas não esperava que Andrew fosse tão envergonhado, mas não podia dizer que era algo ruim.

— Qu- Ah, não. - Abanou a mão, mesmo que ninguém além de si estivesse vendo. - Eu estava nervoso porque soava como um encontro. Estava com medo de estar vendo coisa onde não tinha e você só fosse simpático demais, ainda sim resolvi que ia tentar... - Baixou o tom de voz. Ter que admitir em voz alta soava muito mais idiota do que na sua cabeça. - me declarar ou algo assim. Era por isso que eu estava nervoso! - Escondeu o rosto também e suspirou, antes de erguer a cabeça e continuar.

— No fim não foi do jeito que eu queria. Queria ter te contado no meio do show, ouvido sua resposta, e só então a gente se beijasse. Se você dissesse sim, é claro. Mas aí você olhou para mim, e não se afastou quando eu me aproximei... Achei que tinha estragado tudo porque agi por impulso. Então queria te pedir desculpa por isso.

Andrew finalmente voltou a olhá-lo quando terminou.

— Tá' brincando? Aquilo foi incrível! Você deveria pedir desculpas por ter fugido e não ter continuado, Nicolas. - Brincou. Podia perceber que Nicolas havia pensado com cuidado naquilo, e não eram meras desculpas da boca para fora. - Se eu te correspondi, não tem porque pedir desculpas e nem se sentir culpado. Assunto encerrado.

— Antes de encerrar esse assunto, acho que eu deveria me redimir, pelo menos. - Nicolas sorriu e Andrew entendeu o que ele queria assim dizer assim que viu o loiro se inclinar em sua direção, lábios tocando-se um segundo depois.

*

Nicolas iniciou a música escolhida do dia e caminhou devagar em direção à Andrew, parado no meio da sala.

Andrew estendeu a mão, puxando Nicolas em direção ao próprio corpo, como uma imã atraindo ferro. Prenderam-se nos olhares um do outro. Sorriram quando os corpos se tocaram. Sorriram quando Nicolas rodopiou. Sorriram quando Nicolas voltou, para que então Andrew fosse. Fecharam os olhos quando a batida intensificou. Aproximaram os rostos quando a música diminuiu.

Guiavam os corpos juntos, presos um ao outro. O que quer que existisse fora da sala não importava quando a caixa de som estava ligada e os corpos movendo-se. O mundo fora da sala já não era real, não existia. Era apenas música ecoando, corpos se movimentando.


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