-730 escrita por O Cartomante


Capítulo 1
Garotas mortas não amam


Notas iniciais do capítulo

Apenas um devaneio que eu tive...
Espero que vocês gostem.



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Na sala comunal da Gryffindor, o vermelho das paredes contrastava com a brasa ardente da lareira de pedra medieval e a chuva castigava o exterior do enorme castelo de Hogwarts. A medida que a água açoitava a janela, Sirius apertava sua garrafa de firewhisky com mais força e mergulhava em seus próprios pensamentos, desejando que a água pudesse afogá-lo.

Em seu colo, um pergaminho encadernado ganhado por James e uma pena com o tinteiro ao lado.

“Meus dedos descem pelo seu quadril

E meu corpo encosta no teu

Sinto tua temperatura subir

E beijo seus lábios

Ainda úmidos de poção,

Viajando

E desejando

Que teu corpo

Fosse o dela”

— É um poema bonito. — A voz suave de Remus despertou Sirius de seus devaneios.

Ele apanhou seu cigarro já no fim do cinzeiro na ponta da mesa e tragou com gosto uma última vez, antes que a chama se apagasse.

Os olhos de Remus voltaram-se para o chão constrangidamente, e Sirius fechou o caderno, pescando outro cigarro no maço forjado a mão. Ajeitou a unidade nos lábios e aproximou a chama do isqueiro talhado a prata nobre da ponta, sentindo a fumaça invadir seus pulmões e uma onda de prazer percorrer o seu corpo em estranho relaxamento - a nicotina se tornara sua melhor amiga desde o trágico ocorrido.

Hesitante, Remus repousou a mão no ombro do amásio. Recebeu automaticamente um olhar de reprovação e um raio cortou o céu, o fazendo recuar.

Sirius bebericou mais um gole de seu Firewhisky e Remus, como sempre sem entendê-lo, assentou-se do seu lado, tomando posse da garrafa e virando-a em sua boca. A ardência em sua garganta foi instantânea, mas não durou muito.

Ele olhou para Sirius, que voltara a estar absorto e depois desviou o olhar para a brasa, compondo seu próprio poema em sua cabeça.

“No silêncio do quarto abafado,

Teus gemidos de êxtase

Inundam meus ouvidos,

De seu lado,

É apenas um prazer passageiro,

Em meu peito,

Um amor que não tem fim”

Um suspiro pesado rompeu com o silêncio e Remus soube que os cigarros de Sirius havia acabado. Ele puxou o próprio maço e extraiu uma unidade, ofertando-a para o outro grifino.

Ele aceitou, em silêncio, e o ruído da chama se elevando no isqueiro antecedeu a nova onda de fumaça expirada pelo maroto.

— Você fuma muito. — Seu tom não era crítico, tampouco repreensivo - era meramente uma constatação.

“E fala pouco” Lupin completou mentalmente.

Sirius deu de ombros e o olhar de Remus decaiu novamente.

O dedo indicador de Black acariciou a pena de rouxinol, e Remus entendeu. Aquele havia sido um presente. Os rouxinóis eram as aves favoritas de Marlene.

Ele hesitou, novamente, mas antes que pudesse se conter, as palavras escaparam de sua boca.

— Sente falta dela, não?

Era óbvio. E o olhar de Sirius respondeu por si só.

— Todos os dias.

Já faziam dois anos desde que Marlene McKinnon havia sido levada pela varíola de dragão, e, de fato, não havia um dia sequer em que Sirius não se apanhasse lembrando do sorriso assimétrico dela nos momentos mais inoportunos do seu dia.

De certa maneira, ele sabia que ela estava presente - não apenas em seu coração, mas em sua essência.

Porque de certa maneira, Marlene McKinnon o havia transformado em uma pessoa melhor. Ela era a parte mais humana de Black. E até mesmo ele sabia disso.

O coração de Sirius bateu, acelerado, e ele reteve as pálpebras, suspirando fundo e contendo os dutos lacrimais que latejavam, ameaçando transbordar.

O+S - The Fox

As horas se passaram, a garrafa de bebida chegou ao fim, o maço de Remus esvaziou-se e a chuva parou de cair. Lupin despediu-se do amásio com um beijo no rosto e subiu as escadas, deixando Sirius sozinho com suas lembranças e com sua saudade de Marlene.

No céu límpido, uma estrela brilhou mais forte e ele viajou, recordando-se dos tempos que ele reconheceria para sempre como os mais felizes de toda a sua vida.

Teve então, a certeza, de que, em algum lugar distante, Marlene sentia sua falta também.

E com um último suspiro pesado, um último cigarro que havia sido guardado, e um último verso que Sirius custara a escrever, o sol invadiu a comunal e Black abandonou-a, antes que se enchesse de estudantes.

Na penúltima folha, as palavras finais foram sibiladas com clareza por Sirius antes que o caderno se fechasse.

“... -728, -729, -730...

 

Onde quer que você esteja,

Não te esquecerei.

Meu coração ainda pulsa por você,

E você ainda vive em mim.

Como nos velhos tempos,

A tempestade passará,

E você ainda será o meu sol.

Seu espírito voa em paz, Lene.

 

— Sirius Black”

 

Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e ele se deitou na cama junto de Remus, como sempre fazia todas as manhãs. Em silêncio, fechou os olhos e esperou que ele despertasse em poucos minutos.

Mas não era apenas uma manhã qualquer.

O caderno havia acabado e, na capa, as flores favoritas de Marlene desenhadas por James representavam o dia de sua partida.

Já faziam-se dois anos desde que a morte havia arrancado Marlene McKinnon dos braços de Sirius Black.


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Notas finais do capítulo

E então?



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