Avatar: A lenda de Mira - Livro 4 - Fogo escrita por Sah


Capítulo 24
Em chamas




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Riku

Ele realmente achou que conseguiria ir contra mim. Sua única vantagem é a armadura. Ela dissipa todo o ataque que jogo contra ele. Porém ele não consegue chegar perto o suficiente para que o fogo verde tenha algum efeito.  Ele é quente isso eu não posso negar, o mais difícil e complicado que eu enfrentei até hoje. Claro, tirando o Haru, ele é um caso a parte. Esse homem na minha frente é só mais um. Mais um da pilha de corpos que me acompanha. Eu já me descontrolei por menos. Eu tento apenas me defender.

Meu coração bate tão alto, que eu começo a ouvir um zumbido. Minhas mãos e meus pés ardem como brasas. Eu jogo as botas que eu estou usando na frente, e corro em direção dele. Ele faz um parede de chamas para nos separar. Eu não me importo. Eu pulo no meio delas.

— Você é louco? – Eu o ouço dizer

— Parece que você não sabe muito sobre o fogo azul. Deveria saber o brinde que acompanha esse poder.  – Eu grito para ele.

Eu não posso perder tanto tempo. No fundo eu queria que essa batalha durasse um bom tempo, só que tem coisas mais importantes a serem feitas.

— Eu queria brincar.. Eu realmente queria que você me testasse. Mas...

Eu me concentro. Ergo as minhas mãos, e depois fecho os meus punhos.

— Se afaste. O máximo que você puder. – Eu grito para o soldado.

As ruas são estreitas, e ainda existem algumas pessoas transitando  por elas. Eu poderia me importar. Mas, se nem um legítimo cidadão desse lugar se importa. Por que eu deveria?

As paredes são lambidas pelas chamas. Chamas fracas, que não causam muita destruição. Porém o suficiente para que eu alcance meu objetivo.

— O que você está tentando fazer? Esse tipo de chama é inútil contra a minha armadura.

— Eu não quero atacar você. Eu só queria que outra coisa queimasse.

Não leva muito tempo, mas o compartimento de gás que está com ele se deforma.  E mais um minuto para que ela exploda.

— Que por... – Ele não tem tempo de terminar. Um cheiro de gás me faz agir rápido, e com um fagulha, tudo explode.

Haru

Enviamos mensagens a vários governadores. Não recebemos nenhuma resposta concreta.

— Eles estão me ignorando?

— Não é isso. Aqui as coisas de uma forma diferente.  Você quis fazer as coisas do jeito certo. Esse aviso é uma prova de que tudo que está prestes a acontecer não foi por falta de aviso.  – Venon diz seriamente.

— Fora que podem achar que tudo isso é uma espécie de trote – Kieran fala desanimado.

Eu suspiro fundo. Por um segundo.Tento colocar a minha mente no lugar. Fica cada vez mais difícil pensar por si só.  Eu não consigo mais entender o que acontece no turbilhão de coisas que passam pela minha mente.

Estamos aguardando o contato de Venon. Ele irá trocar a nossa entrada por sua tecnologia. Só que  demora muito.

É de noite, quando um barco mal iluminado se aproxima do porto em que estamos. Vernon parece nervoso.

— Eu não achei que seria ele.

Ele diz coisas que eu não entendo.  Eu consigo compreender melhor Kieran do que Vernon. Vernon me segue e me ajuda cegamente. Kieran tem suas dúvidas e creio que lealdade comigo não existe, pelo menos  desde que eu matei todas aquelas pessoa na fronteira com Laogai. Só que ele mesmo tem a sua própria parcela de culpa.  E é isso que eu sinto vindo dele. Já Vernon é um misto de coisas. Já que ele não é um dobrador, eu não tenho uma conexão formada. Ele não sabe mas, eu sinto mais medo do que ele pode fazer, do que Kieran.

Vernon sorri acanhado.

— Aparentemente as cartas deram certo. Não é o meu contato que está se aproximando. 

O barco é antigo, é uma surpresa para mim, que ele se aproxima com muita velocidade.  Quando ele aporta, um homem esguio, usando roupas um pouco surradas faz uma reverência ao longe.

— Quem é ele? – Eu pergunto para Vernon.

— Ele? Achei que você já havia o encontrado antes.

Eu aperto os meus olhos, e nada familiar vem dessa pessoa.

— Saudações, da União do Fogo.

Seu cabelo escuro está escondido debaixo de um quepe cinza. Seus olhos são dourados e seus traços muito finos. Se não fosse pelo corpo, eu acharia que ele fosse uma mulher.

Ele se abaixa e faz uma reverência formal.

— Estou muito feliz por vê-lo. Depois de tanto tempo.

Eu não daria mais de 30 anos para essa pessoa. Por isso tento me lembrar de todas as pessoas da minha idade que eu encontrei antes de ...

Em apenas duas ocasiões eu encontrei com os líderes da União do fogo.  Eu lembro que o Marechal tinha um filho.  Quando eu era muito novo e inocente demais para perceber a maldade das pessoas, eu vi a maldade nesses olhos amarelos.  Lokin não estava nas minhas melhores lembranças

— Não posso dizer o mesmo.

— Essas coisas ficaram no passado.

Apesar dele não ser um dobrador, ele tinha outras técnicas para amedrontar alguém.  Eu eu era  medroso.

— Sabe, eu achava que o Avatar não podia ser alguém tão fraco. Mas, fico feliz que você se tornou alguém forte.

Aparentemente ele estava aqui para usar do meu poder. Porém pela sua postura sei que ele estava pronto para ser usado.

— Senhor Varrick. Lamento que seu contato não possa vir. Com essas guerra de facções, está realmente difícil confiar nas pessoas. Principalmente naquele que serve todos os lados.

Varrick estava pouco á vontade.

— Vocês tem tanta sorte por eu ter vindo. Mandar aquelas cartas foi uma péssima idéia. Ainda bem que a maioria dos governadores está na capital. Para prestigiar aquele imbecil do Zunder se provar Avatar.

— As pessoas ainda acreditam nele?  - Pergunto seriamente.

— Você sabe da falta de comunicação  desse país. É muito fácil manipular esse povo. E é por isso que preciso que você de um basta em toda essa mentira.

— Eu não estou aqui por isso.

— Você está aqui por que então? Aqui não é o melhor país para tirar férias, isso eu garanto.

— Eu preciso encontrar uma coisa.

Ele parece pensativo.  E coça a cabeça.

— Ah! – Ele estrala os dedos. – Claro. Você está atrás da garota.

Garota? Do que ele está falando?

— Que garota. – Eu me aproximo dele e o pego pelo colarinho.

— A protegida do Zunder.  Ela e um garoto que dobra fogo azul. São os assuntos mais comentado por todas as facções.

Eu procuro não dar muito crédito ao destino. Já que minha vida sempre foi manipulada, seja pelo governo, ou mesmo por Vaatu.

— Mira. Ela está nesse país? Como?

— Ah, eu ouvi dizer que ela é neta do líder dos  dragões vermelhos. Uma pessoa muito perigosa.

— Me leve até ela. Eu preciso encontrá-la.

Uma pessoa muito mais importante que o espírito do fogo.

Ele se desvincula de mim. E desamassa a roupa.

— Sabe como foi difícil chegar aqui? Como foi difícil disfarçar o meu barco, de arranjar essas roupas.   – Eu vejo nos seus olhos o que eu vi anos atrás.

— Claro, eu te levo até lá. Mas, você ajudará a minha facção. E me colocará no poder.

— Mas, seu pai. O marechal. Você quer isso mesmo? – Vernon pergunta.

— Ah, senhor Varrick. Apenas duas facções sabem que o Marechal morreu. A minha e a do Zunder.   E a dele está no poder. Você acha que isso é uma coisa que meu pai queria? É óbvio que não. Eu só quero o que é meu por direito.

E assim, nos embarcamos. E de manhã cedo chegamos em terra firme. Quando eu coloco um pé naquela terra. Eu sei que Lokin falou a verdade. É fraco mas eu sinto. Não apenas o espírito do fogo, escondido na lava no subsolo da capital. Mas, aquela sensação.  Mira está em algum lugar. Eu sinto os poderes de Vaatu ficarem mais fortes do que todos aqueles espíritos que estão dentro de mim.

Suni.

Nós já havíamos estado aqui antes. Eu já havia sentido a lava sob os meus pés. Só que dessa vez eu senti o perigo assim que coloquei os meus pés ali.

—  Meelo. – Eu olhei para ele.

— O que foi?

Não adianta. Ele não consegue sentir isso. É estranho. Como se a terra que antes estava em silêncio,  gritava para mim ao longe. Como um eco em uma caverna escura.  Apesar do perigo que eu sinto de volta, era reconfortante saber que nem tudo parecia ter acabado.

Ele também parecia perdido nos seus próprios pensamentos.

— Eu sinto alguma coisa, uma resposta as minhas preces. – Ele disse para mim.

Isso me surpreendeu.

— Eu não consigo dizer o que é. Mas, é como se a brisa cochichasse para mim.

Mas, eu sei que ele também sentiu o medo.

Eu sabia que ele tinha uma teoria sobre tudo o que aconteceu. Meelo era esperto, e com toda a sua vivência e sabedoria,  sabia o que tinha acontecido, e o que estava prestes as acontecer.

— Eu realmente queria estar errado. Mas, isso que eu estou sentindo só tem uma explicação.  Meu pai me contava histórias sobre os espíritos dos elementos. Principalmente sobre o da água e do ar. Sobre Tui e La, e como meu bisavô lutou ao lado deles, sobre o grande bisão voador ensinou  a nós dobradores, a dominação de ar.  Quando Korra fechou os portais a grande maioria dos seres espirituais, deixou esse plano. Porém alguns ficaram. Meu pai diz que o espírito do Rio Yue Bay, nada mais é que um reflexo de La.  E ainda existem bisãos por ai não é?  Pequenas partes do grande bisão.  Não imagino como funciona essa relação com o espírito da terra ou do fogo.  Mas, é por causa desses reflexos que ficaram que ainda existem dobradores, em menor quantidade do que antes, mas ainda existem.  

— Isso faz sentido. Eu não posso dizer como funciona o espírito da Terra. Mas, o tipo de conexão que eu tenho com ela é muito extensa. Como se ela estive por toda terra que eu piso. Só que antes, eu não estava sentido. Mas, agora é como se eu ouvisse ecos por todo o lugar.

Ele pareceu pensativo.

— É como eles estivessem próximos, mas ainda não estivessem aqui.  Como se alguém os estivesse prendendo.

Foi naquele momento que os olhos dele ficaram vidrados, e sua pele ficou pálida.

— Só existe duas pessoas que possuem o poder para fazer isso. E garanto que a Mira nunca faria isso.

Agora o meu coração bate devagar por alguns segundos.

— Não pode ser. Ele está vindo por causa disso? 

— Talvez. Acho difícil ele saber que estamos aqui. Mas, vir atrás do espírito do fogo parece ser a resposta mais óbvia.

— Mas, isso quer dizer.

—Sim, ele de alguma forma está em posse dos espíritos da água, do ar e da terra.  E por isso, ele está mais forte do que nunca.

 

Mira

Meu coração parou há pelo menos alguns minutos. Porém, o poder que irradia de mim, me faz ter plena consciência do que eu estou fazendo.  Aquele homem olha para mim com mais expectativa do que deveria. Ele esta tentando entender o que está acontecendo. Eu só consigo sentir raiva, e calor. Isso é  diferente de tudo o que eu já senti. Isso sou eu. O que eu sou antes de ser o Avatar. Eu sou isso. Eu sou fogo.

Dobrar o fogo é diferente de tudo. Eu não sinto uma conexão imediata como eu sinto com todos os outros elementos. Eu não sinto nada formigar, e nem nada no ambiente. É como se eu fosse o puro fogo. Todos os meus membros estão incendiados. Como se os meus sentimentos fossem só isso.

Eu não sei como fazer isso. O meu corpo quase se mexe por conta própria.

O lugar se incendeia sem que eu percebesse. Eu sei que sou a fonte. A minha tia se afasta com medo. Todos se afastam menos ele. Seu olhar não se desvia.

— Eles conseguiram  te esconder de mim por tempo demais. Só você pode herdar a liderança dos dragões vermelhos.

Ele dizia como se eu estive fazendo isso para provar alguma coisa para ele. Por isso eu aponto as minhas mãos para ele,  uma rajada muito intensa de fogo saem como um raio. Ele tenta se proteger. Sinto o cheiro das suas roupas chamuscadas. Seu olhar brilha ao olhar para mim.

— Isso é mais do que necessário. Você pode parar agora.

— Parece que você não entendeu. Eu não estou fazendo isso por você a única coisa que eu quero....

Meus olhos ficam vermelhos. Eu me lembro dela, da minha mãe. Do que ela fez para me proteger. Do que ele fez com ela. Do que ele fez comigo.

— Eu achei que você não tinha netos impuros. E é isso que eu sou. Uma impura.  – Eu tive que rir no final.

— Não me entenda mal. Eu não sei o que você lembra daquela época. Mas, eu realmente não sabia. Aquela mulher escondeu você de mim. Escondeu você das suas origens. Da sua verdadeira família.

— Se eu não fosse uma dobradora, provavelmente a conversa seria diferente. Mas, uma impura sempre será uma impura. Independente do poder que ela possui.

Eu tentei me concentrar nas pedras que estavam a sua volta. E  com dificuldade elas se soltaram e giraram em volta dele.

— PArece que esse não é o meu único segredo.

Seus olhos agora pareciam confusos.

— Não. Zunder me garantiu.

Eu o ergui com a força do ar e o fiz ficar mais alto que eu. 

— Não é o seu sangue puro que o salvara. O que vocês fez com a minha mãe e comigo, não é uma coisa que posso perdoar. Todo esse ódio, toda essa mágoa. Não é uma coisa que posso controlar.

Lágrimas escorriam dos meus olhos. Eu trinquei os meu dentes e me segurei o máximo que eu conseguia. Seja o que for que acontecesse não teria mais volta. Eu me lembrei dos meu amigos, o que eles pensariam de mim? Sina me daria uma bronca daquelas. Meelo me aconselharia. Suni me daria um abraço, e Riku, bem. Ele é o único que me compreenderia.  E isso não é uma coisa boa.

Seus ossos se quebraram quando eu o joguei de volta ao chão. Eu podia ver sangue escorrendo da sua boa.  Ele tossia com afinco. Ele não conseguia respirar.

— Eu espero que você aproveite. Como um dobrador de fogo o seu fim, deve vir pelo mesmo.

Todo o meu ódio se transformou em uma labareda ardente, que me consumiu. Todo esse poder, toda essa raiva tudo isso terminou quando ele caiu ao chão, com o seu corpo já sem vida.

Tudo se transformou. Meu coração voltou a bater. Tudo queimava. As plantas, as paredes e ele. Eu estava sozinha  naquele lugar. Com sorte Meilin havia conseguido fugir. Só que aos poucos a raiva passou. E a realidade me atingiu em cheio. O que eu havia feito? Eu não tinha esse direito. Mesmo com tudo o que ele havia feito. Uma culpa estranha tomava conta do meu corpo.  E assim eu cai. Não havia dor ou qualquer outra coisa. Apenas o vazio. Era aquilo que me rodeava agora. O peso da morte, era uma coisa que me persegueria para sempre.

Haru

Alguma coisa se agitou dentro de mim. Eu senti aquele parasita se remexer. Minha mente aos poucos recobrou um pouco da consciência de antes. Antes dele tomar tudo.  Tudo o que eu havia feito de errado.  As vidas que eu havia ceifado de repente me fizeram sentir uma dor agoniante. Só que  ele recolocou a sombra minha mente, que mesmo tendo consciência , tudo voltou ao normal, o normal dele.

Ela está por aqui. Precisamos ir até ela.  

Era a voz dele. Quase que independente de mim. Como naquela visão.

Eu sabia o que ele queria fazer. Só que mesmo pensando muito sobre isso, eu sentia que isso não importava. Tudo era por causa dele. Eu só estou vivo por causa dele.

— Você está bem? – Kieran me perguntou.

Eu olhei para ele. E me vi. Antes de tudo acontecer. Antes de Unac. Quando eu era apenas um garoto.

— Sim, sim. – Eu me limitei a dizer.

É naquele momento que percebo por que eu o mantenho ao meu lado.Ele é uma conexão com o que um dia eu fui.

— Não se envolva com isso. Tente ir embora. – Eu disse sinceramente a ele.

— Tarde demais. Infelizmente minha vida nunca voltara a ser como antes. Quando eu escolhi seguir você. A minha antiga vida morreu. E meio que eu fico mais aliviado em ouvir isso de você. Muito diferente do que eu vivi na união do fogo. Agora pelo menos tenho uma escolha.

Eu vi um brilho sincero em seus olhos . Que me fez lembrar do passado. Além de Mira, ele também me lembrava da Namie. Eu suspirei profundamente e olhei para todos aqueles que estavam a minha volta. Lokin, Venon e Kieran. Como se fossem três lados da minha própria mente.

Andávamos pelas ruas daquela cidade. Eu nunca estive aqui antes. Era estranho, não havia muitos dobradores naquele lugar. Isso era nítido. Os prédios eram desgastados e a maioria tão reto como  uma régua.

Estar naquele lugar representava muito. Não só por causa dos meus objetivos, mas por que de alguma forma aquilo me aproximava de realmente ser um avatar. Toda a politicagem do passado ainda está firme e forte naquele local. Esse lugar não é muito diferente de Republic City, só que invés de ter privilégios para o dobradores. Aqui eles são tratados como máquinas de guerra. No passado um dos meus sonhos de Avatar era tornar esse lugar melhor para se viver.

Como eu era ingênuo.

Tem um carro nos esperando em uma das ruas. Como o barco ele está disfarçado. Um soldado totalmente uniformizado parece tenso quando nos aproximamos.

— O que está acontecendo? – Lokin pergunta.

— Todos o soldados da região foram redirecionados.

— Será que aquele bastardo sabe o que estamos fazendo? – Lokin pergunta a ele, claramente se referindo a Zunder.

— Não é isso. - Ele aponta para um lado da cidade.

Uma nuvem de fumaça negra queima no horizonte.

Eu seguro o meu fôlego. Toda essa energia. Eu a sinto aos poucos.  Os espíritos dentro de mim se agitam.

— Isso é um ataque?

— Não sabemos direito o que aconteceu. Mas, a residência dos dragões Vermelhos foi totalmente destruída.  O lugar foi  cercado.  Porém, não há como se aproximar.  

Lokin soca a porta do carro.

— E Zunder. O que ele está fazendo?

— Ele mandou seus homens. Mas, exigiu isso de todas as facções.

— Quantos homens temos?

— Menos de 10. Não tivemos escolha.

Eu olhava para a fumaça hipnotizado. Meu corpo começou a se mover em sua direção. Eu senti uma mão em meu ombro.

— Aonde pensa que vai. Eu não te dei permissão para ir. Nós precisamos ir para a base planejar a minha ascensão.

Minha linhas negras se enrolaram em seu braço. Eu pude ouvir o seu grito de dor.

Eu não sou mais aquele Avatar fraco que ele conheceu. 

— Você já cumpriu sua função. Nada mais importa para mim. – Eu disse alto.

— Mas, não foi isso o combinado.

Eu o ignorei. Eu comecei a caminhar. Venon deu de ombros e logo me seguiu. Senti  a hesitação de Kieran, mas como ele havia me dito antes. Agora era tarde de mais para dar para trás.

Lokin apontou uma arma para mim.

— Não se mexa! Você vai entrar no carro e cumprir a sua parte.

Isso era patético.

— você acha que consegue me ameaçar com isso?

Eu mapeei todos vasos sanguíneos. Eu podia quase ver através da sua pele.  Ele caiu de joelhos assim que apontei para ele. 

Depois de Yue Bay, dobrar sangue era tão fácil quando a dobra de água normal. Eu não fiz nada além de imobilizá-lo. Querendo ou não  ele havia me trago aqui. E foi isso que me fez poupá-lo.

Riku

Eu podia ver as chamas a distância. O soldado estava escondido, mas logo apareceu quando Riden caiu. Ele não estava morto. Sua roupa isolante permitiu que ele vivesse. Porém ele não podia mais lutar.

— Você é mesmo incrível. Os rumores sobre vocês se provaram reais.  – Ele disse feliz.

— Agora. Me leve até ela.

Ele apenas aponta para as chamas que eu havia visto.

— Ali é a residência dos dragões vermelhos. Eu não imagino o que aconteceu lá. Mas, acho que tem haver com a sua ami...

Eu não terminei de escutá-lo. Eu apertei o passo e fui em direção aquele lugar.  Não estávamos longe. Porém logo em seguida eu escutei o barulho de sirenes. Aquele lugar estava cercado. Por pessoas e por chamas. Uma mulher chorava muito. Ela era de certa forma familiar.

— Eu não sei. Meu pai e minha sobrinha ainda estão lá.  – Ela respondia perguntas de um soldado.

O fogo estava por todo lado.

— Mira. – eu gritei em direção ao fogo.

A mulher se aproximou de mim.

— Você a conhece? Ela está lá. Meu pai também, precisamos ajudar. Mas, eles disseram que não tem nenhum dobrador de fogo de plantão.

Eu nunca achei que poderia me preocupar tanto com uma pessoa. Meu coração ficou apertado. Assim, fiz a única coisa que podia fazer. Eu já estava acostumado. Foi igual quando eu salvei aquela família, só que agora eu me importava verdadeiramente com a pessoa que estava lá.

— Ela estava bem? Seu coração estava normal? Ela não passou mal? – eu perguntei enquanto dobrava as minha mangas.

Olhei para os meu pés. Eu ainda estava descalço. Isso seria um empecilho irritante, mas eu não tinha tempo.

— Ela desmaiou. Mas, acordou bem. Meu pai a levou para conversar, mas, quando ele dobrou perto dela. Ela enlouqueceu.  

Eu suspirei e tentei segurar todo o fôlego que eu conseguia. Era um momento para eu bater meu Record. Mesmo que eu não conseguisse segurar. Eu iria tirá-la dali.

Ninguém me impediu de entrar naquele lugar. Eles não se aproximavam. Não era como  em, Huali , lá as pessoas realmente se preocupavam com uma as outras. Aqui eles apenas estavam esperando o fogo baixar para ver as perdas .

O fogo era quente.  Porém como sempre, o meu era mais. Eu estava coberto de azul. Tentei deixar meus pensamentos ordenados .

As paredes estavam caindo pouco a pouco. Aquele lugar era como um pequeno labirinto.  Eu não tinha tempo para  andar pelos seus corredores assim eu com os pés descalços, fui chutando as paredes a minha frente.

Finalmente cheguei a um espaço mais aberto. Soltei o meu fôlego e tentei segurar de novo. As plantas daquele lugar retardaram que o fogo se alastrasse mais rapidamente, porem a fumaça ainda era densa. Eu tentei enxergar no meio daquilo, e vi um corpo perto do centro.

Eu tive medo de me aproximar. Isso não podia ser verdade. Não era ela. Não era.  Meus olhos estavam ficando vermelhos. Eu não costumava chorar. Não me lembrava das vezes que isso havia acontecido. Mas, naquele momento, mais do que qualquer outro. O meu mundo havia desabado. Eu cai para trás. Me segurando para não gritar. Para não perder o meu fôlego.

Assim eu a vi. Longe daquele corpo. Corri mais do que eu agüentava. Meus pés já estavam em carne viva.

Eu me abaixei e procurei algum ferimento. Coloquei minha cabeça em seu peito e o som do seu coração, me fez segurar lágrimas mais uma vez. Só que dessa vez era de alívio.

Eu precisava tirá-la dali. Eu tinha que salvá-la.

Essa era a segunda vez que uso o meu fogo para salvar vidas. Só que era muito mais difícil. Mira não estava consciente, e eu  tinha medo que seu coração parasse. Eu a coloquei em minhas costas, porém eu não podia envolvê-la com o meu fogo. Isso iria queimá-la. Eu precisava pensar.

— Riku, pense direito pelo menos uma vez na sua vida ! – Eu disse para mim mesmo.

Eu era indiferente a coisas espirituais. Nunca entendi nada disso na verdade. Tudo era inútil para mim. Só que naquele momento eu desejei que o espírito do fogo me ajudasse. Não por mim. Mas, pela Mira. Pelo Avatar.

Eu senti um calor um calor vindo dela. Sua respiração aos poucos ficou regular.

— Tente segurar o fôlego. – Eu disse torcendo para que ela ouvisse.

Seu pulmão não era tão forte. E isso era culpa minha. A primeira vez que eu verdadeiramente me encontrei com ela eu a fiz respirar uma fumaça tóxica que queimou os seus pulmões.  Eu não liguei muito na época, mas com o tempo essa culpa foi ficando mais forte. E agora por causa disso ela estava em apuros.

— Riku? – Eu a ouvi sussurrar.

— Não se preocupe. Eu estou aqui. E eu vou te levar para longe disso.

— isso é minha culpa. Eu fiz isso. Eu o matei. Mas... Eu não tive opção. Era tanta raiva. – Ela tossiu depois que falou.

— De todas as pessoas do mundo. Eu sou a que mais te entende nesse momento. Por isso não diga nada. Apenas tente segurar o seu fôlego. Não respire essa fumaça.

Não havia mais tempo.

Eu comecei ir em direção a saída. Só que o fogo estava se alastrando de uma forma intensa. Nós desviamos do caminho diversas vezes.

O cansaço me alcançou mais rápido do que eu imaginava. Eu cai de joelhos com ela nas minhas costas. A dor nos meu pés estava beirando a insuportável.

Eu não vou conseguir.

Isso é uma coisa que eu nunca disse, nem mesmo pensei.

Quando tudo parecia perdido. Eu a senti tentar descer das minhas costas.

— Eu posso aceitar o seu pedido dessa vez.  

Era uma voz que vinha da minha cabeça. Não era como a loucura que me perseguia. Ela era suave  e ao mesmo tempo muito forte.

Mira se levantou. Ela não parecia ter muita consciência do que estava fazendo.

— Ela ainda é a avatar. Seu corpo está fraco, porém eu ainda consigo me conectar com ela. A primeira vez em muito tempo.

— O que é você?

— Você não pediu minha ajuda? Eu não podia vir aqui com o meu corpo verdadeiro. Tudo iria ser destruído se eu fizesse isso. Mas, ela. Ela agora consegue sentir o meu poder. E ela é a única que pode me ajudar.

Eu não conseguia compreender  o que ela dizia. Nenhuma palavra saia da boca de Mira, porém ela começou a se mexer.

— O fogo logo será extinto. A ajude a se recuperar. Ele já está aqui. Ele veio atrás de mim. Mas, parece que ele tem mais interesse nela. Os outros já foram pegos. Se isso acontecer comigo, não há ninguém que poderá ir contra ele.

O espírito falava do Haru. A única coisa que veio na minha cabeça.

— Agora, ela consegue me usar. Ela lembrou da dobra de fogo, mesmo que as circunstâncias sejam tristes. Ela agora tem uma arma para ir contra ele.

O fogo foi diminuindo aos poucos. Nem a fumaça que surge quando ele se apaga apareceu.  Mira caiu no chão logo quando a última chama se apagou.

Eu a peguei e cheguei seus pontos vitais. Ela estava viva. Porém ainda estava fraca.

Ajude-a a se recuperar. Eram as palavras que rodeavam a minha mente.

Eu passei a mão pelo seu rosto e tirei um pouco das cinzas que haviam se acumulado.

Um sorriso cresceu em meu rosto. Um sorriso genuíno, um que nunca aparecia. Apesar dos pesares ela estava bem. Apesar de tudo, eu havia conseguido salvá-la. Um vontade de  abraça-la martelou os meus nervos, uma vontade de beija-la passou pelos meus pensamentos. Porém ali não era hora. Talvez no futuro isso se concretizasse. Por isso eu tinha que ajudá-la. Para vencermos o que viria a seguir.    


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal. finalmente estamos chegando ao fim dessa jornada. Esse foi o penúltimo capítulo. O próximo será o tão esperado último. Desculpem a demora, mas esse capítulo foi um dos que mais me deu trabalho.
Aproveitem.



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