Uma Noite No Motel escrita por Marina Louise


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/754576/chapter/5

                                            Capítulo 5



Lisbon tentou focar em algo, mas a única coisa que via era o breu do quarto. Sua respiração estava rápida e entrecortada e ela sabia que havia alguém lhe segurando, mas o rosto de quem quer que fosse estava embaçado por causa das lágrimas.


“Teresa, por favor, fala comigo!” A voz afoita lhe fez olhar na direção de quem a segurava. Mas a única coisa que conseguiu notar foi que estava em uma cama, com as pernas totalmente entrelaçadas com as de alguém, parcialmente sentada no colo dessa pessoa. Respirando fundo para controlar a respiração, fechou os olhos tentando organizar seus pensamentos e a imagem de Jane morto ressurgiu em sua mente. 


Assim que abriu os olhos novamente, lágrimas deslizaram por sua face e ela pôde perceber que era observada atentamente por um par de olhos azuis bastante familiar. 


“Jane?” Perguntou em um sussurro fraco, erguendo umas das mãos trêmulas para tocar o rosto dele, querendo ter certeza de que ele era real. “É você?”


“Sou eu, Lisbon.” O loiro lhe respondeu com a voz rouca, acariciando a mão que ela havia colocado em seu rosto. “Está tudo bem, eu estou aqui, você está a salvo.” Ele se inclinou e depositou um beijo na testa dela, obviamente tentando consolá-la, e foi o que bastou para que o choro que Teresa estivera tentando segurar escapasse. E antes que a agente pudesse reagir, Patrick a envolveu num forte abraço, puxando-a de vez para seu colo. 


Com o rosto enterrado em seu peito, a sensação de alívio e segurança de ter os braços dele em torno de si, ela se permitiu ser embalada por ele. 


“Ele matou você, Jane.” Murmurou, em meio ao choro, desabafando. “Ele matou você.” 


“Está tudo bem, Teresa.” Jane a acalentou, passando a mão pelas suas costas, num sobe e desce suave. “Eu estou bem. Você está bem. Ele não pode nos machucar.” 


Eles ficaram vários minutos assim, ela chorando e Jane lhe dizendo palavras de conforto enquanto depositava vez ou outra um beijo em sua cabeça. Quando a realidade da situação finalmente se abateu sobre ela, a morena imediatamente ficou tensa. 


Ela estava nos braços de Patrick, ou melhor, em seu colo, chorando compulsivamente por causa de um pesadelo! Era, no mínimo, patético, pensou consigo mesma. Uma agente da CBI se comportando feito uma criança. Como olharia para Jane de novo depois disso? Na mesma hora sentiu o rosto corar de vergonha enquanto ainda lutava para controlar as lágrimas. 


“Eu estou bem, Jane.” Afirmou, empurrando o peito dele, tentando se soltar às pressas de seus braços e sair de seu colo. “Eu estou bem.” 


No começo Patrick resistira, mas, quando seus puxões se tornaram mais fortes, ele não teve outra opção a não ser soltá-la, e ela rapidamente foi para o pé da cama, o mais longe possível dele. 


“Teresa...” Ele engatinhou até onde ela estava e tocou seu ombro. 


“Eu estou bem, Jane. De verdade.” Respirou fundo e enxugou um pouco o rosto molhado com as mãos. “Só preciso de uns minutos. Me desculpe pelo meu comportamento.” 


“O quê...?” 


O tom de voz confuso do consultor chegou aos seus ouvidos, mas o que ele lhe perguntaria ela não chegou a saber, pois Patrick imediatamente interrompera a frase pelo meio e se levantara da cama. 


“Droga, Jane! O que você está fazendo?” Lisbon franziu os olhos quando o loiro acendeu a luz, a claridade incomodando-a. 


Quando se lembrou do estado em que deveria estar seu rosto, rapidamente se virou de costas para ele. Não queria que ele lhe visse assim. Já se havia exposto demais. 


“Por favor, não faça isso, Teresa.” Patrick pediu com a voz embargada. 


“Fazer o quê?” Ela perguntou, ainda de costas para ele, enxugando as partes que ainda estavam úmidas em sua face. 


“Me afastar.” O consultor respondeu calmamente. 


Seu coração acelerou assim que as palavras dele foram registradas por sua mente. Tudo que mais queria era se jogar nos braços dele. Mas não podia deixar Patrick ver seu lado fraco e vulnerável. Não podia deixá-lo se aproximar demais. Seu amor por ele não era correspondido. Se o deixasse entrar em sua vida, abrindo-se de forma tão profunda, mesmo que como amigo, quando ele se afastasse, ou por finalmente seguir em frente com outra pessoa ou por conseguir pegar Red John, ela terminaria magoada, e essa era uma dor pela qual não queria passar. 


“Eu não estou te afastando, Jane.” Mentiu, ainda sem olhá-lo. Jane sabia como detectar mentiras a quilômetros, principalmente quando a mentira vinha dela. Se tinha alguma chance de enganá-lo era não deixá-lo ver seus olhos. 


“Você diz isso, mas sequer é capaz de olhar para mim.” O loiro contra-atacou.


"O que diabos você quer, afinal?" Ela perguntou, perdendo a paciência. Estava tendo dificuldade em controlar seus sentimentos, havia deixado Patrick vê-la em um momento frágil e vergonhoso, e agora ele ainda a ficava pressionando? Ele não tinha direito de exigir nada! Todas as vezes que ela tentava se aproximar ou ajudá-lo, ele a empurrava pra longe, fazia pouco caso, como se ela não significasse nada pra ele.


“Eu quero que você pare de mentir para mim!” O loiro respondeu, caminhando pelo quarto. “E eu quero conversar sobre o que aconteceu aqui.” Afirmou, abrindo a porta do frigobar que havia no quarto. 


“Não há nada para conversar, Jane.” Lisbon foi taxativa. “Eu sinto muito ter te acordado. Eu prometo que isso não vai acontecer outra vez.” 


“Eu não estou dando a mínima para isso, Teresa. Você sabe muito bem disso!” Patrick afirmou, agora parando em frente a ela, lhe oferecendo uma garrafinha de água.


“Não estou com sede.” Ela empurrou a mão dele para longe, ainda sem encará-lo. 


“Você está tremendo e está pálida.” Jane disse, mordaz, começando a se zangar ela. “Vai se sentir melhor se tomar um pouco de água.” Ele destampou a garrafa de água mineral, estendendo novamente para a morena. 


A contra gosto, Teresa aceitou a água. Detestava admitir, mas Patrick tinha razão. Ela estava tremendo, e muito. Por alguns instantes achou que fosse derrubar a garrafinha ao levá-la aos lábios.


“Como ele me matou?” O consultor perguntou, de repente, fazendo-a se engasgar. 


“Por favor, Jane, eu não quero falar sobre isso.” Ela pediu num fio de voz. Estava cansada, assustada e começando a ter uma dor de cabeça. Tudo que queria era voltar a dormir e esquecer o maldito pesadelo. 


“Sabe o que é engraçado, você vive chamando a minha atenção, e brigando porque eu não compartilho as coisas com você,” O loiro sibilou, com raiva. “Mas quando é algum assunto que te envolve, você faz o mesmo. Pensei que fôssemos amigos e parceiros, mas já vi que estou enganado.” Acusou, friamente. 


“Não ouse me acusar de nada, Jane!” Lisbon se ergueu da cama, os olhos brilhando de fúria. “Você não tem esse direito!” Ela apontou o dedo em riste para ele. “Você já se esqueceu de Las Vegas? Seis meses, Jane! Eu passei seis meses implorando e você não foi sequer capaz de me ligar uma única vez! Sem mencionar tudo que você aprontou por causa da Lorelai Martins!” 


Voltar a lembrar daqueles malditos seis meses e do caso que ele teve com aquela mulherzinha fez com que seu estômago embrulhasse, de raiva e ciúmes, e ela teve de se controlar para não arremessar a garrafa de água bem no meio da testa dele. 


“Eu te contei os principais nomes da minha lista de suspeitos de serem o Red John, Teresa!” O loiro rosnou. “Tem prova maior de amizade, confiança e parceria que essa?” 


“Você me contou porque eu te pressionei! Se dependesse só da sua vontade, eu estaria no escuro até hoje!” A voz dela subiu uma oitava. 


“É claro que estaria!” Patrick afirmou. “Eu te dei os nomes e você fez tudo que eu te pedi para não fazer! Por pouco não acabou morta! Isso era o que eu queria evitar desde o começo mantendo você longe da minha lista!” 


“Eu sou uma policial, não preciso de sua proteção, nem da de ninguém!” Lisbon lançou-lhe um olhar fulminante. 


“Não me interessa!” O consultor se exaltou, chegando ao limite de sua paciência. “Se você acha que eu vou ficar de mãos cruzadas esperando Red John te tirar de mim, você está muito enganada!” 


Lisbon congelou assim que escutou suas palavras. O modo como ele falara e a olhava, estava dando a entender que sentia mais que uma mera amizade por ela, mas isso não seria possível, seria? Essa pergunta não parava de se repetir na mente dela.


“Por que ele faria isso, Jane?” Perguntou em um fio de voz, testando-o. “Ele teve a chance de me matar e não matou. Que motivos ele teria para vir atrás de mim agora?” 


“Porque você é a policial encarregada do caso dele, quantas vezes vou ter de repetir isso?” Jane engoliu em seco, esperando que essa desculpa conseguisse encobrir a verdade. 


“É claro.” Teresa sentiu a garganta trancar e, sem que pudesse evitar, seus olhos voltaram a lacrimejar. “Por que mais seria, não é?” Perguntou, sentindo-se ao mesmo tempo frágil e rejeitada. Por alguns instantes tivera tanta esperança de Jane dizer sentir o mesmo que ela, e que por isso tinha tanto medo dela se tornar alvo do psicopata. 


Patrick imediatamente se arrependeu de não ter lhe dito a verdade ao vê-la tão magoada. 


“E também porque você é alguém importante pra mim, Teresa.” Tentou amenizar um pouco o dano. “Você é minha melhor amiga.” Afirmou, olhando nos olhos dela. 


Lisbon sentiu o coração afundar com as palavras dele. Amiga. Nunca seria mais do que isso para ele. Até Lorelai, que fora amante e cúmplice de Red John, tinha sido capaz de despertar o desejo dele. Mas não ela. Tinha de parar de uma vez por todas de ter esperanças infrutíferas e infundadas, disse a si mesma, os olhos lacrimejando. 


Já Patrick, estava a um passo do desespero. Havia tentando consertar a situação e, pelo visto, a tinha ferido ainda mais. 


“Eu sei.” A morena deu um meneio, dando a volta na cama e sentando-se onde antes estivera deitada. Vir com Jane para esse lugar havia sido uma péssima ideia. Se arrependimento matasse, estaria enterrada a uma hora dessas, refletiu, fechando os olhos e soltando um suspiro cansado enquanto massageava a têmpora com uma das mãos. 


“Você está com dor de cabeça.” O loiro afirmou enquanto a observava atentamente. 


“Um pouco.” Respondeu enquanto se abaixava para colocar a garrafa de água que segurava ao lado da cama, escorada na parede. Na verdade a dor de cabeça não era nada perto da dor aguda em seu peito. “Eu realmente gostaria de dormir agora, Jane. Estou cansada.” 


“Tudo bem.” Patrick cedeu, resolvendo dar uma trégua. Depois da dor que acabara de infligir a agente não tinha coragem de continuar pressionando-a. Tudo que menos queria era machucar Lisbon, mas parecia que essa era sua especialidade. 


Teresa não respondeu nada. Apenas deitou-se na cama, de lado, para ficar de costas para ele. O consultor tinha certeza de que, naquele momento, ela estava desejando estar em qualquer lugar que fosse o mais longe possível dele. 


Apagando a luz, deitou-se ao lado dela. Mesmo estando praticamente colados um no outro, parecia ter se aberto um abismo gigantesco entre eles. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Noite No Motel" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.